Acessibilidade / Reportar erro

Teste de Degrau de Seis Minutos como Alternativa para a Avaliação da Capacidade Funcional de Pacientes com Doenças Cardiovasculares

Palavras-chave
Hipertensão; Pressão Arterial; Hereditariedade/genética; Exercício; Esportes; Futebol; Endotélio; Atletas

A capacidade funcional é um importante marcador de morbimortalidade em pacientes com doenças cardiopulmonares.11. Fletcher GF, Ades PA, Kligfield P, Arena R, Balady GJ, Bittner VA, et al. Exercise standards for testing and training: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation. 2013; 128(8): 873-934.,22. Task Force of the Italian Working Group on Cardiac R. Statement on cardiopulmonary exercise testing in chronic heart failure due to left ventricular dysfunction: recommendations for performance and interpretation part III: interpretation of cardiopulmonary exercise testing in chronic heart failure and future applications. Eur J Cardiovasc Prev Rehabil. 2006; 13(4): 485-94. Embora a medida direta do consumo pico de oxigênio (VO2pico) por meio dos testes cardiopulmonares (padrão-ouro) seja o método mais indicado para avaliar a capacidade funcional, a sua utilização na prática clínica ainda é restrita, devido ao custo elevado.11. Fletcher GF, Ades PA, Kligfield P, Arena R, Balady GJ, Bittner VA, et al. Exercise standards for testing and training: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation. 2013; 128(8): 873-934.,22. Task Force of the Italian Working Group on Cardiac R. Statement on cardiopulmonary exercise testing in chronic heart failure due to left ventricular dysfunction: recommendations for performance and interpretation part III: interpretation of cardiopulmonary exercise testing in chronic heart failure and future applications. Eur J Cardiovasc Prev Rehabil. 2006; 13(4): 485-94.

O teste de degrau de seis minutos (TD6M), além de ser rápido, tem como principal vantagem a necessidade de um espaço mínimo para a sua realização. Esses fatores, e o fato de não necessitar sinais sonoros, torna-se bastante atrativo para a utilização em clínicas e hospitais. Os testes com degrau são utilizados há muito tempo para avaliar a capacidade funcional, tanto em pessoas saudáveis como naqueles com doenças pulmonares.33. Andrade CH, Cianci RG, Malaguti C, Corso SD. The use of step tests for the assessment of exercise capacity in healthy subjects and in patients with chronic lung disease. J Bras Pneumol. 2012; 38(1): 116-24. Nos pacientes com doenças pulmonares, observou-se uma correlação positiva (r = 0,76) entre o TD6M e o teste de caminhada de seis minutos,44. Pessoa BV, Arcuri JF, Labadessa IG, Costa JN,Sentanin AC, Di Lorenzo VAP, et al. Validity of the six-minute step test of free cadence in patients with chronic obstructive pulmonary disease. Braz J Phys Ther. 2014; 18(3): 228-36. que necessita de maior espaço para sua realização.55. ATS committee on proficiency standards for clinical pulmonary function laboratories. ATS statement: guidelines for the six-minute walk test. Am J Respir Crit Care Med. 2002; 166(1): 111-7. Curiosamente, os dados de correlação entre o TD6M e a medida direta da capacidade funcional são escassos, sobretudo em pacientes com doenças cardiovasculares.

O estudo Ritt et al.66. Ritt LEF, Darzé ES, Feitosa GF, Porto JS, Bastos G, Albuquerque RBL, et al. The Six-Minute Step Test as a Predictor of Functional Capacity according to Peak VO2 in Cardiac Patients. Arq Bras Cardiol. 2021; 116(5):889-895. busca suprir essa lacuna ao submeter 171 pacientes com insuficiência cardíaca e doença arterial coronariana ao TD6M e ao teste cardiopulmonar em esteira. Os resultados indicaram correlação significante entre VO2pico, obtida no teste de esteira, e o desempenho no TD6M (de r = 0,69). Ademais, elaborou-se uma equação preditora de estimativa do VO2pico para homens [VO2pico = 19,6 + (0,075* TD6M) – (0,10*idade)] e para mulheres [VO2pico = 19,6 + (0,075*6 TD6M) - (0,10*idade) – 2], baseadas nos resultados do teste do degrau. Por fim, os autores identificaram 105 subidas como ponto de corte para VO2pico acima de 20 ml/kg*min, algo que em pacientes cardíacos é considerado um bom indicador de prognóstico cardiovascular.

