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EFEITO ANTIBIÓTICO DO PRÓPOLIS SOBRE BACTÉRIAS FITOPATOGÊNICAS

Resumos

O efeito antibiótico de extrato aquoso de própolis, em várias concentrações, foi avaliado para cinco espécies de bactérias fitopatogênicas. Agrobacterium tumefaciens, Clavibacter michiganensis subsp. michiganensis e Xanthomonas axonopodis pv. phaseoli foram completamente inibidas em meio de cultura contendo 10% de extrato de própolis. Erwinia chrysanthemi foi parcialmente inibida, enquanto Pseudomonas syringae pv. tabaci se mostrou insensível ao extrato, desenvolvendo colônias idênticas àquelas observadas em meios livres de própolis. Concentrações menores não foram suficientes para exercer um efeito antimicrobiano desejável sobre as bactérias pertencentes a todas as espécies testadas. Resultados idênticos foram obtidos quando própolis foi incorporado ao meio antes ou após a autoclavagem, demonstrando que a substância ativa presente no extrato não é termosensível. Foi demonstrado, portanto, o uso potencial do própolis como antibiótico para o controle de bactérias fitopatogênicas.

própolis; controle; bactéria fitopagênica; antibiótico


The antibiotic effect of aqueous extract of propolis was evaluated in vitro against five species of bacteria. The growth of Agrobacterium tumefaciens, Clavibacter michiganensis subsp. michiganensis and Xanthomonas axonopodis pv. phaseoli was completely inhibited in a medium containing 10% of propolis. Erwinia chrysanthemi was partially inhibited and Pseudomonas syringae pv. tabaci was not affected. Lower concentration of the aqueous extract was not effective to promote a desirable antibiotic action against all bacterial species tested. The active ingredient present in the propolis was thermostable. The potential use of the propolis to control phytopathogenic bacteria was demonstrated.

propolis; control; phytopathogenic bacteria; ant


NOTA

EFEITO ANTIBIÓTICO DO PRÓPOLIS SOBRE BACTÉRIAS FITOPATOGÊNICAS

L. BIANCHINI1,2; I.P. BEDENDO1

1Depto. de Fitopatologia-ESALQ/USP, C.P. 9, CEP: 13418-900 - Piracicaba, SP.

2Bolsista do CNPq.

RESUMO: O efeito antibiótico de extrato aquoso de própolis, em várias concentrações, foi avaliado para cinco espécies de bactérias fitopatogênicas. Agrobacterium tumefaciens, Clavibacter michiganensis subsp. michiganensis e Xanthomonas axonopodis pv. phaseoli foram completamente inibidas em meio de cultura contendo 10% de extrato de própolis. Erwinia chrysanthemi foi parcialmente inibida, enquanto Pseudomonas syringae pv. tabaci se mostrou insensível ao extrato, desenvolvendo colônias idênticas àquelas observadas em meios livres de própolis. Concentrações menores não foram suficientes para exercer um efeito antimicrobiano desejável sobre as bactérias pertencentes a todas as espécies testadas. Resultados idênticos foram obtidos quando própolis foi incorporado ao meio antes ou após a autoclavagem, demonstrando que a substância ativa presente no extrato não é termosensível. Foi demonstrado, portanto, o uso potencial do própolis como antibiótico para o controle de bactérias fitopatogênicas.

Descritores: própolis, controle, bactéria fitopagênica, antibiótico

ANTIBIOTIC EFFECT OF PROPOLIS AGAINST PLANT PATHOGENIC BACTERIA

ABSTRACT: The antibiotic effect of aqueous extract of propolis was evaluated in vitro against five species of bacteria. The growth of Agrobacterium tumefaciens, Clavibacter michiganensis subsp. michiganensis and Xanthomonas axonopodis pv. phaseoli was completely inhibited in a medium containing 10% of propolis. Erwinia chrysanthemi was partially inhibited and Pseudomonas syringae pv. tabaci was not affected. Lower concentration of the aqueous extract was not effective to promote a desirable antibiotic action against all bacterial species tested. The active ingredient present in the propolis was thermostable. The potential use of the propolis to control phytopathogenic bacteria was demonstrated.

