RESUMO: Busca-se, neste texto, analisar como se configurava o trabalho pedagógico em escolas do campo do estado de Mato Grosso, nas décadas de 1980 e 1990. O estudo pauta-se na abordagem crítico-dialética e na pesquisa qualitativa, tendo como instrumento a entrevista semiestruturada, realizada com 23 professores. Os resultados apontam que as escolas não tinham uma proposta pedagógica definida; o trabalho pedagógico baseava-se nas orientações das secretarias de educação e nas experiências escolares dos professores; embora a educação no período em questão estivesse centrada nos aspectos instrucionais, alguns professores tentavam realizar um ensino humanizado, pautado na colaboração com alunos e pais/mães. A partir dos anos de 1990, o trabalho pedagógico passa a ocorrer de forma mais sistematizada e crítica, buscando incorporar a pesquisa como princípio pedagógico e a realidade do campo como laboratório vivo e fator de promoção da relação teoria-prática e da aprendizagem. Conclui-se que o trabalho pedagógico das escolas do campo, no período aqui recortado, é marcado por enormes desafios em termos da própria existência dessas escolas, da garantia de acesso dos trabalhadores rurais à educação escolar e da precariedade das condições de trabalho - estrutura física, recursos didáticos e formação/reconhecimento profissional. O processo de democratização do Brasil abre caminhos para se pensar em políticas públicas para a educação do campo, o que se intensificará no fim dos anos de 1990 e início dos anos 2000.
ABSTRACT3: This article seeks to analyze how the pedagogical work in rural school of the state of Mato Grosso was configured in the 1980s and 1990s. This study is based on the critical-dialectical approach and the qualitative research, having as instrument the semi-structured interview with 23 teachers. The results indicate that the schools did not have a defined pedagogical proposal. The pedagogical work was based on the orientations of the departments of education and on the teachers’ school experiences; although education in the period was focused on instructional aspects, some teachers tried to perform humanized teaching based on collaboration with students and parents. From the 1990s, pedagogical work started to take place in a more systematic and critical way, seeking to incorporate research as a pedagogical principle and the reality of the rural world as a living laboratory and as factor for the promotion of the theory-practice relationship and learning. We conclude that the pedagogical work of the rural school, during this period, is marked by enormous challenges in terms of the very existence of these schools, the guarantee of rural workers’ access to school education and the precarious working conditions - physical structure, teaching resources and professional recognition and training. Brazil’s democratization process opens the way to think public policies for rural education, which grew in the late 1990s and early 2000s.
RESÚMEN: Este artículo busca analizar cómo se configuró el trabajo pedagógico en las escuelas rurales del estado de Mato Grosso en las décadas de 1980 y 1990. El estudio se basa en el enfoque crítico-dialéctico y la investigación cualitativa, teniendo como instrumento la entrevista semiestructurada, realizada a 23 docentes. Los resultados indican que las escuelas no tenían una propuesta pedagógica definida; el trabajo pedagógico se basaba en las orientaciones de las secretarías de educación y en las experiencias escolares de los docentes; aunque la educación en el período en cuestión se centró en aspectos de instrucción, algunos maestros trataron de llevar a cabo una enseñanza humanizada, cimentada en la colaboración con estudiantes y padres de familia. A partir de la década de 1990, el trabajo pedagógico se realizó de una manera más sistemática y crítica, buscando incorporar la investigación como un principio pedagógico y la realidad del campo como laboratorio vivo y factor de promoción de la relación teoría-práctica con el aprendizaje. Se concluye que el trabajo pedagógico de las escuelas rurales durante este lapso de tiempo está marcado por enormes desafíos para la existencia misma de estas escuelas, la falta de garantía para el acceso de los trabajadores rurales a la educación escolar, precarias condiciones de trabajo, estructuras físicas deficientes, escasos recursos didácticos, al igual que formación y reconocimiento profesional. El proceso de democratización del Brasil abre caminos para pensar políticas públicas para la educación en contextos rurales, lo que se intensificará a finales de la década de 1990 y principios de la década de 2000.