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Biologia de Tuta absoluta (Meyrick, 1917) em dieta artificial

Biology of Tuta absoluta (Meyrick, 1917) reared on artificial diet

Resumos

O presente trabalho teve por objetivo desenvolver uma dieta artificial para a criação da traça-do-tomateiro (Tuta absoluta) sem a dependência do hospedeiro natural (tomateiro). A dieta empregada tem como fontes protéicas germe de trigo, levedura, caseína e farelo de soja, além do feijão, que foi a variável do trabalho. A dieta mais adequada para a criação da traça-do-tomateiro foi o hospedeiro natural, no caso, as folhas de tomateiro ‘Santa Clara’ e, dentre os meios artificiais, o que se mostrou mais promissor foi aquele com feijão Branco acrescido de pó de folha de tomateiro. Este pó de folhas apresentou um efeito fagoestimulante, diminuindo a mortalidade inicial e aumentando a viabilidade total do inseto no meio artificial. O número de ínstares foi constante e igual a 4, tanto nas dietas artificiais como na dieta natural, indicando a adequação nutricional dos meios artificiais.

Tuta absoluta; dieta artificial; ínstares; tomate; feijão; dieta natural; traça-do-tomateiro


The study had the purpose of developing an artificial diet to rear Tuta absoluta, without natural host plants (tomato leaves). The artificial diet used contains, as protein sources wheat germ, casein, yeast, soybean and common bean, that was the variable of this study. The most adequate diet to rear T. absoluta was leaves of ‘Santa Clara’ tomato and, among the artificial diets, the best was the one including ‘Branco’ common bean plus tomato leave powder. This last one showed a phagostimulant effect, low larval mortality and promoted higher total viabilities. The number of larval instars was constant and equal to 4, for artificial diets as well as for tomato leaves, showing that the artificial diets are nutritionally suitable to rear the insect.

Tuta absoluta; artificial diets; instars; tomato; beans; natural diet


Biologia de Tuta absoluta (Meyrick, 1917) em dieta artificial

Laila Herta Mihsfeldt1*; José Roberto Postali Parra2

1Fundação Faculdade de Agronomia "Luiz Meneghel", C.P. 261 - CEP: 86360-000 - Bandeirantes, PR.

2Depto. de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola - ESALQ/USP, C.P. 9 - CEP: 13418-900 - Piracicaba, SP.

*e-mail: laila@ffalm.br

RESUMO: O presente trabalho teve por objetivo desenvolver uma dieta artificial para a criação da traça-do-tomateiro (Tuta absoluta) sem a dependência do hospedeiro natural (tomateiro). A dieta empregada tem como fontes protéicas germe de trigo, levedura, caseína e farelo de soja, além do feijão, que foi a variável do trabalho. A dieta mais adequada para a criação da traça-do-tomateiro foi o hospedeiro natural, no caso, as folhas de tomateiro ‘Santa Clara’ e, dentre os meios artificiais, o que se mostrou mais promissor foi aquele com feijão Branco acrescido de pó de folha de tomateiro. Este pó de folhas apresentou um efeito fagoestimulante, diminuindo a mortalidade inicial e aumentando a viabilidade total do inseto no meio artificial. O número de ínstares foi constante e igual a 4, tanto nas dietas artificiais como na dieta natural, indicando a adequação nutricional dos meios artificiais.

Palavras-chave:Tuta absoluta, dieta artificial, ínstares, tomate, feijão, dieta natural, traça-do-tomateiro

Biology of Tuta absoluta (Meyrick, 1917) reared on artificial diet

ABSTRACT: The study had the purpose of developing an artificial diet to rear Tuta absoluta, without natural host plants (tomato leaves). The artificial diet used contains, as protein sources wheat germ, casein, yeast, soybean and common bean, that was the variable of this study. The most adequate diet to rear T. absoluta was leaves of ‘Santa Clara’ tomato and, among the artificial diets, the best was the one including ‘Branco’ common bean plus tomato leave powder. This last one showed a phagostimulant effect, low larval mortality and promoted higher total viabilities. The number of larval instars was constant and equal to 4, for artificial diets as well as for tomato leaves, showing that the artificial diets are nutritionally suitable to rear the insect.

