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Memórias dos visitantes do Museu Nacional: lembranças que não se apagam

Memories of National Museum visitors: remembrances that will not fade

RESUMO

O Observatório de Museus e Centros de Ciência e Tecnologia (OMCC&T) realizou uma pesquisa intitulada Lembranças, memórias, presenças que marcam: o que forma o público de um museu de ciência?. Foram 619 formulários respondidos por visitantes de seis diferentes museus, dos quais 87 pessoas foram sorteadas para serem entrevistadas sobre suas recordações vinculadas a visitas a museus. À vista de que mais de 70% das memórias se referem especificamente ao Museu Nacional, estabeleceu-se um recorte com foco nesses entrevistados. Por meio da análise documental, que incluíram regimentos, relatórios institucionais, acervo fotográfico e matérias jornalísticas, a pesquisa investigou a história da instituição, obtendo importantes elementos que ajudam a compreender a construção da relação do Museu com seus diferentes públicos ao longo de seus duzentos anos. A abordagem histórica destaca, entre outras informações, a localização original e atual da instituição e seus problemas correlatos; a participação da mídia no processo de divulgação; a configuração do acervo grandioso do Museu; o compartilhamento do território com um parque público e jardim zoológico, os quais conferiram ao local características de lazer familiar e social, bem como muitos visitantes ao longo das décadas. As falas dos entrevistados formaram o segundo pilar do estudo, que detalhou os vínculos emocionais de suas lembranças. Os relatos se caracterizaram pela valorização das ligações familiares, das sensações de felicidade, de assombro com a grandiosidade da arquitetura do palácio e com o acervo, além da profunda tristeza vivenciada pelo incêndio que destruiu a maior parte do patrimônio do Museu Nacional.

PALAVRAS-CHAVE:
Estudos de público; Museu Nacional; Museus de ciência; Memórias de visitas a museus; Observatório de museus

ABSTRACT

The Observatório de Museus e Centros de Ciência e Tecnologia (OMCC&T) conducted research entitled Remembrances, Memories, Impacts: What Constitutes the Public of a Science Museum?. A total of 619 forms were filled by visitors of six different museums, of which 87 were drawn to be interviewed about their recollections related to visits to museums. Since over 70% of the memories refer specifically to the National Museum, we chose to focus on these interviewees. With document analysis, which included regiments, institutional reports, photographic collection and journalistic articles, the research investigated the history of the institution, obtaining important elements that help to understand the construction of the relationship of the Museum with its various publics throughout its two thousand years. The historical approach highlights, among other information, the original and current location of the institution and its related problems; the participation of the media in the dissemination process; the configuration of the Museum’s grand collection; the sharing of the territory with a public park and zoo, which conferred on the site characteristics of family and social leisure as well as many visitors throughout the decades. The speeches from the interviewees formed the second pillar of the study, which detailed the emotional bonds of their memories. The reports were characterized by valuing family connections, feelings of happiness, amazement at the magnificence of the palace architecture and the collection, in addition to the deep sadness experienced by the fire that destroyed most of the National Museum property.

KEYWORDS:
Audience studies; National Museum; Science museums; Memories of museum visits; Museum observatory

INTRODUÇÃO

Entre 2019 e 2021, seis dos museus integrantes do Observatório de Museus e Centros de Ciência e Tecnologia (OMCC&T), realizaram, com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a pesquisa Lembranças, memórias, presenças que marcam: o que forma o público de um museu de ciência? Do total de 619 formulários respondidos por visitantes desses museus, foram sorteadas 87 pessoas entre as que se dispuseram a ser contactadas posteriormente para participar de uma entrevista. O material obtido nesse processo passou pela análise dos pesquisadores envolvidos de modo a organizar os conteúdos de acordo com a metodologia adotada para o trabalho. Chamou a atenção a recorrência das falas dos entrevistados que remetiam a memórias vinculadas a uma instituição específica - Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do Ministério da Educação (MEC). Embora variando, havia em comum um forte componente emocional nos relatos, o que levou à formulação da pergunta: por que foram achadas tantas referências de lembranças emocionais direcionadas a uma instituição em particular? Esse fato nos remete a vários trabalhos encontrados na literatura que tratam do aspecto emocional como um elemento com forte apelo na construção das memórias e do conhecimento que orientam a missão dos museus. Annis6 6 Annis (1986). comenta que os museus incorporam três dimensões fundamentais: o espaço formal, onde se colocam seus conteúdos específicos; os espaços sociais, representados pelo compartilhamento das experiências pessoais ou coletivas entre amigos e familiares em uma ou mais visitas; e o espaço onírico, onde se colocam os pensamentos, os sentimentos e as sensações surgidos a partir de “imagens, cores e texturas de maneiras bastante aleatórias, mas altamente pessoais”.7 7 Cf. Kavanagh (1999, p. 3). As memórias são construídas desse caldo fundamental no qual se agregam fragmentos de conversas, sons, músicas etc. dentro de um arcabouço emocional.

O encontro desse conteúdo na pesquisa levou a uma derivação do estudo, de maneira a dedicar uma investigação específica do material colhido entre os respondentes que apresentaram referências claras de lembranças de visitas ao Museu Nacional. É uma oportunidade ímpar de observar, na prática, o papel conquistado por um Museu secular na emoção de seu visitante.

O Museu Nacional, também conhecido como o Museu da Quinta, figura no imaginário social como aquele museu que faz parte da infância da população e que grande parte dos moradores da cidade do Rio de Janeiro já teriam visitado ao menos uma vez na vida. As percepções que figuram no imaginário são reforçadas pelos estudos de público realizados pelo OMCC&T. Em 2017, 86% dos visitantes do Museu Nacional informaram que sabiam da existência da instituição há mais de um ano8 8 Cf. Cazelli et al. (2022). e, em todas as quatro rodadas da pesquisa longitudinal Perfil-Opinião, a instituição foi a única dos museus pesquisados cuja maior parte dos respondentes informou que não a estava visitando pela primeira vez.9 9 Cf. Mano et al. (2022).

MUSEU NACIONAL: A CONSTRUÇÃO DA RELAÇÃO COM OS PÚBLICOS

Como explicar a grande notoriedade do Museu Nacional junto à população? A que se pode atribuir o retorno dos visitantes à instituição? Quais aspectos contribuíram para os números expressivos de visitantes do Museu Nacional quando comparados com grande parte dos museus localizados na cidade do Rio de Janeiro.

Por meio da análise dos regimentos que documentam a política de visitação ao Museu Nacional, de relatórios institucionais e de matérias publicadas em jornais de grande circulação, buscou-se investigar como se deu a construção da relação do Museu com diferentes públicos ao longo de sua trajetória bicentenária.

Uma das particularidades do Museu Nacional diz respeito à sua antiguidade. Sua criação se deu em 1818 e se insere no contexto das “primeiras iniciativas mais organizadas de difusão da chamada ciência moderna”,10 10 Cf. Moreira e Massarani (2002, p. 43). empreendidas no Brasil em decorrência da transferência da Corte portuguesa ao país.

A abertura do Museu Nacional à visitação pública se deu em 24 de outubro de 1821, de maneira bastante restrita, tanto pelo curto espaço de tempo em que ele podia ser visitado - “quinta-feira de cada semana, desde às dez horas da manhã até à uma da tarde, não sendo dia santo” - quanto pelas exigências impostas aos seus visitantes, que podiam ser “todas as pessoas assim estrangeiras como nacionais que se fizerem dignas disso pelos seus conhecimentos e qualidades”.11 11 Cf. Köptcke (2005, p. 192).

Entre 1818 e 1891, o Museu ocupou uma edificação localizada nos arredores do Campo de Santana, denominado praça da República a partir de 1889. Atualmente, esse local abriga o Centro Cultural Museu Casa da Moeda do Brasil. No período joanino, o Campo operava como espaço de manobras militares e celebração política; depois, seria palco da aclamação dos dois imperadores brasileiros, d. Pedro I, em 1822; e d. Pedro II, em 1841. Além do Museu Nacional, importantes instituições se localizavam naquela região, como o Senado do Império, ali instalado em 1826, e a Casa da Moeda, que em 1868 passou a ocupar o prédio construído para abrigar a II Exposição Nacional da Indústria (1866) e que atualmente é a sede do Arquivo Nacional.

Em 1818, o Campo de Santana foi incrementado com a instalação do chafariz das Lavadeiras e passou a reunir, além de lavadeiras, vendedores de água, escravizados carregadores, estudantes que se refrescavam no local, entre outros personagens. Esse evento, segundo Vernin,12 12 Vernin (2021, p. 30). reforça o lugar ocupado pelo Campo de Santana como “espaço de interação popular do antigo arredor da cidade, agora incluído no perímetro urbano”. De acordo com a autora, no início do século XIX o local funcionava como entroncamento entre as freguesias mais ricas e pobres. Já nas últimas décadas do século XIX, entre 1873 e 1880, o local foi remodelado pelo paisagista francês Auguste-Marie Glaziou, e o novo parque de inspiração parisiense disciplinou o espaço, esvaziando-o enquanto ambiente de interação popular.

Outro parque projetado por Glaziou foi, a partir de 1892, o endereço do Museu Nacional. Foi nos primeiros anos de nossa história republicana, após encerrados os trabalhos da Constituinte de 1891 no paço de São Cristóvão, que se deu a transferência do Museu para o local, situado na Quinta da Boa Vista. Essa transferência fora solicitada pelo então Diretor do Museu, Ladislau Netto, desde o banimento da família imperial, e teve como motivação a falta de espaço para uma instituição que estava em crescente desenvolvimento.

No início do século XX, já abrigando o Museu, a Quinta da Boa Vista passou por importantes reformas e foi entregue à população como um parque público em 1910. Na ocasião, além do Museu, operava nesse parque um aquário de água doce que nos anos de 1910 recebia em média 100 mil visitantes por ano.13 13 Cf. Ferreira e Martins (2000) e Trindade (2013).

Contrariando a visão que muitos têm hoje, nem sempre a Quinta da Boa Vista foi percebida como local de fácil acesso da população. Entre os anos de 1920 e 1950, a presença do Museu nesse parque era entendida como um fator que dificultava a visitação. De acordo com Roquette-Pinto, diretor do Museu Nacional nos anos de 1920, se a instituição estivesse localizada em outra área da cidade, seria ainda mais visitada. O que faltava não era interesse da população e, sim, condução simples, “uma linha de ônibus, não todo dia, talvez não queiramos duas ou três vezes por semana, aos domingos que fosse, muito facilitaria o público em conhecer o que ele nem sabe existir e tanto fala de seu país, de seu povo e de história, de si mesmo”.14 14 “Para a eficaz…” (1927).

A dificuldade de acesso ao Museu foi também citada por Bertha Lutz nos anos de 1930, que chegou a propor a transferência para um local acessível da cidade, que permitisse o funcionamento no horário noturno, visando atender as classes trabalhadoras.15 15 Lutz (2008). Em 1959, o educador Solon Leontsinis destacava que a localização do Museu em lugar de difícil acesso e a ausência de condução nas proximidades eram alguns dos elementos que justificavam a criação do Serviço de Exposições Circulantes de Empréstimo do Museu Nacional, que levaria o Museu até as escolas.16 16 Cf. Costa (2021).

Com o passar dos anos, novos equipamentos compuseram a paisagem da Quinta, como o parque Shangai, entre 1943 e 1962; e o Jardim Zoológico (atual BioParque), a partir de 1945. O Zoo atraiu em seu primeiro dia de funcionamento, mais de 100 mil pessoas.17 17 “Mais de cem mil…” (1945). A presença desses equipamentos certamente contribuiu para a ampliação da frequência ao Parque, e pode ter influenciado também no aumento da notoriedade do Museu e de sua visitação. Já nessa época, era possível observar a tríade museus-lazer-turismo.18 18 Cf. Cazelli et al., op. cit., e Dahmouche et al. (2023).

