Este artigo examina o emprego de trabalhadores brasileiros livres em diversas atividades nas fazendas de café e na construção de ferrovias em São Paulo na segunda metade do século XIX. A historiografia sobre o tema ressalta, em geral, a ausência/marginalidade dos trabalhadores nacionais na economia agroexportadora, seja assumindo a exclusão dos trabalhadores brasileiros considerados "vadios" e "indolentes" pela sociedade contemporânea, seja privilegiando os aspectos culturais desse grupo de população que resistia em se submeter aos novos moldes de dominação e padrões de eficiência e disciplina impostos neste momento de transição para o trabalho livre. Destacando o engajamento dos trabalhadores brasileiros nas mais diversas tarefas dos dois setores e a peculiaridade do emprego nessa economia rural baseada no trabalho escravo, o texto argumenta que, na verdade, era justamente a incapacidade da agricultura de gerar emprego durante todo o ano que produzia um padrão de instabilidade e mobilidade geográfica no mercado de trabalho rural, irregularidade/instabilidade que muitos identificavam como ociosidade e justificavam o recurso a legislações repressivas.
This article examines the engagement of Brazilian workers in several tasks in railway building and coffee plantations in São Paulo during the second half of the nineteenth century. In general, most of historiography argues that nacionais lived a marginal existence, either due to the prejudice of contemporary Brazilian society against free poor people, invariably presented as "indolent", "vagrant" and "lazy"; or to the free people´s resistance to the shift from cultural practices based on traditional values, to a more disciplined, methodical labour life. In contrast to these views, first, this article stresses the presence of Brazilian workers in the activities of both railway building and coffee plantations. Second, the article maintains that, in fact, it was the failure of agriculture to generate year-round employment that produced a pattern of instability and geographical mobility, that many (planters, officials and railway entrepreneurs) interpreted as an indication of worker indolence or cultural bias against regular employment, and asked for harsh social legislation against the poor workers.