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Avaliação da capacidade funcional de idosos associada ao risco de úlcera por pressão

Resumos

OBJETIVO: Caracterizar os idosos com limitação física; avaliar a capacidade funcional, conforme a mobilidade física, estado cognitivo e nível de independência funcional para as atividades de vida diária e relacionar a capacidade funcional com o risco para úlcera por pressão. MÉTODOS: Estudo de abordagem quantitativa, transversal realizado em domicílios do Município de João Pessoa-PB com idosos que apresentavam limitação física. Delineamento amostral por conglomerado em dois estágios foram pesquisados 51 idosos. RESULTADOS: Evidenciaram-se comprometimentos na capacidade funcional dos idosos com 80 anos ou mais, como limitação física mais acentuada, déficit cognitivo e maior nível de dependência para as atividades. Diferenças significativas foram observadas entre o nível de independência funcional para a realização de atividades de vida diária e o risco de úlcera por pressão. CONCLUSÃO: O estudo possibilitou a identificação de idosos em declínio funcional e em risco para o desenvolvimento de úlceras por pressão, fornecendo subsídios para a implementação de ações preventivas em nível domiciliar.

Idoso; Úlcera por pressão; Fatores de risco; Pessoas com deficiência; Aptidão fisical


OBJECTIVE: To characterize the elderly with physical limitations; to assess functional capacity as it relates to physical mobility, cognitive status and level of functional independence in activities of daily living, and to relate functional capacity to the risk for pressure ulcers. METHODS: A quantitative cross-sectional approach, conducted in households in the city of João Pessoa (PB) with seniors who presented physical limitation. Fifty-one elderly were investigated in a two-stage cluster sampling design. RESULTS: There was evidence of impairments in functional capacity of the elderly aged 80 years or more, with more severe physical limitations, cognitive impairment and a higher level of dependency for activities. Significant differences were observed between the level of functional independence in performing activities of daily living and the risk of pressure ulcers. CONCLUSION: This study allowed for the identification of the elderly in functional decline and at risk for developing pressure ulcers, supporting the implementation of preventive actions at the household level.

Aged; Pressure ulcer; Risk factors; Disabled persons; People with physical limitations; Physical fitness


OBJETIVO: Caracterizar a los ancianos con limitación física; evaluar su capacidad funcional, conforme la movilidad física, estado cognitivo y nivel de independencia funcional para las actividades de la vida diaria y relacionar la capacidad funcional con riesgo para úlcera por presión. MÉTODOS: Estudio de abordaje cuantitativo, transversal realizado en domicilios del Municipio de João Pessoa-PB con ancianos que presentaban limitación física. Fueron investigados 51 ancianos y se usó delineamiento muestral por conglomerado en dos fases. RESULTADOS: Se evidenciaron compromisos en la capacidad funcional de los ancianos con 80 años o más, como limitación física más acentuada, déficit cognitivo y mayor nivel de dependencia para las actividades. Fueron observadas diferencias significativas entre el nivel de independencia funcional para la realización de actividades de la vida diaria y el riesgo de úlcera por presión. CONCLUSIÓN: El estudio posibilitó la identificación de ancianos en declínio funcional y en riesgo para el desarrollo de úlceras por presión, ofreciendo subsidios para la implementación de acciones preventivas a nivel domiciliario.

Acondicionamento físico; Anciano; Úlcera por presión; Factores de riesgo; Personas con discapacidad


ARTIGO ORIGINAL

Avaliação da capacidade funcional de idosos associada ao risco de úlcera por pressão

Elizabeth Souza Silva de AguiarI; Maria Júlia Guimarães Oliveira SoaresII; Maria Helena Larcher CaliriIII; Marta Mirian Lopes CostaIV; Simone Helena dos Santos OliveiraV

IMestre em Enfermagem pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB – João Pessoa (PB), Brasil

IIDoutor. Professor Associado, Universidade Federal da Paraíba – UFPB – João Pessoa (PB), Brasil

IIIDoutor. Professor Associado do Departamento de Enfermagem Geral e Especializado da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo – USP – Ribeirão Preto (SP) Brasil

IVDoutor. Professor Associado da Universidade Federal da Paraíba – UFPB – João Pessoa (PB), Brasil

VDoutor. Professor da Escola Técnica de Saúde, Universidade Federal da Paraíba – UFPB – João Pessoa (PB), Brasil

Autor Correspondente

RESUMO

OBJETIVO: Caracterizar os idosos com limitação física; avaliar a capacidade funcional, conforme a mobilidade física, estado cognitivo e nível de independência funcional para as atividades de vida diária e relacionar a capacidade funcional com o risco para úlcera por pressão.