Não há registro de visitação entre 1964 e 1979, período da Ditadura Militar. Os dados sobre a visitação durante a década de 1970 não constam dos registros do Museu Nacional, embora tenham ocorrido eventos importantes nesse intervalo, como a exibição da Pedra Lunar, que em três dias levou mais de 23 mil pessoas, as quais aguardavam em longas filas para ver o objeto que intrigava o público.19 19 Cf. “Cariocas…” (1970, p. 5).

Entre os anos de 1980 e 1990, eventos culturais atraíram milhões de pessoas, como os espetáculos, ao ar livre, de música clássica e balé, promovidos pelo Projeto Aquarius.20 20 Projeto idealizado pelo maestro Isaac Karabtchevsky, pelo jornalista Roberto Marinho e pelo executivo de marketing Péricles de Barros, com realização das Organizações Globo, objetivando popularizar a música clássica em locais com grande apelo visual. Acredita-se que iniciativas como as citadas contribuíram para a ampla divulgação da Quinta da Boa Vista e sua conformação enquanto espaço público de lazer e cultura.

A oferta de novas exposições pelo Museu foi, em diversos momentos ao longo da trajetória da instituição, responsável por atrair novos visitantes e por motivar o retorno daqueles que já o conheciam. No século XIX, a iniciativa de maior destaque foi a “Exposição Antropológica”. Inaugurada em 29 de julho de 1882, durou três meses e disponibilizou ao público aproximadamente oitocentos objetos distribuídos ao longo de oito salas. Sua inauguração contou com a presença da família imperial e de muitas outras autoridades. As diferentes etapas da exposição, desde a preparação, passando pelo evento de abertura e visitação pública, tiveram grande espaço nos jornais da época, que noticiaram fartamente a comoção que a presença de indígenas causou junto à população e o acesso em massa decorrente.

A exposição antropológica chama todos os dias aos salões do museu um número considerável de curiosos e um pequeno número de pessoas que ali vão estudar. O nosso povo dá a vida por uma exposição…quando a entrada é gratuita;

[…] Na do museu não se paga. O cidadão entra ali como em casa, de chapéu na cabeça e sem recear que os porteiros o incomodem;

No domingo havia nesta exposição mais de 3.000 pessoas entre as que percorriam os salões e as que estavam às portas do edifício esperando a sua vez;

É uma bonita exposição, deficiente, é verdade, mas cheia de atrativos. O homem de ciência tem ali vasto campo para estudos, mas é necessário que se estabeleça uma espórtula à entrada, a fim de ver se vai lá menos gente;

No meio de tanto povo não se pode estudar.21 21 “Echo do povo” (1882, p. 1).

Ao longo do século XX, já ocupando o paço de São Cristóvão, observamos uma preocupação com a renovação das exposições e seu entendimento como estratégia para atrair o interesse público. Transformações significativas ocorreram em especial nas décadas de 1910, 1940, 1950 e 1990. A inauguração de novas exposições conseguiu espaço junto aos meios de comunicação de massa e se refletiu na ampliação do número de visitações. Em 1959, O Jornal publicou “Desperta a atenção do povo o Museu da Quinta da Boa Vista”. De acordo com a reportagem, grande parte da população desconhecia o Museu, contudo, a imprensa e a televisão vinham ajudando a mudar esse quadro, contribuindo para que a instituição batesse recordes de público.22 22 “Desperta…” (1959).

As exposições de longa duração ficaram entre as décadas de 1960 e 1990 sem maior atenção por parte do Museu, todavia, o número de visitantes seguiu se ampliando até o início dos anos de 1980. Exposições de curta duração, inclusive algumas oriundas de outras instituições, podem ter contribuído para isso.

Outra importante característica do Museu Nacional diz respeito à sua estreita e longa relação com as escolas, que começou a ser construída ainda no século XIX, mas foi alvo de maior atenção a partir dos anos de 1910. De acordo com o relato de Bertha Lutz, o Museu Nacional era, nos anos de 1920, uma instituição amplamente frequentada, desdobramento do trabalho realizado com as escolas. Segundo a cientista, o Museu ficava “cheio de crianças” que “não deixaram de vir” e o frequentavam, inclusive, fora do contexto das visitas escolares.23 23 Lutz (1922, p. 79)

Segundo Lutz, o Museu Nacional contava com muitos visitantes, alcançando uma média de 3,5 a 5 mil pessoas aos domingos. Para expressar quão significativa era aquela visitação, ela afirmou: “A população do Rio é de um milhão e meio e, em média, uma em cada dez pessoas vem ao museu pelo menos uma vez por ano”.24 24 Ibid.

Em uma iniciativa precursora no país, o Museu criou, em 1927, o Serviço de Assistência ao Ensino de História Natural, o primeiro setor educativo de um museu brasileiro, atualmente denominada Seção de Assistência ao Ensino (SAE), tendo como foco principal o trabalho educativo com professores e alunos. Em consonância com as políticas educacionais existentes à época de sua fundação, o Serviço se dedicou à orientação das escolas na montagem dos Museus Escolares, o que envolvia a formação de professores e a preparação de acervo. O auditório do Museu era aberto às escolas, que nele podiam assistir às aulas acompanhadas do uso das mais modernas mídias da época, o cinema e projetor de slides. A partir dos anos de 1940, em iniciativa precursora liderada por Victor Stawiarski, passou a oferecer aulas e cursos de Educação Sexual muito procurados pelas escolas. Nos anos de 1950, além das exibições de cinema, oferecia tanto cursos para professores da educação primária e secundária em diferentes ramos da história natural, quanto visitas guiadas organizadas principalmente para grupos de estudantes. Em fins da década de 1960, a matéria “Museu Nacional é um dos mais procurados do país” deu ênfase à visitação escolar expressiva:

Estudantes dos mais variados níveis, dezenas de caravanas de outros estados e até do exterior superlotam os seus corredores, sobretudo na época das férias. […] não se trata de simples curiosidade; todos querem realmente se aprofundar em alguma coisa.25 25 “Museu…” (1968).

O trabalho realizado pelo setor educativo do Museu Nacional acompanha os debates teóricos, políticos e práticos do campo da educação museal, mantendo como uma de suas marcas o trabalho conjunto com as escolas, iniciado há aproximadamente um século.

O acesso aos museus por parte da população é influenciado por diferentes fatores. Além da localização, a gratuidade e os dias e horários de funcionamento são aspectos que favorecem a visitação. Na década de 1970, a imprensa denunciava que se os cariocas não encontravam barreiras econômicas (cobrança de ingresso) para acessar os museus da cidade, encontravam outra barreira, os dias de visitação.

O Rio conta, atualmente, com cerca de 40 museus […]. Ao contrário dos países europeus, onde tradicionalmente as visitas são pagas, a quase totalidade dos nossos oferece acesso gratuito aos interessados. Mesmo assim, visitar museus não está entre os hábitos do brasileiro e uma das ineficiências que contribui para manter esse desinteresse, está no fato deles não funcionarem nos fins de semana e feriados, justamente no momento de lazer dos poucos interessados.26 26 Rabelo (1975, p. 9).

Verificamos que em 1890, o Museu Nacional recebia seus visitantes aos domingos e, em 1899, ele podia ser visitado não só aos domingos, mas também às quintas e sábados. Os dias e horários de funcionamento foram alterados em diversos momentos, ora sendo ampliados, ora reduzidos, contudo, desde o final do século XIX o Museu Nacional nunca mais deixaria de ser visitado aos domingos. Nos anos de 1970, enquanto muitos museus da cidade não funcionavam aos fins de semana e feriados, o Museu Nacional, além de gratuito, estava aberto à visitação de terça a domingo, das 12 às 17 horas.27 27 “Roteiro…” (1971, p. 3). Assim, é possível que, com a localização, o funcionamento nos finais de semana e feriados tenha contribuído para uma visitação mais expressiva do Museu Nacional em relação a outras instituições museais.

Por ocasião do incêndio ocorrido em setembro de 2018, o Museu Nacional recebia, em média, 200 mil pessoas por ano, sendo um dos museus mais visitados do Rio de Janeiro. No domingo, 2 de setembro de 2018, dia do trágico incêndio, 1.017 pessoas percorreram suas exposições. Dados longitudinais referentes às duas primeiras décadas do século XXI, coletados sistematicamente com a metodologia do OMCC&T, mostram que grande parte dos entrevistados não eram visitantes de primeira vez: em 2005, foram 123.777 visitantes; em 2009, 198.672; em 2013, 250.001; e em 2017, 181.082. O Museu Nacional lidera como a instituição conhecida há mais tempo, ou seja, de maior notoriedade. Entre aqueles que declararam já ter visitado o museu onde foi preenchido o questionário, 48% informaram ter ido há mais de dois anos. Os visitantes do Museu Nacional foram os que apresentaram maior constância, 60% na alternativa “mais de 2 anos”, o que pode estar de acordo, considerando sua notoriedade mais antiga entre todos os entrevistados.28 28 Cf. Mano et al. (2022).

A Figura 1 apresenta uma linha do tempo ilustrada por diferentes tipos de imagens que evidenciam momentos marcantes da história do Museu Nacional com os seus públicos, ao longo dos séculos XIX, XX e XXI. Destacamos a dificuldade em obter informações sobre a vida institucional e a visitação pública do Museu pesquisado por longos períodos, porém bastante específicos. Isso se deveu à não localização de relatórios do Museu Nacional nos anos compreendidos pelas ditaduras do Estado Novo (1937-1945) e a Civil-Militar brasileira (1964-1985).

Figura 1
Linha do tempo da história do Museu Nacional a partir da construção de sua relação com os públicos.

O Museu Nacional sempre foi uma instituição comprometida simultaneamente com a pesquisa científica, salvaguarda do patrimônio cultural brasileiro e mundial, extensão universitária, realização de exposições e com a educação museal e divulgação da ciência no país. Atribuímos a isso o seu sucesso de público e a qualidade das relações estabelecidas com suas audiências ao longo de décadas.

METODOLOGIA

Os dados apresentados aqui fazem parte da pesquisa Lembranças, memórias, presenças que marcam: o que forma o público de um museu de ciência?, realizada no Rio de Janeiro em seis museus associados à rede do OMCC&T. A pesquisa é um estudo de opinião, de livre aceitação, sobre temas não comprometedores ou causadores de constrangimento aos participantes, que, voluntariamente, aceitaram conversar sobre lembranças e memórias de visitação a museus.

Após a elaboração dos materiais e procedimentos da pesquisa Lembranças, memórias, presenças que marcam: o que forma o público de um museu de ciência?, a coleta de informações se iniciou no segundo semestre de 2019 por meio de um questionário, autopreenchido e oferecido ao público com idade estimada acima de 30 anos após a visita aos seis museus participantes. Ao final das 22 perguntas fechadas sobre o perfil demográfico, sociocultural, econômico e hábitos culturais, apresentava um convite para uma participação posterior, a ser realizada por meio de uma entrevista telefônica.

Figura 2
Infográfico representativo dos museus participantes da pesquisa, no mapa parcial da cidade do Rio de Janeiro, extraído do Google Maps. É apresentado o vínculo de cada instituição, seu ano de criação e a política de gratuidade vigente.

Foram coletados 619 questionários e, entre os interessados, 87 foram sorteados e entrevistados. No escopo deste artigo são analisadas 67 dessas entrevistas que citaram lembranças, memórias e opiniões sobre o Museu Nacional, compondo o corpus deste estudo. A Tabela 1 apresenta a composição da amostra, discriminada por museu e sexo. A Figura 3 mostra o perfil demográfico, sociocultural e econômico.

Figura 3
Infográfico representativo do perfil dos participantes da pesquisa.

Tabela 1
Instituições participantes da pesquisa, discriminação por museu do número de respondentes do questionário e entrevistados que fizeram parte do recorte deste artigo, detalhado por sexo.

As entrevistas aconteceram entre outubro de 2019 e agosto de 2020, resultando em aproximadamente quinze horas de gravação captadas pelo aplicativo Tool Apps® e posteriormente transcritas com o auxílio do software Audacity®. Foram quatro perguntas semiestruturadas, versando sobre as memórias e o contexto das visitas feitas a museus na infância e na idade adulta.

