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Dissertações de mestrado e teses de doutorado/2007

DISSERTAÇÕES E TESES

Dissertações de mestrado e teses de doutorado/2007

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Centro de Filosofia e Ciências Humanas

Instituto de Psicologia

Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica

DISSERTAÇÕES

Título: A prática psicanalítica como criação de um si

Mariana de Toledo Barbosa

Orientadora: Teresa Pinheiro

Data de defesa: 19/1/2007

Esta dissertação partiu da hipótese de que a prática psicanalítica pode ser concebida como criação de um si. No desenvolvimento dessa pesquisa, foi feito um levantamento bibliográfico nas obras de três autores, Freud, Ferenczi e Winnicott, e a cada um dos quais foi dedicado um capítulo. O recenseamento realizado levou à organização de cada capítulo em três eixos de exposição: o primeiro, sobre as propostas clínicas e as estratégias técnicas; o segundo, acerca da noção de subjetividade; e o terceiro, voltado para a averiguação da existência, e a explicitação das características, da criação de um si, no âmbito do arcabouço teórico de cada um dos autores principais. A questão que guia este trabalho tem como pano de fundo a constatação de que, na contemporaneidade, muitos pacientes que recorrem ao tratamento analítico se constituem subjetivamente de forma bastante diferente dos pacientes neuróticos, que serviram como parâmetro a Freud quando este criou o saber psicanalítico e sua prática clínica. Tais sujeitos da atualidade seriam melhor compreendidos por uma metapsicologia distinta, nomeada por alguns de ‘metapsicologia da melancolia’. Uma prática psicanalítica mais compatível com o acolhimento desses pacientes é aqui apresentada sob a denominação de ‘criação de um si’, sendo este conceito de ‘si’ discutido em contraste com os conceitos de ‘eu’, de ‘self’ e de ‘ser’. As peculiaridades dessa abordagem clínica são a atenção ao sofrimento narcísico e a busca pela conquista da possibilidade de o paciente criar sua própria subjetividade, a partir do contato com o mundo.

Título: Aporias da repetição: as incidências do real e do sexual

Marcos Eichler de Almeida Silva

Orientadora: Fernanda Costa-Moura

Data de defesa: 7/2/2007

Este trabalho realiza uma investigação acerca da temática da repetição em psicanálise, destacando o modo pelo qual a questão da repetição se introduz e se desenvolve na obra de Freud, e evidenciando seus antecedentes, em especial no que diz respeito ao sexual e ao tempo. Apesar de não ser rigorosamente conceituada na obra de Freud, a importância da repetição se denota pelo fato de interpor-se como o problema clínico que o leva à grande virada de seu pensamento em 1920, estando ainda na base do maior desafio possível ao fim de análise – a posição do sujeito frente ao complexo de castração. Tal implicação articula a repetição ao sexual, bem como introduz a questão do horizonte do tempo de uma análise – ou em uma análise. Uma vez que o que está em jogo no inconsciente é algo da ordem de um em suspenso, que volta ao mesmo lugar, a duração de uma análise não se faz contar pelo tempo cronológico, que marcha sempre em frente. A partir destas coordenadas procede-se o exame do conceito de repetição no ensino de Lacan, inicialmente salientando sua dependência da linguagem, para em seguida analisar a distinção entre autômaton e tiquê, retomadas de Aristóteles por Lacan como modo de formalizar a repetição que decorre do simbólico e o encontro com o real que advém pela repetição.