Key Words: propolis, control, phytopathogenic bacteria, ant

INTRODUÇÃO

O própolis é um produto constituído por uma mistura de diversas resinas vegetais, o qual é coletado por abelhas em plantas comumente visitadas por estes insetos. As investigações sobre as propriedades antibióticas do própolis têm sido conduzidas sobretudo na área médica e veterinária, onde o produto tem demonstrado uma eficiente atividade bacteriostática e bactericida em relação a diversos gêneros de bactérias Gram positivas e Gram negativas. O efeito do própolis tem se revelado altamente inibitório para determinados gêneros, tais como Streptococcus, Staphylococcus, Bacillus e Mycobacterium, sendo parcialmente efetivo ou inativo em relação a outros gêneros como Pseudomonas, Escherichia, Klebsiella, Proteus e Salmonella (Prado Filho et al., 1962; Grange & Davey, 1990; Detoma & Ozino, 1991; Mazzuco et al. 1996). Tem sido sugerido que a atividade antibacteriana possa estar associada ao alto conteúdo de substâncias do tipo flavonóides presentes no própolis (Grange & Davey, 1990). Existem relatos de que a substância ativa é termicamente estável, conservando sua ação antibacteriana mesmo após ser submetida à temperatura de 100ºC por meia hora (Prado Filho et al., 1962). Fatores associados à técnica de extração, metodologia de condução de ensaios, local de origem do própolis e época do ano em que foi produzido podem ter influência sobre o maior ou menor grau de inibição do produto em relação às diferentes espécies bacterianas (Shub et al., 1978; Meresta & Meresta, 1985; Valdes et al., 1989; Fuentes & Hernandez, 1990).

Na área de fitopatologia, algumas pesquisas têm sido dirigidas para demonstrar o papel do própolis na sobrevivência de Erwinia amylovora, bactéria veiculada por abelhas, associada a uma doença da pereira conhecida por "fireblight". Os resultados têm mostrado que o própolis não se constitui em um substrato favorável à sobrevivência da bactéria e que este produto não pode ser considerado como fonte de inóculo para a doença (Wael & Greef, 1990; Wael et al., 1990). O fato da bactéria não sobreviver no própolis evidencia a presença de substâncias inibitórias a este patógeno.

Com base nas informações de literatura de que o própolis pode atuar como um produto bactericida e/ou bacteriostático, um ensaio foi conduzido com o objetivo de avaliar um possível efeito antibiótico do própolis sobre cinco espécies de bactérias fitopatogênicas.

MATERIAL E MÉTODOS

As bactérias utilizadas pertenciam às espécies Agrobacterium tumefaciens, Clavibacter michiganensis subsp. michiganensis, Erwinia chrysanthemi, Pseudomonas syringae pv. tabaci e Xanthomonas axonopodis pv. phaseoli, as quais foram gentilmente cedidas pela Seção de Bacteriologia do Instituto Biológico, Campinas, SP. As bactérias foram mantidas, durante a realização dos ensaios, em meio de cultura nutriente-ágar, sendo repicadas periodicamente.

A suspensão de própolis foi obtida por trituração de 100g de própolis bruto em 1 litro de água destilada, por 1-2 minutos, usando-se um aparelho do tipo" mixer". A suspensão foi filtrada em papel de filtro Watmann nº 1, por processo a vácuo.

O meio de cultura usado foi o nutriente-ágar contendo concentrações de própolis, da ordem de 0,1%, 1% e 10%. As diferentes concentrações foram obtidas por incorporação de suspensão de própolis, antes e após a esterilização do meio de cultura em autoclave. Bactérias provenientes de colônias com 48 hs de crescimento foram repicadas para o centro das placas de Petri contendo meio de cultura sem suplementação (testemunha) e com suplementação de própolis. Tanto para a testemunha como para os tratamentos foram empregadas cinco placas, onde cada placa representou uma repetição.