A categorização inicial das informações obtidas nas entrevistas foi realizada por meio do software de análise MAXQDA®, entre outubro de 2021 e setembro de 2022. Na realização dessa etapa de trabalho, realizaram-se reuniões virtuais semanais, contando com a presença mínima de três dos cinco coautores deste estudo. Esse procedimento auxiliou a dirimir dúvidas sobre as escolhas de codificação, processo essencial em análises qualitativas que têm como característica central a subjetividade. Nesse tipo de pesquisa, busca-se identificar interpretações, significados e experiências sobre os temas em estudo a partir das falas que informam a perspectiva do participante, os seus pensamentos e sentimentos.

A codificação inicial dos discursos foi indutiva, a partir dos interesses já definidos pelo próprio tema e complementada na sua seleção, gerando categorias dedutivas que emergiram no processo. Os seis documentos, conjunto de entrevistas de cada museu, resultaram no total de 3.403 falas referentes às lembranças de visitas a museus. Dessas, 533 estão relacionadas ao Museu Nacional.

A dimensão ética da pesquisa qualitativa coloca ênfase na inclusão das variadas opiniões informadas pelos participantes. A apresentação das diversas vozes emitidas, inclusive as contraditórias e as pouco frequentes, evita um possível silenciamento ou negligência quanto a ideias emergentes. Por essa razão, consideramos que as entrevistas seriam analisadas pelo método do discurso do sujeito coletivo (DSC),29 29 Cf. Lefèvre (2017). que se caracteriza pela reedição das falas de interesse do estudo na forma de discursos sintetizados, apresentando todas as ideias expressas que se enquadram nas categorias selecionadas.

Cada fala coletiva ou DSC editado pelos pesquisadores foi acompanhado por sua “intensidade” (I), ou seja, pela quantidade de “expressões chave” (EC) selecionadas no texto de construção do discurso, conforme nomenclatura do método. Os termos necessários para a ligação entre as diferentes EC foram colocados em colchetes para identificação dos acréscimos necessários para a melhor compreensão dos discursos. Nenhum texto selecionado como relevante foi descartado. Para facilitar a compreensão desse método de análise, apresentamos na Figura 4 as principais orientações sobre o DSC.

Figura 4
Infográfico do método do discurso do sujeito coletivo (DSC).

No infográfico, não foram apresentadas duas etapas previstas pelos autores: a “ancoragem”, por não estarmos identificando representações sociais, e a “amplitude” uma vez que a amostra inicial foi realizada a partir de uma seleção equilibrada dos entrevistados e as diferenças que poderiam ser encontradas não foram de interesse deste artigo.

A análise das 533 EC selecionadas como de interesse para este estudo levou à criação das seis categorias apresentadas na Tabela 2. Nela, mostrou-se também o número de EC que aparece em cada categoria, ou seja, a “intensidade”. É possível que determinadas EC apareçam em mais de uma categoria, de modo que a soma das intensidades pode ser maior que o número de EC.

A categoria “referência ao incêndio” foi redistribuída em quatro ideias centrais (IC). As categorias e suas IC mostram a distribuição das informações de acordo com o sentido de suas EC. O número de entrevistados que participaram de cada categoria foi acrescentado na Tabela 2, embora isso não seja solicitado no método DSC porque a repetição ou o aprofundamento das informações fornecidas em vários momentos é recorrente. Dessa forma, o número de EC é geralmente superior à quantidade de entrevistados que compartilharam determinado pensamento.

Tabela 2
Lista de categorias e intensidades das ideias centrais (IC) dos discursos e do número de entrevistados participantes da pesquisa.

Além das 150 EC apontadas na Tabela 2 sobre o tema “Referência ao acervo do Museu Nacional”, pesquisamos as citações às peças museológicas, que somaram 113 eventos. Pelas características dessas informações, escolhemos apresentá-las em uma nuvem de imagens, em forma de mosaico, apropriando-se da ideia de uma nuvem de palavras, na qual o tamanho da figura indica uma relação entre as mais e menos informadas pelos participantes do estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A relação entre o Museu Nacional e a Quinta da Boa Vista, com todos os seus atrativos, é observada no discurso apresentado a seguir, obtido junto a 41 entrevistados, e reescritos a partir de 81 EC:

Eu lembro de brincar no jardim do Museu Nacional, o Museu da Quinta da Boa Vista, que, na época, ainda tinha muito animal lá. Tinha até cervo! É a minha lembrança mais antiga porque, desde pequenininha, o passeio era aquela “trinca”: a gente ia muito ao zoológico, ao Museu Nacional e, também, fazíamos piquenique com a família na Quinta. Era um passeio marcante. O zoológico era mais aberto, então, você andava, você via os bichos! A lembrança que eu tenho é de entrar pela avenida ali, indo para o Museu, e a gente via os animais no gramado.

Martins-Costa,30 30 Martins-Costa (2012). já nos anos 1970 e em seu texto desenvolvido no bojo das discussões promovidas pela Mesa de Santiago do Chile, de 1972,31 31 Promovido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em 1972, em Santiago, o evento abordou o papel dos museus na América Latina e teve como foco a atuação do museu enquanto instrumento de transformação social. Nesse contexto, foram promovidos debates que visavam renovar o cenário museológico latino-americano a partir de uma nova concepção de instituição, o “museu integral”. Museu e Sociedade, junto com Educação, Urbanismo e Ciência e Tecnologia, foram tópicos que estruturam esse evento que é considerado um dos grandes marcos da Museologia mundial (VALENTE, 2009). discute que os museus situados em parques são bastante frequentados pela população nos domingos e feriados, assim como em períodos de férias escolares. Esse público, conquistado sem ações promocionais específicas, indica o interesse existente por essa forma de lazer cultural, que deve ser mantido e continuamente estimulado.

Embora as entrevistas com os participantes deste estudo estabeleçam uma relação direta com a Quinta da Boa Vista, o inverso não se verifica, conforme apontado por Trindade,32 32 Trindade (2013), op. cit. que investigou os valores simbólicos e afetivos de identidade da memória da população carioca em relação à Quinta por meio da aplicação de questionários a usuários do parque e da comunidade em geral. Em relação aos resultados obtidos junto aos primeiros, 112 pessoas abordadas em diferentes pontos do parque, chama a atenção que nenhum deles tenha citado o MN como motivação para estar na Quinta. Quando perguntados sobre o que mais gostaram, 42% mencionaram as áreas verdes/natureza, outros 40% citaram o Zoo e apenas 6% indicaram o Museu. No que tange à imagem mais forte, apenas 5% dos respondentes citaram o Museu, enquanto 20% mencionaram o Zoo.33 33 Ibid.

As lembranças de visitas na infância e adolescência são também pontos recorrentes nas falas de 49 entrevistados, representando 117 EC que auxiliaram a compor o DSC a seguir:

Tive a grata satisfação de visitar várias vezes o Museu Nacional e ali eu me encantei. Lembro da minha primeira visita. Para mim era muita novidade [e foi] muito interessante. Para todo mundo era novidade! Ficávamos impressionados com as coisas que a gente via! Ali tudo chamava a atenção! O tamanho das coisas! [Era] tudo muito grande! A gente pensa essas coisas quando criança.

Lembro bem da entrada do antigo Museu Nacional, da riqueza dos detalhes. A arquitetura era muito legal! Primeiro pelo tipo de casa, das instalações, do chão que tinha muita coisa de madeira, dos móveis, dos quadros… as coisas que estavam guardadas… e do tempo que estavam guardadas.

As peças históricas atraem, assim como a própria história do palácio relacionada à vida da família real. A gente viu sobre o Império, que estudávamos muito na História do Brasil. Lá tinha muito sobre o imperador d. Pedro II, a quem admiro, então, as minhas visitas aos museus imperiais sempre me marcaram bastante. Eu ficava tentando me reportar ao passado, como se estivesse naquela época. Como gostaria de ter vivido em um palácio daqueles! Eu achei tudo como se fosse uma “volta ao passado”, tudo muito grandioso! Como se estivesse revivendo aqueles momentos antigos. Eu ficava pensando nessas bobagens, quando eu era adolescente!

Tudo o que era referente à parte arqueológica me marcou porque era coisa que a gente mal tinha conhecimento, ou nem sabia. Então, quando a gente [ia, tinha] aquele baque. Foi muita história que aprendemos, fomos lendo durante a vida e ficávamos querendo saber da história. Eu não conhecia nada sobre o Egito, só ouvia falar na televisão, mas não tinha conhecimento, assim, de ver de perto.

Aquela curiosidade era boa para a gente. Eu dou graças a Deus por [ter tido] a oportunidade de visitar muitas vezes. Acho que eu fui umas cinco ou seis vezes e me lembro que foi bem bacana, [e que] eu e os [meus] amigos nos divertimos muito. Tudo me marcou, tanto que eu tenho [essas] boas lembranças. A gente sempre aproveitou aquele espaço público para se divertir. Era um entretenimento.

O discurso sobre as lembranças na infância e adolescência relata o inusitado, o inesperado, o belo, o raro, o nunca visto, gerando assombro, como aponta Bettelheim34 34 Bettelheim (1991). em seu ensaio “As crianças e os museus”. É interessante observar também, como a imponência da arquitetura é capaz de impressionar independentemente do conteúdo. “Talvez”, diz o autor, “seja essa a serventia dos museus, particularmente no caso das crianças - encantá-las, proporcionar uma oportunidade de se maravilharem; uma experiência de que se acham muitíssimo carentes”.35 35 Ibid., p. 138-9

Pesquisa realizada com não visitantes, entrevistados em locais públicos sobre o impacto de museus de ciência em comunidades do entorno do Museu da Vida Fiocruz, buscou saber o que esperavam encontrar em instituições museológicas da área e obteve um DSC que afirma também esse encantamento:

Um lugar de novos horizontes que, quando eu chegar, seja surpreendido por coisas que nunca vi, não sei e nunca pensei saber como seria, como acontecem as coisas no mundo à nossa volta… É você chegar lá e se surpreender com as demonstrações e se encantar com o que vocês têm a oferecer, que certamente será mais do que grandioso.36 36 Cf. Mano et al. (2021, p. 424).

O ambiente museal com seus equipamentos expositivos pode despertar o fascínio e a percepção de museus como espaços de aventura, locais de inspiração, diversão e novas experiências. Rodrigues e Tomazzoni37 37 Rodrigues e Tomazzoni (2021). destacam que o lazer cultural privilegia a experiência em detrimento do consumo, o que pode ser um caminho promissor para o conhecimento mútuo da interação dialógica entre exposições museológicas e o público e entre as ações educativas e o público. Desse modo, os museus podem ser entendidos como espaços de lazer cultural, locais que proporcionam um conjunto de experiências de livre escolha, vivenciado no tempo livre e acessado espontaneamente a partir de motivação intrínseca.

De acordo com Falk,38 38 Falk (2021). esses espaços são bons lugares para satisfazer necessidades de lazer e interesses pessoais em arte, história ou ciência. Podem, assim, provocar insights que irão motivar futuras buscas, gerar o desejo pelo conhecimento científico e, não raro, despertar vocações para a área, conforme encontramos em relatos de profissionais ou cientistas de sucesso que lembram que suas primeiras visitas foram a museus. Essas memórias são marcadas pela visita e interação com exposições de objetos autênticos, concretos, peças de acervos museológicos. Outros, que já tinham o gosto pela ciência e cultura apurado, foram envolvidos pelos museus no cultivo do conhecimento - um lugar onde a informação passa do abstrato ao concreto.39 39 Cf. Csikszentmihalyi e Hermanson (1995).

Pesquisa francesa sobre a opção de carreira científica relata que, de acordo com a lembrança de uma das cientistas entrevistadas, a galeria de paleontologia do Museu de História Natural de Paris marcou a memória de um entre cada dez biólogos.40 40 Cf. Guichard (2007, p. 52). Essa visão pode persistir e se tornar não só lembranças, mas também incitar o público, jovem ou adulto, a retornar para novas visitas.

