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ANÁLISE DE LIVROS

CEREBROVASCULAR DISORDERS (FOURTH EDITION). J. F. TOOLE. Um volume (18x26 cm) com 553 páginas. Raven Press, New York, 1990.

Trata-se de obra sobejamente conhecida, referência obrigatória para todos os neurologistas, em particular aos que se dedicam ao estudo das doenças vasculares cerebrais. Toole, ao aliar conhecimento, espírito crítico e argúcia, notadamente nos tópicos referentes à conduta nas diversas afecções vasculares cerebrais, torna a leitura deste livro bastante agradável, interessando não só a profissionais ligados às neurociências, mas também a clínicos gerais, cardiologistas e estudantes. A terceira edição desta obra foi objeto de análise meticulosa por parte do Prof. Dr. Roberto Melaragno Filho (Arq Neuro-Psiquiat, São Paulo, 44:210, 1986), razão pela qual permitimo-nos externar considerações sobre modificações que ocorreram daquela para esta edição.

A ordenação do texto, em 27 capítulos, permanece a mesma, exceto pela supressão do capítulo Aspectos Oftalmológicos da Doença Cerebrovascular. O primeiro capítulo, que na edição anterior versava apenas sobre a anatomia das artérias cerebrais, recebe agora oportuna adição de noções de embriologia dos vasos sanguíneos cerebrais. Os capítulos seguintes - a saber: fisiologia da circulação cerebral; anamnese e exame neurovascular; síndromes carotídeas e do sistema vértebro-basilar; episódios isquêmicos transitórios, sua conduta clínica e cirúrgica - mantêm a mesma estrutura objetiva e concisa das edições anteriores. O capítulo referente a testes diagnósticos especiais está atualizado, com ênfase à Doppler sonografia, Duplex scan e Doppler transcraniano. Tópico sobre ressonância nuclear magnética está bastante ampliado, incluindo-se nesse item a angiografia-ressonância magnética. Ao abordar a aterosclerose no 13º capítulo, o Autor chama a atenção para novas descobertas nesse campo, em especial para o fato de que a aterosclerose não é distúrbio inexoravelmente progressivo, podendo ter sua evolução interrompida e. em alguns casos, podendo até ocorrer regressão das lesões ateroscleróticas. O capítulo que trata do estudo do infarto cerebral está atualizado com a inclusão dia terapêutica trombolítica (ativador do plasminogênio tecidual e urokinase). O capítulo Demência Causada por Doenças Cerebrovasculares enfoca o controverso tema da leucoaraiose e doença de Binswanger. Os capítulos seguintes - que versam sobre: hipertensão arterial, infarto lacunar e encefalopatia hipertensiva; hemorragia intracerebral; angiites; doenças vasculares incomuns; doenças hematológicas e da microcirculação; e causas cerebrovasculares de cefaléia - exibem poucas modificações. No estudo da hemorragia meníngea e dos aneurismas intracranianos, Toole procede a atualizações, como por exemplo o uso de bloqueadores do canal de cálcio, em particular a nimodipina, na prevenção do vasoespasmo após hemorragia subaracnóidea, e o papel da ressonância magnética no diagnóstico dos aneurismas cerebrais. Os últimos capítulos, sobre anatomia e doenças do sistema venoso e da medula espinal, mantêm suas estruturas praticamente intocadas. As referências bibliográficas, suficientes para a obra em questão, dispostas no final de cada capítulo, estão atualizadas até 1990.

FÁBIO IUJI YAMAMOTO

FOCAL EPILEPSY: CLINICAL USE OF EMISSION TOMOGRAPHY (CURRENT PROBLEMS IN EPILEPSY, Volume 7). M. BALDY-MOULINIER, N.A. LASSEN, J. ENGEL JR. & S. ASKIENAZY, editores. Um volume (18x24 cm) com 216 páginas. John Libbey & Co. Ltd., London, 1990.

Trata-se do sétimo volume da série Current Problems in Epilepsy, contendo resultados de estudos apresentados no International Symposium on Focal Epilepsy: Clinical Use of Emission Tomography (Paris, 6 de maio de 1989).

Dos vinte capítulos que compõem este livro, o primeiro inclui breve discussão sobre os conceitos de foco epiléptico, lesão epileptogênica e zona epileptógena, além da contribuição da tomografia por emissão de pósitrons (PET) e da tomografia computadorizada por emissão fótica simples (SPECT) na localização da, zona epileptógena, de grande utilidade em pacientes com epilepsia parcial, refratária a medicamentos, candidatos a tratamento cirúrgico. No segundo capítulo são discutidos os princípios básicos, equipamentos e técnicas envolvidos na tomografia por emissão.

