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Vias envolvidas no alívio da dor pela estimulação talâmica ventrobasal: evidência contra a hipótese estimulação ventrobasal --> excitação do bulbo rostroventral -> inibição do corno dorsal

A despeito de seu uso há longo tempo, a maneira pela qual a estimulação talâmica ventrobasal (VB) produz alívio da dor é ainda desconhecida. Segundo uma das hipóteses mais aceitas, defendida por Tsubokawa dentre outros, a estimulação de VB excita neurônios rafe-espinhais e reticulo-espinhais do bulbo rostroventral, os quais por sua vez emitem respectivamente axônios serotoninérgicos e noradrenérgicos inibitórios para os neurônios nociceptivos de ambos os cornos dorsais através dos funículos dorsolaterais da medula espinhal; essa via é a mesma proposta para a inibição dos neurônios nociceptivos dos cornos dorsais pela estimulação da substância cinzenta periventricular-periaquedutal (PVG-PAG). Tal hipótese, obviamente, subentende a necessidade da integridade dos funículos dorsolaterais da medula; de fato, já foi demonstrado que a secção desses funículos inibe a resposta dos neurônios nociceptivos dos cornos dorsais à estimulação de VB. Se a hipótese mencionada for correta, poder-se-á esperar que: (1) a estimulação unilateral de VB produza alívio bilateral da dor; (2) a estimulação de VB e PVG-PAG sejam úteis para tratar as mesmas modalidades de dor; (3) a estimulação de VB seja ineficaz em pacientes com secção medular completa apresentando dor central de origem medular. Para se avaliar essas possibilidades, foram revistos os pacientes com dor central de origem medular admitidos à Divisão de Neurocirurgia do Toronto Hospital entre junho 1978 e julho 1991 para serem submetidos à estimulação cerebral profunda. Dezesseis pacientes foram operados nesse período, quatro dos quais apresentavam lesão medular completa, segundo critérios clínicos. Todos eram homens, com média de idade de 48 anos e com dor secundária a traumatismo raquimedular. A eficácia da estimulação cerebral profunda foi avaliada nesse subgrupo de pacientes: 75% deles (3 dentre 4) apresentaram excelente alívio da dor à estimulação de VB; a estimulação de PVG, porém, realizada em três desses quatro pacientes, foi ineficaz em todos eles. Além disso, a experiência clínica tem demonstrado que a estimulação unilateral de VB só é eficaz para o tratamento de dor contralateral. Esses resultados, bem como certos achados experimentais fornecidos pela revisão da literatura, parecem prover evidência suficiente para contestar a hipótese de Tsubokawa.

dor; analgesia; estimulação elétrica; núcleos talâmicos; tálamo; estereotaxia


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