Esse retorno é frequente nas lembranças de visitas na idade adulta, conforme falas de 24 entrevistados, representando 37 EC, que compõem o DSC a seguir:

Achei a exposição do Museu Nacional muito bem montada! Muito bonita, bem caprichada, maravilhosa! A exposição de répteis, tinha dinossauro, insetos… Nossa! Muito lindo! Gostei demais! Acho que pela quantidade do acervo e pelo lugar relacionado à vida da família real.

Logo que a gente entrava, tinha a pedra, se eu não me engano, o Bendegó. Fiquei muito feliz em saber da história daquele meteorito. Ele era o cartão de visitas do Museu. Talvez daí a influência nas minhas lembranças. Logicamente, tinham outras coisas para ver no Museu, como a baleia… que [para mim], já adulta, não pareceu tão grande assim.

Lembro muito bem de ter visitado o Museu Nacional ainda criança, depois voltei em passeios com a família, com os meus filhos e levei os meus netos. Tenho até foto com eles que tirei na frente do Museu. Então, hoje, as lembranças que tenho são todas atuais. Eu gostei porque para eles foi diferente! Eles só [conheciam] bichos vivos e depois viram bichos empalhados, esqueletos e fotos antigas.

Ver a participação deles foi muito legal, vocês não têm noção! Tinham muitas coisas curiosas que não conhecíamos e até que conhecíamos, mas não tínhamos visto pessoalmente e ficou mais fácil de entender. Adoramos! Ficamos encantados! Fez muito bem para eles, até na parte acadêmica porque era muito bom o nível de conhecimento das coisas que havia lá. Agregou bastante e até hoje não esqueceram!

Fui várias vezes ao Museu Nacional, inclusive, a trabalho. O meu último passeio ao Museu foi com uma amiga da Alemanha. [Já] levei grupos de crianças porque tinha muito acesso, conhecia muita gente. Fazíamos pesquisa lá dentro e, volta e meia, eu estava lá.

Toda vez que tinha uma exposição nova, eu ia! Todo ano no aniversário do Museu também! Vamos dizer assim: até falava brincando que o Museu Nacional era a minha segunda casa! Era um mundo ali dentro e eu consigo me lembrar de tudo que eu vi lá.

Não só o retorno é relatado como, também, o prazer e a importância da transmissão da herança cultural para filhos e netos. Segundo Bourdieu,41 41 Bourdieu (2001, p. 76). a acumulação inicial do capital cultural no estado incorporado “começa desde a origem, sem atraso, sem perda de tempo, pelos membros das famílias dotadas de um forte capital cultural”. O tempo de acumulação abarca praticamente todo o processo de socialização, o que exige investimentos de longa duração para tornar essa forma de capital parte integrante da pessoa. Os benefícios sociais, culturais e educacionais da visita a museus são percebidos por uma parte do público que reconhece a importância desse hábito e que está empenhado em sua reprodução.

Outro ponto destacado diz respeito à prática de repassar para amigos e parentes, em conversas, a experiência vivenciada em uma visita a museus. A forma de comunicação mais eficiente entre as fontes de informação sobre a existência desses espaços não é produto de uma ação das instituições museais ou dos meios de comunicação de massa, mas do tradicional “boca a boca”, considerando recomendação de amigos, professores e familiares. Essa forma de comunicação é a mais frequente entre as fontes de informação sobre a existência dos museus investigados na pesquisa Perfil-Opinião do OMCC&T.42 42 Cf. Mano et al. (2022) e Cazelli et al. (2022) O rico acervo do Museu Nacional emergiu na lembrança de 48 entrevistados e a partir de 150 EC que compõem o DSC:

O primeiro museu que eu visitei foi o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista. Eu fiquei muito encantado com [aquilo tudo]. Tinha muita coisa curiosa. A gente vê tanta coisa diferente!

A história do Egito Antigo mexe muito comigo. Eu ficava imaginando como [ele] seria. A lembrança que eu tenho, minha memória afetiva infantil, foi da primeira vez que eu vi uma múmia. Essas coisas marcam [a] criança. Eu achei aquilo fantástico. O que eu mais lembro é isso: das múmias, do medo absurdo que eu fiquei. Lembro que fiquei muito nervosa! Fiquei gelada e quase tive um desmaio, sabe? A gente ficava com medo de entrar na sala. Quando a gente vê, de verdade, o que é uma múmia… para uma criança tudo era muito impressionante e ela sempre fica interessada em saber como é que mumificam as pessoas. A que mais [me marcou] foi a múmia daquela princesa egípcia porque foi mumificada por membros, era uma perna, outra perna, um braço, outro braço, o tronco e a cabeça, enquanto as outras eram mumificadas de um jeito só, o corpo todo.

, me impressionou aquele meteorito, o Bendegó. Isso eu não esqueço nunca! Quando você entrava na porta, logo no início, [via] o meteoro. Fiquei impressionada! O Bendegó foi marcante, foi algo bem curioso, porque [contava] a história do mundo e eu sempre tive curiosidade. Aquilo ali para mim, na época, foi espetacular! Coisa de criança! Sempre vi em fotos, então, quando [vi] pessoalmente, [foi] sensacional!

Eu vi [também] o esqueleto de dinossauro e nunca mais me esqueci daquilo! Lembro daqueles grandões [e da] preguiça gigante na porta. Na entrada do museu, lembro ainda daquele fóssil e um peixe, pendurado na parede. Ficaram na minha mente durante muitos anos. Tenho boas recordações dali.

A gente conhecia coisa nova e via tanta coisa diferente! [Lembro da] sala onde ficava um elefante enorme… dei de cara com ele! Tinha uma exposição dos vermes, que achei muito engraçados e tipo um catálogo muito legal, muito bacana, com vários insetos e uma coleção de borboletas. [Era] um acervo absurdo de insetos e [vários] animais empalhados.

A parte dos índios, com aquelas vestimentas e os vários materiais e trabalhos indígenas também me impressionou, e me [recordo] também da simulação de uma tenda de exploração de geologia, que tinha [diversas] pedras e minerais que foram descobertos. Ali tudo me chamava a atenção, as coisas do mar, um crânio muito antigo, o rosto de uma escrava.

Essas foram algumas coisas marcantes e são lembranças que ficaram na memória. Se eu tivesse que eleger um local, seria mesmo ele. Eu gostava muito daquele espaço, muito mesmo. Era legal e para quem gosta muito de vida, de animal, era um [lugar] que apresentava a ciência, a vida. Então, assim, para mim, de todos, eu escolho o Museu Nacional.

A nuvem de imagens (Figura 5) foi uma forma de realçar a importância dada ao acervo pelos entrevistados. Elaborada a partir da ideia de uma nuvem de palavras, fornece uma visão quantitativa de referências a cada item citado, além do objetivo de registrar a beleza e o valor do acervo lembrado.

Figura 5
Nuvem de imagem formada por itens do acervo do Museu Nacional mais citados nas entrevistas.

Do acervo cultural e científico do Museu Nacional - considerado o maior de história natural e ciências antropológicas da América Latina, com mais de 20 milhões de itens até o incêndio de 2018 -, os entrevistados destacaram 113 peças, em especial, as múmias (40 vezes), esqueletos de dinossauros (31), meteorito do Bendegó (16) e coleções de insetos (11). Os esqueletos da preguiça-gigante (9) e da baleia (5), assim como a coleção de minerais (7), artefatos indígenas (7), os fósseis (6), a exposição do Egito Antigo (6) e animais taxidermizados (5), também despertaram grande interesse nas crianças, jovens e adultos, como podemos observar pelo número de vezes citados nas entrevistas.

Foi possível verificar a forte presença dos objetos do Egito Antigo nas memórias dos visitantes. Esses compunham a primeira coleção egípcia das Américas, iniciada por d. Pedro I em 1827, quando em um leilão realizado no porto do Rio de Janeiro, adquiriu uma grande quantidade de peças trazidas de Marselha pelo italiano Nicolau Fiengo.43 43 Cf. Brancaglion Jr. (2004). A coleção foi ampliada por d. Pedro II, que, em sua segunda viagem ao Egito, em 1876, ganhou do quediva Ismail Pacha, um belo esquife em madeira pintada de Sha-Amun-em-su, a Cantora de Amon, item que provavelmente fazia parte do Museu Bulaq.44 44 Cf. Brancaglion Jr. e Rodrigues-Carvalho (2022). Em fins do século XIX e início do XX, alguns objetos desse tipo foram incorporados por meio de doações e trocas, finalizando a formação da coleção egípcia do Museu Nacional, composta por pouco mais de 600 itens, entre os quais 29 múmias e partes,45 45 Cf. Bakos (2001). os quais se destacam nas lembranças dos nossos pesquisados. Uma delas, uma múmia feminina do período romano, exerceu, por diferentes motivos, fascínio sobre muitos que tiveram a oportunidade de conhecê-la. Um dos motivos se refere à sua raridade: o enfaixamento dos membros envolvidos separadamente por tiras transversais é dos mais raros já conhecidos, havendo apenas outras oito múmias do tipo em todo mundo, todas essas pertencentes a museus europeus.46 46 Cf. Bakos, (2001), Brancaglion Jr., op. cit. Apelidada de Princesa do Sol, a múmia ficou famosa por meio dos cursos de egiptologia e escrita hieroglífica promovidos, a partir dos anos de 1950, pelo educador Victor Stawiarski. Nesses cursos, o professor possibilitava que os participantes tocassem na múmia e, ao som da ópera Aída e de slides, tentava induzir transes em suas participantes.47 47 Cf. Brancaglion Jr., op. cit., p. 34.

Certa vez, durante a sessão, uma mulher em transe teria “revelado” a identidade e a história da múmia. Seria a princesa egípcia Kherima, virgem assassinada a punhaladas por um cortesão que a amava, mas não era correspondido. Esta história originou o romance O segredo da múmia (1959), do jornalista Ewerton Ralph, membro da Sociedade Rosa Cruz. Como resultado das sessões de Staviarski e do livro de Ralph, as salas antigas Humboldt e Champollion, onde a coleção era exposta, passaram a receber a visita de centenas de curiosos, que iam ao museu em busca de contatos com espíritos dos egípcios antigos. Em mais de uma ocasião, a vitrine que guardava a múmia da jovem do período romano apareceu coberta de flores e com bilhetes implorando graças.

Esse tipo de experiência continuaria a ser lembrada pelas décadas seguintes, revelando a sua força. Uma mostra disso é a crônica de Affonso Romano de Sant’Anna, publicada no Jornal do Brasil, em 1988SANT’ANNA, A. R. de. O segredo da múmia. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 17 jan. 1988., que diz:

Minha amiga tocou a fronte da múmia e saiu perfumada […] acompanhada do prof. Victor Stawiarski […] sentiu que sua mão direita ia ficando dormente enquanto um perfume de algo queimado e de sândalo invadiu a sala, cheia de pessoas que assistiam aquela cena perplexas.

Os esqueletos de dinossauros também foram muito lembrados pelos pesquisados. Desde 2006, os visitantes do Museu Nacional podiam ver de perto a reconstrução completa do esqueleto de um grande réptil, o Maxakalisaurus topai, um dinossauro brasileiro e o primeiro de grande porte a ser montado no país. Ele era acompanhado de acervo original da coleção de paleovertebrados, de reconstituições de ambientes e de animais extintos, como pterossauros. Bem antes disso, em especial a partir de 1956, os visitantes já podiam ver fósseis associados com as pinturas de seus possíveis aspectos externos e hábitos de vida, quando, pela primeira vez, o princípio da paleoarte teve lugar nas exposições do Museu Nacional.48 48 Cf. Ponciano (2010). Essas exposições sofreriam grandes modificações na década de 1990, com as exposições de curta duração “Dinossauros do Brasil”, de 1994, e “O Brasil no Tempo dos Dinossauros”, de 1999.