Nos demais capítulos é dada ênfase à investigação da epilepsia do lobo temporal pela tomografia por emissão, particularmente à SPECT e à possibilidade de mostrar essa neuro-imagem a localização da origem das crises. Embora a PET permita essa informação em

70% dos casos (Engel e col., 1982), mostrando área de hipometabolismo cerebral, o intuito deste livro é mostrar as possibilidades da SPECT. Trata-se de método tecnicamente mais simples, mais econômico, capaz de detectar a zona epileptógena na maioria dos casos. Apresenta, porém, menor resolução e requer maiores cuidados na obtenção e interpretação da imagem.

A SPECT, no período intercrítico, em pacientes com epilepsia parcial mostra, na maioria dos casos, hipoperfusão sanguínea regional correspondendo à zona epileptógèna e, durante as crises, hiperperfusão sanguínea regional, apresentando boa correlação com outras informações anatômicas (ressonância magnética e tomografia computadorizada) e eletrofisiológica (eletrencefalograma de superfície e de profundidade) podendo, entretanto, ocorrer hiperperfusão sanguínea regional devido a pós-crise ou a crise subclíniça. A variação da resposta da SPECT na caracterização da zona epileptógena depende de vários fatores, tais como: equipamento, por exemplo aparelhos específicos para o exame são melhores que o uso da gama câmara rotacional, embora esta seja também amplamente aceitável; natureza do traçador (99mTc-hexametil propileno oxamina, 133Xe, 127Xe, 123I-isopropil iodo anfetamina, entre outros); estado do paciente, se interictal, ictal ou perictal. Na ocorrência de achados duvidosos são indicados: a repetição da SPECT com videoeletrencefalograma simultâneo; a realização de PET e de estereoeletrencefalograma. Este último é indicado, atualmente, com alguma restrição por tratar-se de método invasivo.

Este livro é fonte importante de informações úteis para neurologistas, neurocirurgiões e neurofisiologistas interessados no tratamento cirúrgico da epilepsia.

JOAQUINA C.Q.F. ANDRADE

HTLV-1 AND THE NERVOUS SYSTEM. G.C. ROMÁN, J.C. VERNANT d M. OSAME, editores. Neurology and Neurobiology, Volume 51. Um volume (15,5x24 cm) com 260 páginas. Alan R. Liss, New York, 1989.

Este livro é resultado dos estudos apresentados no Simpósio Internacional sobre HTLV-1 e Sistema Nervoso realizado em Fort-de-France (Martinica, abril-1988) sob o patrocínio do Departamento de Neurologia da Universidade do Texas e do Hospital La Meynard da Martinica. Trata-se, de síntese de estudo multidisciplinar sobre o comprometimento do sistema nervoso pelo HTLV-1 abrangendo informações detalhadas de virologia, biologia molecular, imunologia, neuroepidemiogia e aspectos clínicos da infecção e sua neuropatogênese.

O livro é dividido em 7 secções principais e apresenta introdução sobre retrovírus de Richard T. Johnson e prefácio dos seus editores Román, Vernant e Osame. O texto é apresentado de forma didática e entre os seus tópicos principais salientam-se: aspectos do neurotropismo do HTLV-1; complicações neurológicas da leucemia/linfoma de cédulas T do adulto; mielopatia crônica associada ao HTLV-1, com aspectos neuroepidemiológicos, clínicos, neuropatológicos, imunológicos, incluindo análise do líqüido cefalorraqueano e potenciais evocados; manifestações sistêmicas do HTLV-1 e outras doenças neurológicas, como esclerose múltipla, doença do neurônio motor e polimiosites; manifestações oftalmológicas, pulmonares e meníngeas; estudos epidemiológicos e de saúde pública. Finalmente, encerrando o livro: modelos animais para retrovírus e infecções; perspectivas para uma vacina contra HTLV-1.

Dos aspectos imunológicos reavaliados deve ser destacada a presença de bandas gama oligoclonais no liqüido cefalorraqueano de pacientes com mielopatia associada ao HTLV-1. Até a presente data estas bandas, embora presentes na maioria dos casos, ainda não são corretamente identificadas com especificidade ao vírus do HTLV-1: podem representar apenas resposta policlonal de anticorpos a células B ativadas, como ocorre na esclerose múltipla.

É um livro indispensável, devido à grande atualidade do assunto é útil para toda a classe dos que lidam com as neurociências.

J.A. LIVRAMENTO

NEUROPSICHIATRIA INFANTILE (4ª Ed). M. DE NEGRI. Um volume (17x25 cm) com 704 páginas. Piccini, Padova, 1990.