Título: Psicose e linguagem na obra de Jacques Lacan: semântica e estrutura

Carlos Alberto Ribeiro Costa

Orientadora: Ana Beatriz Freire

Data de defesa: 14/2/2007

O presente trabalho visa abordar, na obra de Jacques Lacan, algumas das incidências do papel da linguagem na construção de uma teoria e prática psicanalíticas ante o enigma posto pelas psicoses. Para tanto, nos apropriamos de dois momentos da obra deste autor. No primeiro momento, tornado presente pela tese sobre a psicose paranóica – publicada em 1932 –, visou-se explicitar o quanto a consideração por fatores semânticos na psicose – tais quais a significação do delírio – permitia, de um lado, atingir a dimensão da palavra na loucura, assim como, de outro, tocar nas relações de tais significações com o pulsional. Buscou-se sustentar, neste segundo ponto, aquilo que levaria o até então psiquiatra Lacan às portas do discurso analítico. Num segundo momento – o ensino de Lacan ministrado durante os anos 1950 – buscou-se explicitar o deslocamento efetuado por este autor da ênfase dos fatores semânticos das relações entre psicose e linguagem para aquilo que aqui denominamos de fatores sintáticos, vale dizer, da consideração pelo inconsciente em sua estrutura. A noção de significante, depurada através da consideração pelos registros do simbólico, do real e do imaginário, seria a base para que Lacan construa a hipótese de que o inconsciente é " estruturado como uma linguagem" . Diferentemente daquilo que se daria no primeiro momento, seria, aqui, a primazia da relação entre sujeito e as leis de linguagem do inconsciente aquilo que dará o tom das elaborações referentes à psicose.

Título: A gula do supereu: imperativo de gozo e objeto voz

Naiana Moura Lopes Cordeiro

Orientadora: Angélica Bastos

Data de defesa: 14/2/2007

A presente dissertação trata do conceito de supereu a partir de sua definição como uma das facetas do objeto a: a voz. Busca-se detectar as incidências clínicas e o destino do gozo no tratamento, através do percurso que vai da lei ao objeto a. Os guias desta pesquisa são a obra de Freud e o ensino de Lacan. A partir do conceito de narcisismo é traçada a distinção entre Ideal do eu e Supereu. Trabalha-se o mandato civilizacional que exige renúncia pulsional, e sua articulação com o recrudescimento superegóico. Para tanto, faz-se necessário abordar, em Lacan, a noção de lei, objetivando demonstrar que o supereu distancia-se da lei reguladora e aproxima-se de uma lei insensata, não oposta ao gozo. Destaca-se que o supereu como objeto voz veicula um imperativo de gozo. Com a entrada na linguagem perde-se gozo, desta forma, aponta-se para a impossibilidade de se aceder ao gozo perdido, como exige o supereu. Tanto a recuperação de gozo pela via do objeto-mais-de-gozar, quanto a renúncia pulsional atendem ao apelo do supereu, aumentando sua força. Através de extratos de casos de nossa clínica, do humor e de dois relatos de passe, situa-se o destino do gozo do supereu na clínica, como perda de gozo. Conclui-se que a voz superegóica chama o sujeito a responder à sua convocação, caso contrário, se vive a injunção de gozo do lugar de objeto.

Título: O laço social na teoria freudiana: para além da nostalgia e da esperança

Daniel Corrêa Mograbi

Orientadora: Regina Herzog

Data de defesa: 16/2/2007

A partir do debate acerca do impacto da desestruturação da autoridade simbólica na constituição de " novas" subjetividades, refratárias ao dispositivo analítico clássico, o presente trabalho pretende abordar o posicionamento de Freud sobre o laço social, sugerindo que ele já reconhecia os efeitos de uma autoridade simbólica frágil. No primeiro capítulo da dissertação tentamos indicar como Freud, desconstruindo expectativas da fé e da razão, sublinha a incerteza como marca fundamental do vínculo humano. No segundo capítulo, promovemos uma reflexão sobre a escolha de Freud pelo termo ilusão, além de apontarmos as ressonâncias que a hipótese da agressividade natural tem na discussão sobre o laço social. Tomando como base as idéias de acaso e artifício valorizamos a dimensão da fantasia e do encontro, pontuando a importância da aposta na construção de um vínculo. Por fim, assinalamos a relevância ética da discussão sobre o laço social, comentando sobre alguns posicionamentos possíveis diante dos impasses atuais da psicanálise. O valor de uma postura para além da nostalgia e da esperança é analisado.

