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Tratamento de osteoma osteóide de corpo vertebral da coluna lombar por ablação por radiofreqüência

Resumos

Neste artigo descreveremos um raro caso de osteoma osteóide de corpo vertebral da quarta vértebra lombar com epidemiologia não usual (42 anos), diagnosticado através da história clínica, exame físico, cintilografia, tomografia e ressonância magnética. O diagnóstico foi confirmado por biópsia guiada por tomografia, e o tratamento minimamente invasivo efetuado com sucesso através da abalação com radiofreqüência guiada por tomografia.

Coluna; Neoplasias ósseas; Osteoma osteóide; Radiofreqüência; Ablação por cateter


In this article, we will describe a rare case of an osteoid osteoma of the fourth lumbar vertebra's vertebral body with unusual epidemiology (42 years old), diagnosed through clinical history, physical examination, scintiscan, tomography, and magnetic resonance. Diagnosis was confirmed by tomography-guided biopsy and minimally invasive therapy successfully provided through tomography-guided radiofrequency ablation.

Spine; Osteoid osteoma; Bone neoplasms; Radiofrequency; Catheter ablation


RELATO DE CASO

Tratamento de osteoma osteóide de corpo vertebral da coluna lombar por ablação por radiofreqüência

Tarcísio Eloy Pessoa de Barros FilhoI; Reginaldo Perilo OliveiraII; Alexandre Fogaça CristanteIII; Almir Fernando BarbariniIV

IProfessor Titular do Departamento de Ortopedia e Traumatologia

IIMédico Assistente e Chefe do Grupo de Coluna

IIIMédico Assistente do Grupo Coluna

IVMédico Preceptor do Grupo Coluna

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Almir Fernando Barbarini Rua José Maria Lisboa, 285 apto 41 Jardim Paulista São Paulo - SP - Brasil almirbarbarini@terra.com.br

RESUMO

Neste artigo descreveremos um raro caso de osteoma osteóide de corpo vertebral da quarta vértebra lombar com epidemiologia não usual (42 anos), diagnosticado através da história clínica, exame físico, cintilografia, tomografia e ressonância magnética. O diagnóstico foi confirmado por biópsia guiada por tomografia, e o tratamento minimamente invasivo efetuado com sucesso através da abalação com radiofreqüência guiada por tomografia.

Descritores: Coluna; Neoplasias ósseas; Osteoma osteóide; Radiofreqüência; Ablação por cateter.

INTRODUÇÃO

O osteoma osteóide é um raro tumor ósseo inicialmente descrito por Jaffe em 1935, caracterizando um tumor produtor de osso, mais freqüentemente observado nas extremidades inferiores de crianças ou adultos jovens (11-22 anos)(1).

A diferenciação do osteoma osteóide com o osteoblastoma é feita pelo seu tamanho, sendo o osteoma osteóide menor que 1,5 centímetros de diâmetro(2).

O tumor é observado na coluna vertebral em aproximadamente 10% a 25% dos casos(3-8), tendo predileção pelos elementos posteriores das vértebras(9-11).

O osteoma osteóide é encontrado no corpo vertebral apenas em 10% dos casos de acometimento da coluna(12).

O envolvimento da coluna é mais comum nas vértebras lombares(12,13) e é caracterizado pela dor localizada na vértebra afetada(14,15) e eventualmente por dor irradiada simulando uma herniação discal(10,16), porém sem outros achados no exame físico e neurológico(17).

A dor, que geralmente apresenta piora noturna, costuma melhorar com uso de antinflamatórios não hormonais(18).

A escoliose secundária à dor e ao espasmo muscular(19) é um achado comum em adolescentes (63% a 70%), constituindo uma complicação do tumor tratado tardiamente. No entanto, a curva pode tornar-se estruturada com a inibição assimétrica do crescimento da epífise vertebral(13,17,20,21). Geralmente o tumor se encontra no ápice da deformidade(18,19), sendo que, quando a quarta ou quinta vértebra lombar é envolvida, o ápice é superior e a obliqüidade pélvica está geralmente presente(18).

O nicho do tumor, mesmo pequeno, geralmente pode ser observado através da cintilografia com tecnécio(22). A tomografia computadorizada com cortes menores que 1,5 centímetros, assim como a ressonância magnética (RNM) são capazes de evidenciar a lesão, que é melhor vista pelos cortes em T2 na RNM através de alto sinal no osso em torno da lesão, demonstrando edema local(22).