Entre os animais extintos que encantaram os visitantes, verifica-se os exemplares de duas espécies de preguiças-gigantes. De acordo com Ponciano,49 49 Ponciano (2010). o esqueleto de um Megatherium americanum, encontrado em 1889 na Bahia, podia ser visto pelo público do Museu desde 1930.

D. Pedro II, reconhecido entusiasta da cultura científica, foi o responsável pela incorporação do meteorito do Bendegó ao Museu Nacional, em 1888.50 50 Cf. Nascimento-Dias et al. (2022). Sua chegada ao Rio de Janeiro, após uma longa viagem, partindo do local de sua queda, no sertão da Bahia, foi abordada por Machado de Assis em uma de suas crônicas. O escritor simula uma conversa entre o meteorito do Bendegó e o oficial da marinha José Carlos de Carvalho, chefe da expedição responsável pelo translado, para advertir seus leitores sobre a compatibilidade entre a República e o sistema escravagista.51 51 Cf. Pinheiro (2012). Embora haja pouca quantidade de meteoritos brasileiros catalogados, tanto pela falta de conhecimento quanto pelo desinteresse da população em virtude do desconhecimento de sua importância científica, os DSC constatam que o objeto que “recebia” os visitantes no hall de entrada do Museu se tornou uma das marcas da instituição, fortemente presente na lembrança dos entrevistados (Figura 6).

Figura 6
Duas vistas do meteorito do Bendegó, disposto na entrada do Museu Nacional.

Os entrevistados citaram a coleção de insetos com uma frequência importante. Em 2013, depois de um longo período sem a apresentação desse tipo de acervo, inaugurou-se a exposição de longa duração “Conchas, Corais, Borboletas”. Em duas galerias recém-restauradas, foram expostos cerca de 2 milhões de itens originais pertencentes à grande coleção de invertebrados e insetos. A exposição contava ainda com a reprodução de uma lula-gigante em tamanho natural, na qual o público pôde reencontrar objetos, como o caranguejo gigante. O contexto da estética das coleções pode ser observado, como mostra um destaque da pesquisa francesa: “Os insetos presos por alfinetes me marcaram, era tão lindo, me lembro ainda das nuances maravilhosas de azul das asas das borboletas!”.52 52 Cf. Guichard, op. cit., p. 52.

Não se encontrou nos DSC referências às lembranças do mais antigo fóssil humano brasileiro e um dos mais antigos das Américas. Batizado como Luzia, tanto a réplica da ossada quanto a reconstituição facial podiam ser apreciadas na seção Arqueologia Brasileira. Essa ausência nos relatos dos entrevistados contrasta com a grande repercussão que teve a busca por Luzia nos escombros do Museu. Acreditamos que isso se deve ao fato de Luzia ter passado a integrar o circuito de exposição de longa duração em 2004, enquanto grande parte das memórias dos respondentes, todos adultos com trinta anos ou mais, se referem a período anterior a esse. Por esse mesmo motivo, entendemos a presença do esqueleto da baleia e do elefante nos relatos dos pesquisados. Apesar de não serem encontrados há muitos anos nas visitas, eram alvo de grande atenção e interesse do público até o fechamento das salas em que se encontravam. Os minerais, também lembrados, estavam há alguns anos distantes dos olhares dos visitantes, retornando em 2017 com a exposição “Minerais da Coleção Werner”. Artefatos indígenas foram citados por alguns entrevistados e registram a importância do rico acervo etnológico e etnográfico exposto pelo Museu.

Os relatos dos entrevistados confirmam que os objetos musealizados são capazes de emocionar o público, promovendo nos visitantes surpresas, curiosidades, estranhamentos, questionamentos e produzindo memórias duradouras. A autenticidade dos objetos e a realidade presente neles é um diferencial da experiência vivenciada nos museus. Como diz Wagensberg,53 53 Wagensberg (2005, p. 314, tradução nossa).

É por isso que uma exposição sem a sua taxa mínima de realidade é reduzida imediatamente a um livro a ser lido de pé, a um cinema multiplex em uma sala, um cibercafé bem simples… Uma exposição é considerada pobre quando é substituída, por vantagem e sem deixar a casa, por um bom livro, um bom filme, um bom som ou uma boa conexão de internet. Um visitante certamente poderia sair e ver uma exposição como essa, mas preferiria não ir.

Incêndios causam mais do que a destruição de peças de acervo - também geram a perda de memória de um povo. São perdas irreparáveis, como observamos nos DSC reconstruídos abaixo. Memórias das vivências são reais e resguardam os momentos afetivos, mas registram também as perdas, reparáveis ou irreparáveis. “Do acervo fabuloso do Museu Nacional, muito foi perdido no dia 2 de setembro de 2018, mas 19% foram preservadas e 35% das coleções foram resgatadas”.54 54 Cf. Mendes (2020, p. 4).

O discurso a seguir traduz a visão de 44 entrevistados que fizeram comentários diretamente a respeito do incêndio, registrando o mesmo fato em 63 EC: o Museu Nacional incendiou.

Lamento muito que o Museu da Quinta da Boa Vista tenha sofrido esse trágico incêndio! Do nada, veio o incêndio! E, infelizmente, queimou! E queimou aquele acervo incrível.

Essa categoria foi subdividida em quatro IC: (i) Impacto do incêndio nos entrevistados; (ii) Perda do patrimônio; (iii) Pena de não ter visitado e das gerações futuras não terem oportunidade de acesso ao acervo original do Museu; (iv) Prazer de ter visitado o Museu antes do incêndio.

Um entrevistado, em especial, chamou a atenção por ter presenciado a tragédia que deu origem à IC-1:

A gente estava no dia que pegou fogo! Nós estávamos próximos ao Museu Nacional nesse dia do incêndio. Meu marido parou em frente! Olha, deu vontade de chorar! Do lado de fora, nós vimos as chamas, o nosso museu pegando fogo. O incêndio mexeu muito conosco! É lamentável que queimou aquele acervo incrível. Que ele não exista mais. O trágico incêndio marcou muito. Foi uma experiência que nos comoveu bastante.

A vulnerabilidade do Museu foi observada por oito entrevistados, inclusive com manifestações sobre a necessidade de manutenção urgente das instalações e edificação. Entretanto, essas fragilidades que levaram à perda do acervo não é uma exclusividade do Museu Nacional, como se observa nesses outros dois exemplos icônicos recentes: o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, que queimou em 21 de dezembro de 2015, e a catedral Notre Dame, em Paris, um dos mais importantes pontos turísticos da cidade, que esteve em chamas em 15 de abril de 2019. Um comparativo entre os três exemplos foi traçado por Mendes.55 55 Ibid.

O incêndio do Museu Nacional provocou impacto e o sentimento de “Perda do patrimônio” marcado em 14 entrevistados, totalizando 31 EC na IC-2:

Olha, marcou muito… Eu falo assim, porque o Museu pegou fogo. É uma pena que tudo tenha sido perdido. Não o Museu em si, mas a situação que decorreu disso. É lamentável. Infelizmente aconteceu! Então, isso que eu estou falando também vem com uma carga afetiva porque, depois da tragédia, eu não sei, eu fiquei muito mexida com isso! A gente chorou pra caramba. É para ficar muito triste, porque foi uma tristeza absurda! Meu Deus do céu! Falar do Museu Nacional é muito difícil, eu fico emocionada!

Eu fiz um artigo, acabei não apresentando, sobre o uso da hashtag #museunacional e como as pessoas falavam do Museu. Eu lembro que eu terminava um parágrafo e chorava. O incêndio mexeu muito comigo! Acho que foi uma perda muito significativa, principalmente para pessoas que não têm acesso a outros espaços da cidade.

Foi uma sensação surreal de perda e de tristeza porque a gente tinha um apreço muito grande. A tristeza de ter perdido o Museu da Quinta foi tão grande que parecia que eu tinha perdido um ente familiar, nosso triste e falecido Museu. Eu fui dormir chorando. Hoje, eu não consigo nem passar na porta da Quinta!

Foi lamentável o acidente que teve na Quinta da Boa Vista. Aquele Museu era muito bonito, uma estrutura muito legal, com muitas coisas interessantes. [Tudo aquilo], aquelas múmias que d. Pedro trouxe não tinham só valor material ou financeiro. E tudo se acabou! Inestimável, algo irreparável! Então, ficou muito marcado para mim, pelo impacto do que aconteceu. Poxa, esse foi o [Museu] mais importante de todos!

A lembrança que eu tenho de lá é muito forte. Ficou muito na minha memória mesmo. Não é só a memória em questão, é cultura, é ciência. É um descaso muito grande. Porque, assim, em última instância, o Museu Nacional foi o ápice do pior lado que a gente tem com relação à ciência e aos museus aqui e à cultura no país. Mas a gente tinha a impressão errada de que aquilo estava lá para sempre, que depois poderia voltar para ver com mais carinho, outra coisa qualquer. Então, era como se fosse um livro, em que você abria a hora que você quisesse, olhava um capítulo, fechava e depois voltava para ver outro. Só que, infelizmente, o livro pegou fogo.

A terceira IC dessa categoria relata a “Pena de não ter visitado e das gerações futuras não terem oportunidade de acesso ao acervo original do Museu”, registradas por sete entrevistados com 10 EC:

Eu [visitei] muito pequena e aí pegou fogo. Uma pena porque agora não me lembro mais. Na verdade, algo que eu falo realmente com muita tristeza, eu não cheguei a conhecer o Museu! Isso me deixa muito triste! No ano que aconteceu isso, uns meses antes, a gente ia na Quinta com a proposta de conhecer o Museu, e teve o incêndio e acabou que eu não conheci.

Antes do Museu Nacional pegar fogo, meus pais queriam ter ido, e a gente, coisa de um mês antes, não conseguiu ir por algum motivo. Lamento muito não ter conhecido o museu! Não fomos e ele pegou fogo e agora a gente está com um sentimento, [com uma] saudade de algo que não conheceu e não [vamos] deixar mais para o dia seguinte. Na hora que tiver vontade…

Eu tinha muita esperança de algum dia ir lá com meu neto, mas, infelizmente, não vai dar para ser, pelo menos, do jeito que foi para mim, do jeito que eu vi. Tenho fotos, até estava mostrando a ele há pouco tempo. Não tive a possibilidade de fazer com ele a mesma lembrança que eu tive com os meus pais. Espero que consigam recuperar e que eu ainda [possa] ir com o meu neto para ele poder ver, pelo menos, um pouco do que eu vi por lá. É um acervo que eu lamento muito e me arrependo de não o ter levado e ele não ter visto o que eu e minha esposa vimos, entende?

Eu fico imaginando quem nunca levou o filho e o que acontece agora. Se eu já cheguei a quase chorar, quando ele pegou fogo, então eu fico imaginando se eu nunca tivesse levado ele, eu estaria sentindo uma dor muito grande.

A última IC dessa categoria relata um sentimento oposto ao anterior, ou seja, o “Prazer de ter visitado o Museu antes do incêndio”, registrado por sete entrevistados em oito EC:

Eu tinha ido muito pequeno ao Museu. Tive um prazer imenso em levar meus filhos, meus netos e todas as pessoas que vinham me visitar.

A gente já tinha ido quatro vezes ao Museu e eles foram uma vez com a escola e gostavam muito. Antes do acontecido, minha filha falou: “Estou com saudade! Eu preciso ir porque eu estou com muita saudade”. Então, a gente pôde ir lá e aí, logo na semana seguinte, ele pegou fogo.

Eu sempre tive aquela vontade de entrar. E, depois, eu consegui. Nós chegamos a visitar o Museu exatamente no final de semana anterior. Isso me marcou bastante [porque visitamos] antes do incêndio [e criou] uma relação muito afetiva com a minha mãe. Eu acho que é por isso que ainda me marca tanto. Talvez marque mais hoje do que tinha me marcado na época, sabe. Eu falei: “Caramba! A gente conseguiu visitar o Museu antes daquilo tudo se perder!” Ter ido foi muito legal e fiquei com uma memória recente. Eu me senti até um pouco privilegiado.