MÉTODOS: Estudo de abordagem quantitativa, transversal realizado em domicílios do Município de João Pessoa-PB com idosos que apresentavam limitação física. Delineamento amostral por conglomerado em dois estágios foram pesquisados 51 idosos.

RESULTADOS: Evidenciaram-se comprometimentos na capacidade funcional dos idosos com 80 anos ou mais, como limitação física mais acentuada, déficit cognitivo e maior nível de dependência para as atividades. Diferenças significativas foram observadas entre o nível de independência funcional para a realização de atividades de vida diária e o risco de úlcera por pressão.

CONCLUSÃO: O estudo possibilitou a identificação de idosos em declínio funcional e em risco para o desenvolvimento de úlceras por pressão, fornecendo subsídios para a implementação de ações preventivas em nível domiciliar.

Descritores: Idoso; Úlcera por pressão; Fatores de risco; Pessoas com deficiência; Aptidão fisical

RESUMEN

OBJETIVO: Caracterizar a los ancianos con limitación física; evaluar su capacidad funcional, conforme la movilidad física, estado cognitivo y nivel de independencia funcional para las actividades de la vida diaria y relacionar la capacidad funcional con riesgo para úlcera por presión.

MÉTODOS: Estudio de abordaje cuantitativo, transversal realizado en domicilios del Municipio de João Pessoa-PB con ancianos que presentaban limitación física. Fueron investigados 51 ancianos y se usó delineamiento muestral por conglomerado en dos fases.

RESULTADOS: Se evidenciaron compromisos en la capacidad funcional de los ancianos con 80 años o más, como limitación física más acentuada, déficit cognitivo y mayor nivel de dependencia para las actividades. Fueron observadas diferencias significativas entre el nivel de independencia funcional para la realización de actividades de la vida diaria y el riesgo de úlcera por presión.

CONCLUSIÓN: El estudio posibilitó la identificación de ancianos en declínio funcional y en riesgo para el desarrollo de úlceras por presión, ofreciendo subsidios para la implementación de acciones preventivas a nivel domiciliario.

Descriptores: Acondicionamento físico; Anciano; Úlcera por presión; Factores de riesgo; Personas con discapacidad

INTRODUÇÃO

Atualmente, o Brasil e o mundo vivenciam uma época de transição demográfica, resultante do progressivo aumento da população de idosos. Consequentemente verifica-se a transformação do perfil epidemiológico da população e aumento das doenças crônico-degenerativas, com limitações funcionais que, muitas vezes, comprometem a autonomia da pessoa idosa.

Em virtude do processo do envelhecimento, a demanda por cuidados surge com base nas várias alterações fisiológicas que ocorrem com a senescência, comumente associadas às condições mórbidas. Nesse processo, a diminuição progressiva da capacidade funcional é a principal alteração encontrada e que pode levar à chamada incapacidade funcional, que se relaciona à inabilidade ou dificuldade de a pessoa realizar tarefas físicas básicas ou mais complexas, necessárias à vida independente na comunidade, assim como tarefas relacionadas à mobilidade física(1).

Destarte, Souza e Santos(2) acrescentam que se a capacidade funcional não está preservada para às atividades da vida diária, deficiências de mobilidade, de percepção sensorial, controle esfincteriano e deterioração do estado nutricional concorrem para tornar os idosos suscetíveis a complicações, como a formação de úlcera por pressão (UPP), foco deste estudo. Assim, torna-se essencial detectar precocemente os indivíduos vulneráveis a esta condição, especialmente, pessoas idosas em declínio funcional de mobilidade física, a fim de evitar a perda de integridade da pele e/ou suas complicações, visto que pesquisas apontam elevadas taxas na morbidade e mortalidade nos portadores de UPP(3,4).

