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MODELO DE DISPOSITIVO PARA TREINAMENTO E AVALIAÇÃO DAS HABILIDADES EM TÉCNICA OPERATÓRIA

Resumo

Com o objetivo de facilitar o aprendizado da técnica operatória, em especial na realização de nós e suturas cirúrgicas, foi desenvolvido um modelo experimental não biológico, contendo dispositivos simples que simulam diversas situações encontradas no procedimento cirúrgico fundamental

Treinamento; suturas; nós


MODELO DE DISPOSITIVO PARA TREINAMENTO E AVALIAÇÃO DAS HABILIDADES EM TÉCNICA OPERATÓRIA. 1 1 . Trabalho realizado no Núcleo de Pesquisa (SOBRADPEC) do Departamento de Medicina e do Laboratório de Engenharia Mecânica da Universidade de Taubaté (UNITAU).

João Ebram Neto 2 2 . Professor Assistente Mestre do Departamento de Medicina da UNITAU.

Pedro Roberto de Paula2 2 . Professor Assistente Mestre do Departamento de Medicina da UNITAU.

Rosa Maria Gaudioso Celano3 3 . Acadêmico de Medicina da UNITAU.

Kleber Hirose3 3 . Acadêmico de Medicina da UNITAU.

Antonio Baptista Cauduro4 4 . Professor Titular do Departamento de Medicina da UNITAU.

Manlio Basilio Speranzini5 5 . Professor Associado da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

EBRAM NETO, J.; De PAULA, P. R.; CELANO, R. M. G.; HIROSE, K.; CAUDURO, A B.; SPERANZINI, M. B. – Modelo de dispositivo para treinamento e avaliação das habilidades em técnica operatória. Acta Cir. Bras., 13(1):58-60. 1998

Resumo: Com o objetivo de facilitar o aprendizado da técnica operatória, em especial na realização de nós e suturas cirúrgicas, foi desenvolvido um modelo experimental não biológico, contendo dispositivos simples que simulam diversas situações encontradas no procedimento cirúrgico fundamental.

DESCRITORES: Treinamento, suturas e nós.

INTRODUÇÃO

A habilidade do cirurgião deve ser comparada com a de um músico instrumental e adquirida com treinamento prévio experimental 7. O conhecimento e o treinamento adequado da técnica para confecção de nós e suturas, podem não só aprimorar a experiência como também evitar complicações que são tão temidas nos procedimentos cirúrgicos.

Os princípios básicos da cirurgia como os atos de cortar, ligar e suturar, fazem parte da formação do acadêmico de medicina e dos residentes de cirurgia; mesmo com o advento de novas e modernas técnicas operatórias como por exemplo a videolaparoscopia, os tempos fundamentais que são a diérese, hemostasia e síntese permanecem inalterados e precisam ser ensinados 3.

Com base na importância do aprendizado prático da técnica operatória, criou-se uma placa constituída de material experimental não biológico a fim de permitir a confecção de nós e suturas em situações habituais encontradas no ato cirúrgico.

MODELO

O aparelho é constituído por placa de alumínio jateado de 40 x 40 cm de dimensão, colocada sobre uma base de fibra de vidro, com recorte lateral para o seu suporte e transporte. Sobre a placa foram elaboradas peças especiais distribuídas em 4 quadrantes ( Figura 1 ).


No primeiro quadrante ( A ) foi colocado um parafuso com ponta na forma de gancho para o treinamento dos nós cirúrgicos. No segundo quadrante ( B ), fixou-se na placa um artefato constituído por hastes de alumínio com 15 cm de altura unidas superiormente por um círculo do mesmo material simulando um cilindro, sobre um parafuso móvel por rosca e situado na porção central desta peça, o que permite sua movimentação no sentido vertical. Este artefato possibilita a confecção de nós em profundidade e a sua utilização concomitante com pinças hemostáticas.

