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Ensayo preliminar sobre lo cómico. Marcos Victoria

ANÁLISES DE LIVROS

Ensayo preliminar sobre lo cómico. Marcos Victoria. 1 volume. Bibl. Filosófica. Ed. Losada. Buenos Aires, 1941

Este livro é um ensaio de psicologia e estética. São expostos, com espírito crítico, os fundamentos psicológicos e desenvolvidas extensas e originais considerações de ordem estética sobre as diversas formas do cômico. Procura o autor situar o cômico entre as demais vivências, delineando-lhe os limites, precisando-lhe os contornos, buscando defini-lo, chegando a conclusão contrária à de muitos autores que o consideram como um tipo especial de julgamento. O cômico não é um juízo, bem como não é mera associação de representações ou proposições contraditórias, mas um processo que não se desenvolve em plena luz da conciência sob a forma de conceitos ou juízos lógicos. Há impropriedade nas deduções fundadas em elementos introspectivos pois, a mais vigilante introflexão não consegue anotar as etapas ou fases deste fenômeno psicológico; o carácter brusco da descarga cômica, impede uma visão interior lúcida e interpretativa.

Um exame das condições gerais que rodeiam a descarga cômica revelaria a existência de uma tensão; muitas vezes, porém, dá-se a descarga desta tensão sem qualquer efeito cômico; como exemplo, é lembrada a descarga sob a forma de gargalhada produzida por uma notícia ansiosamente esperada, ou depois de se ter escapado de grave risco de vida. Esta descarga psíquica somente sob certas condições pode ser considerada cômica; a dolorosa descarga psíquica que segue a morte de uma pessoa querida há longo tempo enferma nada tem de cômico.

Kant concebe o cômico como sendo uma expectativa defraudada, afirmando que ele nasce "da repentina redução ao nada de uma intensa expectativa". Spencer e Hazzlit introduziram a noção de desconveniência, isto é, de uma violação das leis da causalidade ou de uma infração das normas habituais sociais ou psicológicas. O cômico da "novidade" estaria incluído dentro destas explicações. Segundo a fórmula de Hobbes o cômico derivaria de um sentimento de triunfo que nasce da percepção brusca de superioridade nossa comparada com a inferioridade de outros ou com nossa própria inferioridade anterior. Todos estes pontos de vista explicam parcialmente o cômico; o erro resulta de se pretender generalizar, como se todas as suas múltiplas formas obedecessem a um único mecanismo.

Estudando o cômico como dado intelectual, Victoria critica as idéias de Kraepelin para o qual o cômico se basearia no contraste entre representações disparatadas, e estende esta crítica a todas as definições puramente intelectuais que dão uma idéia artificial da vivência. Expõe os pontos de vista de Lipps, lembrando que o principal defeito das definições intelectualistas é exigir um contraste entre representações fixas e rígidas, esquecendo que as mesmas acham-se subordinadas a atitudes de consciência que dirigem sua fluência e lhes concedem a energia de que gozam: o cômico é "a colisão de esferas carregadas de sentidos diferentes, é um conflito de intenções por uma das quais tomamos intuitivamente partido, é a percepção de conexões inesperadas entre vivências díspares".

Examina o cômico sob um critério axiológico, "o cômico representando um confronto entre valores afetivos e desvalores da mesma categoria". Encarado em sua natureza emocional, o cômico se torna mais compreensível quando são encaradas as diversas etapas dos valores que o integram. Para que se origine o cômico é necessário uma mutação de "tomar a sério" por "não tomar a sério", desde que o espectador sinta-se "isento de preocupação", acima das peripécias que se estão desenvolvendo, ou seja, que se coloque concientemente na periferia, com um espírito de "superioridade jovial". O fenômeno cômico se inicia quando algo que aspira algum valor é detido em sua aspiração. Entramos em tensão e neste estado assistimos o naufrágio de um pseudo-valor. Uma árvore que desmorona sobre o protagonista no terceiro ato do Parsifal, é um objeto que aspira um certo valor e é desprovido bruscamente dele. É preciso porém acentuar que o que se deixa de "tomar a sério" é um "pseudo-valor" e não um valor verdadeiro pois neste último caso teríamos um sentimento de decepção e não um sentimento prazenteiro.

Nos últimos capítulos, Marcos Victoria expõe as diversas formas do cômico. Distingue o cômico subjetivo do objetivo, este último ocorrendo sem a intenção do cômico enquanto naquele a pessoa conhece o efeito que está produzindo e é cúmplice dele: é o cômico do chiste, da ironia, da caricatura e do sarcasmo. Analisa o autor cada uma destas formas, identificando suas características diferenciais, estendendo-se longamente sobre cada uma, não somente tecendo interessantes considerações como também exemplificado com abundantes e oportunas citações, servindo-se para isto de uma rara cultura literária e filosófica.

A. B. LEFÈVRE

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Mar 2015
  • Data do Fascículo
    Mar 1944
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