Às vezes eu dizia: Ah! A gente podia dar um pulinho lá. Mas vamos deixar para outro final de semana, depois a gente vai, porque é perto daqui de casa. A impressão que tinha é que ele estava ali para sempre. Eu dou graças a Deus por ter tido a oportunidade de visitá-lo muitas vezes [e] a sorte de ir antes do incêndio.

Os dados apresentados reforçam a importância do núcleo familiar na trajetória educacional e cultural dos indivíduos. Em relação aos museus, Bourdieu56 56 Bourdieu (2007). afirma que as oportunidades oferecidas pela família são particularmente determinantes. A maioria dos visitantes de museus faz a sua primeira visita antes dos quinze anos e as visitas precoces são mais frequentes na medida que se eleva a hierarquia social. Nesse contexto, reitera o sociólogo francês, os aprendizados que são adquiridos no âmbito familiar, invisíveis, desprendidos e precoces, garantem aos seus portadores maior facilidade e melhor desempenho na apreensão da cultura. Assim, o gosto pelos museus, o amor pela arte, são produtos de um conjunto de condições não só materiais, mas também simbólicas, acumuladas por alguns indivíduos ao longo de suas trajetórias familiares e escolares.

Os resultados encontrados neste estudo também ratificam os achados de pesquisas nacionais e internacionais que mostram a importância dos afetos em nossas escolhas, integrando nossas emoções e memórias.57 57 Cf. Falk, op. cit., Mazzanti (2021). Segundo o Instituto Brasileiro de Museus,

somos construídos pelos afetos. Somos construídos por escolhas. Elegemos, escolhemos, guardamos nossos afetos. Evidenciamos ou esquecemos… todos são guardados. E onde são guardados os afetos? Na lembrança, na memória, no museu. Elegemos e escolhemos o que os identifica.58 58 Ibram (2013, p. 11).

As emoções têm uma duração temporal que varia de instantes a décadas, sendo únicas para quem as detém. No contexto de visitação a museus, elas desempenham um papel em todas as fases da experiência ali vivenciada, a partir da decisão de visitar até a pós-visita. Essas emoções atravessam nossas ações, suscitam escolhas e tornam nossas experiências sensoriais e marcantes. A prática cultural de visita, por sua vez, tem potencial para provocar sentimentos e aumentar a capacidade de reflexão. As experiências emocionais em museus podem ser consideradas “eventos ricos em conteúdo, relacionados ao que é sentido em primeira pessoa por um ser humano”,59 59 Cf. Mazzanti, op. cit., p. 7. que, neste artigo, está revelado nos discursos reconstruídos.

A reconstrução do Museu Nacional já estava na expectativa de cinco entrevistados, conforme relatado em cinco EC na categoria “Interesse pela reconstrução”, conforme o DSC a seguir:

Você sabe como está o andamento lá do Museu Nacional? Espero que os países que prometeram ajudar trazendo coisas façam isso. Escutar o prefeito dizendo que ia reconstruir, nada pode ser construído, aqueles insetos, aquelas roupas… Talvez se consiga recuperar alguma coisa e reabrir. Quando o Museu fez aquela campanha para que as pessoas mandassem suas fotos, eu “catei que nem uma maluca”, mas não consegui achar a foto no meu arquivo digital. Espero que consigam recuperar e que, realmente, botem o nosso Museu para ser um orgulho de novo. Porque a nossa memória não pode se perder!

A expectativa dos pesquisados é a de poderem, mais uma vez, visitar as exposições do Museu no palácio São Cristóvão. Suas narrativas revelam a consciência de que a experiência será outra diante da impossibilidade de substituir muito do que foi perdido. Observamos ainda a referência a uma campanha criada, imediatamente após o incêndio, por alunos do curso de Museologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e que solicitava o envio de registros de visitas ao MN. Diante da grande repercussão na imprensa tradicional e nas redes sociais digitais, o grupo recebeu mais de 20 mil mensagens eletrônicas, contendo fotografias, vídeos e relatos de visitantes.

A reconstrução do Museu vem sendo acompanhada pela imprensa nacional e é alvo de grande atenção das ações de comunicação institucional, responsável, entre outras coisas, pelo contato com parte da população via redes sociais digitais. Além disso, exposições realizadas em outras instituições, bem como publicações e projetos educativos, promovidos desde 2018, buscam manter a população informada sobre a reconstrução do prédio e o resgate dos objetos de seu acervo. Essas iniciativas mostram que, apesar da grave tragédia, o Museu Nacional mantém, desde o primeiro momento, vários canais abertos de diálogo com a sociedade.

Entre as exposições realizadas em diferentes instituições, em sua maioria no Rio de Janeiro, e que foram compostas com acervo remanescente do Museu, peças resgatadas do incêndio ou novos itens incorporados às coleções, citamos: “Quando Nem Tudo Era Gelo: Novas Descobertas no Continente Antártico” (Centro Cultural Museu da Casa da Moeda, Rio de Janeiro); “Arqueologia do Resgate” (Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro); “Santo Antônio de Sá: Primeira Vila do Recôncavo da Guanabara” (Caixa Cultural, Rio de Janeiro); “O Museu Nacional Vive!: Memórias e Perspectivas” (galeria do Plenário no Congresso Nacional, Brasília); “Os Primeiros Brasileiros” (Arquivo Nacional, Rio de Janeiro); “Ressurgindo das Cinzas” (Museu de Astronomia e Ciências Afins, Rio de Janeiro);60 60 Cf. Serejo (2020, p. 47). e “Luzia e Berthasaura em Madureira” (Parque Madureira Mestre Monarco, Rio de Janeiro). Em 2023, duas exposições do MN podem ser vistas na capital fluminense: “Da Gênese ao Apocalipse” (Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro); “Que Baleia É Essa?” (Cidade das Artes Bibi Ferreira, Rio de Janeiro) e, nos tapumes das obras do Museu, na própria Quinta da Boa Vista, a exposição “O Que Você Sonha para o Museu Nacional?”, forjada na participação do público e desenvolvida com apoio do Instituto Goethe.

O esforço feito pela SAE, desde os primeiros dias pós-incêndio, com o intuito de manter os vínculos construídos com diferentes públicos pelo secular setor educativo, é apresentado por Costa e Souza.61 61 Cf. Costa e Souza (2021). A Linha do Tempo Interativa da SAE,62 62 Cf. Linha (2018). foco de análise das autoras, apresenta uma seleção de 83 ações realizadas entre 2 de setembro de 2018 e outubro de 2021, excluídas as desenvolvidas nas redes sociais. A Linha registra, por exemplo, o resgate da Coleção Didático-Científica para Empréstimo dois dias após o incêndio, a realização no segundo domingo após a tragédia na Quinta da Boa Vista da primeira mostra do projeto O Museu Ocupa a Quinta: Encontros com a Comunidade; e a primeira ida a uma escola, exatamente um mês depois do incêndio, que daria origem ao projeto Museu Nacional Vive nas Escolas, viabilizado por uma campanha de financiamento coletivo, que, em fins de 2018, arrecadou 112.207 reais por meio do apoio de 918 pessoas.

Com o incêndio do Museu Nacional, os projetos e ações de educação museal promovidos pela SAE se tornaram cada vez menos centrados nas exposições e no espaço geolocalizado do Museu e cada vez mais itinerantes, extramuros e conectados ao ciberespaço. A pandemia, por sua vez, levou à interrupção das ações extramuros e itinerantes, fazendo com que o uso das tecnologias digitais em rede ganhasse ainda mais espaço no fazer educativo da SAE. O trabalho realizado por meio das redes sociais, já desenvolvido antes do incêndio, também precisou ser ampliado e reinventado, com vistas a alcançar públicos específicos, como crianças pequenas e estudantes de escolas públicas, com os quais o diálogo não era favorecido por meio das principais redes sociais digitais utilizadas pelo setor, Facebook e Instagram.63 63 Cf. Costa e Souza, op. cit., p. 397.

Visando alcançar o público de famílias, que representava a maior parcela dos visitantes do Museu Nacional, seu setor educativo investe em programações realizadas em outros museus. Um exemplo disso foi a ação Museu Nacional no Amanhã, que compôs o programa Brincar é Ciência, do Museu do Amanhã, realizada entre julho e agosto de 2022. Iniciativa semelhante foi realizada no Planetário do Rio de Janeiro meses antes, nas férias de verão. Quando da realização da exposição “Arqueologia do Resgate”, no Centro Cultural Banco do Brasil, entre fevereiro e abril de 2019, um conjunto de atividades educativas voltadas para crianças e adultos foi concebido e implementado a partir da parceria entre os educadores do MN e os profissionais do Programa Educativo do CCBB, à época coordenado pelo JA.CA: Centro de Arte e Tecnologia.

A desafiadora reconstrução do palácio São Cristóvão, o árduo trabalho de resgate do acervo dos escombros, a realocação em um novo campus de uma parte das equipes que perderam seus espaços de trabalho, a recomposição de coleções para pesquisa científica e exposições, entre outras frentes de atuação, são possíveis a partir de “iniciativas, públicas e privadas, nacionais e estrangeiras, de apoio ao Museu, desde pequenas doações individuais até grandes dotações institucionais”.64 64 Cf. Duarte (2022, p. 15). Essas envolvem tanto emendas parlamentares, em sua maioria administradas pela UFRJ, quanto o apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), que, com o Instituto Cultural Vale, compõe um grupo de apoio sistemático à reconstrução, recomposição e sustentabilidade do Museu, intitulado Projeto Museu Nacional Vive.65 65 Por meio da Lei de Incentivo à Cultura, o projeto conta com apoio financeiro do BNDES, patrocínio platina do Bradesco e da Vale; apoio do Ministério da Educação (MEC), Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Congresso Nacional, Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) e do Governo Federal. Ele é orientado pelos princípios da transparência e da participação; e conta com a parceria de instituições como a Associação Amigos do Museu Nacional (SAMN). Entre as ajudas internacionais, destacam-se a colaboração do governo da Alemanha, cujos importantes aportes somaram-se a uma vultosa dotação emergencial do MEC, viabilizando as primeiras etapas de intervenção nas ruínas do edifício-sede. O valor estimado da reconstrução do Museu é da ordem de 380 milhões de reais, dos quais 244 milhões já foram captados.66 66 Cf. Duarte, op. cit.

As futuras exposições do Museu estão sendo desenvolvidas a partir da coordenação de um comitê curatorial, que conta com a participação de docentes, técnicos e especialistas contratados. Esse comitê atua no sentido de combinar a dimensão histórica do Museu, incluindo a história da ciência, e do palácio com a dimensão propriamente científica; e estrutura suas ações de modo a equilibrar os conhecimentos da museologia, da educação museal e das diferentes áreas da história natural e ciências antropológicas abarcadas pelos departamentos e coleções do Museu Nacional.67 67 Ibid.

O mês de setembro de 2022 marca um novo momento da trajetória de reconstrução do Museu, com a inauguração de sua fachada principal completamente recuperada e a realização de mostras no hall de entrada da instituição e nas imediações do jardim-terraço localizado na frente do Palácio. Somados, os polos Minerais, Educativo, Esculturas, Cultura e Memória, abertos à visitação e participação de diferentes públicos, devolveram ao Museu a possibilidade de ser incorporado novamente à programação daqueles que passeiam pela Quinta da Boa Vista.