Apesar dos resultados interessantes, devemos destacar aspectos que merecem ser elucidados em estudos futuros. Faltam indicadores psicométricos importantes do TD6M, como a reprodutibilidade e a sensibilidade à mudança. A identificação de pontos de corte é altamente relevante e aplicável na prática clínica. No entanto, para a identificação de indivíduos com baixa aptidão funcional, convém elaborar novos pontos, que considerem idade, sexo e estatura, entre outros fatores. Pontos de corte baseados em uma amostra única e heterogênea possivelmente identificam sobretudo os pacientes com idade mais avançada e do sexo feminino. No entanto, é possível que ao serem comparados aos pares da mesma idade e sexo, os mesmos apresentem capacidade funcional dentro do esperado. Tais aspectos vêm sendo amplamente discutidos no teste de caminhada de seis minutos e podem ser considerados para o TD6M.77. Ritti-Dias RM, Sant’anna FS, Braghieri HA, Wolosker N, Puech-Leão, Lanza FC, et al. Expanding the use of six-minute walking test in patients with intermittent claudication. Ann Vasc Surg. 2021; 70: 258-62.99. Farah BQ, Ritti-Dias RM, Montgomery P, Cucato GG, Gardner A. Exercise intensity during 6-minute walk test in patients with peripheral artery disease. Arq Bras Cardiol. 2020; 114(3): 486-92.

Em suma, o trabalho de Ritt et al.66. Ritt LEF, Darzé ES, Feitosa GF, Porto JS, Bastos G, Albuquerque RBL, et al. The Six-Minute Step Test as a Predictor of Functional Capacity according to Peak VO2 in Cardiac Patients. Arq Bras Cardiol. 2021; 116(5):889-895. apresenta evidencias iniciais e interessantes da utilização do TD6M para avaliar a aptidão funcional de pacientes com doença arterial coronariana e insuficiência cardíaca. Por se tratar de um teste com grande potencial de utilização na prática clínica, estudos futuros sobre o TD6M como marcador prognóstico e suas características psicométricas, bem como valores de referência de acordo com o sexo e a idade, serão bem-vindos.

  • Minieditorial referente ao artigo: O Teste do Degrau de Seis Minutos como Preditor de Capacidade Funcional de Acordo com o Consumo de Oxigênio de Pico em Pacientes Cardíacos

Referências

  • 1
    Fletcher GF, Ades PA, Kligfield P, Arena R, Balady GJ, Bittner VA, et al. Exercise standards for testing and training: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation. 2013; 128(8): 873-934.
  • 2
    Task Force of the Italian Working Group on Cardiac R. Statement on cardiopulmonary exercise testing in chronic heart failure due to left ventricular dysfunction: recommendations for performance and interpretation part III: interpretation of cardiopulmonary exercise testing in chronic heart failure and future applications. Eur J Cardiovasc Prev Rehabil. 2006; 13(4): 485-94.
  • 3
    Andrade CH, Cianci RG, Malaguti C, Corso SD. The use of step tests for the assessment of exercise capacity in healthy subjects and in patients with chronic lung disease. J Bras Pneumol. 2012; 38(1): 116-24.
  • 4
    Pessoa BV, Arcuri JF, Labadessa IG, Costa JN,Sentanin AC, Di Lorenzo VAP, et al. Validity of the six-minute step test of free cadence in patients with chronic obstructive pulmonary disease. Braz J Phys Ther. 2014; 18(3): 228-36.
  • 5
    ATS committee on proficiency standards for clinical pulmonary function laboratories. ATS statement: guidelines for the six-minute walk test. Am J Respir Crit Care Med. 2002; 166(1): 111-7.
  • 6
    Ritt LEF, Darzé ES, Feitosa GF, Porto JS, Bastos G, Albuquerque RBL, et al. The Six-Minute Step Test as a Predictor of Functional Capacity according to Peak VO2 in Cardiac Patients. Arq Bras Cardiol. 2021; 116(5):889-895.
  • 7
    Ritti-Dias RM, Sant’anna FS, Braghieri HA, Wolosker N, Puech-Leão, Lanza FC, et al. Expanding the use of six-minute walking test in patients with intermittent claudication. Ann Vasc Surg. 2021; 70: 258-62.
  • 8
    Casanova C, Celli BR, Barria P, Casas A, Cote C, de Torres JP, et al. The 6-min walk distance in healthy subjects: reference standards from seven countries. Eur Respir J. 2011; 37(1): 150-6.
  • 9
    Farah BQ, Ritti-Dias RM, Montgomery P, Cucato GG, Gardner A. Exercise intensity during 6-minute walk test in patients with peripheral artery disease. Arq Bras Cardiol. 2020; 114(3): 486-92.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Maio 2021
  • Data do Fascículo
    Maio 2021
Sociedade Brasileira de Cardiologia - SBC Avenida Marechal Câmara, 160, sala: 330, Centro, CEP: 20020-907, (21) 3478-2700 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil, Fax: +55 21 3478-2770 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista@cardiol.br