OBJETIVO: O objetivo deste estudo é investigar os sintomas depressivos que diferenciam pacientes com e sem depressão associada a condições médicas. MÉTODOS: Foram estudados 293 pedidos de interconsulta à psiquiatria, consecutivos, no ano 1998, sendo 168 (57,5%) mulheres e 124 (42,5%) homens, com idades variando de 18 a 93 anos (47,2+/-18,0 anos). O diagnóstico psiquiátrico foi realizado através de uma entrevista clínica aberta, utilizando-se os critérios do DSM-IV. A análise estatística foi realizada através dos testes de Qui-quadrado e regressão logística. RESULTADOS: Dos 293 pacientes avaliados, 230 (78,50%) preenchiam critérios para diagnóstico psiquiátrico; sendo que 136(59,1%) apresentaram transtornos dentro do espectro depressivo: Depressão Maior (n=60-26,1%), Depressão Menor (n=31-13,5%), Depressão Secundária (n=19-8,3%) e Reação de Ajustamento com Humor Depressivo (n=26-11,3%). À exceção do aumento de apetite, aumento de peso, agitação e ilusões, a ocorrência ou não de depressão foi significativamente diferente (p<0,05) quando se comparou a presença com a ausência dos demais sintomas potencialmente depressivos. A anedonia e a piora matinal só foram detectadas em, respectivamente, 4 e 3 pacientes sem depressão, o que não permitiu sua inclusão na análise de regressão logística. De acordo com a análise de regressão logística (IC=95%), as variáveis selecionadas para explicar o diagnóstico de depressão foram: pensamento de morte (OR=20,6; 2,5-170,5), irritabilidade (OR=4,5; 1,7-11,9), despertar precoce (OR=15,0; 1,7-129,3) e perda de peso (OR=8,1; 2,6-24,4). CONCLUSÃO: Pensamentos de morte, irritabilidade, despertar precoce, perda de peso anedonia e piora matinal foram os sintomas que mais fortaleceram o diagnóstico de depressão. Mesmo sintomas que poderiam ser manifestação da condição clínica e/ou da depressão (tais como insônia, diminuição da concentração, fadiga e lentificação) foram significativamente mais associados ao diagnóstico da depressão. Estes dados reforçam a necessidade do clínico investigar ativamente o diagnóstico de depressão na presença de sintomas físicos que podem ser decorrentes de uma condição médica geral ou de uma depressão. Devido a sua elevada prevalência, a depressão não pode ser um diagnóstico de exclusão.
OBJECTIVE: To investigate the depressive symptoms that differentiate patients with and without depression associated to medical disease. METHOD: During 1998, 293 consecutive referrals for consultations were studied, 168 (57.5%) of females and 124 (42.5%) males, with ages ranging from 18 to 93 years (47.2 ± 18.0 years).Psychiatric diagnosis was made by clinical interviews, according to DSM-IV criteria. For statistical analysis the chi-square and logistic regression tests were adopted. RESULTS. Of the 293 patients under study, 230 (78.5%) fulfilled the criteria for psychiatric diagnosis, 136 (59.1%) of them presented disorders within the depressive spectrum: Major Depression (n= 60 --26.1%), Minor Depression (n = 31 --13.5%). Secondary Depression (n= 19-8.3%) and Adjustment Disorder with Depressive Mood (n= 26-11.3%). Excep for greater appetite, weight gain, agitation and delusions, the occurrence or not of the diagnostic of depression was significantly different (p<0.05) when comparing the presence with the absence of the remaining potential depressive symptoms. The anedonia and morning worsening were detected in 4 and 3 patients without depression respectively, which did not allow the inclusion of these symptoms in the regression analysis model. In accordance with the logistic regression analysis (IC= 95%) the selected variables to explain diagnosis of depression were thoughts of death (OR= 20.6; 2.5-170.5), irritability (OR= 4.5; 1.7-11.9), early awakening (OR=15.0; 1.7-129.3) and weight loss (OR=8.1; 2.6-24.4). CONCLUSION: Thoughts of death, irritability, early awakening, loss of weight, anhedonia (loss of pleasure); and morning worsening were the symptoms that strongly supported depression diagnosis. Even symptoms that could be a manifestation of medical condition and/or of depressions (such as sleeplessness, diminished concentration, fatigue and slowing down) were significantly more associated to the diagnosis of depression. These data outline the need for an active clinical investigation of depression by the physician in the case of physical symptoms that could be related to a medical condition or a depression. Owing to its high prevalence, the diagnosis of depression should not be made on an exclusion basis.