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IDEOLOGIAS DE GÊNERO E IDEOLOGIAS DE LÍNGUA(GEM) EM PÁGINAS FEMINISTAS DO FACEBOOK

RESUMO:

O trabalho tematiza a questão das relações entre ideologias de gênero e ideologias de língua(gem), de modo a problematizar a hipótese de convergências entre hegemonias linguísticas e a ordem hegemônica de gênero, fixada pela tradição etnocêntrica ocidental. A partir de exemplos de duas comunidades ativistas feministas da rede social Facebook, investigadas desde 2013 em um estudo etnográfico virtual, o trabalho focaliza a função metapragmática exercida por comentários de participantes dessas comunidades. Orienta-se pela compreensão da linguagem como ação social (BAUMAN; BRIGGS, 1990BAUMANN, R.; BRIGGS, C. Poetics and performances as critical perspectives on language and social life. Annual review of Anthropology, Palo Alto, CA, v.19, n.1, p.59-88, 1990.), pelos conceitos de “ideologia de linguagem” (WOOLARD, 1998WOOLARD, K. A. Language Ideology as a Field of Inquiery. In: WOOLARD, K. A. et al. Language Ideology: Practice and Theory. New York: Oxford University Press, 1998. p. 2-40.), de “conflito discursivo” (BRIGGS, 1996BRIGGS, C. Disorderly discourse: narrative, conflict, & inequality. Oxford: Oxford University Press, 1996.) e de “ataque metapragmático” (JACQUEMET, 1994JACQUEMET, M. T-offenses and metapragmatic attacks: strategies of interactional dominance. Discourse & society, Stanford, v.5, n.3, p.297-319, 1994.) e pela apreensão dos processos de construção de identidades em suas relações com as disputas de poder e controle na interação e no mundo social (SIGNORINI, 1998SIGNORINI, I. Figuras e modelos contemporâneos da subjetividade. In: SIGNORINI, I. (org.). Língua(gem) e identidade. Campinas: Mercado de Letras, 1998. p.333-380.; MOITA LOPES, 2010MOITA LOPES, L. P. Os novos letramentos digitais como lugares de construção de ativismo político sobre sexualidade e gênero. Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, v.49, n.2, p.393-417, 2010.). Nesses espaços-tempos, as hegemonias de gênero/sexualidade e as hegemonias linguísticas aparecem interligadas, atendendo aos propósitos de (des)credibilização de argumentos, (não) preservação da face e (re)orientação das interações. Isso ocorre sobretudo nas tentativas de normatização do uso da língua(gem), que invocam um modelo cultural escolarizado e estabelecem relação entre esse modelo e a capacidade dos sujeitos de compreensão das questões em discussão, sobre gênero e sexualidade.

PALAVRAS-CHAVE:
Ideologias de gênero; Ideologias de linguagem; Ataque metapragmático; Conflito discursivo; Facebook

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