Sobre os futuros visitantes do Museu,68 68 Ibid., p. 18. revela a expectativa de se alcançar um conjunto de pessoas que “não se resume a um público de bairro, cidade ou região. Aliás, nem sequer, de nação, já que pode - em seu novo formato - vir a constituir um foco de atração internacional marcante”. Essa capacidade de atração seria resultante, segundo o autor, da grande especificidade do Museu, da amplitude de seu espectro de informação científica e da monumentalidade do que serão suas futuras exposições.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O forte componente emocional e a quantidade de relatos acerca do Museu Nacional ratificaram o valor que essa instituição tem e o quanto marcou a vida de seus visitantes. Da análise dos relatos que compuseram os vários discursos coletivos que apresentamos, evidenciam-se alguns fatores como essenciais para justificar o interesse popular pelo MN. É o primeiro museu brasileiro, criado em 1818, nesse momento, sem acesso franco a qualquer visitante e que ao longo das décadas passou por mudanças importantes em sua política de aproximação com a população. Os 200 mil visitantes (média anual na década de 2010) foram atraídos pela sua importância histórica e pela particularidade de ter as memórias do país, de suas riquezas naturais, arqueológicas e humanas.

Desde 1892, fica situado em um parque público de grandes dimensões, a Quinta da Boa Vista, local que favorece um intenso fluxo de pessoas, e que oferece opções de atividades para grupos de amigos e familiares, como piqueniques, brincadeiras ao ar livre, visitas a um jardim zoológico (atual BioParque), entre outras. A Quinta da Boa Vista funciona todos os dias da semana e o MN só não abre às segundas-feiras, sendo gratuito no segundo domingo de cada mês. Essas informações se referem ao período anterior ao incêndio.

O Museu Nacional conta com um excepcional acervo, resguardado por um palácio que, em si, já é uma grande exposição em razão da importância histórica da edificação, tanto pela arquitetura quanto por ter sido residência da família real portuguesa e imperial brasileira.

Ainda que em suas origens o local tenha sido considerado de difícil acesso, a inauguração da estação ferroviária de São Cristóvão, em 1859, modernizada nos anos de 1930, a abertura da avenida presidente Castelo Branco (Radial Oeste) em 1962 e a inauguração da estação de metrô, em 1981, ajudaram a integrar o espaço à malha da cidade de forma muito facilitada.

O foco das entrevistas que fundamentaram a pesquisa Lembranças, memórias, presenças que marcam: o que forma o público de um museu de ciência? era buscar relatos das lembranças de visitas a museus. Pelas razões listadas acima, não há estranheza que o Museu Nacional apareça como majoritário nas citações. No entanto, o apelo emocional foi o fator marcante para despertar o interesse no detalhamento deste estudo. As visitas provocaram memórias que marcaram as vidas das pessoas. Encontramos relatos de experiências inesquecíveis desde a primeira visita na infância, e, também, a marca deixada pela ocorrência do incêndio, como era de se esperar, que atuou como uma recordação traumática, intensificando sentimentos que caracterizaram os diversos discursos.

No Museu Nacional, historicamente predominam as visitas em família em relação às visitas escolares programadas, o que torna compreensível o fato de encontrarmos - com referência à escola - relatos pontuais e superficiais, sem a intensidade afetiva dos registros detalhados de visitas com a família. No entanto, não podemos perder de vista o investimento forte e continuado da SAE na construção de uma relação próxima com as instituições educacionais, em especial com as escolas, desde o início do século passado. Isso ressalta a importância de estudos futuros para aprofundar como se apresenta o aspecto emocional das lembranças de visitas escolares, considerando a importância das escolas públicas na promoção do acesso de crianças e jovens das camadas populares aos museus.

Os componentes emocionais presentes neste estudo levam a três vertentes de análise: os laços familiares e do fortalecimento das relações parentais; o lazer como forma de criar pontos de ancoragem com momentos de felicidade, aplicável também aos grupos de amizades; e a personificação do Museu.

As referências afetivas foram relacionadas a pessoas próximas, queridas, como mãe, pai, avós e foram intensificadas pelo prazer vivenciado na visita na companhia desses entes queridos. A oportunidade de compartilhar momentos em família em ambiente que propicia o encantamento, a fantasia, o deslumbramento da criança criou gatilhos de memória vinculados a experiências positivas e ao sentimento de felicidade, apreciação que levou ao retorno na fase adulta, e ao ensejo de apresentar a instituição a filhos e netos. Não houve nenhum discurso citando lembranças da infância que tenha se relacionado a sentimentos tristes. Mesmo em relato de momento de medo, o fato foi comentado de forma bem-humorada e positiva, como “coisas de criança”.

A localização do Museu na Quinta da Boa Vista, propiciava uma programação de lazer como uma jornada de dia integral, incluindo passeio no parque, no jardim zoológico, nos pedalinhos, além do Museu Nacional. A memória dos afetos se ancora no ambiente físico, no cenário, que no caso do Museu, enquanto algo monumental, histórico, com uma coleção fantástica, estimulava a curiosidade e a imaginação.

Os relatos mostram uma relação de apropriação entre o visitante e o Museu Nacional. As referências colhidas denotam uma característica de perceber o Museu como muito próximo, muito íntimo, o “nosso museu”. As falas sobre a instituição que a colocam como parte das recordações vinculadas a momentos felizes, compartilhados com amigos e com a família, o identificam como um “ente querido”, cuja perda provoca sensações semelhantes ao luto. Isso foi observado nas referências de intenso pesar pela tragédia provocada pelo incêndio.

Os achados desta pesquisa demonstram a relação entre o público e a visita a museus, tanto no que se refere à emoção, como fator fundamental para a formação de um hábito cultural, quanto à valorização da instituição museal.

De acordo com as previsões da atual gestão do Museu Nacional, o Palácio de São Cristóvão será reaberto aos públicos em 2027, com novas exposições e projetos educativos que passarão a ser realizados em seu histórico edifício, transformado em decorrência do incêndio de 2018. A partir de então, terá início um novo ciclo de visitas escolares e em família à mais antiga instituição museológica brasileira, possivelmente marcada, tanto pela ausência de objetos eternizados nas lembranças dos que a visitaram antes do incêndio quanto pela descoberta de novos acervos e temas. Os efeitos que essas experiências terão sobre os antigos e novos visitantes do Museu Nacional, suas semelhanças e diferenças em relação ao que foi por este estudo verificado, merecerão atenção no futuro.

Uma das potências do Museu Nacional consiste na sua capacidade de se conectar com o público, forjando a partir do contato desses com a ambiência de seu edifício-sede e com seus magníficos objetos e exposições, experiências eternizadas nas lembranças de gerações que por lá passaram. O incêndio do Museu evidenciou que as memórias dos visitantes consistem em mais um tesouro da instituição e que, assim como os demais acervos do Museu, também merece ser coletado, pesquisado, documentado, exposto e ressignificado nas novas exposições.

