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Técnicas cirúrgicas para o tratamento da endometriose do reto: revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados e estudos observacionais

RESUMO

CONTEXTO:

A endometriose é uma doença prevalente em mulheres em idade reprodutiva e estimada em até 50% daquelas com infertilidade. O acometimento intestinal é reportado em até um terço dos casos. A doença é relacionada a dor crônica e perda de qualidade de vida, implicando em custos emocionais, sociais e econômicos. O tratamento consiste em bloqueio hormonal e ressecção cirúrgica, com efeitos colaterais e eficácia variáveis. A abordagem cirúrgica da endometriose do reto, conservadora ou radical, é motivo de discussão no que tange a indicação e a melhor técnica a ser empregada.

OBJETIVO:

Resumir os dados da literatura sobre as indicações, resultados e complicações das técnicas cirúrgicas para o tratamento da endometriose do reto.

MÉTODOS:

Esta revisão sistemática abrangente é uma seleção de estudos da literatura e sua discussão, realizada por equipe com experiência no tratamento cirúrgico da endometriose intestinal, sobre as indicações, resultados e complicações das técnicas conservadoras, ressecção superficial e discoide, e radical para o tratamento cirúrgico da endometriose do reto. Foi realizada uma estratégia de busca nas bases de dados PubMed, EMBASE, e CENTRAL até maio de 2021 para identificar ensaios clínicos randomizados e estudos observacionais que compararam pelo menos duas das três técnicas cirúrgicas de interesse (i.e., shaving, ressecção discóide, ressecção segmental).

RESULTADOS:

Um ensaio clínico randomizado e nove séries de casos, com um total de 3.327 pacientes, preencheram os critérios de elegibilidade da revisão. A idade dos participantes variou de uma média de 30,0 a 37,9 anos. O seguimento médio variou de 1,2 a 42,76 meses. Referente à qualidade metodológica, no geral os estudos incluídos apresentaram baixo risco de viés na maioria dos domínios avaliados. O tratamento cirúrgico das pacientes com endometriose do reto está indicado para as pacientes com sintomas obstrutivos e naquelas com escores de dor acima de 7/10. As pacientes com doença além da camada muscular própria do reto, documentada por meio de ressonância magnética ou ultrassonografia pélvica transvaginal com preparo intestinal, são candidatas a ressecção discoide ou segmentar. A presença de doença multifocal, extensão maior de 3 cm e infiltração maior 50% da circunferência da alça favorecem a técnica radical. A altura da lesão em relação a borda anal, idade, sintomatologia e desejo reprodutivo são outros fatores que podem influenciar na escolha da técnica a ser empregada. O risco de complicações e resultados funcionais desfavoráveis parecem estar relacionados diretamente a complexidade do procedimento.

CONCLUSÃO:

A escolha da técnica cirúrgica, conservadora ou radical, realizada pela via laparoscópica, para o tratamento da endometriose do reto é motivo de discussão e depende não somente do estadiamento pré-operatório, mas também das expectativas da paciente, dos riscos e potenciais complicações, das taxas de recorrência e da expertise da equipe multidisciplinar.

Palavras-chave:
Tratamento; reto; endometriose

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