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Valor prognóstico da distribuição do antígeno carcinoembriônico (CEA) no tecido neoplásico do carcinoma colorretal

CONTEXTO: O antígeno carcinoembrionário (CEA) pode ser detectado no tecido do carcinoma colorretal, mas seu papel na sobrevivência dos doentes permanece controverso. OBJETIVO: Caracterizar a expressão do CEA tecidual com coloração imunoistoquímica na neoplasia colorretal e analisar a relação entre esse achado e os níveis plasmáticos pré-operatórios do CEA, aspectos morfológicos e a sobrevivência dos doentes operados com intenção curativa de carcinoma colorretal. MÉTODO: Quarenta e sete doentes foram incluídos neste estudo: 18 (38,3%) homens e 29 (61,7%) mulheres, com média de idade de 67,8 ± 9,7 anos (37 to 84 anos). Imediatamente antes da laparotomia, foram obtidos os níveis plasmáticos pré-operatórios do CEA. Níveis séricos pré-operatórios normais de CEA foram considerados < 2,5 ng/mL para não-fumantes e <5,0 ng/mL para fumantes. O estudo imunoistoquímico do CEA foi realizado utilizando anticorpo monoclonal de rato anti-CEA humano. A expressão da imunocoloração de cada neoplasia foi classificada de acordo com o padrão de distribuição tecidual do CEA em apical ou citoplasmática. As variáveis consideradas para a análise estatística foram os níveis plasmáticos pré-operatórios do CEA, localização da lesão no intestino grosso, diâmetro da lesão, comprometimento dos linfonodos, classificação de Dukes, invasão venosa, grau de diferenciação celular, sobrevivência e padrão da distribuição tecidual do CEA. Os modelos estatísticos utilizados foram correlação de Spearman, teste de Mann-Whitney, teste de Kruskal-Wallis e teste t de Student. A sobrevivência dos doentes foi analisada utilizando-se o método de Kaplan-Meier. RESULTADOS: O valor médio de CEA pré-operatório foi de 15,4 ± 5,5 ng/mL (0,2 a 92,1 ng/mL). A neoplasia estava localizada no colo em 29 (61,7%) e no reto em 18 (38,3%) doentes. Oito (17,0%) doentes foram classificados como estádio A de Dukes, 22 (46,8%) como estádio B e 17 (36,2%) como estádio C. No estudo imunoistoquímico, o padrão de distribuição tecidual do CEA foi apical em 33 (70,2%) doentes e citoplasmático em 14 (29,8%) enfermos. Doentes com padrão apical apresentaram média do nível sérico do CEA de 15,5 ± 6,5 ng/mL e os com padrão citoplasmático obtiveram média do nível sérico de CEA de 15,1 ± 7,3 ng/mL, sem diferença significante entre esses valores (P = 0,35). A distribuição apical do CEA ocorreu em 6 (12,8%) doentes Dukes A, 18 (38,2%) Dukes B e 9 (12,2%) Dukes C. Por sua vez, a distribuição tecidual citoplasmática do CEA foi observada em dois (4,2%) enfermos Dukes A, três (6,4%) Dukes B e nove (19,1%) Dukes C. Os doentes com neoplasia Dukes B apresentaram padrão de distribuição tecidual de CEA apical significantemente maior (P = 0,049) do que os enfermos com padrão tecidual citoplasmático de CEA. O padrão de distribuição apical do CEA na neoplasia foi significantemente mais freqüente nas neoplasias sem acometimento linfonodal quando comparado com o padrão citoplasmático (P = 0,50). A localização cólica ou retal (P = 0,21), tamanho da lesão no maior eixo (P = 0,19), invasão venosa (P = 0,13) e grau de diferenciação celular (P = 0,19) não mostraram diferenças significantes em relação ao padrão de distribuição tecidual apical ou citoplasmático do CEA. Dos 47 doentes operados, 33 (70,2%) sobreviveram mais de 5 anos e a sobrevivência média foi de 31,1 ± 5,6 meses. A sobrevivência dos doentes com distribuição tecidual de CEA apical e citoplasmática não mostrou diferença significante (P = 0,38). CONCLUSÕES: Embora o padrão de distribuição apical do CEA tenha sido significantemente mais freqüente nos estádios menos avançados da classificação de Dukes, a distribuição tissular do CEA não apresentou relação com seus níveis plasmáticos, aspectos morfológicos da neoplasia e com a sobrevivência dos doentes com carcinoma colorretal operado com intenção curativa.

Neoplasias colorretais; Carcinoma; Antígeno carcinoembrionário; Imunoistoquímica


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