Nos últimos anos, vários estudos vêm utilizando o desempenho motor, a avaliação cognitiva e a independência funcional para avaliar a capacidade funcional de idosos(5-8), no entanto, poucos são aqueles que relacionam idade ao desenvolvimento de UPP.

Assim, durante a realização deste estudo, foi feita uma busca nas bases de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), utilizando os Descritores em Ciências da Saúde (Decs/MESH) – úlcera por pressão e capacidade funcional, que foram repetidos na língua inglesa e espanhola, sendo selecionados ao final apenas três artigos que abordavam a temática proposta. Destes, dois artigos eram internacionais(9,10) e um estudo realizado no Brasil(11).

Portanto, relacionar a capacidade funcional e o risco de UPP em pessoas idosas surge como uma necessidade, dentre as inúmeras, para a assistência aos idosos, visto que ambas as situações representam um problema de saúde pública. Assim, a presente pesquisa buscou caracterizar o perfil dos idosos com limitação física domiciliados no Município de João Pessoa-PB; avaliar a capacidade funcional dos idosos, com base na mobilidade física, estado cognitivo e nível de independência funcional para as atividades de vida diária e relacionar a capacidade funcional com o risco de desenvolvimento de UPP.

MÉTODOS

Estudo de abordagem quantitativa, transversal, tipo inquérito domiciliar, integrante de uma pesquisa maior, "Condições de vida e de saúde de idosos de Ribeirão Preto-SP e de João Pessoa-PB: um estudo comparado" que avaliou as condições de saúde dos idosos com idade igual ou superior a 60 anos residentes na área urbana do Município de João Pessoa, Paraíba.

O processo amostral foi realizado por conglomerados em dois estágios, no primeiro estágio, foram sorteados 20 setores censitários com probabilidade proporcional ao número de domicílios, entre os 617 setores do Município de João Pessoa-PB conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2007; em seguida, foi identificada a localização no mapa do Município. Imediatamente, foram listadas as ruas de cada setor e, posteriormente, realizou-se novo sorteio para determinar as ruas a serem visitadas pelos entrevistadores. No segundo estágio, foi visitado um número fixo de domicílios, com a finalidade de garantir a autoponderação amostral, sendo sorteada a rua e a quadra onde esse processo de busca seria iniciado. Portanto, para o cálculo amostral foram adotados os seguintes parâmetros estatísticos: definiu-se uma amostra de 240 indivíduos, o que garantiu um erro máximo de 6,3% com 95% de probabilidade, considerando uma população referência de 61 281 idosos de 60 anos e mais de acordo com o IBGE em 2007. Para se chegar ao valor de n = 240, foi planejado o sorteio de 20 setores censitários entre os 617 existentes. Em seguida, foram visitados 12 idosos por setor censitário.

Dentre as condições de saúde dos 240 idosos que fizeram parte do inquérito domiciliar, foram identificadas 51 pessoas idosas com limitação física, que constituíram a amostra do presente estudo, obedecendo aos critérios de inclusão estabelecidos previamente: ter 60 anos ou mais, residir na área urbana do Município, apresentar alguma limitação física como não conseguir deambular ou possuir grande ou pequena dificuldade para deambular, critérios estes instituídos em instrumento específico. Portanto, o não atendimento a um desses critérios implicou a não inclusão de idosos no n-amostral.

Após aceitarem fazer parte do estudo, os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. A coleta dos dados ocorreu em duas etapas simultâneas nos meses de abril a junho de 2011: a primeira foi realizada por uma equipe de sete pesquisadores, pós-graduandos, treinados para aplicação dos instrumentos de coleta de dados. Estes utilizaram a técnica de entrevista com o idoso e, quando este possuía déficit cognitivo, consultavam a pessoa responsável ou seu cuidador. Nesta abordagem, quando identificavam idosos em declínio de mobilidade física, conforme o instrumento específico, a equipe de entrevistadores encaminhava-os à pesquisadora responsável por este estudo para retornar ao domicílio do pesquisado. Neste retorno, segunda etapa, realizava-se uma nova entrevista para avaliar a capacidade funcional do idoso e o risco para o desenvolvimento de UPP, seguida de exame minucioso da pele do pesquisado para identificação de UPP.

