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Editorial

A contemporaneidade está obcecada com o contemporâneo. Se na preocupação com o presente transparece um sentimento de urgência, a necessidade de diagnosticar um agora que parece ser cada vez mais fugidio, nela também reside um empobrecedor estreitamento de foco. A perda de sentido da profundidade temporal já foi investigada por Fredric Jameson, em seu Pós-modernismo, um livro cujo envelhecimento valeria ser estudado; há, porém, um afunilamento de visão também do ponto de vista espacial, decorrência quase inevitável da dificuldade de lidar, em nosso ambiente intelectual, com alguma noção de totalidade. No Brasil, isso se traduz em um inchaço da literatura contemporânea, principalmente do romance, em detrimento, não apenas do passado, mas também de outras contemporaneidades, geograficamente distintas.

Nossa intenção com este volume da Alea era reunir contribuições sobre a literatura latino-americana contemporânea que pudessem oferecer um contraponto àquilo que se faz na literatura brasileira atual. Os primeiros seis textos que compõem o número são expressivos dessa intenção: Patricia Trujillo e Leonardo Gil apresentam um panorama da poesia colombiana do século XXI; Osmar Sánchez Aguilera discute o projeto poético do escritor cubano Luis Rogelio Nogueras; Sophie Dorothee von Werder analisa dois romances do escritor boliviano Edmundo Paz Soldán, El delirio de Turing e Sueños digitales, Flavio Garcia lê o conto “Na Estepe”, da argentina Samanta Schweblin; Gustavo Silveira Ribeiro procura compreender, a partir da obra de Juan Carlos Romero, Roberto Bolaño, Nuno Ramos e André Vallias, os significados que inventários, catálogos e listas assumem na cultura latino-americana das últimas décadas, e, por fim, Franklin Alves Dassie faz uma leitura contemporânea da imagem da doença em El diário de la hepatites, de Ricardo Piglia. Encerrando a seção, incluímos o artigo de Rafael Santana, que interpreta o conto “A estranha morte do professor Antena”, de Sá Carneiro, e o texto de Tauan Tinti, que propõe uma nova leitura de Lolita, de Nabokov, em sua relação oblíqua com a indústria cultural.

Completando o volume, publicamos uma resenha do livro Literatura comparada. Reflexões, de Eduardo Coutinho, preparada por Mauricio Silva e uma tradução de autoria de Eduardo Horta Nassif de “A Escola Pagã”, de Charles Baudelaire.

Edson Rosa
Fabio Akcelrud Durão

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Apr 2016
Programa de Pos-Graduação em Letras Neolatinas, Faculdade de Letras -UFRJ Av. Horácio Macedo, 2151, Cidade Universitária, CEP 21941-97 - Rio de Janeiro RJ Brasil , - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
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