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ANÁLISES DE LIVROS

A.H. Chapman

NEUROSCIENCE AND THE LAW. BRAIN, MIND, AND THE SCALES OF JUSTICE. BRENT GARLAND, ed. Um volume (14 X 21 CM) com 229 páginas. ISBN 1-932594-04-3. Washington DC, 2004: Dana Press (900 15th Street NW, Washington, DC, 2005 USA).

Este volume trata dos efeitos que as técnicas em neuroimagem estão começando ter no sistema legal nos Estados Unidos; esses impactos estão ocorrendo também na Grã Bretanha e em alguns países da Europa Ocidental. As técnicas são funcional ressonância magnética imagem (FRMI), positron emissão tomografia (PET), eletroencefalografia (EEG) e as suas modificações.

Os problemas básicos são: se processos neurológicos no cérebro, que agora podem ser diretamente observados e estudados causam os atos, pensamentos e emoções de pessoas, existe em verdade livre escolha (free will), ou são os atos de homens meramente os efeitos behaviorais destas forças neurológicas? As palavras "determinismo" e "mecanismo" são freqüentemente usadas em discussões neste assunto. Aceitação deste ponto de vista, mesmo parcialmente, poderia ter uma influência grande na justiça criminal e na justiça civil.

O conceito de responsabilidade está de mãos dadas com a livre escolha. Se eventos neurológicos no cérebro parcialmente ou completamente determinam os atos de uma pessoa, o que significa o conceito de responsabilidade? É possível, ou não, que sistemas de justiça existentes podem incorporar, talvez com modificações, alguns destes fatos neurológicos, ou coexistir com eles?

Outros assuntos tratados aqui são morte cerebral, competência mental, a enhancement (aumentando a capacidade do cérebro por remédios ou por estimulação por vários métodos), detectores de mentiras na lei criminal, e outros tópicos.

Iniciam-se discussões sobre esses assuntos por neurologistas, psiquiatras, advogados, juízes e filósofos. Este livro apresenta vários discursos neste campo, de uma conferência em Washington, DC em 2004.

O livro não dá conclusões ou consensos; eles vão acontecer no futuro, talvez no futuro distante. Mas está na hora de começar a encarar os dilemas que a nova neurociência está criando.

Antonio Spina-França

CADERNOS ANIBAL SILVEIRA: SISTEMA NERVOSO. SPARTACOVIZZOTO, organizador. Um volume (18 x 21 cm) em brochura com 258 páginas. ISBN 85 87769 69 3. São Paulo, 2007: Editora Terceira Margem (www.terceiramargemeditora.com.br).

Dada a importância do legado científico do Prof. Dr. Aníbal Silveira, seus discípulos decidiram editar as lições do mestre. Suas contribuições ao método psicodiagnóstico de Rorschach foram anteriormente publicadas. Agora, capitaneados por Spartaco Vizzoto, trazem a lume muitas das contribuições de Aníbal Silveira à psicologia e à psicopatologia.

