Acessibilidade / Reportar erro

Comportamento de corte e cópula do predador Supputius cincticeps (Stal) (Heteroptera: Pentatomidae) em laboratório

Courtship and copulation behavior of the predator Supputius cincticeps (Stal) (Heteroptera: Pentatomidae) in laboratory

Resumo

The mating behavior of the predator Supputius cincticeps (Stal) was investigated in the laboratory. Courtship and copulation descriptions were based on direct observations of 40 virgin couples. Results showed that males begun courtship by moving the antennae and walking toward females, immediately after they noticed their presence. Then, males mounted females and tried to copulate. In many cases, males were rejected by females. When copulation was successful, males placed the edeagus into females, turned 180º and assumed a position opposite to the female.

Insecta; Asopinae; mating; biological control


Insecta; Asopinae; mating; biological control

COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

Comportamento de corte e cópula do predador Supputius cincticeps (Stal) (Heteroptera: Pentatomidae) em laboratório

Courtship and copulation behavior of the predator Supputius cincticeps (Stal) (Heteroptera: Pentatomidae) in laboratory

Fernando A. C. Mendonça; Marliton R. Barreto; Sebastião Assis Jr.; Alberto L. Marsaro Jr.

Departamento de Biologia Animal, UFV, 36571-000, Viçosa, MG

ABSTRACT

The mating behavior of the predator Supputius cincticeps (Stal) was investigated in the laboratory. Courtship and copulation descriptions were based on direct observations of 40 virgin couples. Results showed that males begun courtship by moving the antennae and walking toward females, immediately after they noticed their presence. Then, males mounted females and tried to copulate. In many cases, males were rejected by females. When copulation was successful, males placed the edeagus into females, turned 180º and assumed a position opposite to the female.

Key words: Insecta, Asopinae, mating, biological control.

A corrida em busca de novas fontes ener géticas fez do Brasil o quarto país do mundo em implantação de maciços florestais homo gêneos, com destaque para a eucaliptocultura (Zanuncio et al. 1994). Paralelamente ao incre mento das áreas de plantio de eucalipto (Euca lyptus spp.), os problemas entomológicos fo ram aumentando e, além das formigas corta deiras, surgiram os problemas com lepidópteros desfolhadores (Santos et al. 1990). O uso de percevejos predadores no controle destes insetos é uma estratégia viável (Zanuncio et al. 1994). Supputius cincticeps (Stal) é um percevejo predador, encontrado em eucaliptais, e cuja biologia vem sendo elucidada (Vinha-Za núncio 1992, Assis Jr. 1995), com o intuito de utilizá-lo no controle de pragas. O trabalho te ve por objetivo estudar o comportamento de corte e acasalamento de S. cincticeps, visando esclarecer aspectos de sua reprodução. Os insetos foram obtidos no Insetário da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Ninfas foram agrupadas em potes plástico de 500 ml e alimentadas com larvas de mosca (Musca domestica L.). Adultos recém-emergidos foram transferidos para placas de Petri (9,0 x 1,5 cm) e alimentados com larvas de Tenebrio molitor L. Nas placas, foram colocados chumaços de algodão com água destilada. Os bioensaios foram conduzidos em sala a 25± 1°C, 70±5% U.R. e fotoperíodo de 12 h. Após a sexagem, foram separados, 40 casais (2 a 4 dias de idade) em dois lotes de 20 casais, colocados em câmaras distintas, com fotoperíodo de 12 h, cerca de 70% U.R. e 25°C. Cada casal foi colocado em uma arena circular (14,0 x 2,0 cm), forrada com papel-filtro. Foram registrados de modo descritivo e ininterruptamente os comportamentos associados à corte e ao acasalamento (Sordillos & Almeida 1988, Carvalho et al. 1995).

Após a introdução dos casais nas arenas os insetos moveram-se para explorar o novo ambiente, ocorrendo períodos de imobilidade como o observado para P. nigrispinus, não apresentando uma seqüência comportamental com etapas definidas (Carvalho et al. 1995).

Em geral, os machos deslocam-se em direção à parceira, indicando que além de estímulos visuais, as fêmeas produzem compostos químicos que poderiam atuar no reconhecimento do coespecífico a curta distância (Carvalho et al. 1995). Segundo Aldrich (1995) os machos de P. nigrispinus são os responsáveis pela produção do feromônio sexual por meio da glândula abdominal dorsal (GAD) que atrai as fêmeas a longa distância. A localização do parceiro coespecífico pode envolver uma procura ativa do mesmo ou simplesmente um sexo ficando a espera do outro nas proximidades (Atkins 1980). Segundo esse mesmo autor, em alguns hemípteros, o macho aproxima-se de qualquer objeto de tamanho e forma adequados que se movimente, quer seja ou não seu coespecífico.

