Preliminarmente são feitas algumas colocações doutrinárias e técnicas, pertinentes à análise da complexidade do psiquismo humano e das linhas de abordagem possíveis para investigar, diagnosticar e tratar a personalidade; dentre elas, é dada especial ênfase ao estudo do "modelo médico". Segue-se breve descrição de alguns casos da experiência do autor, observados e tratados na Clínica Psiquiátrica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Serviço do Prof. F. O. Bastos), os quais inicialmente apresentaram-se com inequívocas características de doenças somáticas, porém de diagnóstico muito difícil; contudo, depois de algum tempo, mostraram-se de inquestionável patogenia neuro-psicogênica. São analisados os aspectos psicossomáticos de cada um, sublinhando-se os diferentes níveis da ação patogênica no plano neuropsíquico e os meios de elaboração usados na defesa e readaptação da personalidade afetada, disto resultando sua expressão clínica final. Sugerem-se quatro níveis possíveis onde a disfunção primária possa assestar-se: a) nível fisiopatológico neuronal; b) nível subsistêmico cerebral; c) nível psico-dinâmico; d) nível psicossocial. A disfunção primária, atuando também como novo estímulo em cada um destes níveis, pode determinar na personalidade, respostas patológicas suscetíveis de assumir feições clínicas complexas. Muitas destas respostas costumam ser muito diferentes e, na aparência, remotas da disfunção primária precipitante, não obstante estudo cuidadoso mostrar evidentes laços entre aquelas e esta.