Importa, nesta análise, tratar um pouco da grandiosidade científica do mestre Aníbal Silveira. Aqui o faço com minhas lembranças do sempre pranteado mestre. Meu primeiro contato com o Dr. Aníbal Silveira ocorreu quando, ainda estudante de medicina, assistia às reuniões no Hospital Franco da Rocha, do Juqueri. Primeiramente, o inesquecível Walter Edgard Maffei apresentava os achados anátomo-patológicos do caso em pauta e, após, Aníbal Silveira ministrava sobre a matéria psiquiátrica que tal patologia punha à luz, sempre pautados nos princípios de Augusto Compte e no seu conhecimento da obra de Karl Kleist. Como os demais, bebia eu seus ensinamentos. A profundidade destes, para mim, nunca mais foi ultrapassada ao longo de minha formação. Depois, aproximei-me dele aos poucos, sempre em busca de suas lições de psiquiatria e de vida. Por fim, fui seu companheiro quando, ambos como Professores, no segundo lustro dos anos sessenta do século passado, demos início às atividades do Departamento de Neurologia e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu, atualmente a Faculdade de Medicina da UNESP, Universidade Estadual de São Paulo. Lá, implantou ele o ensino de graduação da psiquiatria, sempre acompanhando-o o já falecido colega José Longman, amigo. Lá mesmo, ainda me aprimorei quanto ao conteúdo e a profundidade de suas idéias, pois sempre assisti às suas aulas e, na medida do possível, interpretei-as para um grupo de alunos interessados no conteúdo das idéias das memoráveis aulas do Professor Aníbal. Fazia o que podia, mas sempre aquém, muito aquém do tanto quanto em profundidade ministrava ele, com o entusiasmo que o caracterizava, mas que não alardeava. Depois de Botucatu, o Professor Anibal deu seu conhecimento a outras escolas médicas: na UNICAMP e em Jundiaí. Meu elo com o Professor Aníbal passou a ser Noemio Weniger, também de pranteada memória e com quem reparti as horas de angústia que se sucederam, em 1979, ao falecimento desse gigante da ciência brasileira e de sua psiquiatria que foi Aníbal Silveira. Ficou a lembrança e ficaram os ensinamentos, estes imorredouros.

À frente de seus discípulos, agora, nosso colega Spartaco Vizzoto, encarrega-se de produzir este caderno, que reúne as lições e pensamentos do Dr. Aníbal Silveira, realçando-lhes o caráter atual e enriquecendo-as com as presentes aquisições do conhecimento psiquiátrico, dentro do princípio adotado pelo mestre Aníbal.

Vizzotto, ilustre discípulo e continuador da obra de Aníbal Silveira reuniu com seus discípulos mais próximos, também seus continuadores, algumas das publicações dele de maior realce. São eles: Psicologia fisiológica, Das leis estáticas e dinâmicas da inteligência: sua aplicação a patologia mental, Caracterização da patologia cerebral, da psicopatologia e da heredologia psiquiátrica na doutrina de Kleist, Esquizofrenia e psicoses degenerativas de Kleist: patologia e psicopatologia diferenciais, Síndrome do lobo frontal, Conceito de alcoolismo crônico,A classificação nacional das doenças mentais.

Como expressa Vizzotto no Prefácio, nos dias de hoje buscam as ciências psiquiátricas seus caminhos para tratamentos medicamentosos. Muitas vezes, no entanto, esses caminhos são percorridos sem as necessárias bases de conhecimento do sistema nervoso e, mesmo, da interpretação psicopatológica do achado. Tal ponderação deve guiar o psiquiatra do presente no sentido de buscar ensinamentos de tal forma cercados de conhecimento, como aqueles reunidos neste livro. Psicólogos e psiquiatras são o público-alvo dete livro, mas neurologistas devem nele também buscar aprimorar seus conhecimentos, particularmente aqueles que se dedicam à neuropsicologia e, nesta, ao estudo das demências.

José Antonio Livramento

CÉLULAS-TRONCO. A NOVA FRONTEIRA DA MEDICINA. MARCO ANTONIO ZAGO e DIMAS TADEU COVAS, eds. Um volume (18 X 25 cm) encadernado, com 245 páginas. CDD-571.6072. São Paulo, 2007: Atheneu (edathe@atheneu.com.br).

Os editores Marco Antonio Zago e Dimas Tadeu Covas apresentam neste volume um assunto palpitante e controverso que ocupa lugar de destaque quase que diariamente na imprensa mundial. Segundo os editores as pesquisas com células-tronco visam principalmente três finalidades: 1) compreensão do desenvolvimento humano da diferenciação e da proliferação celular; 2) aplicações médicas para tratamento de doenças (o principal objetivo); 3) geração de linhagens celulares humanas para teste de drogas in vitro.

Este livro trata dos dois primeiros tópicos e é dividido em três partes. Vinte e cinco colaboradores juntamente com os editores são responsáveis pelos quinze capítulos que integram o livro.

