APRESENTAÇÃO
Neste primeiro número de 2004, após o sucesso do II Encontro da ANPPAS ocorrido em maio de 2004 em Indaiatuba (SP), a revista apresenta um conjunto de textos que abordam a temática do meio ambiente sob as óticas do desenvolvimento, da saúde, das metodologias, da inovação tecnológica, dos processos construtivos, da governança global e das dinâmicas sócio-culturais.
Estes temas, na sua diversidade de abordagens e conteúdos, refletem o nosso compromisso com a pluralidade de perspectivas epistemológicas e valorativas. A problemática ambiental induz um processo mais complexo do conhecimento e do saber para apreender as tendências materiais que configuram o campo das relações sociedade-natureza, estimulando a interação entre as áreas de conhecimento.
As transformações societais em curso demandam cada vez mais concepções interdisciplinares para orientar tanto estratégias de pesquisa e de formação de políticas ambientais e de desenvolvimento sustentável, devendo-se reconhecer os efeitos das políticas econômicas vigentes sobre a dinâmica dos ecossistemas e sobre as condições de vida das comunidades.
Nesta edição contamos com sete artigos de pesquisa inéditos, um ensaio de Clovis Cavalcanti sobre Economia Ecológica e um texto em Resultados de Pesquisa, uma seção que fazemos questão de fortalecer como espaço de divulgação das atividades dos jovens pesquisadores.
Luciana Presas e Artur Mol desenvolvem e aplicam um modelo interpretativo na reforma ambiental de espaços urbanos transnacionais, pesquisando como os escritórios das empresas multinacionais em diferentes metrópoles estão sendo gerenciados e melhorados ambientalmente. O trabalho apresenta a síntese de 12 estudos de caso de interseção entre estratégias ambientais corporativas e as políticas ambientais urbanas de Amsterdã, São Paulo e Pequim.
O texto de Eduardo Viola discute a evolução da posição brasileira e sua relação com o sistema global na última década, analisando também a evolução da posição brasileira nas negociações sobre o Protocolo de Kioto.
Lúcia da Costa Ferreira traz em seu artigo uma avaliação sistemática, produto de extensa pesquisa sobre populações locais e proteção da biodiversidade no Vale do Ribeira. Discutem-se os marcos teóricos que sustentam a ação político-institucional da conservação da biodiversidade no Brasil. São discutidos os paradigmas de ilhas de biodiversidade circundadas por paisagens alteradas pela ação humana predatória; o paradigma bioregional, que prevê a criação e manutenção de redes de áreas protegidas integradas ao contexto regional e as mudanças de foco em direção às dinâmicas sociais no interior e no entorno das áreas consideradas prioritárias para conservação.
Hans van Bellen apresenta as principais características de três métodos que se propõem a mensurar o grau de sustentabilidade do desenvolvimento. Os métodos descritos e analisados são o Ecological Footprint Method, o Dashboard of Sustainability e o Barometer of Sustainability, e foram selecionados por especialistas que atuam em diferentes esferas da sociedade e que lidam com o conceito de desenvolvimento sustentável.
Thales de Andrade apresenta uma discussão exploratória acerca das articulações possíveis entre a problemática da inovação tecnológica e a questão ambiental, defendendo a tese que se faz necessário dar um passo acima em relação ao debate posto sobre a relação entre problemática ambiental e tecnologia.
O texto de Sonia Barbosa apresenta uma reflexão sobre identidade social e subjetividade em um estudo de caso entre pescadores artesanais do sudeste brasileiro, especificamente de Itaipu, Niterói, levando-se em consideração o número significativo de pessoas diagnosticadas pelo serviço de saúde pública como portadores de depressão, síndrome do pânico e outros transtornos psíquicos. Apresenta uma reflexão interdisciplinar associando os conceitos de qualidade de vida e subjetividade procurando-se ampliar o debate nas áreas de sociologia ambiental, saúde mental e sociedades complexas.
O texto de Marta Pignatti faz uma revisão das principais abordagens teóricas da área da Saúde em relação ao estudo das doenças resultantes das mudanças ambientais e a ocorrência de doenças emergentes no Brasil. Apresenta, de forma geral, a dinâmica de transmissão de doenças e aponta para a necessidade de estudos interdisciplinares e estratégias políticas integradas.
O ensaio de Clóvis Cavalcanti traz a consideração de que os princípios organizadores básicos da economia ecológica incluem a idéia de que os sistemas ecológicos e econômicos são sistemas vivos complexos e adaptativos, que necessitam ser estudados como sistemas integrados em co-evolução para que possam ser adequadamente compreendidos, trabalhados e desenvolvidos.
Na seção Resultados de Pesquisa apresenta-se trabalho de Raissa Guerra sobre pesquisa realizada no Projeto de Desenvolvimento Sustentável que está sendo implementado pelo INCRA, desde 1999, na região Norte do país -PDS São Salvador no período 2001-2002. Utilizando a metodologia DSA - Diagnóstico dos Sistemas Agrários -, foi realizado um levantamento da situação do assentamento, englobando aspectos socioeconômicos, ambientais e político-institucionais, visando avaliar a sustentabilidade do assentamento.
Registramos aqui a importância da parceria com a Annablume Editora como um meio de ampliar a visibilidade da publicação, plenamente legitimada na comunidade cientifica e prestamos como sempre nossos agradecimentos aos pesquisadores que colaboraram neste número com artigos e aos colegas pareceristas, sem os quais não seria possível a realização de cada número.
Agradecemos ao CNPq pelo auxílio concedido para a manutenção das atividades editoriais e reafirmamos também nosso convite para que os pesquisadores utilizem A&S como um canal para a divulgação da produção do conhecimento e para o debate dos temas de nossa época.
Até o próximo número
Os editores
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
18 Abr 2005 -
Data do Fascículo
Jun 2004