Key words: Tuta absoluta, artificial diets, instars, tomato, beans, natural diet

INTRODUÇÃO

A traça-do-tomateiro, Tuta absoluta (Meyrick,1917) (Lepidoptera: Gelechiidae) é uma das principais pragas do tomateiro, ocorrendo em diferentes regiões do Brasil. Este inseto ataca intensamente as gemas e os brotos terminais, construindo, nas folhas, galerias transparentes, causadas pelo consumo integral do mesófilo e, quando ataca os frutos, pode inutilizá-los completamente (Haji, 1984), por ser uma broca que se alimenta internamente da polpa do fruto do tomateiro. A biologia da traça-do-tomateiro foi estudada por Herrera(1963) em condições de campo e diversos autores (Vargas,1970; Razuri & Vargas,1975; Quiroz, 1976; França et al., 1984; Paulo, 1986; Coelho & França,1987; Haji et al., 1988; Imenes et al., 1990) relataram diferentes dados sobre suas características biológicas, em condições de laboratório, sempre empregando a folha do tomateiro para a criação do inseto. Esta dependência da planta hospedeira limita os avanços em relação ao controle da praga e, por isso, se faz necessária a descoberta de uma dieta artificial que permita a criação do inseto na ausência de seu hospedeiro natural, ou seja, a folha do tomateiro. Giustolin et al. (1995) testaram dez dietas artificiais contendo diferentes fontes protéicas, e dentre elas, foi possível selecionar uma como mais adequada para a criação da traça, ou seja, aquela que continha feijão ‘Carioca’, germe-de-trigo, caseína, levedura de cerveja e proteína de soja como fontes protéicas. Assim, o presente trabalho objetivou desenvolver uma dieta artificial que permita a criação do inseto sem a dependência da planta hospedeira, usando-se como variável a cultivar de feijão empregada para o preparo da dieta.

MATERIAL E MÉTODOS

O desenvolvimento larval e pupal de T. absoluta foi estudado em 8 dietas artificiais, comparando-o com aquele em dieta natural (folhas de tomateiro ‘Santa Clara’), no laboratório de Biologia de Insetos do Departamento de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (ESALQ) - Universidade de São Paulo (USP), em Piracicaba, São Paulo, à temperatura de 25±1°C, umidade relativa de 70±10% e fotofase de 14 horas.

A dieta de Greene et al. (1976) (TABELA 1) que se mostrara promissora em trabalhos anteriores desenvolvidos por Giustolin et al. (1995), foi tomada como base para a presente pesquisa. A variável da dieta foi uma das fontes protéicas, ou seja, o feijão cozido. Baseando-se em pesquisas anteriores de Parra & Carvalho (1984) de que variedades de tegumento escuro, por terem mais tanino, propiciam uma menor digestibilidade e, portanto, pior desenvolvimento para Spodoptera frugiperda (J.E. Smith, 1797), optou-se por variedades de tegumento claro. Como neste trabalho, os autores selecionaram a variedade ‘Carioca’ como a mais adequada, a dieta que a continha foi incluída na comparação (testemunha).

Foram estudadas, além da dieta com feijão ‘Carioca’, dietas com as cultivares Jalo, Aeté-6, Emgopa-Ouro e Pintado e o feijão conhecido comercialmente como Branco. Foram acrescentadas para comparação do desenvolvimento biológico de T. absoluta, ao lado das 6 dietas, 2 outras, ambas contendo feijão branco; uma delas com extrato de folhas e outra com pó de folhas de tomateiro cultivar Santa Clara, objetivando aumentar a ação fagoestimulante da dieta.

Para obtenção do extrato de folhas, pesaram-se 15g de folhas e estas foram trituradas em meio aquoso, em liqüidificador. Os resíduos foram eliminados coando-se o material proveniente do liqüidificador; o volume final foi medido para ser descontado do volume de água normalmente utilizado no preparo da dieta. Assim, no final do processo de preparo da dieta acrescentou-se o extrato juntamente com os anticontaminantes. Para obtenção do pó de folhas, estas foram secas em estufa e moídas. Este pó foi acrescentado na concentração de 5% (15g) na dieta. Como testemunha, foram utilizadas folhas de tomateiro, cultivar Santa Clara.

As dietas foram preparadas de acordo com a metodologia descrita por Parra (1996), tomando-se apenas o cuidado de se reduzir o tamanho das partículas dos ingredientes empregados na elaboração da dieta, através de moagem prévia, devido ao pequeno tamanho das lagartas.

Lagartas recém-eclodidas, obtidas de ovos colocados por fêmeas criadas em folhas de tomateiro, foram transferidas para o interior do tubo contendo dieta, com o auxílio de um pincel de pêlo natural, colocando-se três lagartas por tubo, avaliando-se um total de 100 tubos/tratamento.

