RESUMO Este ensaio traz uma reflexão sobre a inter-relação da pandemia da doença causada pelo novo coronavírus com a desigualdade social, a insegurança alimentar e a obesidade no cenário global. A crise sanitária oriunda da pandemia está atrelada a uma crise econômica e social, marcada pelo aumento do desemprego e pela diminuição da renda, com consequente acréscimo da insegurança alimentar e nutricional. Os impactos devem ser sentidos em todo o mundo, embora a situação de cada país, no que diz respeito às condições de desigualdade social e acesso à alimentação, influencie na magnitude dos efeitos da pandemia. Paralelamente, sabe-se que a insegurança alimentar e nutricional está associada à baixa qualidade alimentar e a maiores índices de obesidade, o que prejudica a resposta imunológica e predispõe a piores prognósticos. Dessa forma, populações mais economicamente vulneráveis devem encarar piores desfechos da doença, além do agravamento da situação econômica, da piora da IAN e do aumento dos índices de obesidade.

ABSTRACT This essay is a reflection on the interconnection of the Covid-19 pandemic, social inequality, food insecurity and obesity in the global scenario. The pandemic health crisis is bound to an economic and social crisis marked by an increase in unemployment and a decrease in income with a consequent growth of food and nutritional insecurity. The impacts are felt worldwide, although the situation in each country, with regard to the conditions of social inequality and access to food, influences the magnitude of the pandemic consequences. At the same time, we are aware that food and nutritional insecurity is associated with low food quality and higher rates of obesity, which impairs the immune response and predisposes to worse prognosis. Thus, more economically vulnerable populations must face poorer disease outcome, besides the worsening of the economic situation and food and nutritional insecurity and the increase in obesity rates.

RESUMO Objetivo Verificar a capacidade preditiva de indicadores nutricionais em relação ao risco de hospitalização em pacientes em hemodiálise. Métodos Estudo de coorte prospectivo em duas unidades de hemodiálise no Sul do Brasil. Os indicadores nutricionais avaliados foram: avaliação subjetiva global, escore de desnutrição-inflamação, rastreamento de risco nutricional 2002, percentual de gordura corporal, circunferência muscular do braço, força do aperto da mão, ângulo de fase e albumina sérica. Foi analisada a associação entre indicadores nutricionais e risco de hospitalização no período de dois anos. Resultados Foram avaliados 138 pacientes (55.4±15.2 anos), sendo 61.6% homens. A incidência cumulativa de hospitalização foi 48.0% (IC95%=37,9-58,0). Os pacientes hospitalizados durante o período do estudo apresentaram maior índice de massa corporal e menores valores de albumina sérica em comparação aos não hospitalizados. Com base nos outros indicadores, pacientes desnutridos não apresentaram risco significativo de hospitalização (p>0,05). Albumina sérica foi o único preditor de hospitalização; pacientes com níveis <3,8 g/dL apresentaram taxa de densidade de incidência de hospitalização 2,47 vezes maior do que aqueles com níveis mais elevados (p=0,003). Sexo foi um modificador do efeito (p interação=0,042), com efeito em mulheres de 7,31 (IC95%=2,34-22,9; p=0,001) e em homens de 1,37 (IC95%=0,60-3,12; p=0,448). Conclusão A albumina sérica foi capaz de prever o risco de hospitalização no período de dois anos, em pacientes do sexo feminino em hemodiálise.

ABSTRACT Objective To verify the ability of nutritional indicators to predict risk of hospitalization in hemodialysis patients. Methods This prospective cohort study was conducted in two hemodialysis units in Southern Brazil. The following nutritional indicators were evaluated: subjective global assessment, malnutrition-inflammation score, nutritional risk screening 2002, percentage of body fat, mid-upper arm muscle circumference, hand grip strength, phase angle, and serum albumin. The association between nutritional indicators and risk of hospitalization over a period of two years was analyzed. Results One hundred thirty-eight patients (55.4±15.2 years, 61.6% men) were evaluated. The cumulative incidence of hospitalization during the study was 48.0% (95%CI=37.9-58.0). Patients hospitalized during the study period had higher body mass index and lower serum albumin than those who were not hospitalized. Based on the other indicators, malnourished patients did not have a significant risk of hospitalization (p>0.05). Serum albumin was the only predictor of hospitalization. Patients with levels <3.8 g/dL had a density ratio for incidence of hospitalization 2.47 times greater than those with higher levels (p=0.003). Gender was a modifier of the effect (p interaction=0.042), with an effect in women of 7.31 (95%CI=2.34-22.9; p=0.001) and in men of 1.37 (95%CI=0.60-3.12; p=0.448). Conclusion Serum albumin was able to predict the risk of hospitalization over a period of two years in female patients undergoing hemodialysis.

OBJETIVO: Verificar a associação da força do aperto da mão com o índice de massa corporal, a avaliação subjetiva global e o rastreamento de risco nutricional 2002. MÉTODOS: Estudo transversal com 118 pacientes internados no Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil. Foi calculado o índice de massa corporal e foram aplicados a avaliação subjetiva global, o rastreamento de risco nutricional 2002 e a força do aperto da mão. Esta última foi comparada aos valores de referência da população brasileira, segundo sexo e idade. Para análise estatística, foi utilizado o teste t Student ou Mann-Whitney e regressão linear múltipla, considerando uma significância estatística de p<0,05. RESULTADOS: A prevalência de risco nutricional ou desnutrição pelo índice de massa corporal, avaliação subjetiva global, rastreamento de risco nutricional 2002 e força do aperto da mão foi de 3,5%, 50,9%, 33,9% e 35,6%, respectivamente. Os indivíduos, identificados como desnutridos pelo índice de massa corporal, tiveram, em média, 11,0kg a menos na força do aperto da mão do que os nutridos (p=0,008). Não houve associação da força do aperto da mão com a avaliação subjetiva global (desnutridos tiveram -2,8kg; p=0,078) e com o rastreamento de risco nutricional 2002 (desnutridos tiveram -1,5kg; p=0,352). CONCLUSÃO: A força do aperto da mão foi associada com o índice de massa corporal, mas não com avaliação subjetiva global ou com o rastreamento de risco nutricional 2002.