Título: A Paixão amorosa: uma contribuição da psicanálise

Raquel Siqueira Dória

Orientadora: Simone Perelson

Data de defesa: 26/2/2007

Partindo da expressão " paixão amorosa" , que é a tradução em português do termo em alemão Verliebtheit, utilizado por Freud para distinguir a paixão amorosa dos demais estados de paixão, nos detivemos nesta pesquisa no aspecto da paixão que mais se aproxima da noção de " doença narcísica" , designação proposta por Freud para definir a paixão amorosa. O primeiro capítulo consiste, em uma exposição a respeito do fenômeno amoroso segundo a perspectiva freudiana, quando foram abordadas também as possíveis diferenciações entre amor e desejo e paixão, em que Piera Aulagnier também nos emprestou algumas contribuições. No segundo capítulo trabalhamos o conceito de narcisismo proposto por Freud, e sua íntima relação com a noção de paixão amorosa, articulando-a ao aspecto de " doença narcísica" , assim como a formação dos ideais.

O terceiro capítulo foi desenvolvido a fim de trabalhar o conceito de " paixão silenciosa" , proposto por Maria Helena Barros e Silva, enquanto um tipo de expressão amorosa que se aproximaria tanto do aspecto de " doença narcísica" , quanto de alguns tipos de masoquismos propostos por Freud. O quarto capítulo foi dedicado à análise do conceito de " servidão pulsional" desenvolvido por Marta Rezende Cardoso, no estudo dos casos limites em psicanálise, e as possíveis articulações com alguns tipos de expressão amorosa. No último capítulo trabalhamos o conceito de feminilidade em psicanálise, que de acordo com a perspectiva proposta por Joel Birman, faz emergir um questionamento acerca da lógica fálica. Portanto vislumbramos a possibilidade, de conceber uma nova perspectiva em relação às paixões amorosas, uma vez que, colocada em questionamento esta lógica fálica, abrir-se-iam então novas vias de acesso para se pensar outros destinos possíveis no território das relações amorosas.

Título: Reflexões sobre a identificação no pensamento freudiano

Karla Maria de Medeiros Neves

Orientadora: Regina Herzog

Data de defesa: 27/2/2007

A proposta deste trabalho é realizar um estudo teórico sobre o tema da identificação nos textos freudianos, objetivando destacar a identificação como um processo diversificado envolvido na constituição do psiquismo. Ao longo de sua obra, Freud indica, gradualmente, a existência de múltiplas identificações – primária, secundária e parcial. Devido às várias transformações teóricas pelas quais a noção de identificação passou, dividimos a nossa investigação em três tempos. Em um primeiro momento, examinamos a identificação relacionada estritamente à formação dos sintomas, dos sonhos e vinculada ao complexo edípico. Em seguida, acompanhamos o modo pelo qual a identificação passa a ter um estatuto metapsicológico ampliado, quando é assegurada como ligação originária com o outro. Por fim, com o intuito de lançarmos luz sobre o aspecto primário da identificação, nos remetemos à experiência de satisfação descrita no " Projeto para uma psicologia científica" (1895) e ao modelo psíquico da " Carta 52" (1896).

Título: Da pulsão ao capital: constituição subjetiva e laço social na era da mercadoria

Daniel Santos de Barros

Orientadora: Simone Perelson

Data de defesa: 21/3/2007

A proposta dessa dissertação é discutir o processo de constituição subjetiva e o laço social na contemporaneidade num diálogo entre a psicanálise e a teoria marxista do valor, de modo a apresentar subsídios para uma crítica genuinamente psicanalítica do discurso capitalista e do sujeito que ele engendra, no espírito de que essa pode ser uma via importante para uma reflexão atual sobre teoria e a práxis psicanalíticas.

