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José Portugal Pinto

IN MEMORIAM

Inicialmente, permitam-me compartilhar com os senhores a emoção de estar de volta àquela que foi a minha casa por quase 20 anos. Permitam também que eu compartilhe convosco outra emoção: a de pela primeira vez participar de uma homenagem ao Dr. Portugal Pinto, que por mais de 10 anos foi meu chefe. Portugal Pinto aposentou-se há mais de 15 anos, está falecido há mais de uma década e é, provavelmente, um ilustre desconhecido para a maioria dos neurocirurgiões jovens. Meus senhores, quando homenageio José Portugal Pinto, presto meus louvores a todos os que trabalham ou trabalharam no Serviço de Neurocirurgia do HSE, em especial àqueles que o chefiaram ou chefiam.

Portugal Pinto era sobrinho dileto de José Ribe Portugal, primeiro da neurocirurgia nacional e, a despeito do parentesco e dos fortes laços afetivos e familiares, não foi discípulo do Professor. Formado em 1948 pela Faculdade Nacional de Medicina, sua iniciação na Neurocirurgia deu-se pelas mãos de Renato Barbosa, que lhe concedeu seu primeiro emprego, no Hospital Psiquiátrico Pedro II, vínculo depois transferido para o antigo IPASE. Em 1950 foi para os Estados Unidos, tornando-se um dos mais queridos discípulos de William James Gardner. Em Cleveland, Ohio, por quatro anos serviu como residente, acumulando vasta experiência, graças à guerra da Coréia que convocara para o serviço militar quase todos os neurocirurgiões da clínica. Conforme falou o imperador Adriano, pela pena de Marguerite Yoursenar, o grande feito de um grande homem é manter-se na posição ocupada sem deixar transparecer sua importância. José Portugal Pinto era assim. Os exemplos de honestidade, caráter firme, bom senso e ética profissional eram diuturnamente exercitados, na prática neurocirúrgica e fora dela. Por trás do fazendeiro escondia-se o humanista, capaz de citar Aristóteles. Por trás do homem de posses transparecia o cidadão simples, capaz de gestos comuns e de incontáveis momentos de grandeza. Por trás de um aparente conservadorismo, vislumbrava-se o cirurgião habilidoso, de técnica refinada, inventivo e profundo conhecedor da anatomia, cujos resultados igualavam-se aos dos mestres de seus tempos. Tempos românticos, sem coagulador bipolar, sem aspirador ultra-sônico, sem tomografia computadorizada, sem ressonância magnética, sem angiografia digital, mas prenhe de clips de Olivecrona e de Scoville, repleto de pneumo-encéfalos e ventriculografias.

José Portugal Pinto foi um grande homem. Era daqueles raros exemplos que, no dizer de Radinbranath Tagore: "não pediu a graça de ser resguardado dos perigos, mas de ser destemeroso ao enfrentá-los; não rogou que a dor se acalmasse, mas que tivesse coragem para dominá-la; não procurou aliados no campo de batalha, mas confiou em sua própria força".

Homenagem Hospital dos Servidores do Estado (HSE), Rio de Janeiro, 1997

José Francisco M. Salomão

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Nov 2000
  • Data do Fascículo
    Jun 1998
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