Racional - A hemorragia digestiva alta é complicação comum e grave da maioria das doenças do trato gastrointestinal superior. A endoscopia tem papel fundamental no diagnóstico e no tratamento da hemorragia digestiva, mas os dados epidemiológicos a esse respeito ainda são precários em nosso meio. Objetivos - Determinar as características clínicas, a acurácia endoscópica, a eficácia do tratamento e a evolução clínica dos pacientes admitidos no setor de endoscopia digestiva do Hospital Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, com sangramento digestivo alto. Pacientes e Métodos - Estudo retrospectivo de registros consecutivos de pacientes com hemorragia digestiva alta submetidos a endoscopia de urgência, em período de 2 anos. Resultados - A maioria dos pacientes era do sexo masculino (68.7%) com idade média de 54,5 ± 17,5 anos. O sítio de sangramento foi identificado em 75.6% dos pacientes. A acurácia diagnóstica da endoscopia foi maior quando realizada nas primeiras 24 horas do início do sangramento e quando da presença de hematêmese. A úlcera péptica foi a principal causa de hemorragia digestiva alta (35%). A prevalência de sangramento varicoso (20,45%) indica freqüência alta de hepatopatia subjacente. O tratamento endoscópico foi realizado em 23,86% dos pacientes. Hemostasia permanente foi alcançada em 86% dos pacientes após a primeira intervenção endoscópica e em 62,5% dos pacientes após ressangramento. Cirurgia de emergência foi raramente necessária. A quantidade de unidades de sangue utilizada foi em média 1,44 ± 1,99 por paciente. O tempo médio de internação hospitalar foi de 7,71 ± 12,2 dias. Ressangramento foi observado em 9,1% dos pacientes. A taxa de mortalidade de 15,34% foi significativamente relacionada com a presença de doença hepática prévia. Conclusões - A acurácia diagnóstica foi correlacionada tanto com o intervalo de tempo entre o episódio de sangramento e a realização da endoscopia, como com a forma de apresentação clínica. A terapêutica endoscópica mostrou-se eficaz num grupo selecionado de pacientes. O aumento do tempo de hospitalização e a maior taxa de mortalidade nos pacientes submetidos a terapêutica endoscópica foram atribuídos a maior prevalência de varizes esofagianas e à presença de hepatopatia subjacente.
Background - Upper gastrointestinal bleeding is a frequent and potentially severe complication of most digestive diseases of the upper gastrointestinal tract. Upper endoscopy has a crucial role in the diagnosis and treatment of upper gastrointestinal bleeding, however epidemiological studies are still limited in our country. Aims - To assess the clinical characteristics, endoscopic accuracy, treatment efficiency and clinical outcome of patients admitted to the endoscopic unit with upper gastrointestinal bleeding. Methods - A retrospective study of consecutive records from patients who underwent emergency endoscopy for upper gastrointestinal bleeding was performed during a period of 2 years. Results - Most patients were male 68.7%, with a mean age of 54.5 ± 17.5 years. A bleeding site could be detected in 75.6% of the patients. Diagnostic accuracy was greater within the first 24 hours of the bleeding onset, and in the presence of hematemesis. Peptic ulcer was the main cause of upper gastrointestinal bleeding (35%). The prevalence of variceal bleeding (20.45%) indicates a high rate of underlying liver disease. Endoscopic treatment was performed in 23.86% of the patients. Permanent hemostasis was achieved in 86% of the patients at the first endoscopic intervention, and in 62.5% of the patients after rebleeding. Emergency surgery was seldom necessary. The average number of blood units was 1.44 ± 1.99 per patient. The average length of hospital stay was 7.71 ± 12.2 days. Rebleeding was reported in 9.1% of the patients. The overall mortality rate of 15.34% was significantly correlated with previous liver disease. Conclusions - Diagnostic accuracy was related to the time interval between the bleeding episode and endoscopy, and to clinical presentation. Endoscopic therapy was an effective tool for selected patients. The resulting increased duration of hospitalization and higher mortality rate in the patients submitted to therapeutic endoscopy were attributed to a higher prevalence of variceal bleeding and underlying liver disease.