CONTEXTO: A profilaxia antibiótica nas ressecções transuretrais da próstata é uma prática regular e freqüente na clínica urológica. No entanto, seu efeito profilático e bactericida protetor pode ser contestado se procedimentos assépticos são utilizados na realização da cirurgia, sobretudo em pacientes com urina estéril. No caso de infecção urinária, a identificação dos germes para escolha do antibiótico adequado pode ser necessária. OBJETIVO: Verificar a eficácia da antibioticoprofilaxia em pacientes com urina estéril submetidos a ressecção transuretral de próstata. TIPO DE ESTUDO: Prospectivo num centro de referência de tratamento urológico, aberto. LOCAL: Hospital de referência terciária. PARTICIPANTES: 124 pacientes. VARIÁVEIS ESTUDADAS: 124 pacientes consecutivos foram randomicamente divididos em dois grupos para receber ou não antibioticoterapia profilática na ressecção transuretral de próstata. Cultura do meato uretral, urina, líquido irrigante e anti-séptico, além dos fragmentos de próstata ressecados foram analisados quanto a sensibilidade a antibióticos, escolhidos a critério do cirurgião, e determinada a partir de antibiograma com as cepas bacterianas identificadas nos sítios mencionados. RESULTADOS: Não se encontrou diferença estatisticamente significante na evolução clínica de ambos os grupos. Aqueles que receberam antibioticoprofilaxia apresentaram menor freqüência de cultura urinária positiva do que aqueles que não receberam profilaxia. No entanto, na observação da evolução clínica de ambos os grupos, o uso de antibiótico não mostrou qualquer benefício no que concerne à ocorrência de febre, positividade das culturas obtidas dos fragmentos de próstata ressecados ou episódios de bacteremia. 68 casos (57,1%) apresentaram cultura positiva do tecido prostático. Entretanto, não houve correlação entre a bactéria identificada a partir do tecido prostático e de outros locais, tais como meato, urina, líquido irrigante ou anti-séptico utilizado. Somente em seis casos foi encontrada a mesma bactéria no tecido prostático e na urina pós-operatória. Apenas em 15 casos (25%) do grupo antibiótico observou-se a sensibilidade esperada da bactéria identificada ao antibiótico utilizado. CONCLUSÃO: A profilaxia antibiótica em pacientes com urina estéril submetidos a ressecção transuretral de próstata poderia ser reavaliada, pois, na grande maioria das vezes, o antibiótico selecionado com finalidade profilática não apresenta especificadade às bactérias identificadas nos diversos sítios pesquisados.
CONTEXT: Antibiotic prophylaxis in transurethral resection of the prostate is a regular practice in urology. However, its prophylactic effect can be questioned when the antiseptic surgical technique is used. Nonetheless, urine culture-oriented antibiotic therapy is the gold standard for avoiding improper medication usage and bacterial resistance. OBJECTIVE: To study the efficacy of antibiotic usage in patients with negative urine cultures, who were submitted to transurethral resection of the prostate. TYPE OF STUDY: Prospective open labeled study. SETTING: Tertiary care referral hospital PARTICIPANTS: 124 consecutive patients, who were randomly divided into two groups to receive antibiotic prophylaxis or not. MAIN MEASUREMENTS: Cultures from meatus, urine, irrigation and antiseptic fluid, and prostate tissue chips, were compared and analyzed for bacterial sensitivity to the antibiotic used, according to the surgeon's personal criteria. McLennan's test was used for statistical analysis. RESULTS: No statistically significant difference regarding clinical evolution was found between the groups that received or antibiotics or not. Statistical significance was found regarding the occurrence of positive urine cultures during the postoperative period for those not receiving antibiotics, but not in relation to fever, prostate chip culture or bacteremic episodes. Sixty-eight subjects (57.1%) presented positive prostatic tissue culture. There was no specific correlation between the recovered bacteria from the meatus, prostatic tissue chip and urine and the spectrum of the administered antibiotic. Six cases showed the same bacteria in the urine and prostatic tissue chip. Only fifteen cases (25%) in the antibiotic group showed the desired sensitivity directed to the collected bacteria. CONCLUSIONS: Antibiotic prophylaxis for patients whose urine is sterile is debatable in patients who are candidates for transurethral resection of the prostate. Most of the time, the antibiotic agent used is not specific for any of the bacteria recovered from the various sources analyzed.