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Interação de genótipos de abobrinha italiana com inseticida no controle da broca das cucurbitáceas Diaphania nitidalis Cr.

Interaction of squash genotypes with insecticide on the control of the pickleworm Diaphania nitidalis Cr.

Resumos

A resistência de genótipos de abobrinha italiana Cucurbita pepo L. à broca das cucurbitáceas Diaphania nitidalis Cr. foi avaliada a campo. O genótipo Duda apresentou o maior número de frutos produzidos (33 frutos/parcela), enquanto Lita-186 foi o mais preferido, com a maior percentagem de frutos broqueados (3,6%). Os genótipos AG-202, Lita-186 e Duda, mais o inseticida deltametrina 25 CE foram avaliados. Duda comportou-se novamente como mais produtivo (35 frutos/parcela) e menos danificado (0,35%), confirmando os resultados obtidos no primeiro ensaio; já os genótipos AG-202 e Lita-186 revelaram-se os mais preferidos por D. nitidalis, com maiores índices de frutos danificados (2,7 e 6,3%, respectivamente).

Insecta; Lepidoptera; Pyralidae; resistência de plantas


Resistance to the pickleworm Diaphania nitidalis Cr. on squash genotypes Cucurbita pepo L. was evaluated in the field. The number of fruits and the percentage of the bored fruits were observed on the genotypes Caserta AG-202, HE-303, Clarice AG-772, Lita-186, Duda, and Novita. Genotype Duda produced the greatest number of fruits (33 fruits/plot). Genotype Lita-186 was the most preferred with the greatest number of damaged fruits (3.6), while genotype Duda was not damaged. Genotypes AG-202, Lita-186 and Duda, were selected to observe the interaction of squash genotypes with deltamethrin insecticide 25 CE to control the pickleworm. Genotype Duda was the most productive (35 fruits/plot) and least damaged one (0.35%), confirming the results of the 1st experiment. Genotypes AG-202 and Lita-186 were greatly preferred by D. nitidalis (2.7 and 6.3%, respectively).

Insecta; Lepidoptera; Pyralidae; host plant resistance


PROTEÇÃO DE PLANTAS

Interação de genótipos de abobrinha italiana com inseticida no controle da broca das cucurbitáceas Diaphania nitidalis Cr.

Interaction of squash genotypes with insecticide on the control of the pickleworm Diaphania nitidalis Cr.

Edson L. L. BaldinI; Fernando M. LaraI

IDepartamento de Entomologia e Nematologia, FCAV-UNESP, Campus de Jaboticabal, Rodovia Carlos Tonanni, km 5, 14.870-000, Jaboticabal, SP

RESUMO

A resistência de genótipos de abobrinha italiana Cucurbita pepo L. à broca das cucurbitáceas Diaphania nitidalis Cr. foi avaliada a campo. O genótipo Duda apresentou o maior número de frutos produzidos (33 frutos/parcela), enquanto Lita-186 foi o mais preferido, com a maior percentagem de frutos broqueados (3,6%). Os genótipos AG-202, Lita-186 e Duda, mais o inseticida deltametrina 25 CE foram avaliados. Duda comportou-se novamente como mais produtivo (35 frutos/parcela) e menos danificado (0,35%), confirmando os resultados obtidos no primeiro ensaio; já os genótipos AG-202 e Lita-186 revelaram-se os mais preferidos por D. nitidalis, com maiores índices de frutos danificados (2,7 e 6,3%, respectivamente).

Palavras-chave: Insecta, Lepidoptera, Pyralidae, resistência de plantas.

ABSTRACT

Resistance to the pickleworm Diaphania nitidalis Cr. on squash genotypes Cucurbita pepo L. was evaluated in the field. The number of fruits and the percentage of the bored fruits were observed on the genotypes Caserta AG-202, HE-303, Clarice AG-772, Lita-186, Duda, and Novita. Genotype Duda produced the greatest number of fruits (33 fruits/plot). Genotype Lita-186 was the most preferred with the greatest number of damaged fruits (3.6), while genotype Duda was not damaged. Genotypes AG-202, Lita-186 and Duda, were selected to observe the interaction of squash genotypes with deltamethrin insecticide 25 CE to control the pickleworm. Genotype Duda was the most productive (35 fruits/plot) and least damaged one (0.35%), confirming the results of the 1st experiment. Genotypes AG-202 and Lita-186 were greatly preferred by D. nitidalis (2.7 and 6.3%, respectively).

Key words: Insecta, Lepidoptera, Pyralidae, host plant resistance.