Os tubos foram revisados diariamente para se observar a data de pupação. As pupas ficavam no algodão de onde eram retiradas com o auxílio de pinças e transferidas, individualmente, para tubos de vidro (4,0 cm de altura x 0,5 cm de diâmetro), tamponados com algodão hidrófilo, sendo devidamente identificados.

Após 24 horas, as pupas foram pesadas em balança analítica e separadas por sexo (Butt & Cantu, 1962; Quiroz, 1976). A emergência foi observada para determinação da duração do período pupal e se os adultos emergidos eram normais ou se apresentavam algum tipo de deformação.

Os parâmetros biológicos avaliados em cada uma das dietas testadas foram: duração e viabilidade da fase larval; número de ínstares; duração e viabilidade da fase pupal; peso de pupas (machos e fêmeas); porcentagem de pupas deformadas; razão sexual; porcentagem de adultos deformados; e, porcentagem de contaminação por fungos e/ou bactérias.

Para determinação do número de ínstares dos insetos mantidos nas 8 dietas, foram separados 60 tubos por dieta, com apenas uma lagarta inoculada, medindo-se diariamente a largura de sua cápsula cefálica. Como testemunha, mediu-se a largura da cápsula cefálica de 60 lagartas alimentadas com folíolos de tomateiro, cultivar Santa Clara. Estas medições foram feitas com um medidor WILD MMS 235, acoplado a um microscópio estereoscópico.

Para a observação dos adultos, casais foram formados a partir de indivíduos recém-emergidos. Cada casal foi mantido em uma "gaiola" que consistia de um tubo de vidro (8,0 cm de altura x 2,5 cm de diâmetro) colocado com a abertura sobre uma placa de isopor, previamente perfurada, em círculo, com vasador. No centro deste círculo foi feita outra perfuração para sustentar um outro tubo de vidro (4,0 cm de altura x 0,3 cm de diâmetro), contendo água para manter a turgescência do folíolo de tomateiro que serviu de substrato de postura. Ao lado deste pequeno vidro foi colocado um pequeno pedaço de rolo dental umedecido com solução de mel a 10% para fornecer alimento aos adultos. Diariamente, contavam-se os ovos e procedia-se à troca do folíolo de tomateiro.

Os seguintes parâmetros biológicos foram avaliados em cada dieta nesta fase adulta: total de ovos por fêmea; longevidade de machos e fêmeas.

Para o estudo da biologia em folhas de tomateiro, foi colocado, em tubos de vidro de 8,0 cm de altura x 2,5 cm de diâmetro, um folíolo de tomateiro com um chumaço de algodão hidrófilo umedecido envolvendo a sua extremidade inferior para evitar o seu ressecamento. Em cada tubo foram "inoculadas" três lagartas, avaliando-se os mesmos parâmetros biológicos observados nas dietas artificiais.

O delineamento experimental empregado foi inteiramente casualizado, sendo os resultados submetidos à análise de variância e as médias comparadas, através do teste de Tukey, no nível de 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Pôde-se observar que houve um alongamento do período larval de Tuta absoluta (Meyrick, 1917) quando o inseto foi criado em dietas artificiais, embora tenha havido uma variação muito grande entre as diferentes cultivares de feijão utilizadas (TABELA 2).

A adição de extratos ou pós de folhas do tomateiro, mostrou que tais diferenças podem também estar relacionadas à falta de um fagoestimulante para o inseto, pois o acréscimo de pó de folhas encurtou em 11 dias o período larval em relação às piores dietas, ou seja aquelas à base de feijão 'Pintado' ou 'Aeté', que, praticamente, triplicaram o período larval em relação à dieta natural. Isto leva à hipótese de que talvez não seja deficiência nutricional das dietas e que alguns ajustes nas características físicas destes meios (considerando-se o diminuto tamanho do inseto) possam melhorar a sua "performance"; pode-se sugerir a trituração, com a moagem de ingredientes mais grosseiros como germe-de-trigo, o que possibilitará o preparo de uma dieta com textura mais adequada à traça-do-tomateiro.

Os insetos estudados eram provenientes de folhas de tomateiro, o que pode ter levado a um condicionamento pré-imaginal. Desta forma, é provável que após algumas gerações no meio artificial, haja uma adaptação do inseto, visto que microlepidópteros da família Gelechiidae, em geral, somente se adaptam a meios artificiais após algumas gerações de laboratório (Singh, P., informação pessoal).

Ficou evidente, no entanto, a variação do desenvolvimento larval em função da cultivar de feijão utilizada.