Observou-se que os machos executaram movimentos com as antenas, tocando o dorso das fêmeas, posicionando suas antenas em "V" quando tentavam efetuar a cópula, enquanto estas posicionaram as antenas em "V" para cima. Tal comportamento dos machos parece estar relacionado com a tentativa de obter a aceitação e imobilidade da fêmea. Os machos deslocaram-se para o dorso das fêmeas a partir da extremidade anterior, posterior ou lateralmente, posicionando-se com a cabeça no mesmo sentido em que se encontrava a cabeça da fêmea. Machos movimentaram-se sobre as fêmeas, tocando com as antenas a extremidade posterior do abdome, e retomando e posicionando com a cabeça no mesmo sentido das fêmeas (Fig. 1). Observou-se que, na maioria das vezes, as fêmeas permaneceram imóveis enquanto os machos tentavam iniciar a cópula. Em alguns casos houve rejeição de machos, com as fêmeas afastando-os com as pernas posteriores ou inclinando o abdome para cima, inviabilizando a cópula (Fig. 1). Tal comportamento foi observado por Carvalho et al. (1995) em P. nigrispinus. As fêmeas são geralmente seletivas na escolha de parceiro (Thomhill & Alcock 1983). Nos machos, ao contrário, praticamente não se observa este comportamento de recusa seletiva ao acasalamento. A resposta negativa das fêmeas pode variar desde da simples recusa, esquivando-se do assédio do macho, assumindo uma posição que dificulte a cópula; até uma atitude agressiva, contra aqueles que relutarem em continuar o assédio. Após a monta, os machos deslocam-se para as laterais do corpo das fêmeas, prendendo-as com as pernas. Alguma vezes, as fêmeas tentaram esquivar-se, movimentando-se dentro da arena, dificultando a introdução do edeago. Quando os macho conseguiam unir-se às fêmeas, estes giraram o corpo em 180°, assumindo uma posição típica em Pentatomidae, ficando em posição oposta à parceira (Fig. 1). Observou-se que alguns machos realizaram movimentos rítmicos com as patas posteriores no abdome das fêmeas, tendo provavelmente, tal atitude a função de estimular mecanicamente a ovulação das fêmeas (Huyton & Langley 1982) ou ainda, podendo estar relacionado com a transferência de esperma. Comportamento semelhante foi observado (Amaral Filho 1981, Almeida & Xerez 1986, Sordillo & Almeida 1988, Carvalho et al. 1995), para outras espécies de heterópteros.


Agradecimentos

Os autores agradecem à Terezinha M. C. Della Lúcia, Departamento de Biologia Animal, UFV, pelas valiosas críticas e sugestões apresentadas durante a elaboração do manuscrito e José C. Zanuncio, pelo fornecimento dos insetos utilizados nos testes.

Literatura Citada

Recebido em 07/08/95. Aceito em 24/02/97.

  • Aldrich, J.R. 1995. Chemical communication in the true bugs and parasitoid exploitation. p. 318-363. In: R. T. Carde & W. J. Bell (eds.) Chemical Ecology of insects. NewYork. Chapman & Hall, 433 p.
  • Almeida, J.R. & R.Xerez. 1986. Comportamento de acasalamento de Dysdercus mauros distant, (1901) (Hemiptera: Pyrrocoridae) em condições de laboratório. An. Soc. Entomol. Brasil 15:161-167.
  • Amaral Filho, B.F. 1981. Aspectos comportamentais de Phthia picta (Drury, 1970) em condições de laboratório (Hemiptera: Coreidae). Rev. Bras. Biol. 15:161-167.
  • Assis Júnior, S.L. 1995.Eucalyptus urophylla como alimento suplementar do predador Supputius cincticeps Stal, 1860 (Heteroptera: Pentatomidae)Tese de mestrado, UFV Viçosa, 73p.
  • Atkins, M.D. 1980. Introducion to insect behavior. NewYork, MacMilan Publushing Co., 237p.
  • Carvalho, R. da S., E.F. Vilela, M. Borges & J.C. Zanuncio. 1995. Comportamento de acasalamento do predador Podisus nigrispinus (Dallas), em laboratório. An. Soc. Entomol. Brasil 24:165-171.
  • Huyton, P. & P. A. Langley. 1982. Copulatory behavior of Tsé-tsé flies Glossina morsitans and G. austeni. Physiol. Entomol. 7:167-174.
  • Santos, G. P., N. Anjos., J. C. Zanuncio e T. V. Zanuncio. 1990. Eficiência do diflubenzuron à "lagarta-parda" do eucalipto, Thyrinteina arnobia Stoll, 1872 (Lepidoptera:Geometridae), em condições de campo e laboratório. An. Soc. Entomol. Brasil 19:345-354.
  • Sordillo, C.M.O. & J.R. de Almeida. 1988. Comportamento de corte e cópula de Triatoma pseudo maculata. Corrêa & Spinola, 1964 (Hemiptera: Reduviidae) sob condições de laboratório. An. Soc. Entomol. Brasil 17:47-69.
  • Thornhill, R. & J. Alcock. 1983. The evolution of insect mating system, Cambridge, Havard University Press, 547p.
  • Vinha-Zanuncio,T.V. 1992. Biologia do predador Supputius cincticeps (Hemiptera: Pentatomidae) em larvas de Musca domestica e de Tenebrio molitor. Tese de mestrado, UFV, Viçosa, 59p.
  • Zanuncio, J.C., R.N.C. Guedes,A.P. Cruz & O.S. Gomes. 1994. Controle de lagartas desfolhadoras de eucalipto no trópico úmido, com os inseticidas deltametrina e permetrina. An. Soc. Entomol. Brasil 23: 237-241.
  • Zanuncio, J. C., J. B. Alves, J. E. M. Leite, C. E. Nascimento & R. C. Sartorio. 1992. Métodos para criação de Hemipteros predadores de Lagartas. An. Soc. Entomol. Brasil 21:245-251.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Mar 2007
  • Data do Fascículo
    Abr 1997

Histórico

  • Aceito
    24 Fev 1997
  • Recebido
    07 Ago 1995
Sociedade Entomológica do Brasil Caixa postal 481 - CEP 86001-970, Londrina - PR - Brasil, Fone:(43) 3376 2262, Fax: (43) 3342 3987 - Londrina - PR - Brazil
E-mail: suemart@sercomtel.com.br