De janeiro de 1984 a março de 1999, 73 crianças com menos de 15 anos de idade (1 a 14 anos, mediana = 9 anos) foram admitidas após terem sido picadas por serpentes do gênero Bothrops. 26,0% das crianças foram classificadas como acidente leve, 50,7% como moderado e 20,6% como grave. Dois pacientes (2,7%) não apresentaram sinais de envenenamento. A maioria dos pacientes apresentou manifestações locais, principalmente edema (94,5%), dor (94,5%), equimoses (73,9%) e bolhas (11,0%). Sangramento local e/ou sistêmico foi constatado em 28,8% das crianças. Alterações da coagulação, antes da administração da soroterapia antiveneno (SAV), foram observadas em 60,7% (sangue incoagulável em 39,3%) das 56 crianças que receberam a SAV exclusivamente em nosso hospital. Reações precoces à SAV foram observadas em 44,6% destes 56 casos, sendo 15 em 30 pacientes não pré-tratados e 10 dentre 26 pré-tratados com antagonistas H1 e H2 da histamina e hidrocortisona, a maioria das quais foi considerada leve. As principais complicações observadas foram a infecção local (15,1%), a síndrome de compartimento (4,1%), gangrena (1,4%) e insuficiência renal aguda (1,4%). Nenhum óbito foi registrado. Não foram constatadas diferenças estatísticas significativas comparando-se a freqüência de distúrbios da coagulação de acordo com a gravidade (p = 0,75), bem como na freqüência de reações precoces à SAV entre os grupos que receberam ou não o pré-tratamento (p = 0,55). A freqüência de infecção local foi significativamente maior nos casos graves (p < 0,001). Pacientes atendidos mais de 6 horas após o acidente apresentaram um maior risco quanto à evolução para casos graves (p = 0,04).
From January, 1984 to March, 1999, 73 children under 15 y old (ages 1-14 y, median 9 y) were admitted after being bitten by snakes of the genus Bothrops. Twenty-six percent of the children were classified as mild envenoming, 50.7% as moderate envenoming and 20.6% as severe envenoming. Two patients (2.7%) showed no signs of envenoming. Most of the patients presented local manifestations, mainly edema (94.5%), pain (94.5%) ecchymosis (73.9%) and blisters (11%). Local and/or systemic bleeding was observed in 28.8% of the patients. Before antivenom (AV) administration, blood coagulation disorders were observed in 60.7% (incoagulable blood in 39.3%) of the 56 children that received AV only in our hospital. AV early reactions, most of which were considered mild, were observed in 44.6% of these cases (in 15/30 patients not pretreated and in 10/26 patients pretreated with hydrocortisone and histamine H1 and H2 antagonists). The main clinical complications observed were local infection (15.1%), compartment syndrome (4.1%), gangrene (1.4%) and acute renal failure (1.4%). No deaths were recorded. There were no significant differences with regard to severity of envenoming versus the frequency of blood coagulation disorders among the three categories of envenoming (p = 0.75) or in the frequency of patients with AV early reactions between the groups that were and were not pretreated (p = 0.55). The frequency of local infection was significantly greater in severe cases (p < 0.001). Patients admitted more than 6 h after the bite had a higher risk of developing severe envenoming (p = 0.04).