Para a coleta de dados, utilizaram-se instrumentos estruturados, aplicados, conforme cada etapa considerada. Na primeira entrevista, foram usados: um instrumento de identificação do idoso, elaborado pelos membros do Núcleo de Pesquisa em Enfermagem Geriátrica e Gerontológica (NUPEGG) da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP); o Miniexame do Estado Mental (MEEM) elaborado por Folstein et al.(12), sendo escolhida a tradução e adaptação de Bertolucci et al.(13); e o Instrumento de identificação e encaminhamento de idosos com alguma limitação física, elaborado pelas pesquisadoras deste estudo. Na segunda entrevista, aplicavam as Escala de Katz(14), adaptada e validada no Brasil por Lino et al(15); e a Escala de Braden(16), traduzida e validada no Brasil por Paranhos e Santos(17); e um Instrumento de Avaliação do Portador de UPP, elaborado pelas autoras deste estudo.

Os dados foram duplamente digitados e validados em uma planilha do programa Microsoft Excel, sendo os cálculos estatísticos realizados no software SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), versão 15. Para a análise dos dados, foram obtidas distribuições absolutas, percentuais univariadas e bivariadas e as medidas estatísticas: média, mediana e desvio padrão (técnicas de estatística descritiva), e também técnicas de estatística inferencial por meio do teste Qui-quadrado de Pearson ou ao teste Exato de Fisher, quando não havia condições para utilização do primeiro. Ressalta-se que o nível de significância utilizado nas decisões dos testes estatísticos foi de 5% e os intervalos foram obtidos com 95% de confiança.

O projeto desta pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba, protocolo n.º 0124/11.

RESULTADOS

A maioria dos participantes era do gênero feminino (56,9%), idade média de 80,51 anos (mediana de 81,00 anos, desvio padrão de 9,06 anos e coeficiente de variação de 11,25%); 54,9%. Os idosos autorreferiram pele de cor não branca, 41,1% eram viúvos e 70,6% de religião católica. Trinta pesquisados (58,8%) sabiam ler e escrever.

Quanto à renda individual, 62,7% recebiam um salário-mínimo, sendo 90,2% provenientes de aposentadoria; quanto à renda familiar, registram-se variações: 5,9% com renda familiar menor ou igual a um salário, 41,1% maior que um a três salários, e 27,5% maiores que três salários; no entanto, 25,5% não informaram a renda. Verificou-se também que um número significativo (86,3%), possuía cuidador no domicílio, representado por membros da família, como cônjuges e filhos.

Em relação às condições clínicas dos idosos, nos dados da Tabela 1 são apresentados os problemas de saúde ou doença de base, sendo as maiores frequências para: hipertensão arterial (51%), audição ou visão prejudicada (43,1%) e incontinência urinária ou fecal (43,1%).

Conforme a Tabela 1, a doença neurológica obteve uma maior frequência nos idosos com 80 anos ou mais (55,6%). Por outro lado, a DM e a ansiedade foram maiores entre os 60 e 79 anos, porém as diferenças não foram estatisticamente significativas. Apenas a doença neurológica apresentou associação significativa para a faixa etária (p < 0,05).

Quanto aos tipos de medicamentos em uso: anti-hipertensivos (43,1%), psicotrópicos (29,4%), hipoglicemiantes (21,6%) e neurolépticos (19,6%), além de outras medicações em menor escala, como vasoativos cerebrais e/ou periféricos, seguidos de suplementos de vitaminas/minerais/aminoácidos, antiplaquetários, insulina, antiácidos, anti-inflamatórios e outros.

