EDITORIAL
Índices cienciométricos e a ciência de enfermagem brasileira
A produção científica constitui-se em aspecto relevante no processo de avaliação dos programas de pós-graduação. Assim, a performance científica dos pesquisadores tem sido um dos principais critérios para avaliação dos mesmos.
Desde 1989, de acordo com Spinak (1), a ciência é considerada um sistema de produção de informação, sobretudo informação publicada sob forma permanente e disponível para uso da comunidade científica.
Assim, a avaliação da performance científica, de acordo com Harqi e Yuhua (2), pode ser feita em termos dos trabalhos publicados, por meio da observação dos índices bibliométricos. Garrido e Rodrigues (3) referem que a cienciometria, como é conhecida a pesquisa quantitativa da produção científica, foi iniciada na década de 1960, quando a UNESCO e a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) desenvolveram metodologias para a avaliação da atividade científica e tecnológica.
A cienciometria aplica as técnicas bibliométricas à ciência. Além disso, a cienciometria examina o desenvolvimento das políticas científicas, considerando a ciência como Disciplina e também como atividade econômica(3).
A cienciometria possibilita, assim, desenvolver indicadores que trazem subsídios para avaliar os recursos humanos dedicados à Ciência e Tecnologia. Tais indicadores permitem medir as atividades de investigação, bem como interpretar a inovação tecnológica de determinada área da ciência, em nosso caso específico a Enfermagem, e a região geográfica onde esta produção se dá.
Sabemos que o desenvolvimento da ciência brasileira dá-se, na sua maior parte, nos cursos de pós-graduação, sendo a sua predominância no eixo sul-sudeste. Neste contexto, as enfermeiras pesquisadoras têm aumentado o número de artigos científicos em periódicos ISI.
Há críticas, entretanto, como refere o próprio Spinak(1), quanto às ferramentas utilizadas pelos indexadores internacionais, que selecionam revistas com certa parcialidade, e nem sempre são adequadas para avaliar Ciência e Tecnologia dos países periféricos. Este mesmo autor observa que, em qualquer campo da ciência, os artigos se concentram nas mesmas revistas multidisciplinares de alto impacto, que os cobrem como "caudas de cometas", assim como cerca de três mil revistas indexadas no ISI cobrem mais que suficientemente 90% da literatura que realmente tem valor no meio acadêmico. Esta é, ainda segundo Spinak (1), uma razão epistemológica que tem explicação no processo histórico da constituição das listas das revistas ISI. Outras publicações especificamente em enfermagem, tem discutido este assunto. Por exemplo, Broome (4) e Sousa, Cooksey-James e Driessnack (5) discutiram o "Journal Citation Index (JRC)", o qual contêm a lista das revistas de enfermagem indexadas no ISI. Estes autores enfermeiros recomendaram muita cautela no uso dos critérios do ISI para fazer avaliação de pesquisadores em enfermagem, porque o número de revistas indexadas no ISI não é suficiente para acomodar as produções científicas de qualidade da communidade de enfermagem nacional e internacional; outros critérios devem ser também considerados para avaliar a produção científica de enfermeiros pesquisadores.
Diante destas considerações, acreditamos que realmente a enfermagem dos países em desenvolvimento deve constituir a sua própria base de dados.
A "II Conferencia Iberoamericana de Editores de Revistas de Enfermería", que acontecerá em novembro, no México, discutirá estas questões, bem como proporá estratégias para o fortalecimento editorial das revistas de enfermagem Iberoamericanas.
A Revista Acta Paulista de Enfermagem, por meio do seu corpo Editorial, é solidária e sensível à procura de novas estratégias que possibilitem divulgar a nossa ciência, mensurando o impacto da mesma, nos países com características similares às nossas, com demandas próprias não menos significantes que as de outros países mais favorecidos, cujo perfil sócio-econômico é diferenciado em relação aos das nações ditas "periféricas".
REFERÊNCIAS:
1. Spinak E. Indicadores cienciometricos, Ci Inf., 1998; 27(2): 141-8.
2. Harqi Z,Yuhua Z. Scientometric study on research performance in China. Information Processing & Management. 1997; 33(1):81-9.
3. Garrido RG, Rodrigues FS. Os rumos da Ciência brasileira sob a ótica dos índices cienciométricos. Rev Bioméd. 2005; 66(1):20
4. Broome ME. Ratings and rankings: Judging the evaluation of quality. Nur Outlook. 2005; 53(5): 215-6.
5. Sousa VD, Cooksey-James, TJ, Driessnack, M. Letter to the editor. Nurs Outlook. In press 2005.
Prof.ª Dra. Alba Lucia Bottura Leite de Barros
Prof.ª Dra. Maria Gaby R. de Gutiérrez
Prof.ª Dra. Jeanne Liliane Marlene Michel
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
18 Set 2007 -
Data do Fascículo
Dez 2005