RESUMO A democracia tem sido tema recorrente no Brasil da última década, devido à emergência de narrativas e movimentos conservadores que interditam o debate público sobre assuntos que trazem as diferenças para o campo social, como é o caso do racismo e das violências de gênero e sexuais, além de fazerem apelos à reedição de políticas de exceção vigentes na ditadura cívico-militar no Brasil. Desse modo, o objetivo principal deste artigo é analisar os sentidos de democracia e educação a partir de incursões no passado da ditadura militar, como forma de problematizar as políticas de exceção vigentes no Brasil do presente. Para tanto, pretende-se discutir: (1) as necropolíticas que incidiram sobre as vidas de crianças e mulheres na ditadura militar, a partir de depoimentos sobre torturas praticadas por agentes do Estado, extraídos do relatório da Comissão Nacional da Verdade, e suas relações com necropolíticas do Brasil atual que remetem ao racismo e às violências de gênero, com base em críticas às noções de proteção e desenvolvimento em seus efeitos colonizadores; e (2) o desaparecimento social como política de extermínio da memória e suas repercussões nefastas na educação. Por fim, busca-se salientar o processo devastador das diferenças, sejam de gênero, sexuais, raciais, étnicas e etárias, implementado por políticas de exceção do passado e do presente, e como uma educação democrática, que se posicione na contramão dessas políticas, pode ser resistência à barbárie.
ABSTRACT Democracy has been a recurring theme in Brazil for the past decade, due to the emergence of conservative narratives and movements impairing public debate on issues that bring differences to the social field, such as racism and gender/ sexual violence, in addition to calling for the re-edition of the ongoing exception policies in the Brazilian civic-military dictatorship. Thus, the main objective of this paper is to analyze the meanings of democracy and education based on incursions into the past of the military dictatorship, as a way of problematizing the current exception policies in Brazil at present. To this end, it is intended to discuss: (1) the necropolitics that affected the lives of children and women in the military dictatorship, based on testimonies about torture by State agents, extracted from the report of the National Truth Commission, and their relations with necropolitics in the current Brazil that refer to racism and gender-based violence, grounded on criticisms to the notions of protection and development in their colonizing effects; and (2) the social disappearance as a policy of exterminating memory and its harmful repercussions on education. Finally, it is aimed to highlight the devastating process of differences, whether gender, sexual, racial, ethnic and age, implemented by past and present exception policies, and how a democratic education, which stands against these policies, may be resistance to barbarism.