RESUMO O tempo de deslocamento de casa ao trabalho tem se elevado substancialmente nas regiões metropolitanas brasileiras durante a última década. Esse fenômeno tem implicações fortes sobre o bem-estar dos indivíduos, porém as consequências desse problema não se distribuem uniformemente entre a população. O presente trabalho visa contribuir para o debate sobre a questão da mobilidade urbana nas metrópoles brasileiras analisando a evolução do tempo de deslocamento entre 1992 e 2013 e suas diferenças de acordo com características do trabalhador, como sexo, cor e renda per capita , e do posto de trabalho. Verifica-se que o aumento do tempo médio de deslocamento ocorreu a partir de 2003, caracterizando uma questão particularmente importante para as metrópoles brasileiras no terceiro milênio. Os trabalhadores com maiores tempos médios de deslocamento residem nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e de São Paulo. Entretanto, as maiores taxas de crescimento ocorreram nas metrópoles do Pará, Salvador e Recife, sugerindo a necessidade de melhor direcionamento e planejamento de políticas públicas na mobilidade urbana. Considerando as diferenças socioeconômicas, destaca-se que os mais pobres e os mais ricos (extremos da distribuição de renda) tendem a apresentar tempos de deslocamento menores do que os trabalhadores de famílias de renda média. Esse padrão se mantém ao longo do tempo, com aumento do tempo médio de deslocamento entre os mais pobres, mostrando uma face da desigualdade. Porém, o maior aumento ocorreu entre os mais ricos, colocando a questão da mobilidade urbana para além dos problemas de exclusão social.
ABSTRACT The commuting time has risen substantially at metropolitan areas in Brazil over the last decade. This phenomenon has strong implications on the well-being of individuals, on the labor supply patterns and on regional urban development. However, the consequences of this problem are unevenly distributed among the population. This paper aims to contribute to the debate of urban mobility issue in Brazilian cities by analyzing the commuting time evolution between 1992 and 2013 and their differences according to the workers own characteristics, such as gender, race, income, and job. The average commuting time raised since 2003, featuring a particularly important issue for Brazilian metropolises in the second millennium. Workers with higher average commuting times reside in the metropolitan areas of Rio de Janeiro and São Paulo. However, the highest growth rates occurred in the metropolitan areas of Pará, Salvador and Recife, suggesting the need for better-targeted and planned urban mobility public policies. Considering the socioeconomic differences, the poorest and the richest (extremes of the income distribution) tend to have lower commuting times than the general population. This pattern is maintained over time, with higher average commuting time between the poorest, showing a face of inequality. However, the travel time of the richest grew more than among the poorest, which raises the question of urban mobility beyond the problems of social exclusion.