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Science, stigmatisation and afro-pessimism in the South African debate on AIDS1 1 The first part of the article is based on the communication Questões preliminares para uma etnografia da controvérsia científica sobre a origem da AIDS [Preliminary questions for an ethnography of the scientific controversy concerning the origin of AIDS], presented by Working Group 44: Ethnographic translations: Anthropology and Science, at the VIII Mercosur Anthropology Meeting (2009). The work corresponds to a modified version of the third chapter of my doctoral thesis, entitled Ciência, justiça e cultura na controvérsia sul-africana sobre as causas e tratamentos da AIDS [Science, justice and culture in the South African controversy on the causes and treatments of AIDS] (PPGAS/ Museu Nacional/UFRJ, 2013). I am grateful to the editor Peter Fry and two anonymous reviewers for their valuable suggestions.

Resumo

Este trabalho examina como certos pressupostos sobre comportamento sexual, raça e nacionalidade surgem no âmago das explicações e contra-explicações acerca da origem do HIV. Ele retoma, em particular, algumas discussões e dados etnográficos do que ficou conhecido como o "debate da AIDS", ocorrido na África do Sul na década de 2000. O artigo enfoca, por um lado, o modo como esses pressupostos produzem e reforçam a compreensão da AIDS como estigma, desvio e problema social, uma vez que enfatizam a existência de áreas geográficas e grupos de risco. Por outro, esses mesmos pressupostos são examinados à luz de processos de identificação, pertencimento e formas de espacialização, à medida que na maior parte dos relatos, tanto acadêmicos como populares, "africanos" e "África" são compreendidos implacavelmente em termos pessimistas. O objetivo é mostrar como alguns traços do debate sul-africano remetem ao modo como a história global da AIDS foi construída nas últimas três décadas. Não é feita aqui uma reconstrução historiográfica exaustiva, mas, ao retomar algumas pesquisas sobre a gênese da epidemia, chama-se a atenção para a estigmatização individual e coletiva atreladas à produção do discurso da saúde pública sobre a AIDS, especialmente a partir de noções como "risco", "exposição" e "vulnerabilidade". Propõe-se que tais noções se acham fortemente embasadas num senso moral que atravessa o modelo cognitivo dominante nas abordagens da epidemia global e do debate da AIDS na África do Sul. A última parte do trabalho foca nas tensões que surgem entre as explicações de especialistas do campo da epidemiologia e da saúde pública e as preocupações dos cientistas sociais, especialmente os antropólogos, amiúde questionados pelo seu alegado relativismo cultural.

Palavras-chave:
HIV/AIDS na África do Sul; Controvérsias científicas; HIV/AIDS e antropologia

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