OBJECTIVE: This study verified the association between hand grip strength and body mass index, subjective global assessment and nutritional risk screening 2002. METHODS: This cross-sectional study calculated the body mass index, measured hand grip strength and administered the subjective global assessment and nutritional risk screening 2002 to 118 patients hospitalized at the University Hospital of the Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brazil. Hand grip strength was compared with the reference values for the Brazilian population according to gender and age. The statistical analyses included the Student's t-test or Mann-Whitney test and multiple linear regression. The results were considered significant when p<0.05. RESULTS: The prevalences of nutritional risk or malnutrition according to body mass index, global subjective assessment, nutritional risk screening 2002 and hand grip strength were 3.5%, 50.9%, 33.9% and 35.6%, respectively. Malnourished individuals according to body mass index had, on average, 11.0kg less hand grip strength than the nourished individuals (p=0.008). There was no association between hand grip strength and the subjective global assessment (malnourished individuals had -2.8kg; p=0.078) and nutritional risk screening 2002 (malnourished individuals had -1.5kg; p=0.352). CONCLUSION: Hand grip strength was associated with body mass index but not with the subjective global assessment or nutritional risk screening 2002.

OBJETIVO: Investigar os efeitos da suplementação com ácidos graxos ômega-3, nas doses de 0,5 e 1,0g/kg/dia, nos lipídeos sangüíneos de ratos submetidos ou não ao protocolo do nado. MÉTODOS: Ratos Wistar foram divididos em grupos: controle, controle+nado, ácidos graxos ômega-3 e ácidos graxos ômega-3+nado. Os ácidos graxos ômega-3 e ácidos graxos ômega-3+nado receberam suplementação; os demais receberam água por gavagem. Os controle+nado e ácidos graxos ômega-3+nado foram submetidos ao exercício. Foram avaliadas as concentrações plasmáticas de colesterol total, triglicérides e lipoproteína de alta densidade, antes e após os procedimentos experimentais. RESULTADOS: No protocolo de 0,5g/kg/dia, em relação às concentrações de colesterol total, foi observada redução significativa proporcionalmente maior no grupo ácidos graxos ômega-3+nado, apesar de o grupo controle+nado e o ácidos graxos ômega-3 também terem apresentado diminuição. No ensaio de 1,0g/kg/dia todos os grupos apresentaram uma diminuição que foi maior, respectivamente, no ácidos graxos ômega-3+nado e, a seguir, no ácidos graxos ômega-3. Quanto aos triglicérides, foram encontradas reduções em todos os grupos experimentais, que foi maior no grupo ácidos graxos ômega-3+nado, do protocolo de 0,5g/kg/dia, enquanto que no de 1,0g/kg/dia a diminuição foi significativa apenas nos grupos ácidos graxos ômega-3 e ácidos graxos ômega-3+nado. Quanto ao HDL, no protocolo de 0,5g/kg/dia foi encontrado aumento nos animais que não foram suplementados, enquanto que em todos os grupos de 1,0g/kg/dia houve uma diminuição do HDL. CONCLUSÃO: A suplementação com ácidos graxos ômega-3 nas doses 0,5 ou 1,0g/kg/dia, associada ao nado, reduzem as concentrações plasmáticas de colesterol total e triglcérides, mas estudos adicionais, também com outras doses, são necessários para a compreensão da relação entre a ingestão de óleo de peixe e as concentrações de lipídeos sangüíneos.

OBJECTIVE: To investigate the effects of omega-3 fatty acid supplementation at doses of 0.5 and 1.0g/kg/day on the blood lipids of rats submitted or not to swimming exercise. METHODS: Wistar rats were divided into the following groups: control, control+swimming, omega-3 fatty acids and omega-3 fatty acids+swimming. The omega-3 fatty acids and omega-3 fatty acids+swimming groups received supplements by gavage, while the remaining animals received water by the same method. The control+swimming and omega-3 fatty acids +swimming groups were submitted to exercise. Plasma concentrations of total cholesterol, triglycerides and HDL were determined before and after the experimental procedures. RESULTS: The concentrations of total cholesterol in the 0.5g/kg/day groups reduced proportionally more in the omega-3 fatty acids+swimming group, even though total cholesterol of the control+swimming and omega-3 fatty acids groups also decreased. Total cholesterol decreased in both groups receiving 1.0g/kg/day supplementation, but the decrease was higher in the omega-3 fatty acids+swimming group than in the omega-3 fatty acids group. Triglycerides also decreased in all experimental groups. The greatest decrease was seen in the omega-3 fatty acids+swimming group receiving 0.5g/kg/day supplementation. In the 1.0g/kg/day protocol, the decrease was significant in both groups: the omega-3 fatty acids and omega-3 fatty acids+swimming groups. HDL increased among the non-supplemented animals and decreased among the animals receiving a supplementation of 1.0g/kg/day. CONCLUSION: Omega-3 fatty acid supplementation at doses of 0.5 or 1.0g/kg/day associated with swimming exercise reduced plasma concentrations of total cholesterol and triglycerides, yet additional studies, including varying doses, are necessary to better understand the relationship between ingestion of fish oil and blood lipid concentrations.