RELATO DE CASO

Adulta, sexo feminino, de 44 anos, procurou atendimento de especialista em coluna. Contou o surgimento de dor lombar constante há 2 anos com piora lentamente progressiva, piora noturna, porém sem piora de movimentação ou episódios de fortes dores durante o dia. A dor não irradiava para membros inferiores ou outras regiões, mantendo-se apenas na região lombar. Não havia história de trauma, febre, emagrecimento ou alterações esfincterianas. Previamente, realizou tratamento com antinflamatórios não hormonais, apresentando melhora apenas durante a utilização dos mesmos. Ao exame apresentava dor à palpação da quarta vértebra lombar, sem deformidade, exame neurológico e vascular sem alterações.

O quadro foi investigado com radiografia da coluna lombar que não apresentou alterações. O estudo cintilográfico com uso de Tc 99m demonstrou aumento de captação no corpo vertebral da quarta vértebra lombar à esquerda (Figura 1). O estudo por tomografia computadorizada da coluna lombar revelou área de hipoatenuação circundada por uma área de hiperatenuação - esclerose óssea - sugestivo de um tumor osteogênico (Figura 2 e 3). O estudo complementar com ressonância magnética demonstrou alteração de sinal com 1 cm de diâmetro no corpo vertebral da quarta vértebra lombar próxima à base do pedículo esquerdo, circundada por área de sinal compatível com edema ósseo (Figura 4 e 5).






Os dados de anamnese, exame físico e exames complementares sugeriram a presença de osteoma osteóide no corpo vertebral da quarta vértebra lombar.

Realizou-se a biópsia guiada por tomografia, sendo colhido material para culturas, estudo patológico em parafina e para congelamento rápido (in print). O estudo patológico de congelamento descartou presença de células neoplásicas. No mesmo momento anestésico, foi realizada a destruição minimamente invasiva do tumor com o uso de radiofreqüência através do uso de ponteira Arthrocare, guiada por tomografia computadorizada (Figura 6). O exame anátomo patológico em parafina confirmou o diagnóstico de osteoma osteóide (Figura 7). Não houve crescimento bacteriano nas culturas colhidas.



Foi permitida a deambulação da paciente após o procedimento com o colete de Putin, o qual foi usado por seis semanas, apresentando melhora progressiva da dor. Após seis meses do procedimento, o estudo da tomografia computadorizada não demonstrava a presença do tumor (Figura 8) e a paciente não apresentava dor lombar.


DISCUSSÃO

O osteoma osteóide na coluna é mais freqüente em adultos jovens (11-22 anos)(1), sendo mais comum nos elementos posteriores da vértebra(11). O caso em questão não apresenta epidemiologia habitual.

Apesar da história natural do osteoma osteóide demonstrar que pode ocorrer cura espontânea entre dois a oito anos, a dor intensa e freqüente e o risco de desenvolver escoliose secundária(20) justificam a ressecção cirúrgica que geralmente é realizada em bloco, retirando o nicho e o halo de esclerose(11,23,24).

O aspecto radiológico do osteoma osteíode é bem conhecido, contudo o diagnóstico definitivo deve ser feito com o estudo anátomo patológico(22).

A biópsia da lesão e a ressecção do nicho do tumor com auxílio intraoperatório da tomografia computadorizada têm sido reportadas por vários autores(25-27).

Recentemente, a ablação por radiofreqüência, inicialmente descrita por Rosenthal et al., tem-se tornado um método válido no tratamento minimamente invasivo do osteoma osteóide(15,28-31). A avaliação da efetividade deste procedimento, porém, necessita da análise de uma série maior de casos.

CONCLUSÃO

O caso em questão apresentou boa resposta ao tratamento minimamente invasivo para osteoma osteóide do corpo vertebral através do uso da ablação por radiofreqüência, guiada por tomografia computadorizada.

Trabalho recebido em: 26/08/05 aprovado em 08/12/05

Trabalho desenvolvido no Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil.

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  • Endereço para correspondência:

    Almir Fernando Barbarini
    Rua José Maria Lisboa, 285 apto 41 Jardim Paulista
    São Paulo - SP - Brasil
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      21 Jul 2006
    • Data do Fascículo
      2006

    Histórico

    • Recebido
      26 Ago 2005
    • Aceito
      08 Dez 2005
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