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An anthropologist on mars: seven paradoxical tales

ANÁLISES DE LIVROS

AN ANTHROPOLOGIST ON MARS: SEVEN PARADOXICAL TALES. OLIVER SACHS. Um volume (16x24 cm) com 319 páginas. Londres, 199S: Editora Picador.

O autor, um neurologista que clinica em Nova Iorque e que também ensina na Escola de Medicina Albert Einstein naquela cidade, apresenta sete pacientes com várias doenças raras e interessantes. O livro foi escrito primeiramente para leitores leigos mas tem suficiente matéria clínica, patológica e fisiológica para interessar leitores médicos. Sachs já escreveu outros livros do mesmo gênero, e alguns deles são publicados em português pela Editora Imago do Rio de Janeiro. Cada capítulo deste livro apresenta um caso só.

O Caso do Pintor Com Cegueira de Cor. Um pintor com sessenta e cinco anos de idade subitamente perde a sua capacidade de perceber cores, presumivelmente devido a um enfarte pequeno na região occipital do cérebro. A sua vida muda muito. Por exemplo, durante algumas semanas ele tem dificuldade para comer porque toda comida parece-lhe preta, cinzenta ou branca; também durante este período, ele não pode ter sexo com sua esposa porque ela parece ter cor cinzento-branca e não rosado-claro. Todavia, com o tempo ele ajusta-se à sua nova condição e nela acha novas oportunidades artísticas.

O Ultimo Hippie. Um adolescente tem distúrbios graves de memória e uma mudança severa de personalidade devido a um grande tumor na parte anterior de seu cérebro. O autor examina as atividades de diversas regiões do cérebro em vários tipos de memória e no funcionamento de alguns aspectos de personalidade.

A Paisagem dos Seus Sonhos. Este capítulo apresenta o caso de um pintor no Estados Unidos que pinta quadros, exatos em todos os seus detalhes, de casas, quartos, ruas e paisagens que ele viu somente nos primeiros anos de sua infância numa aldeia da Itália, e ele pinta tais quadros só. Não é claro se este homem tem uma capacidade de memória eidética (memória fotográfica) combinada com uma compulsão a recapturar a sua infância, ou uma epilepsia do lobo temporal que às vezes dá a ele a sua capacidade surpreendente de capturar cenas de seus primeiros anos, ou ainda as duas síndromes. O autor viajou à Itália para comparar os quadros deste artista com as cenas que os quadros dele apresenta. Algumas telas do paciente são incluídas no livro.

Ver e Não Ver. Um homem com mais ou menos quarenta e cinco anos de idade, cego quase toda a sua vida, é operado nos olhos e recupera a percepção de luz. Todavia, ele não pode utilizar esta percepção de luz num visão útil porque não tem o desenvolvimento experiente do cérebro que uma visão útil exige, e fracassa nas suas tentativas de consegui-lo. Um desastre clínico acontece. Leitores médicos talvez possam perguntar porque esta operação foi feita, especialmente quando sete oftalmologistas anteriores aconselharam contra qualquer intervenção cirúrgica neste caso.

A Vida de Um Cirurgião. Este capítulo descreve um dia típico na vida de um cirurgião com a síndrome de Gilles de la Tourette (às vezes chamada "a moléstia dos tiques"). Neste caso, como em todos os outros deste livro, o autor dá uma atenção especial à maneira em que uma doença é percebida pelo paciente e os impactos que ela tem na sua vida diária.

Prodígios. Os sucessos artísticos e fracassos emocionais e interpessoais de um adolescente idiot savant com autismo infantil (síndrome de Kanner) formam a matéria deste capítulo. Vários exemplos dos quadros do doente são apresentados.

Uma Antropóloga em Marte. Sachs descreve a vida profissional e social de uma mulher que é uma das pessoas que numa pequena porcentagem de casos saram ou fazem uma "recuperação social" de autismo infantil. O autor a acompanha nas suas atividades durante um dia típico da vida dela.

De vez em quando, o autor comete erros neste livro, que podem aborrecer um leitor médico ou assustar um leitor leigo. Por exemplo, este livro (página 260) diz que uma pequena mudança nas posições de eletrodos durante tratamento psiquiátrico por eletrochoque causaria a morte do paciente, e ele dá a impressão (páginas 73-94) que cada criança como tiques múltiplos e severos tem a síndrome de Gilles de la Tourette com o seu prognóstico lamentável. Todavia, o livro é interessante e informativo, e nós podemos recomendá-lo a leitores médicos e leigos que têm interesse nas doenças raras das quais trata.

A. H. Chapman; Luiz Rogério Sena Pereira

Hospital Samur, Caixa Postal 98, 45100-000 Vitória da Conquista BA, Brasil

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Nov 2010
  • Data do Fascículo
    Dez 1996
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