O menor período larval foi obtido quando as lagartas foram criadas em folhas de tomateiro, cultivar Santa Clara, que é o alimento natural do inseto. Neste caso, os dados estão próximos àqueles obtidos por Razuri & Vargas (1975) e Haji et al. (1988), porém são inferiores aos relatados obtidos por Imenes et al. (1990) e Vargas (1970). A duração do período larval com as cultivares Carioca, Jalo e Branco foi inferior aos resultados obtidos por Giustolin et al. (1995) em dietas artificiais.

Com relação à duração do período pupal, este foi menor para insetos criados em folhas de tomateiro, diferirindo das dietas contendo unicamente feijão ou mesmo daquelas que continham feijão Branco enriquecido com extratos ou pó de folhas de tomateiro (TABELA 2).

Corroborando os resultados de Parra & Carvalho (1984), para Spodoptera frugiperda (J.E.Smith, 1797), também para T. absoluta, aparentemente, os feijões com tegumento mais claro, como o ‘Jalo’ e Branco, por possuírem menos tanino e serem de fácil digestibilidade, aceleraram o desenvolvimento inicial (fase larval) levando a um estresse com reflexos na fase seguinte, pois, na presente pesquisa, o maior período pupal foi obtido quando os insetos foram criados em dieta com feijão 'jalo' (TABELA 2).

Indicando, mais uma vez, que não se trata de um problema nutricional, o peso de pupas não foi afetado pelas diferentes dietas (TABELA 2).

Quando a análise foi feita separadamente para machos e fêmeas, constatou-se que o alongamento do período larval nos insetos criados em dieta artificial se manteve, embora para insetos criados nas dietas contendo feijão ‘Aeté’ e ‘Pintado’ o período larval dos machos tenha sido um pouco mais longo (TABELA 3), ocorrendo o inverso nas demais dietas.

Em geral, o peso das pupas que originaram fêmeas foi maior do que daquelas que originaram machos. Embora a literatura registre que existe uma estreita correlação entre o peso das pupas fêmeas e o número de ovos colocados, na presente pesquisa, o número de ovos foi bem superior quando o inseto foi criado em dieta natural (TABELA 6). Não existe explicação para este fato, visto que o peso de pupas fêmeas foi semelhante em todas as dietas, variando de 3,3 a 3,9 mg (TABELA 3).

O número de ovos obtido de fêmeas oriundas do hospedeiro natural (TABELA 4) foi superior ao encontrado por Herrera (1963), Paulo (1986), Haji et al. (1988) e Giustolin et al. (1995), estando próximo aos resultados encontrados por Razuri & Vargas (1975) e Souza et al. (1983). Porém, o resultado encontrado na presente pesquisa foi cerca de 1/3 menor e 1/5 maior quando comparado aos resultados obtidos por Imenes et al. (1990) com fêmeas alimentadas com mel a 10% e adultos que receberam apenas água, respectivamente. Fica evidente, tanto no presente trabalho como no dos referidos autores, a importância do fornecimento do mel para aumentar a postura e longevidade de insetos, como demonstrado para diversas espécies de Lepidoptera (Parra, 1996).

A criação da traça-do-tomateiro em dieta artificial afetou a sua longevidade (TABELA 4).Tanto machos quanto fêmeas viveram menos quando provenientes da dieta contendo feijão Branco acrescido de pó de folha de tomateiro, apesar da menor duração do período larval (TABELA 3) que foi conseguida quando se acrescentou este fagoestimulante na tentativa de aumentar o "pegamento" inicial.

Não houve correlação entre longevidade e capacidade de postura quando foram consideradas dietas artificiais e naturais, pois quando criado em folhas de tomateiro, a fêmea viveu significativamente menos do que na dieta contendo feijão ‘Jalo’ e, no entanto, o número de ovos foi cerca de 2,5 vezes maior no hospedeiro natural do que na dieta artificial. Apesar da adição de extratos ou pó de folhas ter reduzido a longevidade de T. absoluta (TABELA 4), ainda assim, a capacidade de postura destas fêmeas (TABELA 4) foi numericamente superior ao daquelas oriundas da dieta contendo feijão ‘Pintado’.

A razão sexual foi significativamente alterada somente na dieta artificial que continha feijão ‘Pintado’, pois houve um maior número de machos do que de fêmeas. Este resultado atesta, mais uma vez, a inadequação desta cultivar para a criação da traça-do-tomateiro. Nas demais dietas, os valores obtidos não diferiram da condição ideal de 50% de fêmeas e 50% de machos (razão sexual: 0,5).