Título: O psicótico é habitado pela linguagem? Uma reflexão na teoria psicanalítica sobre a problemática das psicoses

Ana Carolina Cavalcante Duarte

Orientador: Waldir Beividas

Data de defesa: 30/3/2007

A dissertação tem como objetivo examinar as concepções freudiana e lacaniana acerca da relação do sujeito com a linguagem. Dentro deste universo de possibilidades, destaca-se a estrutura psicótica como a que mais claramente mostra esta relação. Mas, para isso, faz-se necessária uma reflexão sobre o percurso de Freud, que o levou a subverter o saber médico e a fazer a aposta de que o sujeito é efeito de uma operação de fala, assim como Lacan que, traduzindo o vienense, diz que o inconsciente é estruturado como uma linguagem. Após esta primeira reflexão, pode-se tentar entender as psicoses sob o prisma lingüístico: em Freud, investigando o seu entendimento acerca dos fenômenos psicóticos – os delírios e alucinações como tentativas de cura, de restituição da realidade perdida; em Lacan, para o qual a psicose é a organizaçãoproduto da não inscrição simbólica da lei paterna, tendo como resultado o impasse do psicótico ser habitado pela linguagem e, no entanto, ignorar a língua que fala. Tendo como perspectiva tais abordagens, a colocação é, então, se podemos pensar a questão da alteridade tanto nesta realidade que é rejeitada, em Freud, quanto o não-reconhecimento da linguagem que o habita, em Lacan.

Título: Compulsão à repetição e os transtornos das condutas alimentares

Anna Karina de Athaide Madeira

Orientadora: Tânia Coelho dos Santos

Data de defesa: 5/9/2007

Este trabalho inicia construindo o conceito de pulsão a partir da análise da sexualidade em Freud. Para tal, o texto explora os conceitos de sexualidade perversa e sexualidade infantil. Num segundo momento, o texto percorre o caminho trilhado por Freud na constituição do sujeito psicanalítico, recorrendo aos conceitos de recalque, complexo de Édipo, ideal do eu, etc. Num terceiro momento, o texto discute o estatuto do corpo em psicanálise, e para tal, analisa a noção de objeto em Freud e a construção do eu através do conceito de identificação. Como ponto central, o texto percorre a noção de repetição em Freud e o seu desdobramento na noção de compulsão à repetição, a partir do surgimento da pulsão de morte em 1920. Por fim, o texto percorre brevemente os transtornos das condutas alimentares (bulimia, anorexia e obesidade) e propõe a construção de um novo modelo teórico e clínico, baseado no referencial da melancolia, do narcisismo e da perversão.

TESES

Título: A pulsão revisitada. O pleno gozo da linguagem na perspectiva do Revirão

Andréa Martello

Orientador: Waldir Beividas

Data de defesa: 16/3/2007

A tese aborda os matemas da sexuação como uma formulação sobre a teoria da linguagem em Lacan e o gozo relativo ao seu exercício. Defende-se com base no conceito de Revirão de MDMagno uma nova axiomatização para as predicações aristotélicas que faz surgir uma articulação modular de quatro sexos e não apenas dois como destacou Lacan. Defendemos que há uma trajetória possível que nos leva da sexualidade modalizada entre sujeito e objeto a ao lugar da sexuação por excelência. É este percurso a nosso ver que justifica o conceito de Revirão.

Título: O destino da anatomia: o inconsciente e sua relação com o corpo nos sintomas contemporâneos

Marcia Aparecida Zucchi

Orientadora: Tânia Coelho dos Santos

Data de defesa: 26/3/2007

As novas modalidades de sintoma exigem retificações no âmbito tanto da teoria quanto da técnica. O avanço da ciência com seus produtos e a mentalidade dela derivada levaram a novas configurações de expressão do mal-estar na cultura. Os estados depressivos e as mais variadas formas de compulsão são uma marca generalizada da clínica, hoje. O esvaziamento quase completo do poder da tradição em favor das soluções técnicas imediatistas e de consumo, parecem ter levado a uma desvalorização do inconsciente e do poder da fala e da linguagem, em favor do gozo. O Nome-do-Pai enquanto metáfora subjetiva ancorada na tradição foi substituído pela horizontalização das referências identitárias. O Complexo de Edipo parece não ser mais a mitologia dominante na cultura ocidental, o que leva à idéia de que os chamados " novos sintomas" escapam à nosologia clássica do campo psicanalítico. A característica pregnante destes novos sintomas é a presença de desordens corporais as quais parecem derivar-se do baixo nível de elaboração psíquica