A primeira parte apresenta a caracterização das células-tronco humanas e de animais de experimentação divididas em 7 capítulos: 1) células-tronco: origens e propriedades; 2) células-tronco embrionárias e clonagem terapêutica; 3) células-tronco mesenquimais; 4) células-tronco hematopoiéticas; 5) desenvolvimento embrionário; 6) a identificação das células-tronco e 7) células-tronco e seus métodos de estudo.

A segunda parte descreve em 7 capítulos o estado atual da aplicação dessas células para o tratamento de doenças, sendo esta a mais fascinante para aqueles que se dedicam à prática diária da clínica médica com suas diversas especialidades. O capítulo oito apresenta a terapia celular, transplantes de células, de tecidos ou de órgãos. Segue-se o nove sobre a célula-tronco hematopoiética e seu uso clínico; o dez sobre o uso de células-tronco em neurologia; o onze sobre células-tronco no sistema nervoso central e seu potencial terapêutico; o doze sobre células-tronco para o tratamento do diabetes melito; o treze sobre células-tronco para o tratamento de doenças auto-imunes e o quatorze sobre doenças genéticas: como tratá-las? Este escrito em colaboração com uma das mais destacadas pesquisadoras brasileiras, a Profa. Dra. Mayana Zatz.

O livro termina com a última parte, o capítulo quinze, dedicada a bioética, apresentando aspectos éticos e legais das pesquisas e do tratamento com células-tronco, escrito em colaboração com o Prof. Dr. Marcos Segre.

É um livro que deve ser lido não somente por pesquisadores de medicina molecular ou neurociências, porém por todos aqueles que lidam diariamente com aquelas doenças crônicas sem grandes perspectivas terapêuticas.

Antonio Spina-França

DOR: MANUAL PARA O CLÍNICO.MANOEL JACOBSEN TEIEIRA. Um volume (21x28 cm) encadernado, com 562 páginas. São Paulo, 2007: Editora Atheneu (atheneu@atheneu.com.br).

Espantam, de início, dois aspectos: a modéstia do seu editor ao considerar este compêndio um manual e a messe de colaboradores que contribuem. De fato, modéstia e ensinar com competência são atributos de Manoel Jacobsen Teixiera, o Professor Titular de Neurocirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP); caracterizou-se ele desde quando estudante da FMUSP por uma sede de saber que fez dele um incansável colaborador de pesquisadores da instituição. Esta mesma sede de saber e de trabalhar dirigiu seus passos daí por diante, na Residência de Neurocirurgia, na Pós-Graduação e no pós doutorado no exterior, em particular na Escócia. Ao mesmo tempo, sempre repartiu com os companheiros seus conhecimentos e a muitos deles fez seus colaboradores. É dentre estes que reuniu os que são os autores dos diversos capítulos deste livro, 59 ao todo – se não me falha a contagem. Com eles construiu este compêndio, cada um deles seu discípulo.

Lembrando que a dor provoca emoções e fantasias e resulta em sofrimento, Manoel Jacobsen Teixeira marca o rumo do livro em sua Apresentação, na verdade retratando a hipocrática razão do aforisma Medicina opus divinum sedare dolorem est. Decorre daí a seqüência que adota na distribuição da matéria.

Primeiramente, cinco capítulos sobre conhecimentos essenciais. Seguem-se os princípios gerais do tratamento da dor a que sucedem os capítulos sobre tratamentos medicamentosos diversos. Após, o papel da reabilitação e da acupuntura, assim como da abordagem psicológica do paciente. Culmina o livro o capítulo sobre a abordagem neurocirúrgica da dor, seguido de diferentes tipos de dor e de diversos outros tipos de abordagem da dor, de cuidados gerais de enfermagem e de assistência social . O cunho da matéria ‘’e dele mesmo, Jacobsen Teixeira é o autor ou co-autor de 28 capítulos.