A avaliação foi feita visualmente no terceiro dia após a repicagem, através da observação do desenvolvimento das colônias, tomando-se como padrão as colônias crescidas no meio sem própolis. As diferenças observadas no crescimento das colônias das bactérias pertencentes aos diversos gêneros, nos meios contendo diferentes concentrações de própolis, foram evidenciadas como segue: o sinal (-) foi usado para designar ausência de crescimento; (+) para crescimento reduzido; (++) para crescimento médio e (+++) para crescimento ótimo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A maioria das espécies bacterianas se mostrou sensível à ação inibitória do própolis (TABELA 1). Esta observação foi feita para a maior concentração utilizada, ou seja em meio de cultura contendo 10% de própolis. Nestas condições, A. tumefaciens, C. michiganensis e X. axonopodis, tiveram o seu desenvolvimento totalmente inibido, enquanto E. chrysanthemi apresentou crescimento reduzido. P. syringae não se mostrou afetada pela presença do extrato aquoso de própolis no meio de cultura. Para a concentração de 1%, E. chrysanthemi apresentou crescimento médio e as demais espécies exibiram crescimento ótimo, da mesma forma que aquele verificado no meio sem a presença de própolis. Nos meios contendo 0,1% de própolis, todas as espécies mostraram crescimento ótimo, semelhante àquele observado nos meios livres do produto, considerados como testemunhas.

Resultados idênticos foram obtidos independentemente da suplementação do meio com própolis ter sido feita anterior ou posteriomente à autoclavagem, demonstrando que o calor não alterou o efeito antibacteriano do própolis. Quando o extrato de própolis foi acrescentado ao meio de cultura após a esterilização do meio em autoclave, não se observou o desenvolvimento de contaminantes no meio de cultura, apesar do extrato não ter sido submetido a nenhum método prévio de esterilização.

Os resultados obtidos demonstraram o efeito inibitório do própolis para quatro das cinco espécies de bactérias testadas. Esta constatação evidencia que bactérias fitopatogênicas também são sensíveis às substâncias antibióticas presentes no própolis, assim como outros gêneros patogênicos ao homem e aos animais. Algumas espécies se revelaram mais sensíveis como A. tumefaciens, C. michiganensis e X. axonopodis. Informações mencionando o efeito do própolis sobre estas espécies não foram encontradas na literatura, não havendo, portanto, referências com as quais estes resultados possam ser confrontados. A espécie E. chrysantemi, apesar de apresentar menor sensibilidade, também foi inibida pelo extrato de própolis, confirmando as observações de Wael & Greef, (1990) e de Wael et al., (1990), segundo os quais esta bactéria não sobrevive em substratos constituídos por este produto. P syringae, utilizada nesse ensaio, se mostrou insensível à ação antimicrobiana do extrato de própolis, enquanto que isolados de Pseudomonas aeruginosa (não patogênica à planta), a espécie mais constantemente usada em trabalhos conduzidos com própolis, tem se apresentado sensível às substâncias inibitórias presentes no extrato (Prado Filho et al., 1962; Meresta & Meresta, 1985; Valdes, et al., 1989; Grange & Davey, 1990). No entanto, trabalhos desenvolvidos por Detoma & Ozino (1991) evidenciaram que em meios de cultura contendo até, aproximadamente, 1% de própolis não ocorreu a inibição de colônias desta espécie. Com base nestes resultados para P. aeruginosa, pode-se inferir que diferentes isolados de Pseudomonas patogênicos a plantas possam também variar quanto à sensibilidade ao própolis.

A suplementação do meio de cultura com própolis feita anteriormente à autoclavagem do meio forneceu resultados idênticos à incorporação realizada após o processo de esterilização. Esta observação demonstra que o princípio ativo envolvido na inibição de bactérias não é termosensível, concordando com os relatos de Prado Filho et al. (1962). Além disto, o fato de não ocorrer contaminantes nos meios onde o extrato não esterilizado foi adicionado ao meio, anteriormente à esterilização, demonstra que, provavelmente, o própolis possa ter ação inibitória contra outros tipos de organismos, como fungos, por exemplo.

A comprovação de que o extrato aquoso de própolis pode inibir o desenvolvimento de bactérias fitopatogênicas sugere o uso potencial deste produto para o controle de doenças de plantas de etiologia bacteriana.

AGRADECIMENTO

Os autores expressam seus agradecimentos ao professor Luiz Carlos Marchini, do Departamento de Entomologia da ESALQ, pelas suas sugestões e fornecimento de própolis.

Recebido para publicação em 08.09.97

Aceito para publicação em 20.08.97

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Nov 1998
  • Data do Fascículo
    Jan 1998

Histórico

  • Aceito
    20 Ago 1997
  • Recebido
    08 Set 1997
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