No terceiro quadrante ( C ) foram colocadas transversalmente na placa, duas lâminas de alumínio eqüidistante 15cm uma da outra. Em sua porção inferior realizaram-se três perfurações em cada lâmina, destinadas à colocação entre estas de tubos de látex. Na porção superior foi feito uma fenda com sistema de trave para a fixação de tubos ou drenos. Este dispositivo serve para o treinamento de nós sob tensão e praticar os diversos tipos de anastomoses.

No quarto quadrante ( D ) foram realizados na placa de alumínio, dois cortes laminares longitudinais de 15 cm de comprimento cada, e ao lado, outro corte circular de 4cm de diâmetro. Nas fendas paralelas são exteriorizadas no sentido longitudinal duas dobras de tecido de algodão e no orifício circular uma cúpula do mesmo material com pequena saliência na posição central; estes tecidos foram fixados na face posterior da placa com velcro. A disposição destes panos permite o aprendizado dos diferentes tipos de suturas, bem como da sutura em bolsa circular.

DISCUSSÃO

Para a construção deste modelo destinado ao aprendizado de nós e suturas cirúrgicas, adotou-se como base a prancha elaborada pela ETHICON R* * Knot tying manual – ETHICON INC. . Para se obter um modelo experimental não biológico que pudesse evitar o uso de vários aparelhos, foram realizadas adaptações e novas criações.

Na fabricação deste modelo foram escolhidos materiais leves como o alumínio e a fibra de vidro. Estes materiais com recorte lateral para suporte permitiram a elaboração de um modelo de fácil manejo e transporte, diferindo de outros modelos já existentes com medidas e pesos superiores 5,7.

No quadrante A, o parafuso tem a sua ponta na forma de um gancho para dificultar a saída do fio no momento da ligadura. Neste utensílio, o objetivo seria a realização de nós cirúrgicos por meio da técnica manual e/ou instrumental correta, sem deixar de observar a geometria do nó. Para este fim, o melhor seria iniciar o treinamento com a utilização de fio multifilamentar de grosso calibre e de cor escura, como por exemplo o fio de algodão 1. Com o exercício contínuo haverá uma maior habilidade e rapidez na confecção do nó cirúrgico, fator inerente de um bom cirurgião.

Para simular a ligadura de um vaso sangüíneo dentro de uma cavidade, como o que ocorre por exemplo na ligadura da artéria cística nas colecistectomias por incisão transversa, foi elaborado no quadrante B um dispositivo de forma cilíndrica com um parafuso fixado na sua região central. Este artefato foi descrito em outros modelos e caixas de aprendizado cirúrgico 1,5, contudo o sistema de hastes de alumínio e do parafuso com roscas permitem variar o grau de dificuldade.

Como o parafuso localizado no centro deste dispositivo apresenta duas roscas, é possível regular sua altura criando assim, posições gradativas para ligadura do nó, que deve ser concluída sem haver o rompimento ou afrouxamento do fios cirúrgicos. Ampliando a complexidade do procedimento pode-se colocar um pequeno elástico circular no parafuso, fazendo a sua preensão com pinças hemostáticas. Deste modo, treina-se a passagem do fio na ponta da pinça e a sua retirada após o nó ter sido apertado no elástico.

O nó cirúrgico deve ser de fácil execução e não afrouxar ou desatar 4. Para evitar que o nó fique frouxo tanto na primeira laçada como na segunda, foi usado um tubo de látex ( garrote ), passado nas três perfurações das lâminas transversais no quadrante C, a fim de manter uma tração contrária à força do nó. Desta forma, é possível exercitar as ligaduras sob tensão, assim como a força ideal para não romper o fio cirúrgico.

A parte superior deste artefato apresenta duas aberturas com sistema de traves para a colocação de drenos, tubos ou espuma circular. O uso destes materiais permite simular a realização de suturas intestinais, vasculares e de microcirurgia. Portanto, pode-se efetuar anastomoses em posições término-terminal, término-lateral ou látero-lateral, empregando-se também diversos tipos de fios.

No quadrante D, preocupou-se em criar duas bordas de tecidos simulando por exemplo, a síntese da pele, o que foi alcançado com a colocação de pano de algodão passado sobre as fendas laminares na placa de alumínio. Com isto podem ser feitas suturas simples ou contínuas com diferentes técnicas.

