OBJETIVO: Esse trabalho divide-se em 2 partes, um estudo experimental para fundamentar a técnica de circulação extracorpórea com baixa pressão parcial de oxigênio e um estudo clínico, para mostrar a viabilidade de sua utilização em seres humanos. MATERIAL E MÉTODOS: No estudo experimental empregou-se a circulação extracorpórea em 20 cães divididos em 2 grupos de 10 animais. No grupo I, canulou-se separadamente a veia cava superior e, a seguir, a veia cava inferior, mantendo-se normais os batimentos cardíacos e a respiração, controlada com respirador e oxigênio puro. O sangue de cada veia cava depois de passar por um permutador de calor foi injetado na artéria femoral. A cada 30 minutos foram retiradas amostras de sangue da aorta acima do diafragma para determinação da gasometria. No grupo II, foi drenado o átrio direito e metade do sangue foi injetada na artéria pulmonar com outra bomba e recolhida pelo ventrículo esquerdo ao reservatório que é ao mesmo tempo, permutador de calor. O sangue, misturado na proporção de 50% venoso e 50% arterial foi reinjetado pela outra bomba na circulação arterial. O coração foi mantido fibrilando e a respiração controlada pelo respirador. No estudo clínico, os pacientes foram divididos em 2 grupos (Grupo A e B). O grupo A de 20 pacientes foi perfundido com sistema convencional, isto é, usando-se ar comprimido e oxigênio no oxigenador de membrana e alto pO2 arterial. No grupo B, também com 20 pacientes, foi utilizado o oxigenador de membrana, oxigênio puro e desvio veno-arterial, mantendo-se o desvio em torno de 40% a 50%. RESULTADOS: No estudo experimental, em ambos grupos, do ponto de vista fisiológico, houve desvio de 50% do sangue venoso para a circulação arterial e fluxo de perfusão mantido alto (100 ml/kg/min). Observou-se que o pO2 arterial em ambos grupos manteve-se entre 50 mmHg e 100 mmHg e a saturação venosa entre 50% e 70%. Todos os animais acordaram no final da perfusão. No estudo clínico verificou-se baixo pO2 arterial e fluxo de perfusão normal. Comparando-se os resultados clínicos constatou-se que não houve diferença de mortalidade nos 2 grupos, porém no grupo com baixo pO2 e desvio veno-arterial o sangramento pós-operatório foi significativamente menor, utilizando-se três vezes menos hemoderivados. Além disso, não foi necessário o uso de misturador de gases.
PURPOSE: This study is divided into 2 parts, an experimental study to establish a technique of extracorporeal circulation with low oxygen partial pressure and a clinical study to show the feasibility in humans. MATERIAL AND METHODS: Experimental surgery with extracorporeal circulation was performed in 20 dogs divided into 2 groups of ten. In group I, cannulation was done first in the superior vena cava, then in the inferior vena cava, keeping normal heartbeat and breathing, controlled by a respirator and pure oxygen. After passing through a heat exchanger, the blood of each vena cava was injected in the femoral artery. Blood samples from the aorta were taken above the diaphragm in every 30 minutes to check gasometric values. In group II, the right atrium was drained and half of the blood injected in the pulmonary artery with another pump and picked up through the left ventricle to the reservoir that also works as a heat exchanger. The mixed blood (50% arterial and 50% venous) was re-injected by another pump in the arterial circulation. The heart was maintained fibrillating and the breathing controlled by the respirator. In the clinical study, 40 patients were divided into 2 groups of 20 each. In group A the patients were bypassed in the conventional manner, that is, compressed air and oxygen in the oxigenator with high arterial pO2. In group B, pure oxygen was used in the membrane oxigenator and venous-arterial shunt, performed between 40% to 50%. RESULTS: In both groups, from a physiologic point of view there was shunting of 50% of venous blood to the arterial circulation and arterial blood flow was maintained high (around 100 ml\kg\min). It was observed that the arterial pO2 in both groups remained between 50 and 100 mmHg and venous saturation between 50 and 70%. All animals woke up at end of the experiment. In the clinical study, the arterial pO2 was a low 60 mmHg. Comparison of the clinical results showed there was no mortality difference between both groups, but in the group B, with the low pO2 and venous-arterial shunt, the post-operative bleeding was significantly smaller, having been used three times less blood and no need to use the blender.