Sendo assim, no que se refere ao declínio da capacidade funcional, os idosos com 80 anos ou mais representaram o grupo de maior comprometimento, conforme as variáveis limitação física, estado cognitivo e independência funcional para AVD. Quanto à limitação física, verificou-se que 33,3% tinham grande dificuldade para deambular, e que 56,9% não conseguiam deambular.

Considerando a capacidade funcional pelo índice de Katz(15), 54,9% dos idosos eram totalmente dependentes para as AVD. Quanto ao estado cognitivo, segundo o Miniexame do Estado Mental (MEEM), foi observada uma associação significativa (p< 0,05) com o aumento da idade, visto que o número de idosos com déficit cognitivo foi maior entre aqueles com 80 anos ou mais (85,2%).

Os resultados das análises bivariadas das associações entre limitação física e índice de Katz, assim como a relação entre estado cognitivo e índice de Katz são apresentados nos dados da Tabela 2. Encontrou-se que, para a primeira associação, o percentual de idosos dependentes em cinco a seis tarefas foi elevado (p<0,005) entre os que não conseguiam deambular (70,6%). Já para o estado cognitivo e o índice de Katz, dos 34 idosos dependentes em cinco a seis tarefas, a maioria, 29 (85,3%) apresentava déficit cognitivo.

Ainda foi possível identificar uma relação entre o nível de dependência funcional dos idosos e a presença do cuidador. As pessoas dependentes de três a seis tarefas foram correspondentemente maioria entre os idosos que dispunham de cuidador (88,6%), comparado com aqueles que não possuíam (14,3%).

Para a avaliação de risco para UPP entre os idosos, conforme a Escala de Braden, de acordo com a faixa etária, foram identificados 49% dos idosos com algum nível de risco para UPP (Tabela 3).

Foi possível visualizar diferenças percentuais nas duas faixas etárias, haja vista que a maior parte dos idosos classificados em algum nível de risco refere-se às pessoas com 80 anos ou mais (16; 59,3%).

Os achados possibilitaram empregar o teste Exato de Fisher para associações entre os escores de risco para UPP e as variáveis: limitação física, estado cognitivo pelo MEEM e independência funcional pela Escala de Katz, sendo estatisticamente significativos para p< 0,05.

Foram identificados quatro idosos com UPP, uma prevalência de (7,8%), e por meio de análises estatísticas, verificou-se uma associação entre a maior dependência funcional para AVD e a presença da lesão.

DISCUSSÃO

Quanto ao perfil dos pesquisados predominaram os chamados idosos mais idosos (80 anos ou mais), fato explicado pela maior ocorrência com o avançar da idade de limitações físicas e, portanto, critério de inclusão do estudo. Os demais dados demográficos apresentados foram corroborados por resultados obtidos em estudos nacionais(18-20). Já a presença do cuidador no domicílio justificou-se pela dependência de cuidados que eles apresentavam, também identificada por Amendola et al.(21).

No que diz respeito às condições clínicas, 80,4% relataram possuir quatro ou mais morbidades. Assim, partindo desses achados, infere-se que tais condições de saúde contribuem para o declínio funcional de mobilidade física e dependência funcional para a realização das AVD na população estudada, também confirmado em um estudo de Alves et al.(22), no qual se evidenciou a influência das doenças crônicas sobre a dependência funcional de idosos residentes no Município de São Paulo.

Concernente à avaliação da capacidade funcional, os dados da Tabela 2 evidenciam elevado comprometimento na capacidade funcional dos idosos com 80 anos ou mais, como limitação física mais acentuada, déficit cognitivo e maior nível de dependência para AVD, situação também comprovada em pesquisas anteriores(18-19,23).

As análises bivariadas da Tabela 2 confirmam as associações diretamente proporcionais entre o declínio funcional de mobilidade física (limitação física) e a maior dependência para as AVD entre os idosos, igualmente, aqueles com desempenho cognitivo comprometido apresentaram-se mais dependentes. Nesta última correlação, observa-se ainda que alguns idosos sem déficit cognitivo, já apresentavam certo nível de dependência para as AVDs. Tais correlações convergem com diversos estudos nacionais (18-19, 24-25).