A colocação do pano pela abertura circular na placa teve a intenção de proporcionar a realização de sutura em bolsa, como se faz nas apendicectomias e gastrostomias. Permite ainda simular a realização de ostomias por meio de tubo exteriorizado pelo orifício circular.

A formação do cirurgião é complexa, pois necessita do conhecimento da história natural das doenças, do diagnóstico clínico, dos exames complementares, da escolha da terapêutica e da oportunidade de sua aplicação. Além disso, é preciso dominar a técnica cirúrgica a ser empregada, para que se possa alcançar o objetivo máximo que é a cura do paciente.

O treinamento com animal de experimentação é sem dúvida fase essencial no aprendizado da técnica cirúrgica4, mas apresenta dificuldades a ele inerentes como instalações especiais, biotério e pessoal qualificado e treinado para manutenção dos animais. Este modelo não necessita sequer de ambiente apropriado e pode ser usado em vários locais como hospital, salas de aula e domicílio prestando-se para ser etapa inicial do treinamento ou para avaliação de habilidades cirúrgicas mínimas em concursos médicos.

Idealmente, a habilitação do cirurgião deve obedecer a um cronograma onde o início do treinamento poderia ser feito com este modelo, prosseguindo-se com a realização de operações básicas em animais de experimentação. Após esta etapa e tendo adquirido habilidades cirúrgicas básicas, estas seriam complementadas com a realização de pequenos procedimentos no ambulatório, para finalmente participar de operações maiores realizadas em centro cirúrgico.

Outra vantagem deste dispositivo seria a de permitir a avaliação das habilidades adquiridas após treinamento e acompanhar a sua evolução 1 como por exemplo no período da residência médica. Fato este de grande interesse para o ensino médico como demonstram os trabalhos que analisam o desempenho prático das habilidades técnicas em laboratório e dos programas da residência médica 2,6.

É oportuno lembrar que a realização do procedimento cirúrgico com adequada técnica operatória evita ou pelo menos reduz complicações como deiscência e infecções, que além de aumentarem a morbi-mortalidade do paciente, elevam muito os custos do tratamento cirúrgico. O presente modelo contribui para melhor formação cirúrgica do acadêmico ou residente de cirurgia.

AGRADECIMENTOS

Aos técnicos José Aralto Ribeiro e Lamarino Ventramine do Laboratório de Engenharia Mecânica da UNITAU.

EBRAM NETO, J.; De PAULA, P.R.; CELANO, R. M. G.; HIROSI, K.; CAUDURO, A. B.; SPERANZINI, M. B. – Device model for training and evalution on the abilites in operative technique. Acta Cir. Bra., 13(1):58-60, 1998.

SUMMARY: With the objective of facilitating the learning of the operative technique, especially in the accomplishment of knots and surgical sutures, an experimental model was not developed biological, contends simple devices that simulate several situations found in the fundamental surgical procedure

HEADINGS: Training, suture and knots.

João Ebram Neto

R. José Gomes Vieira, 10 apto 11 Jd. Marajoára

Taubaté São Paulo CEP 12031-180.

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  • 7-TAUBER, R. Mesa de adestramento. In: TAUBER, R. Manipulaciones quirürgicas básicas México, Interamericana, 1957. p.1-2.
  • 1
    . Trabalho realizado no Núcleo de Pesquisa (SOBRADPEC) do Departamento de Medicina e do Laboratório de Engenharia Mecânica da Universidade de Taubaté (UNITAU).
  • 2
    . Professor Assistente Mestre do Departamento de Medicina da UNITAU.
  • 3
    . Acadêmico de Medicina da UNITAU.
  • 4
    . Professor Titular do Departamento de Medicina da UNITAU.
  • 5
    . Professor Associado da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
  • *
    Knot tying manual – ETHICON INC.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      18 Nov 1998
    • Data do Fascículo
      Jan 1998
    Sociedade Brasileira para o Desenvolvimento da Pesquisa em Cirurgia https://actacirbras.com.br/ - São Paulo - SP - Brazil
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