Título: A Escola de Lacan e a formação psicanalítica

Mirta Ana Zbrun

Orientadora: Tânia Coelho dos Santos

Data de defesa: 28/3/2007

Esta tese leva ao exame externo a Escola de Psicanálise criada por Jacques Lacan, com as questões que lhe são essenciais: o fim da análise, o procedimento do passe e a formação dos psicanalistas. Noções essas tratadas como conceitos e não como preceitos. Partindo do Movimento Psicanalítico, a tese examina a sociedade psicanalítica criada por Sigmund Freud e as outras sociedades geradas no decorrer desse movimento, para demonstrar a idéia central de que " não há analista sem Escola" .

Título: A estabilização psicótica na perspectiva borromeana: criação e suplência

Andréa Máris Campos Guerra

Orientadora: Ana Cristina Costa de Figueiredo

Data de defesa: 27/3/2007

Investigamos a hipótese sobre a estabilização psicótica, via criação artística ou artesanal, prescindir da escrita. Revisamos em Freud e em Lacan as estratégias de solução para as psicoses e também precisamos as noções de escrita e de letra, a fim de articular o que se escreve numa obra. Em Freud, percorremos sua discussão sobre a Verwerfung, bem como sobre a assertiva do delírio como tentativa de cura. Em Lacan, identificamos ao menos três estratégias quanto à estabilização na psicose: o ato, a metáfora delirante e a obra. A partir desta última, Lacan empreende uma revisão da estrutura da linguagem para pensar o inconsciente face ao gozo através, sobretudo, das noções de letra e de lalíngua. Com isso, chega à mostração do real através da topologia borromeana, ampliando a discussão das estabilizações na psicose a partir do conceito de suplência. Nessa perspectiva, a estabilização implica, enquanto suplência, a maneira como o sujeito, psicótico ou não, se escreve como nó, usando a letra, enquanto litoral entre simbólico e real, e fundando o campo pronto a acolher gozo. Letra e nó escrevem o savoir-y-faire do sujeito. É o que mostramos com a aplicação da topologia borromeana enquanto método de análise a dois casos de psicose. Deles extraímos que a criação, artística ou artesanal, poderá (mas nem sempre) operar enquanto letra que escreve um sujeito, permitindo o enlaçamento dos três registros. Mais do que a criação em si, é seu efeito de escrita que pode funcionar como elemento na suplência psicótica. Nesse sentido, a criação seria também uma forma de escrita.

Título: Freud e o paradoxo do futuro

Bruno Leal Farah

Orientadora: Regina Herzog

Data de defesa: 20/7/2007

O objetivo deste trabalho é circunscrever, na psicanálise, uma concepção de futuro oposta tanto à ideologia progressista moderna quanto ao presentismo conservador da contemporaneidade. A tese parte do questionamento sobre o futuro da modernidade a partir do impacto da Primeira Guerra nos textos freudianos. Tal crise insere a psicanálise numa problematização política, aproximando-a da oscilação interna própria do movimento modernista quanto à ideologia progressista moderna. Esta oscilação será analisada em Freud através do confronto de dois discursos distintos sobre a modernidade – um filosófico-jurídico e outro histórico-político – e, conseqüentemente, de dois posicionamentos opostos em relação ao futuro da modernidade na psicanálise – um progressista e outro associado à transitoriedade. O mal-estar na civilização, texto que melhor apresenta o discurso histórico-político da modernidade, será o texto principal desta pesquisa. O seu questionamento sobre o futuro será considerado como a consolidação de um percurso teórico iniciado com a dúvida sobre os destinos da modernidade dos textos de 1915 sobre a guerra. A sua crítica coloca em evidência o colapso da ideologia progressista moderna e implica uma visão de futuro oposta daquela circunscrita em Totem e tabu, remetendo também à análise deste texto. A genealogia destas duas perspectivas antagônicas de futuro conduz ao confronto de dois paradigmas do laço social em Freud – um tradicional marcado pela idéia de superação, e outro, caracterizado pela idéia de simultaneidade, noção central ao modernismo. Einstein e Dostoievski são os modernistas privilegiados neste trabalho que discutirão com Freud os impasses políticos frente à crise da autoridade tradicional, esboçando os contornos do paradigma da simultaneidade.

