RESUMO Neste ensaio teórico, a criatividade e, especificamente, os debates em torno da criatividade na escola são colocadas em perspectiva crítica. Para uma já vasta teoria, a criatividade é tomada como um valor central na cultura contemporânea e o ponto pacífico de tais variadas correntes teóricas diz respeito a uma alegada superação do estatuto do trabalho em direção ao que é chamado de trabalho imaterial. Nesse cenário, a produção dos humanos se realiza em fazer movimentar a própria subjetividade em sua complexidade. Moto contínuo, a escola, como local de formação, deve, segundo esse quadro histórico, responder à nova realidade e preparar os estudantes para serem criativos. Ambas as proposições, todavia, ignoram o fato de que nem o trabalho se ausenta das chamadas atividades criativas, nem a criatividade é estranha ao trabalho. Assim, as propostas correntes de criatividade na escola padecem do mesmo mal daquelas que sustentam a ideia de trabalho imaterial: ignoram o fato de que a criatividade é um componente da dinâmica social, de que o trabalho ainda é fundamento das práticas sociais mais diversas, inclusive, por óbvio, nas chamadas atividades criativas.
ABSTRACT In this theoretical essay, creativity and the so-called creativity in school are approached from a critical perspective. For a broad theory, creativity is regarded as a central value in contemporary culture. The point that unites these varied theoretical currents concerns an alleged overcoming of the status of labor toward what is called immaterial labor. In this context, the production of humans takes place in the movement of subjectivity itself in its complexity. In addition, the school, as a place of training, must, according to this new historical framework, respond to the new reality and prepare students to be creative. Both propositions, however, ignore the fact that neither labor is absent from the so-called creative activities nor creativity is foreign to labor. Thus, the current proposals for creativity in school show the same inconsistency as those that support the idea of immaterial labor: they ignore the fact that creativity is a component of social dynamics, that labor is still the foundation of the most diverse social practices, including, of course, the so-called creative activities.