A quarta edição deste livro atesta a originalidade da escola italiana no campo da Neuropsiquiatria Infantil, ao contrapor temas aparentemente contraditórios, como o autismo e

as miopatias em um mesmo texto. É para justificar esta aparente «assinergia» que o autor discorre longamente, no decorrer de 8 densas páginas, sobre a metodologia especial deste ramo complexo da Medicina. Talvez seja esta a parte verdadeiramente mais original deste volume: a introdução. Nela, Negri analisa a necessidade de se haver um espírito verdadeiramente «pascalino» (espírito de finura e de geometria) para se aderivar na prática neuro-psiquiátrica infantil, na confluência de coisas tão disparatadas como a teoria piagetiana e a neuroquímica das síndromes hipercinéticas. Negri coloca a questão de maneira pertinente e tenta resolvê-la durante toda a obra. No entanto, esta dialética não decorre em plano puramente teórico, nem «filosófico», nem «experimental» e nem «localizacionista-mecanicista». Todas estas abordagens têm seus méritos, no entanto satisfazem muito mais um aprofundamento especializado e científico de cada tema do que resolvem a necessidade do clínico diante do seu paciente. Este é o mérito de Negri: em capítulos sucintos, didaticamente subdivididos, satisfaz a necessidade do clínico em termos diagnósticos e terapêuticos (na verdade, incorre em um erro comum aos livros de Psiquiatria Infantil, o de ser mais diagnóstico que terapêutico). É neste sentido que seu capítulo sobre craniossinostoses, por exemplo, tem apenas uma página.

Um grande mérito deste livro é sua riqueza semiológica e iconográfica, como ao abordar a semiotécnica neurológica do período neonatal e da primeira infância e exames complementares, sobretudo eletroencefalografia. A interpretação diagnóstica neuromotora e psicológica dificilmente é encontrada alhures e este fato é de bom alvitre, pois dificilmente os pais trazem à consulta sua criança apenas porque ela tem reflexos tendinosos hiperreativos ou apenas porque sua atenção e seu screening visuomotor não são adequados. Nesta idade, como bem dizia Walton, neuromotricidade, psicomotricidade, neuro e psicossensorialidade são uma coisa praticamente indistinta.

A obra inicialmente dedica-se aos aspectos mais «mecânicos» da patologia, como encefalopatias evolutivas e não-evolutivas, hidrocefalias e síndromes extrapiramidais, entre outras. Após, analisa disfunções «practognósicas» (como distúrbios psicomotores e dispraxias), distúrbios da linguagem, disfunção cerebral mínima (um atavismo incompreensível nesta era de síndrome de hiperatividade e déficit atencional) e, finalmente, aborda distúrbios emocionais, de caráter neuróticos, depressivos, psicóticos, insuficiências intelectuais, psicoterapia e psicofarmacoterapia. Como se. vê, a organização nosográfica é das mais clássicas mas o aspecto eminentemente pragmático parece exigi-lo e, apesar de tudo, o resultado' é bom. A utilização que o autor faz dos dados neuropsicológicos, psicodinâmicos, e fenomenológicos é dirigida ao clínico, o que também não deixa de ser uma raridade em termos de literatura neuropsiquiátrica infantil.

Finalizando, poderíamos concluir que o grande mérito de Negri e de sua escola é demonstrar que a prática neuropsiquiátrica infantil não é tão impossível, como pode parecer. Para quem realmente é um «practicien», nada melhor do que um livro em cujas páginas se sucedem ou se imiscuem hemiplegias e dispraxias, epilepsias e hipercinesias, encefalopatias metabólicas e psicoses, hidrocefalias e oligofrenias, afasias e disfasias, tal como em qualquer sala de espera de um Neuropediatra ou de um Pedopsiquiatra.

MARCELO CAIXETA

FETAL NEUROLOGY. A. HILL & J.J. VOLPE, editores. Um volume (16x24 cm) com 302 páginas. Raven Press, New York, 1989.

Os limites da neurologia infantil se expandiram e passariam a englobar o tempo de vida intrauterina. Embora diversos grupos de pesquisa tenham se dedicado de maneira , isolada a esta faixa etária, é no presente tomo pioneiro que eles se uniram. Todo o neurologista infantil irá se entusiasmar com os estudos aqui descritos, vendo tal expansão de conhecimentos e compreendendo o feto como seu paciente.

Prechtl, conhecido por seus estudos do comportamento neonatal, inicia o volume com revisão magistral do comportamento fetal. Aqui, e em outros capítulos, notamos o auxílio valioso fornecido pela ultrassonografia ao conhecimento não invasivo do feto. Seguem-se capítulos sobre diversos testes propostos para quantificar o stress e o bem-estar fetal. Fluxo sangüíneo uteroplacentário na gestação e fetoplacentário são revistos detidamente. Um segundo conjunto de trabalhos inclui o diagnóstico e a terapêutica do desconforto fetal, o equilíbrio ácido-básico e sua evolução. No terceiro grupo de capítulos estão algumas das principais afecções específicas do feto como a hidrocefalia e espinha bífida.

Cada capítulo é seguido de comentários dos editores, colocando o tema em perspectiva clínica e histórica mais ampla e propondo indagações para serem pesquisadas nos próximos anos, nesta seara nova da neurologia infantil.

RUBENS REIMÃO

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Fev 2011
  • Data do Fascículo
    Jun 1991
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