O Estado de São Paulo é o maior produtor de hortaliças e tem o maior mercado consumidor do Brasil. Em 1993, realizou-se um levantamento de 56 espécies cultivadas no Estado e constatou-se que dentre estas hortaliças a abobrinha italiana Cucurbita pepo L. contribuiu com 0,78% do volume total do Estado (Camargo & Camargo Filho 1993). Os frutos das cucurbitáceas constituem alimentos basicamente energéticos, devido aos altos teores de açúcares, vitaminas e amido (Saturnino et al. 1982). Barbosa & França (1982) citam que as lagartas e besouros causam danos diretos à abobrinha italiana, pela destruição de hastes, folhas, frutos ou flores.

A primeira ocorrência de Diaphania nitidalis Cr. foi registrada por Walsh & Riley em 1869 (citados por Smith 1911), destruíndo frutos de pepino (Cucumis sativus L.) nos Estados Unidos. No Brasil, a primeira referência foi feita por Bondar (1912), o qual chamou a atenção sobre os prejuízos causados em frutos de melão (Cucumis melo L.) e pepino. Dentre as pragas das cucurbitáceas, essa broca tem grande importância pelos elevados prejuízos que causa a estas culturas, podendo atingir até 100%, quando mal monitoradas (Figueiredo Jr. & Andrade 1943). Segundo Gallo et al. (1988), a praga ataca as folhas, brotos novos, ramos e principalmente os frutos de qualquer idade da abobrinha italiana, onde abrem galerias e destroem a polpa, inutilizando-os para o mercado. Para controle, destacam-se diversos métodos como a rotação de culturas, o controle biológico, o controle químico e, principalmente, o desenvolvimento de variedades resistentes.

O objetivo do trabalho foi constatar os efeitos da interação de variedades de abobrinha italiana com o inseticida deltametrina 25 CE, no controle da broca das cucurbitáceas D. nitidalis.

Material e Métodos

Foram realizados dois ensaios à nível de campo em áreas experimentais do Departamento de Horticultura, pertencentes a FCAV-UNESP, Campus de Jaboticabal-SP. O primeiro ensaio teve início em 04/01/95, quando se efetuou o plantio dos genótipos Caserta AG-202, HE-303, Clarice AG-772, Duda, Novita e Lita-186, em delineamento de blocos casualizados, espaçadas de 1,0 m entre linhas por 1,0 m entre plantas. Realizaram-se duas avaliações (16 e 23/02/95), contando-se o número total e o número de frutos broqueados por genótipo. Os frutos broqueados foram conduzidos ao laboratório, para a contagem e avaliação das lagartas quanto as suas características morfológicas, visando a confirmação da espécie. Após, as lagartas foram recolocadas nos frutos, sendo estes mantidos no interior de arenas cilíndricas de PVC, cobertas com tecido "voil", até o inseto atingir o estado adulto para confirmação da espécie. Os dados obtidos foram submetidos a análise de variância, sendo as médias comparadas pelo teste de Tukey (P&lt0,05).

Baseado nos resultados do primeiro ensaio, selecionaram-se os genótipos Caserta AG-202, Duda e Lita-186, para verificar suas interações com o inseticida deltametrina (Decis 25 CE). Estes genótipos foram semeados em 07/04/95, utilizando-se o mesmo delineamento do ensaio anterior, com quatro repetições e 15 tratamentos por bloco, espaçadas de 1,0 m entre plantas por 1,0 m entre linhas e 2,0 m entre blocos. Utilizaram-se os seguintes tratamentos: T1 (testemunha, sem aplicação de inseticida), T2 (uma aplicação em 15/05/95 início do florescimento), T3 (duas aplicações), T4 (três aplicações) e T5 (quatro aplicações). Os tratamentos 3, 4 e 5 foram realizados a intervalos de uma semana. Realizaram-se quatro avaliações, juntamente com a coleta de frutos em 22/05, 29/05, 05/06 e 12/06. Avaliaram-se o número total e o número de frutos broqueados. Os frutos broqueados foram também, neste ensaio, conduzidos até o laboratório para isolamento e criação das lagartas, seguindo a metodologia anteriormente citada. Os dados obtidos foram submetidos a análise de variância em esquema fatorial (3x5) e as médias comparadas pelo teste de Tukey (P&lt0,05).

Resultados e Discussão

O número médio de frutos obtidos no primeiro ensaio (Tabela 1) revela que o genótipo Duda apresentou as maiores médias de produção de frutos, diferindo significativamente das demais e revelando-se como o mais produtivo. Os genótipos Lita-186, Caserta AG-202, Novita e HE-303 mostraram produções intermediárias; já Clarice AG-772 destacou-se como o menos produtivo. O genótipo Lita-186 apresentou o maior número de frutos atacados/parcela, revelando-se o mais preferido por D. nitidalis; já Duda não apresentou frutos broqueados, indicando ser resistente. Quanto às percentagens de frutos atacados/parcela (Tabela 1), observa-se que não houve diferença significativa entre os genótipos, exceção feita ao Duda que não apresentou frutos atacados e portanto não constou das análises estatísticas. Uma análise geral dos dados obtidos sugere que o genótipo Duda apresenta resistência a D. nitidalis. Poder-se-ia sugerir a possibilidade de pseudo-resistência, porém, o florescimento e formação dos frutos de todos os genótipos ocorreu na mesma época, excluindo portanto uma eventual assincronia fenológica (evasão hospedeira).

