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Monumentalidade e marcação: conceitos para a compreensão da pesca nas sociedades sambaquieiras

Monumentality and landmarks fishing: concepts to understanding fishing in Sambaquis societies

Resumo

Parece consenso que as populações que construíram os sambaquis do Brasil meridional são eminentemente navegadoras e definitivamente pescadoras. E é na esteira destas abordagens que se insere esta proposta de trabalho. Para tanto, está proposto um caminho teórico em que se discutem dois conceitos inerentes ora à arqueologia dos sambaquis – a monumentalidade –, ora à pesca enquanto objeto sociológico mais amplo – a marcação. A interpretação final proposta aqui é de que a monumentalidade assume mais um significado na sociedade sambaquieira: o de orientar a pesca de marcação, prática universal e estruturante das populações pescadoras da costa brasileira.

Palavras-chave
Sambaquis; Pesca; Monumentalidade; Marcação

Abstract

There seems to be a consensus that the populations that built the sambaquis of Southern Brazil are eminently navigators and definitely fishermen. Furthermore, it is in the wake of these approaches that this work proposal is inserted. For this purpose, a theoretical path is proposed. Two inherent concepts are discussed, either to the archology of the sambaquis: monumentality, or to fishing, as a broader sociological subject: landmark fishing. The final interpretation proposed here is that monumentality takes on yet another meaning in the sambaquieira society: guiding marking fishing, a universal and structuring practice for fishing populations on the Brazilian coast.

Keywords
Sambaquis ; Fishing; Monumentality; Landmarks fishing

INTRODUÇÃO

Inicialmente interpretados como acúmulos sucessivos de restos de alimentação, os montes de conchas, por vezes monumentais, apontavam para uma sociedade coletora de moluscos, até que Lima (1991)Lima, T. (1991). Dos mariscos aos peixes: Um estudo zooarqueológico de mudança de subsistência na pré-história do Rio de Janeiro [Tese de doutorado, Universidade de São Paulo].1 1 Embora seja necessário colocar aqui que Lima (1991) considerou a passagem da coleta de moluscos para a pesca uma estratégia adaptativa em resposta à paulatina escassez resultante da sobre-exploração dos bancos de moluscos. A pesca seria um fenômeno tardio na milenar história das sociedades sambaquieiras. , Bandeira (1992)Bandeira, D. R. (1992). Mudança na estratégia de subsistência: O sítio arqueológico Enseada I – um estudo de caso [Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Santa Catarina]. e Figuti (1993)Figuti, L. (1993). O homem pré-histórico, o molusco e o sambaquis: Considerações sobre a subsistência dos povos sambaquianos. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, (3), 67-80. https://doi.org/10.11606/issn.2448-1750.revmae.1993.109161
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alicerçaram a compreensão atual de que as sociedades sambaquieiras são, na realidade, sociedades eminentemente pescadoras.

Retornar aos cronistas do século XVI na busca dos hábitos indígenas que teriam dado origem ao registro arqueológico foi a primeira das metodologias de pesquisa documental e remonta igualmente aos primeiros séculos do povoamento europeu. Mas foi Franco (1992Franco, T. C. B. (1992). A Pesca na Pré-História: Um estudo para o Brasil [Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Rio de Janeiro]., 1998)Franco, T. C. B. (1998). Prehistoric fishing activity in Brazil: A summary. In M. Plew (Ed.), Explorations in American archeology: Essays in honor of Wesley R. Hurt (pp. 7-36). University Press of America. quem debruçou-se sobre as fontes etnohistóricas para entender as atividades, técnicas e práticas de pesca das populações indígenas que habitaram o litoral brasileiro, realizando a síntese mais densa de que dispomos sobre a haliêutica indígena costeira dos séculos XVI e XVII.

Sejam elas marítimas (Calippo, 2010Calippo, F. (2010). Sociedade sambaquieira, comunidades marítimas [Tese de doutorado, Universidade de São Paulo].), sejam elas costeiras (Wagner & Silva, 2014Wagner, G., & Silva, L. A. (2014). Prehistoric maritime domain and Brazilian shellmounds. Archaeological Discovery, 2(1) 1-5. http://dx.doi.org/10.4236/ad.2014.21001
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), as sociedades sambaquieiras dominaram as águas, ocupando diversas ilhas ao largo da costa (Lima et al., 1986Lima, T., Mello, E., & Silva, R. (1986). Analysis of Molluscan Remains from the Ilha de Santana Site, Macaé, Brazil. Journal of Field Archaeology, 13(1), 83-97. https://doi.org/10.1179/009346986791535672
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; Lima, 1995Lima, T. (1995). Ocupações pré-históricas em Ilhas do Rio de Janeiro. In M. Beltrâo (Ed.), Arqueologia do Estado do Rio de Janeiro (pp. 95-104). Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro.; Comerlato, 2005Comerlato, F. (2005). As representações rupestres do litoral de Santa Catarina [Tese de doutorado, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul].; Tenório, 2003Tenório, M. C. (2003). O lugar dos aventureiros: Identidade, dinâmica de ocupação, e sistema de trocas no litoral do Rio de Janeiro há 3.500 anos antes do presente [Tese de doutorado, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul].). Registros mais amplos da origem da navegação nas sociedades indígenas brasileiras foram sistematizados em Calippo (2011)Calippo, F. (2011). O surgimento da navegação entre os povos dos sambaquis: Argumentos, hipóteses e evidências. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, (21), 31-49., deixando claro que o domínio das águas não esteve restrito ao litoral meridional.