Saliento dois capítulos. Aquele das bases do tratamento farmacológico da dor e o de procedimentos neurocirúrgicos funcionais no tratamento da dor. O primeiro, em que com seu filho William Gemio Jacobsen Teixeira, discute as diferentes modalidades dos fármacos utilizados até o presente e o respectivo mecanismo de ação. O segundo, em que trata do papel da neurocirurgia e em que destaca a cirurgia estereotáctica, tema de que é pioneiro e na qual sua experiência é internacionalmente reconhecida e referida.

Trata-se, portanto, de um livro baseado e orientado pela experiência do editor e principal autor, altamente recomendado aos profissionais da saúde que cuidam da dor, em particular o médico e dentre eles os algiatras e, ainda, aos neurologistas especializados em cuidar da dor – neuroalgiatras.

É um livro de cabeceira, tendo eu o colocado na minha. A meu ver, ainda, este livro está abrindo uma nova série de compêndios: aquela resultante de ser o Autor o novo Professor Titular de Neurocirurgia da FMUSP, de quem todos muito nós esperamos.

Luís dos Ramos Machado

A CLINICAL GUIDE TO EPILEPTIC SYNDROMES AND THEIR TREATMENT. C.P. PANAYOTOPOULOS. Segunda Ediçao. Um volume (18 x 25 cm) encadernado, com 578 páginas. ISBN 9 78 1 84 628 643 8. London, 2007: Springer-Verlag (www.currentmedicinegroup.com).

O autor deste livro, autoridade reconhecida internacionalmente, é o mesmo que descreveu a síndrome de Panayiatopoulos em epilepsia. Contrariando a tendência editorial contemporânea de reunir a experiência de diversas autoridades em campos específicos, todos os capítulos são escritos pelo autor. Isso confere ao livro unidade, coesão e coerência de idéias e pontos de vista pouco habituais em área tão extensa e complexa quanto a da epileptologia.

A matéria abrange dezoito capítulos: (1) aspectos gerais das epilepsias, incluindo conceitos, definições e aspectos epidemiológicos; (2) crises epilépticas e sua classificação; (3) status epilepticus; (4) crises não epilépticas; (5) síndromes epilépticas e sua classificação; (6) EEG e neuroimagem em epilepsia; (7) princípios de terapêutica nas epilepsias; (8) crises epilépticas e síndromes epilépticas neonatais; (9) crises epilépticas idiopáticas e síndromes epiléticas na infância; (10) Encefalopatias epilépticas na infância e na adolescência; (11) síndromes epilépticas neocorticais graves na infância e na juventude; (12) crises focais benignas na juventude e síndromes epilépticas relacionadas, incluindo as crises febris, a síndrome de Panayiotopoulos e a epilepsia idiopática juvenil de Gastaut; (13) epilepsias generalizadas idiopáticas; (14) epilepsias focais familiares autossômicas dominantes; (15) epilepsias focais sintomáticas e criptogenéticas provavelmente sintomáticas; (16) crises reflexas e epilepsias reflexas; (17) doenças freqüentemente associadas a crises epilépticas; (18) drogas anti-epilépticas.

Trata-se de obra com belíssima apresentação gráfica, incluindo 32 tabelas, 111 figuras e numerosas vinhetas em que são destacados aspectos relevantes, notas conceituais, tópicos diagnósticos e observações de utilidade prática.

Em relação ao conteúdo, merecem destaque a clareza e o rigor na caracterização das variadas manifestações clínicas da epilepsia, as correlações eletrográficas profusamente documentadas e o cunho prático na determinação das drogas anti-epilépticas a utilizar.

É livro muito interessante e muito bem estruturado. Destina-se principalmente àqueles que, tratando de doentes com epilepsia, procuram aprender com quem tem enorme experiência no assunto e que fundamenta suas condutas em evidências adequadamente documentadas.

É leitura recomendada para neurologistas, epileptologistas, neurofisiologistas clínicos e psiquiatras.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Dez 2007
  • Data do Fascículo
    Dez 2007
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