A partir dos dados obtidos no segundo ensaio, observa-se que o genótipo Duda produziu o maior número de frutos, revelando-se novamente como o mais produtivo. A interação dos genótipos com o inseticida foi não significativa quanto à produtividade, indicando que o número de aplicações de deltametrina 25 CE não interferiu na produção desses genótipos (Tabela 2).

Quanto à percentagem de frutos atacados nota-se que, no geral, o genótipo Duda foi aquele que apresentou menor número de frutos broqueados/parcela nas quatro avaliações realizadas durante o ensaio, independente do número de aplicações efetuadas. Comportamento semelhante, frente a D. nitidalis, foi observado por Brett & Sullivan (1970), citados por Lara (1991), que constataram que o genótipo de abóbora Buternut 23 foi altamente resistente a broca, não necessitando de aplicações do inseticida carbaril (Sevin 80 PM).

As percentagens de frutos broqueados (Tabela 2) mostram que na primeira avaliação o genótipo Lita-186 apresentou as maiores percentagens de frutos danificados, já o genótipo Duda, juntamente com o Caserta AG-202 apresentaram índices mais baixos de ataque. Ainda na primeira avaliação, notou-se que a interação foi não significativa, indicando que os diferentes tratamentos não influenciaram no ataque da praga. Na segunda avaliação notou-se que o genótipo Duda continuou sendo o menos preferido por D. nitidalis. A interação de genótipos com inseticida foi significativa e é possível notar a interferência dos diferentes tratamentos no ataque da praga, uma vez que todos diferiram da testemunha, reduzindo a percentagem de frutos atacados. Na terceira e quarta avaliações, o genótipo Duda continuou se destacando como o menos preferido, confirmando ser resistente. Nestas duas avaliações, as interações foram novamente significativas, já que todos os tratamentos diferiram da testemunha, controlando a praga em estudo. Alguns autores têm mostrado a necessidade de diversas aplicações de inseticidas para o controle da broca das cucurbitáceas, como Kinoshita et al. (1971), que alcançaram 97% de controle com carbaril (Sevin 80 PM) na variedade de abobrinha italiana Caserta, efetuando quatro pulverizações (espaçadas de sete dias) e Botelho et al. (1975), que obtiveram 100% de controle com cinco aplicações dos inseticidas metomil (Lannate L.) e cartap (Padan 50 PS) (também com sete dias de intervalo), utilizando aquela mesma variedade. No entanto, ao se integrar o controle químico com variedades, a análise geral dos resultados obtidos neste trabalho sugere que os genótipos testados não necessitam de várias aplicações para o controle da broca, como sugerem Lorini & Foerster (1987) para a cultura do pepino, uma vez que, a diferença de tempo entre as avaliações mostraram que o tratamento 2 (uma aplicação) pode ser tão eficiente no controle da praga como o tratamento 5 (quatro aplicações), em infestações de até 37,8 % como observado no ensaio (Fig. 1). Em resumo, o genótipo Duda foi resistente ao ataque de D. nitidalis. Os genótipos Caserta AG-202 e Lita-186, por serem mais preferidos requerem maior controle e monitoramento, uma vez que a presença da broca pode representar prejuízos consideráveis às suas produções.


Agradecimentos

À FAPESP pela bolsa de Iniciação Científica fornecida ao primeiro autor, ao CNPq pela Bolsa de Produtividade em Pesquisa fornecida ao segundo autor e ao Prof. Dr. José C. Barbosa pelo auxílio nas análises estatísticas.

Literatura Citada

Recebido em 03/09/97. Aceito em 28/09/98.

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  • Botelho, P. S. M., O. Nakano & R. J. Rodella. 1975. Ação de alguns inseticidas sobre a broca das cucurbitáceas Margaronia nitidalis (Cramer, 1782). Rev. de Agricultura 50: 157-161.
  • Camargo, A. M. M. P. de & W. P. Camargo Filho. 1993. Produção de hortaliças no Estado de São Paulo, 1993. Inst. Econ. Agric. (Projeto SPTC 16-006/91), 6p.
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  • Saturnino, H. M., B. M. de Paiva, V. P. M. Contijo & O. P. L. Fernandes. 1982. Cucurbitáceas: aspectos estatísticos. Inf. Agropec. 8: 54-56.
  • Smith, R. I. 1911. Two important cantaloup pests. West Raleigh, North Carolina Agric. Exp. Sta. Tech. Bull., 214, 42p.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Jun 2006
  • Data do Fascículo
    Dez 1998

Histórico

  • Recebido
    03 Set 1997
  • Aceito
    28 Set 1998
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