Acessibilidade / Reportar erro

Desordens paralógicas e alógicas à luz da patologia cerebral

Paralogical and alogical disorders on the light of Kleist's cerebral pathology

A revisão das investigações de Kleist sôbre a patologia cerebral mostram como suas idéias sôbre o dinamismo surgem a partir da realidade clínica. As investigações neurológicas servem de guia para as psicopatológicas. E, assim, por etapas, elaborou Kleist as noções dos "sistemas cerebrais" e seu papel no que tange às funções neurológicas e psíquicas. Uma função nervosa qualquer é assegurada pelo concurso de dois setores funcionais a que correspondem substratos anatômicos próprios; ao exercício complexo das funções da motilidade automática, por exemplo, correspondem várias estruturas anatômicas em todas as quais distinguem-se dois grupos de centros com sentido funcional diverso: um, a que cabe o papel de recepção e coordenação de estímulos, outro, de efetuação. Tal dualidade de funções primordiais é a base para o desempenho de atividades neurológicas ou psíquicas, ocorrendo tanto no setor da motilidade automática, como no da psicomotilidade, no da ação explícita, no da linguagem, no do pensamento abstrato. Foi a patologia que permitiu a Kleist a separação entre dois setores funcionais prepostos a elaboração do pensamento abstrato: aos campos 19 e 39 de Brodmann correspondem funções receptivo-coordenadoras prepostas à elaboração dos conceitos; a perturbação dessas funções conduz a uma desordem que consiste na dificuldade ou impossibilidade de elaboração dos conceitos isolados: desordem paralógia. O homem, porém, não pensa por meio de conceitos isolados; reúne-os em juízos, por meio de relações predicativas. Ê ao córtex cerebral frontal, campo 46, que dizem respeito tais funções de reunião, de efetuação do pensamento discursivo. As perturbações dessas funções, por desarranjo meramente dinâmico ou por desorganização anatômica, determinam a desordem alógica. Conquanto os dois tipos sejam encontradiços em variadas moléstias por lesão cerebral - assumindo, então, o papel de sinais focais - a desordem paralógica do pensamento, descrita muitas vêzes sob o conceito impróprio e impreciso de "desagregação mental", avulta, por sua importância e relativa pureza, nas moléstias esquizofrênicas.


Academia Brasileira de Neurologia - ABNEURO R. Vergueiro, 1353 sl.1404 - Ed. Top Towers Offices Torre Norte, 04101-000 São Paulo SP Brazil, Tel.: +55 11 5084-9463 | +55 11 5083-3876 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista.arquivos@abneuro.org