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Apresentação do v. 22, n.1, 2020, de Alea. Estudos Neolatinos

Presentation of v. 22, issue 1, of Alea. Estudos Neolatinos

A área dos Estudos Coloniais é por definição heterogênea e multidisciplinar. Os trabalhos produzidos nesse campo transitam por saberes tão diversos e complementares como a história, a literatura, a geografia, as artes, a política, a etnografia, a linguística, a sociologia, entre outros. Trata-se, conforme argumentam os organizadores deste volume da Alea, de um domínio tentativo, feito de interseções e de discursos em escrutínio, mas que ao mesmo tempo se apresenta com um alto grau de especificidade, se nos atentamos para seus principais temas e debates.

O presente volume da Alea pretende interpelar esse vasto campo, acompanhando suas discussões, sua evolução como campo disciplinar e, sobretudo, pensando o lugar que os Estudos Coloniais ocupam no pensamento contemporâneo. Reunimos, assim, o trabalho de um grupo de pesquisadores de diferentes universidades latino-americanas, que discorrem por temas variados do universo colonial ibero-americano, articulando em suas propostas a problematização teórica, o trabalho historiográfico e a reflexão crítica. O leitor encontrará nas páginas deste volume instigantes reflexões em torno à própria noção de colonialidade e suas correlatas (decolonialidade, pós-colonialidade), e em torno a outros conceitos que circulam no âmbito contemporâneo dos Estudos Coloniais e Pós-coloniais, tais como hegemonia ou marginalidade. Também poderá acessar ao estudo pontual de figuras (La Quintrala, Manco Cápac), de topos (cidades, edifícios, corpos), de suportes (a letra, as linguagens não tipográficas, a oralidade) e de temas do universo colonial, deparando-se com sugestivos exercícios interpretativos em relação a tradições, manifestações arquitetônicas e urbanísticas, línguas e textos literários diversos.

A partir de diferentes perspectivas metodológicas, os textos aqui reunidos discutem como a aparição da América no horizonte europeu do século XV consolidou a expansão dos impérios e domínios ultramarinos da época, redefiniu radicalmente a ordem geopolítica vigente e as formas de vida das populações locais, impus novas formas de opressão e de convivência e afirmou as bases simbólicas e econômicas de um sistema-mundo moderno, que perdura até hoje.

Além dos quinze artigos que compõem o dossiê temático proposto na chamada e da valiosa introdução dos organizadores do volume, que traça pautas de leitura necessárias para o leitor menos familiarizado com o tema, deixamos espaço para duas seções já tradicionais em nossa revista, Tradução e Resenhas.

A obra do grande poeta espanhol José Angel Valente ganha espaço na primeira, através de um excelente trabalho de tradução dos dezessete poemas de tema erótico que integram a primeira parte de Mandorla (1982VALENTE, José Angel. Mandorla. Madrid: Ed. Cátedra, 1982.). Trata-se da primeira tradução de textos desse curioso livro de Valente, um escritor que somente foi traduzido em Brasil em 2018VALENTE, José Angel. Não amanhece o cantor. Trad. Saturnino Valladares. Manaus: Ed. Valer, 2018. (Não amanhece o cantor) e que merecia maior atenção das editoras brasileiras. Aproveitamos para deixar nosso agradecimento à Agência Carmen Balcells, que autorizou a publicação parcial da obra e sua tradução nas páginas da Alea.

Na seção de Resenhas, incluímos uma dedicada ao livro de Margarita Zamora Sobre Lenguaje, autoridad e historia indígena en los Comentarios reales de los Incas. Trata-se de uma obra clássica nos estudos da obra do Inca Garcilaso, publicada originalmente em inglês, que ganha uma edição corrigida em espanhol em 2018ZAMORA, Margarita. Lenguaje, autoridad e historia indígena en los Comentarios reales de los Incas. Trad. Juan Rodríguez Piñeiro; Revisão e correção Vanina M. Teglia. Lima: Centro de Estudios Literarios Antonio Cornejo Polar, CELACP / Latinoamericana Editores, 2018. graças à tradução de Juan Rodríguez Piñero e Vanina M. Teglia. O outro texto resenhado é El continente vacío. La conquista del Nuevo Mundo y la conciencia moderna, do professor e filósofo espanhol Eduardo Subirat. A singularidade desse trabalho é que se trata de uma auto-resenha da edição de 2019SUBIRATS, Eduardo. El continente vacío. La conquista del Nuevo Mundo y la conciencia moderna. Guadalajara: Universidad de Guadalajara, 2019. do livro, o que lhe concede um particular valor autobiográfico e testemunhal à apresentação da obra.

No intuito de confrontar a pesquisa que se produz na academia brasileira com a produzida em outros eixos do mundo, e como é de praxe em nossa revista, participaram no volume pesquisadores de diferentes universidades. Do Chile, contamos com a colaboração de professores pesquisadores da Universidad Andrés Bello, da Universidad de Chile, da Universidad de San Sebastián, da Universidad Católica del Maule e da Universidad de los Andes; da Argentina recebemos as colaborações de pesquisadores da Universidade de Buenos Aires, da Universidad Nacional de La Plata e da Universidad Católica Argentina; do México, participam pesquisadores da Universidad del Claustro de Sor Juana e da Universidad Autónoma de la Ciudad de México. No caso do Brasil, contamos com a colaboração de pesquisadores da Universidade Federal de Rondônia, da Universidade Federal Rural de Pernambuco, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, e da PUC-RS. Nas seções de Tradução e Resenhas colaboraram professores da Universidade Federal do Amazonas, da Universidad de Buenos Aires e da New York University. Agradecemos a participação de todos e, de maneira especial, dos Editores Convidados, professores da Universidad de Buenos Aires e da Universidade de Pernambuco, que fizeram possível esse concerto de vozes. Esperamos que esse trabalho seja do agrado dos nossos leitores.

Referências

  • SUBIRATS, Eduardo. El continente vacío. La conquista del Nuevo Mundo y la conciencia moderna Guadalajara: Universidad de Guadalajara, 2019.
  • VALENTE, José Angel. Mandorla Madrid: Ed. Cátedra, 1982.
  • VALENTE, José Angel. Não amanhece o cantor Trad. Saturnino Valladares. Manaus: Ed. Valer, 2018.
  • ZAMORA, Margarita. Lenguaje, autoridad e historia indígena en los Comentarios reales de los Incas Trad. Juan Rodríguez Piñeiro; Revisão e correção Vanina M. Teglia. Lima: Centro de Estudios Literarios Antonio Cornejo Polar, CELACP / Latinoamericana Editores, 2018.
  • ERRATA

    No Editorial: Estudos Coloniais. Aleaitalic>, v.22, n.1, p.9-11, 2020.DOI 10.1590/10.1590/1517-106X/2020221911,
    página 9, onde se lia:
    Estudos Coloniais
    Colonial Studies
    leia-se
    Apresentação do v. 22, n.1, 2020, de Alea. Estudos Neolatinos
    Presentation of v. 22, issue 1, of Alea. Estudos Neolatinos

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Mar 2020
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2020
Programa de Pos-Graduação em Letras Neolatinas, Faculdade de Letras -UFRJ Av. Horácio Macedo, 2151, Cidade Universitária, CEP 21941-97 - Rio de Janeiro RJ Brasil , - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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