Um estudo internacional mostrou que, quando um indivíduo envelhece, alguns sistemas orgânicos experimentam um declínio de função, e é comum associá-lo ao processo de envelhecimento. Mas, embora essas alterações pouco influenciem nas necessidades diárias da maioria dos idosos, agravos à saúde que ocorram nos sistemas sensorial, neurológico e musculoesquelético podem colocar certos indivíduos em risco de desenvolver alguma restrição funcional(26).

Foi possível averiguar que a quase metade (49%) dos idosos estava classificada em algum nível de risco para UPP, conforme a Escala de Braden. No entanto, vale salientar que as pessoas não classificadas com risco devem ser acompanhadas quanto à presença de outros fatores, intrínsecos ou extrínsecos, visto que a própria idade avançada e as condições clínicas, verificadas nesta e em outras pesquisas(27,28), denunciam a vulnerabilidade dessas pessoas quanto à perda da integridade da pele.

Observaram-se também diferenças estatisticamente significativas, entre os escores de risco para UPP da escala de Braden e as variáveis limitação física, estado cognitivo e nível de independência funcional para AVD. Algumas categorias dessas variáveis coincidem com algumas subescalas da Escala de Braden, reforçando a correlação. Portanto, verificou-se que, quanto maior o comprometimento da mobilidade física maior foi o número de idosos com algum risco na Escala de Braden para a formação de lesão na pele, condição consensual e descrita em estudos(29,30). Na mesma direção, as perdas cognitivas, geralmente, determinadas pela senilidade e doenças de base, como cardiovasculares, neurológicas e degenerativas implicam vários fatores, desde a inabilidade de autocuidado, até as perdas sensitivas e de mobilidade física que, juntas, predispõem a pessoa ao risco de UPP(29). Portanto, a presença de déficit cognitivo e a classificação de risco para UPP da Escala de Braden estão correlacionadas.

Avaliando-se o nível de independência funcional para AVD e o risco de UPP, as associações foram significativas, demonstrando-se que o aumento da dependência para a realização de AVD está diretamente relacionado ao decréscimo no escore da Escala de Braden, já que quanto maior o nível de dependência para a realização das atividades, conforme encontrado no estudo, maior o risco para UPP, resultado também confirmado por Lisboa(28) e Faustino(31). Da mesma forma, no estudo atual e em outros nacionais e internacionais(10-11,28,32), a maior dependência funcional para AVD contribuiu para a presença de UPP.

Neste estudo, considera-se que o objeto investigado poderia ser melhor retratado com a ampliação da amostra e com a inclusão de variáveis, como a avaliação do estado nutricional. Entretanto, diante à escassez de estudos sobre a capacidade funcional e UPP, esta pesquisa poderá despertar nos profissionais da área de saúde, em especial, os enfermeiros, e também no sistema de saúde como um todo, um olhar específico sobre o risco de UPP, que incide, sobretudo nos idosos com capacidade funcional comprometida que necessitam de assistência permanente em seus domicílios.

CONCLUSÃO

A maioria dos pesquisados eram os chamados idosos mais idosos (80 anos ou mais), com déficit cognitivo e elevados níveis de dependência para as atividades de vida diária, o que permitiu observar, juntamente com o declínio de mobilidade física, que eles estavam com comprometimento na capacidade funcional, e, esta por sua vez, quanto mais prejudicada maior era o risco de desenvolver UPP no idoso. Deste modo, detectar precocemente os indivíduos com indicativos de incapacidade funcional e risco para UPP contribui substancialmente para o planejamento de ações preventivas no âmbito domiciliar, melhora a qualidade de vida, reduz a morbidade e até mesmo a mortalidade nessa população.

AGRADECIMENTOS

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo financiamento da pesquisa maior: Condições de vida e de saúde de idosos de Ribeirão Preto-SP e de João Pessoa-PB: um estudo comparado.

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    Evaluación de la capacidad funcional de ancianos asociada al riesgo de úlcera por presión
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      27 Fev 2013
    • Data do Fascículo
      2012

    Histórico

    • Recebido
      06 Fev 2012
    • Aceito
      23 Jul 2012
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