Quando o inseto foi criado no hospedeiro natural, este valor foi significativamente diferente daquele normalmente esperado, pois obteve-se um número maior de fêmeas. O valor observado na presente pesquisa assemelha-se aos relatados por Vargas (1970), Haji et al.(1988) e Imenes et al.(1990).

A longevidade e a sobrevivência obedeceram à distribuição de Weibull, para machos e fêmeas, indicando que as dietas não alteraram a fisiologia do inseto, pois foi possível fazer-se a previsão destes parâmetros, o que facilitará criações de laboratório, seja em pequena, média ou grande escala.

É sabido que, um dos grandes problemas na manutenção de criações em dietas artificiais, são as contaminações nos meios, já que estes são ricos em nutrientes, dando condições ideais para o desenvolvimento de microrganismos. Na presente pesquisa, a contaminação por fungos e bactérias nas dietas artificiais não existiu. Tal fato atesta a adequação da quantidade de anticontaminantes utilizada no preparo das dietas.

A viabilidade larval foi bastante reduzida quando o inseto foi criado em dietas artificiais em relação à dieta natural (TABELA 5). Dentre as dietas artificiais, a viabilidade do período larval foi maior naquela contendo feijão Branco e pó de folha de tomateiro. O acréscimo de um fagoestimulante à dieta provocou um significativo aumento na viabilidade larval, evidenciando, mais uma vez, que o insucesso na obtenção de uma dieta artificial para a criação deste inseto, não está sendo provocado por um problema nutricional.

Provavelmente, o desempenho negativo do inseto no meio artificial esteja sendo causado por uma inadequação física, como por exemplo, a granulação (citada anteriormente) ou a quantidade de ágar (substância gelificante). O emprego de uma dieta mais liqüefeita, deverá facilitar a sobrevivência das lagartas de 1º ínstar, que são de tamanho diminuto e bastante sensíveis ao desgaste provocado pelo consumo de um alimento muito rígido e áspero, e, muitas vezes, nem chegam a se alimentar. Por outro lado, a adição de pó de folhas de tomateiro, não favoreceram a longevidade de adultos e sua capacidade de postura (TABELA 4); sugerem-se pesquisas no sentido de se determinar a concentração de pó de folha adequada a ser incorporada na dieta, desde que esta pode ter sido uma das causas deste insucesso, pois a concentração utilizada na presente pesquisa foi escolhida aleatoriamente.

Por outro lado, não houve efeito das dietas artificiais na viabilidade pupal, sendo que aquelas contendo feijão Branco e pó ou extrato de folha proporcionaram viabilidades pupais, em termos numéricos, superiores àquelas registradas quando o inseto foi criado em dieta natural (TABELA 5), além de terem apresentado um número insignificante de adultos com deformações. Desta forma, supõe-se que a adaptação do inseto ao longo das gerações, permitirá que sejam atingidos os 75% de viabilidade total preconizados por Singh (1983) como o mínimo para que uma dieta possa ser utilizada para a criação de insetos em laboratório.

Em linhas gerais, pelas características mencionadas, a dieta contendo feijão Branco e pó de folhas de tomateiro ‘Santa Clara’, pode ser considerada como a mais promissora para a criação de T. absoluta.

O número de ínstares larvais de T. absoluta foi constante e igual a 4 em todas as dietas artificiais testadas e no hospedeiro natural (folhas de tomateiro) (TABELA 6). Tais dados são coincidentes com aqueles obtidos por Vargas (1970), Haji et al. (1988), Ferreira & Anjos (1997) e Giustolin et al. (1997), que criaram os insetos em folhas de tomateiro. Em todas as dietas pôde-se observar que o crescimento da cápsula cefálica de todas as lagartas obedeceu à regra de Dyar (Parra & Haddad, 1989), estando o valor da razão de crescimento entre 1,46 e 1,53. Estes valores estão próximos àqueles obtidos por Vargas (1970) e Haji et al. (1988).

O aumento do número de ínstares pode ser um indicativo da inadequação nutricional de um meio alimentar (Parra, 1991). Como na presente pesquisa, este número no alimento natural e artificial foi constante e igual a 4, pode-se inferir que não há realmente problemas com as dietas, em termos nutricionais, podendo-se sugerir que os piores resultados nos meios artificiais se devem ou a problemas físicos da dieta ou à problemas de adaptação ao laboratório.

Recebido para publicação em 02.06.98

Aceito para publicação em 20.05.99

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Jan 2000
  • Data do Fascículo
    Out 1999

Histórico

  • Aceito
    20 Maio 1999
  • Recebido
    02 Jun 1998
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