FONTES IMPRESSAS

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  • 6
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  • 7
    Cf. Kavanagh (1999KAVANAGH, Gaynor. Making Histories, Making Memories. In: KAVANAGH, Gaynor (ed.). Making Histories in Museums. London: Leicester University Press, 1999. p. 1-14., p. 3).
  • 8
    Cf. Cazelli et al. (2022)CAZELLI, Sibele. et al. Conhecer para contar: o público de museus de ciência do Rio de Janeiro. Museologia e Patrimônio: Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio (Unirio-MAST), Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 379-408, 2022. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/3Ch8Zpe . Acesso em: 22 dez. 2022.
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  • 9
    Cf. Mano et al. (2022)MANO, Sonia et al. Museus de ciência e seus visitantes no início do século XXI: estudo longitudinal da visitação espontânea de cinco instituições da cidade do Rio de Janeiro. Anais do Museu Paulista, São Paulo, Nova Série, v. 30, p. 1-48, 2022. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/3J2kt3E . Acesso em: 23 nov. 2022.
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    .
  • 10
    Cf. Moreira e Massarani (2002MOREIRA, Ildeu de Castro; MASSARANI, Luísa. Aspectos históricos da divulgação científica no Brasil. In: MASSARANI, Luísa; MOREIRA, Ildeu de Castro; BRITO, Fátima (org.). Ciência e público: caminhos da divulgação científica no Brasil. Rio de Janeiro: Casa da Ciência, Centro Cultural de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Fórum de Ciência e Cultura, 2002. p. 43-64. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/3WSkOLM . Acesso em: 27 dez. 2022.
    https://bit.ly/3WSkOLM...
    , p. 43).
  • 11
    Cf. Köptcke (2005KÖPTCKE, Luciana Sepúlveda. Bárbaros, escravos e civilizados: o público dos museus no Brasil. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Brasília, DF, n. 31, p. 186-205, 2005., p. 192).
  • 12
    Vernin (2021VERNIN, Lenna Carolina Solé. Educação patrimonial no Campo de Santana: história, memória e diversão. Curitiba: Appris, 2021., p. 30).
  • 13
    Cf. Ferreira e Martins (2000)FERREIRA, José Carlos; MARTINS, Angela Maria Moreira. Quinta da Boa Vista: de espaço de elite a espaço público. Paisagem e Ambiente, São Paulo, n. 13, p. 125-145, 2000. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/45Rphm7 . Acesso em: 22 dez. 2022.
    https://bit.ly/45Rphm7...
    e Trindade (2013)TRINDADE, Jeanne Almeida da. Parques históricos nas cidades contemporâneas: uma análise da Quinta da Boa Vista. 2013. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Urbanismo, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013..
  • 14
    “Para a eficaz…” (1927)PARA A EFICAZ instrução de um povo. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 16 fev.1927..
  • 15
    Lutz (2008)LUTZ, Bertha Maria Júlia. A função educativa dos museus. In: MIRANDA, G. G. de et al. (org.). Rio de Janeiro: Museu Nacional, 2008..
  • 16
    Cf. Costa (2021)COSTA, Andréa Fernandes. Solon Leontsinis e a proposta de criação do serviço de exposições circulantes de empréstimo do Museu Nacional (1959). ACTIO, Curitiba, v. 6, n. 2, p. 1-22, maio/ago. 2021. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/3NezQZi . Acesso em: 20 dez. 2022.
    https://bit.ly/3NezQZi...
    .
  • 17
    “Mais de cem mil…” (1945)MAIS DE CEM MIL pessoas visitaram o Jardim Zoológico. O Globo, Rio de Janeiro, p. 1, 19 mar. 1945. Geral..
  • 18
    Cf. Cazelli et al., op. cit., e Dahmouche et al. (2023)DAHMOUCHE, Mônica Santos et al. Agora são elas: a presença das mulheres no público de museus de ciência do Rio de Janeiro. Em Questão, Porto Alegre, v. 29, p. 125255, 2023. Acesso em: 17 maio 2023..
  • 19
    Cf. “Cariocas…” (1970CARIOCAS visitam e acham pequena a pedra da Lua. O Globo, Rio de Janeiro, p. 5, 6 abr. 1970., p. 5).
  • 20
    Projeto idealizado pelo maestro Isaac Karabtchevsky, pelo jornalista Roberto Marinho e pelo executivo de marketing Péricles de Barros, com realização das Organizações Globo, objetivando popularizar a música clássica em locais com grande apelo visual.
  • 21
    “Echo do povo” (1882ECHO DO POVO. Juiz de Fora, ano 1, n. 11, 13 ago. 1882., p. 1).
  • 22
    “Desperta…” (1959)DESPERTA a atenção do povo o Museu da Quinta da Boa Vista. O Jornal, Rio de Janeiro, p. 6, 3 nov. 1959..
  • 23
    Lutz (1922LUTZ, Bertha. The National Museum of Brazil. Museum Work, New York, v. 5, nov./dez. 1922., p. 79)
  • 24
    Ibid.
  • 25
    “Museu…” (1968)MUSEU Nacional é um dos mais procurados do país. O Globo, Rio de Janeiro, p. 15, 4 jul. 1968. Matutina, Geral..
  • 26
    Rabelo (1975RABELO, R. F. Estranho Rio: mais de 40 museus, mas nunca aos domingos. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, p. 9, 27 set. 1975., p. 9).
  • 27
    “Roteiro…” (1971ROTEIRO de Museus. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, p. 3, 19 maio 1971., p. 3).
  • 28
    Cf. Mano et al. (2022)MANO, Sonia et al. Museus de ciência e seus visitantes no início do século XXI: estudo longitudinal da visitação espontânea de cinco instituições da cidade do Rio de Janeiro. Anais do Museu Paulista, São Paulo, Nova Série, v. 30, p. 1-48, 2022. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/3J2kt3E . Acesso em: 23 nov. 2022.
    https://bit.ly/3J2kt3E...
    .
  • 29
    Cf. Lefèvre (2017)LEFÈVRE, Fernando. Discurso do sujeito coletivo: nossos modos de pensar. nosso eu coletivo. São Paulo: Andreoli, 2017..
  • 30
    Martins-Costa (2012)MARTINS-COSTA, Lygia. Brasil. Revista Museum , Brasília, DF, v. 2, 2012. Mesa redonda sobre la importancia y el desarrollo de los museus en el mundo contemporáneo, 1973. Org. de José do Nascimento Junior, Alan Trampe, Paula Assunção dos Santos. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/3OZZTVw . Acesso em: 10 mar. 2023.
    https://bit.ly/3OZZTVw...
    .
  • 31
    Promovido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em 1972, em Santiago, o evento abordou o papel dos museus na América Latina e teve como foco a atuação do museu enquanto instrumento de transformação social. Nesse contexto, foram promovidos debates que visavam renovar o cenário museológico latino-americano a partir de uma nova concepção de instituição, o “museu integral”. Museu e Sociedade, junto com Educação, Urbanismo e Ciência e Tecnologia, foram tópicos que estruturam esse evento que é considerado um dos grandes marcos da Museologia mundial (VALENTE, 2009VALENTE, Maria Esther. Museus de ciência e tecnologia no Brasil: uma ‘Reunião de Família’ na Mesa Redonda de Santiago do Chile em 1972. Museologia e Patrimônio, Rio de Janeiro, v. 2, n. 2, p. 73-86, 2009. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/43r4kwR . Acesso em: 16 mar. 2023.
    https://bit.ly/43r4kwR...
    ).
  • 32
    Trindade (2013)TRINDADE, Jeanne Almeida da. Parques históricos nas cidades contemporâneas: uma análise da Quinta da Boa Vista. 2013. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Urbanismo, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013., op. cit.
  • 33
    Ibid.
  • 34
    Bettelheim (1991)BETTELHEIM, Bruno. As crianças e os museus. In: A Viena de Freud e outros ensaios. Rio de Janeiro: Campus, 1991. p. 137-144..
  • 35
    Ibid., p. 138-9
  • 36
    Cf. Mano et al. (2021MANO, Sonia et al. Interesses e discursos sobre a ciência: a expectativa da população que não frequenta museus de ciência. Em questão, Porto Alegre, v. 27, n. 4, p. 413-417, 2021. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/3NiCcGG . Acesso em: 18 maio 2023.
    https://bit.ly/3NiCcGG...
    , p. 424).
  • 37
    Rodrigues e Tomazzoni (2021)RODRIGUES, Ana Paula Rosa; TOMAZZONI, Edegar Luís. Lazer e museus: uma reflexão sobre seus significados e interações. Licere: Revista do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Estudos do Lazer (UFMG), Belo Horizonte, v. 24, n. 2, p. 61-96, 2021. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/3qnpsVY . Acesso em: 16 dez. 2022.
    https://bit.ly/3qnpsVY...
    .
  • 38
    Falk (2021)FALK, John Howard. The Role of Emotions in Museum-Going. In: MAZZANTI, P.; SANI, M. (ed.). Emotions and Learning in Museums. Berlin: NEMO: Network of European Museum Organizations, 2021. p. 55-65. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/42vboXX . Acesso em: 8 dez. 2022.
    https://bit.ly/42vboXX...
    .
  • 39
    Cf. Csikszentmihalyi e Hermanson (1995)CSIKSZENTMIHALYI, Mihaly; HERMANSON, Kim. Intrinsic Motivation in Museums: Why Does One Want to Learn? In: FALK, John Howard; DIERKING, Lynn Diane (ed.). Public Institutions for Personal Learning. Washington, DC: American Association of Museums, 1995. p. 67-77..
  • 40
    Cf. Guichard (2007GUICHARD, Florence. Comment devient-on scientifique?: enquete sur la naisssance d’une vocation. France: EDP Science, 2007., p. 52).
  • 41
    Bourdieu (2001BOURDIEU, Pierre. Os três estados do capital cultural. In: NOGUEIRA, Maria Alice; CATANI, Afrânio Mendes (org.). Escritos de Educação. Petrópolis: Vozes , 2001. p. 73-79., p. 76).
  • 42
    Cf. Mano et al. (2022)MANO, Sonia et al. Museus de ciência e seus visitantes no início do século XXI: estudo longitudinal da visitação espontânea de cinco instituições da cidade do Rio de Janeiro. Anais do Museu Paulista, São Paulo, Nova Série, v. 30, p. 1-48, 2022. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/3J2kt3E . Acesso em: 23 nov. 2022.
    https://bit.ly/3J2kt3E...
    e Cazelli et al. (2022)CAZELLI, Sibele. et al. Conhecer para contar: o público de museus de ciência do Rio de Janeiro. Museologia e Patrimônio: Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio (Unirio-MAST), Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 379-408, 2022. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/3Ch8Zpe . Acesso em: 22 dez. 2022.
    https://bit.ly/3Ch8Zpe...
  • 43
    Cf. Brancaglion Jr. (2004)BRANCAGLION JR, Antônio. As coleções egípcias no Brasil. In: BAKOS, Margaret Marchiori. Egiptomania: o Egito no Brasil. São Paulo: Paris Editorial, 2004. p. 31-34..
  • 44
    Cf. Brancaglion Jr. e Rodrigues-Carvalho (2022)BRANCAGLION JR, Antônio; RODRIGUES-CARVALHO, Claudia. Do Egito ao Brasil: notas sobre o acervo e as iniciativas do Museu Nacional no estudo de populações antigas. In: DUARTE, Luiz Fernando Dias (org.). Museu Nacional: 200 anos. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2022. p. 251-260..
  • 45
    Cf. Bakos (2001)BAKOS, Margaret Marchiori. Fatos e mitos do antigo Egito. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001..
  • 46
    Cf. Bakos, (2001)BAKOS, Margaret Marchiori. Fatos e mitos do antigo Egito. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001., Brancaglion Jr., op. cit.
  • 47
    Cf. Brancaglion Jr., op. cit., p. 34.
  • 48
    Cf. Ponciano (2010)PONCIANO, Luiza. A história das exposições de paleontologia no Museu Nacional (UFRJ). In: JORNADA FLUMINENSE DE PALEONTOLOGIA, 5, 2010. Livro de resumos […]. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2010. p. 39-40..
  • 49
    Ponciano (2010)PONCIANO, Luiza. A história das exposições de paleontologia no Museu Nacional (UFRJ). In: JORNADA FLUMINENSE DE PALEONTOLOGIA, 5, 2010. Livro de resumos […]. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2010. p. 39-40..
  • 50
    Cf. Nascimento-Dias et al. (2022)NASCIMENTO-DIAS, Bruno Leonardo et al. A história do Museu Nacional do Rio de Janeiro e de sua coleção de meteoritos brasileiros. Boletim Paranaense de Geociências, Curitiba, v. 80, n. 2, p. 212-225. 2022. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/43JHtwi . Acesso em: 6 dez. 2022.
    https://bit.ly/43JHtwi...
    .
  • 51
    Cf. Pinheiro (2012)PINHEIRO, Marta Passos. Machado de Assis cronista: “Bons Dias!” no avesso da República. Revista de Letras, São Paulo, v. 52, n. 2, p. 133-145, jul./dez. 2012..
  • 52
    Cf. Guichard, op. cit., p. 52.
  • 53
    Wagensberg (2005WAGENSBERG, Jorge. The “total” museum, a tool for social change. História, Ciências, Saúde: Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 12, p. 309-321, 2005. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/3OZzE1b . Acesso em: 3 dez. 2023.
    https://bit.ly/3OZzE1b...
    , p. 314, tradução nossa).
  • 54
    Cf. Mendes (2020MENDES, Hezelainy Wanessa Oliveira Lima. Património destruído: o caso do Museu Nacional do Rio de Janeiro, Brasil. 2020. Dissertação (Mestrado em Património) - Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova Lisboa, Lisboa, 2020. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/3P2sDwC . Acesso em: 6 dez. 2022.
    https://bit.ly/3P2sDwC...
    , p. 4).
  • 55
    Ibid.
  • 56
    Bourdieu (2007)BOURDIEU, Pierre. A escola conservadora: as desigualdades frente à escola e à cultura. In: NOGUEIRA, Maria Alice; CATANI, Afrânio Mendes (org.). Escritos de Educação. Petrópolis: Vozes, 2007. p. 41-64..
  • 57
    Cf. Falk, op. cit., Mazzanti (2021)MAZZANTI, Paolo. Emotions Inside/Out Museums. In: MAZZANTI, Paolo; SANI, Margherita (ed.). Emotions and Learning in Museums. Berlin: NEMO: Network of European Museum Organizations, 2021. p. 6-23. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/42vboXX . Acesso em: 27 dez. 2022.
    https://bit.ly/42vboXX...
    .
  • 58
    Ibram (2013IBRAM - INSTITUTO BRASILEIRO DE MUSEUS. Introdução. In: IBRAM. Programa para a gestão de riscos ao patrimônio musealizado brasileiro. Rio de Janeiro: IBRAM, 2013. p. 11-16. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/42qbH6s . Acesso em: 8 dez. 2022.
    https://bit.ly/42qbH6s...
    , p. 11).
  • 59
    Cf. Mazzanti, op. cit., p. 7.
  • 60
    Cf. Serejo (2020SEREJO, Cristiana. Museu Nacional: panorama dos acervos: passado, presente e futuro. Rio de Janeiro: Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2020. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/3WW7lmv . Acesso em: 2 jan. 2021.
    https://bit.ly/3WW7lmv...
    , p. 47).
  • 61
    Cf. Costa e Souza (2021)COSTA, Andréa Fernandes.; SOUZA, Aline Miranda e. Depois do incêndio, a pandemia: sobre (re)inventar a Educação Museal no Museu Nacional do Rio de Janeiro. In: CONGRESO REDPOP: RECALCULANDO: ESTRATEGIAS DE DIVULGACIÓN CIENTÍFICA, 17, 2021, nov. 24-25, Montevideo. Compilación de trabajos académicos presentados […]. Montevideo: Espacio Ciencia, 2021. p. 392-398. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/3oOYqqa . Acesso em: 2 jan. 2023.
    https://bit.ly/3oOYqqa...
    .
  • 62
    Cf. Linha (2018)LINHA do tempo interativa da Seção de Assistência ao Ensino (SAE). Museu Nacional (UFRJ), Rio de Janeiro, 2018. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/3MSZlhd . Acesso em: 18 mai. 2023.
    https://bit.ly/3MSZlhd...
    .
  • 63
    Cf. Costa e Souza, op. cit., p. 397.
  • 64
    Cf. Duarte (2022DUARTE, Luiz Fernando Dias. Um novo centenário para o Brasil e seu Museu Nacional. Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, São Paulo, v. 30, p. 1-26, 2022. DOI: 10.1590/1982-02672022v30d1e24. Disponível em: Disponível em: https://bit.ly/3quofwb . Acesso em: 9 mar. 2023.
    https://bit.ly/3quofwb...
    , p. 15).
  • 65
    Por meio da Lei de Incentivo à Cultura, o projeto conta com apoio financeiro do BNDES, patrocínio platina do Bradesco e da Vale; apoio do Ministério da Educação (MEC), Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Congresso Nacional, Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) e do Governo Federal. Ele é orientado pelos princípios da transparência e da participação; e conta com a parceria de instituições como a Associação Amigos do Museu Nacional (SAMN).
  • 66
    Cf. Duarte, op. cit.
  • 67
    Ibid.
  • 68
    Ibid., p. 18.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Set 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    05 Jan 2023
  • Aceito
    12 Maio 2023
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