O artigo apresenta e discute o discurso da "segurança pública" tal como formulado e difundido pela Secretaria de Segurança Pública do Estado do Paraná. Esse discurso, parte importante da própria política de segurança pública, é analisado aqui como um dispositivo de controle social perverso. O uso do adjetivo "perverso" refere-se a um tipo de controle social que ao invés de primar pelo bem-estar social, investe simultaneamente na defesa retórica dos direitos humanos, na exaltação de critérios técnico-científicos de "guerra" ao crime, assim como em ações práticas de combate legal da pobreza. Essa estratégia faz parte de uma luta simbólica cujo efeito é, antes de tudo, criminalizar o Outro. No caso em análise, esse Outro é o pobre. Minha hipótese é que essa prática discursiva mobiliza duas doxas diferentes, direcionadas a públicos também diferentes. Sugiro que a adesão a essas doxas, dos direitos humanos e do combate técnico ao crime, estão ligadas a um jogo cujas regras são dadas pelas lutas no campo político. Esse processo faz parte não só do mecanismo de manutenção do monopólio do uso legítimo da força física e simbólica pelo Estado, mas também da luta político-eleitoral daqueles agentes do Estado que formulam e pronunciam esse novo discurso da segurança pública.
This article presents and debates the discourse of "public safety" as it has been formulated and disseminated by the Secretariat of Public Safety for the State of Paraná. This discourse, an important part of public safety policy, is seen here as a perverse social control device. Our use of the adjective "perverse" makes reference to a type of social control that, instead of aiming at social welfare, invests simultaneously in a defensive rhetoric of human rights, exaltation of technical and scientific criteria for the "war against crime" and practical actions for a legal war on poverty. This strategy is part of a symbolic struggle with the overall effect of the criminalization of the Other - in this case, the poor. My hypothesis is that this discursive practice mobilizes two different doxas, directed toward different publics. I suggest that adherence to one or the other - the doxa of human rights, or of crime-fighting - is linked to a game whose rules are given by struggles in the political field. This process is not only part of mechanisms of State monopoly over the legitimate use of symbolic and physical force but also of political and electoral struggle of the State agents who formulate and pronounce these new discourses of public safety.
Résumé : L'article présente et discute le discours de la « sécurité publique », tel comme il est formulé et diffusé par l'Office de Sécurité Publique de la Région du Paraná. Ce discours, considéré comme une partie importante de la politique de sécurité publique elle-même, est analysé ici autant qu'un dispositif de contrôle social pervers. L'utilisation de l'adjectif « pervers », fait référence à un type de contrôle social qui investit simultanément sur la défense rhétorique des droits humains, sur l'exaltation des critères techniques et scientifiques de « guerre » à la criminalité, ainsi comme sur des actions pratiques de combat légal à la pauvreté, au lieu de s'investir plutôt au bien-être social. Cette stratégie fait partie d'un combat symbolique, dont l'effet est la criminalisation de l'autrui. Dans le cas sous analyse, l'autrui c'est le pauvre. Mon hypothèse, c'est que cette pratique discursive mobilise deux opinions différentes, dirigées à des publics aussi différents. Je suggère que l'adhésion à ces opinions, celle des droits humains et celle du combat technique au crime, est liée à un jeu dont les règles sont données par les luttes dans le domaine politique. Ce processus fait partie du mécanisme d'entretien du monopole de l'utilisation légitime de la force physique et symbolique par l'Etat, tout comme de la lutte politique et électorale des agents de l'Etat qui formulent et prononcent ce nouveau discours de la sécurité publique.