Título: O desejo do analista e o discurso da ciência

Rosa Guedes Lopes

Orientadora: Tânia Coelho dos Santos

Data de defesa: 10/9/2007

Esta pesquisa analisa a equação lacaniana entre o sujeito da ciência moderna, sujeito sem qualidades, e o sujeito da psicanálise. Demonstra a posição subjetiva moderna, caracterizada pela divisão entre saber e verdade. Traça uma homologia estrutural entre o corte que propicia a passagem do mundo antigo ao moderno, que dá lugar ao sujeito da ciência a partir da perda de Deus, e a perda da realidade conceituada por Freud como constituidora do sujeito do inconsciente. Toma o texto " A ciência e a verdade" (1965) como um diálogo entre Lacan, o Freud de " A questão de uma Weltanschauung" (1933 [1932]) e a ciência moderna. Traça uma equivalência entre a reintrodução da realidade psíquica, por Freud, e a reintrodução do Nome-do-Pai na consideração científica, por Lacan, como o que caracteriza a práxis da psicanálise e o que a diferencia das outras práxis. Demonstra que a introdução do conceito de Nome-do-Pai por Lacan teve o objetivo de formalizar, nos moldes científicos, o mito edípico com o qual Freud conceituou a realidade psíquica. Retoma o percurso de Lacan no estabelecimento deste conceito. Analisa seu progresso, bem como suas descontinuidades no período concernente ao primeiro e ao segundo ensinos de Lacan e interroga o que significa reintroduzir o Nome-do-Pai na consideração científica em cada um destes momentos. Trabalha a especificidade do discurso do analista na sua tensão estrutural com o discurso da ciência. Introduz o desejo do analista como o termo com o qual Lacan interfere no debate com os pós-freudianos. Situa o discurso do analista como a formalização amadurecida e lógica do desejo do analista.

Título: A violência no discurso capitalista: uma leitura psicanalítica

Maria Angélia Teixeira

Orientadora: Tânia Coelho dos Santos

Data de defesa: 29/10/2007

Esta tese tem a finalidade de analisar a dimensão subjetiva da violência, especialmente a que se apresenta no discurso do capitalista. Para abordá-la, foram adotadas as teorias da pulsão destrutiva e do supereu formuladas por Sigmund Freud e as teorias dos discursos e do gozo formulada por Jacques Lacan. Três vetores orientam esta pesquisa: o primeiro está relacionado aos fundamentos teóricos da constituição subjetiva da violência; o segundo está destinado a identificar a violência contemporânea como índice da mutação subjetiva produzida pelo discurso da tecnociência capitalista; o último tem o propósito de analisar e confrontar o poder de intervenção do discurso psicanalítico frente às manifestações de violência na contemporaneidade. O mal-estar na civilização que Freud atribuiu à pulsão de morte e ao seu correlato, o supereu, foi por Lacan atribuído aos avatares dos quatro discursos (do mestre; da universidade; da histérica; do psicanalista) e suas modalidades de ordenação do desejo e do gozo nos laços sociais. A violência que é produzida pelo quinto discurso, que é o da tecnociência capitalista, interpela a ética da psicanálise a uma nova leitura sobre suas causalidades, seus efeitos e incidências nos laços sociais. A oposição do discurso do mestre ao do capitalismo tem a finalidade de confrontar a violência instituída e instituinte do discurso do mestre (discurso fundante da subjetividade) com a violência que se apresenta como mutação subjetiva, ruptura dos laços sociais, desregulação do gozo no discurso do capitalista. A oposição do discurso do capitalista ao do psicanalista tem a finalidade de rediscutir sua evidência clínica, bem como a participação do psicanalista na construção da atualidade. A aposta psicanalítica de reinventar o mundo com o vigor das palavras, relançando o gozo da vida, constitui-se como o ponto de partida desta tese.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Jul 2008
  • Data do Fascículo
    Jun 2008
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