Parece consenso que as populações que construíram os sambaquis do Brasil meridional são eminentemente navegadoras e definitivamente pescadoras. E é na esteira destas abordagens que se insere esta proposta de trabalho. O que se busca reforçar é a pesca, ou a haliêutica2 2 “Enquanto fenômeno social a haliêutica traduz atividades produtivas e relações simbólicas no âmbito da vida cotidiana. As atividades produtivas dependem dos saberes técnicos tradicionais relativos, basicamente a confecção e manuseio dos equipamentos e embarcações, mas também de uma série de conhecimentos não expressos materialmente. A mestrança é a categoria que reúne tais pré-requisitos, incorporando as noções de espacialidade, marcação e domínio dos territórios e pesqueiros, domínio sobre a meteorologia, bem como a navegação, seja de mar ou de costa (águas costeiras interiores). No cotidiano das atividades são estabelecidas e expressas, por um lado, as relações identitárias e de pertença e, por outro, é construído e vivido o universo simbólico do mundo da pesca” (Wagner & Silva, 2014, p. 3). , enquanto elemento de coesão social3 3 A pesca enquanto elemento de coesão social já está demonstrada em Mussolini (1953), Mourão (2003 [1971]), Diegues (1997, 2004), Maldonado (1993, 1997, 2000), Adomilli (2002) e Begossi (2004). O termo haliêutica é proposto em uma perspectiva mais ampla, no intuito de abraçar todas as expressões materiais e imateriais do ethos que configura as sociedades pescadoras (cf. Wagner & Silva, 2014, 2020, 2021a, 2021b). Naquilo que é fundamental, a abordagem é a mesma. . Para tanto, está proposto um caminho teórico em que se discutem dois conceitos inerentes ora à arqueologia dos sambaquis – a monumentalidade – ora à pesca enquanto objeto sociológico mais amplo – a marcação.

Quando DeBlasis et al. (2007, p. 53)DeBlasis, P., Kneip, A., Scheel-Ybert, R., Giannini, P., & Gaspar, M. (2007). Sambaquis e Paisagem: Dinâmica natural e arqueologia regional no litoral do sul do Brasil. Arqueología Suramericana, 3(1), 29-6. escrevem “. . . a ideia de visibilidade. . . . pode adquirir um sentido adicional: do alto de um sambaqui de maiores proporções seria possível controlar praticamente todo o território a ele afeto, dominar as áreas de pesca. . . ”, se dá a linha condutora da trama aqui ensaiada, cujo nó é a visibilidade capaz de costurar os dois conceitos: monumentalidade e marcação.

SAMBAQUIS E MONUMENTALIDADE

Circulando de canoa pela (paleo) laguna, veem-se sambaquis de todos os lados: eles estão em toda a parte, mais ou menos visíveis, segundo seu porte. . . . Trata-se de uma paisagem também intensamente ritualizada, pois em toda a parte estas atividades cotidianas têm lugar à sombra dos monumentos altaneiros, assegurando aos habitantes locais seu direito ancestral à lagoa e à vida

(DeBlasis et al., 2007DeBlasis, P., Kneip, A., Scheel-Ybert, R., Giannini, P., & Gaspar, M. (2007). Sambaquis e Paisagem: Dinâmica natural e arqueologia regional no litoral do sul do Brasil. Arqueología Suramericana, 3(1), 29-6., p. 54).

Este é o título de um dos capítulos que compõem a história da arqueologia dos sambaquis no Brasil meridional. De fato, desde que DeBlasis et al. (1998)DeBlasis, P., Fish, S., Gaspar, M., & Fish, P. (1998). Some references for the discussion of complexity among the Sambaqui Moundbuilders from the southern shores of Brazil. Revista de Arqueología Americana, 15(1), 75-106. sugeriram que a sociedade sambaquieira se estruturou a partir do cuidado com os mortos, materializado na construção intencional de marcadores paisagísticos, significados e ritualizados, o conceito de monumentalidade foi redimensionado4 4 “. . . Wiener (1876) se referiu aos grandes sambaquis da costa sul como ‘monumentos’” (DeBlasis et al., 1998, p. 88). Ao se retomar o original, é notório que o termo possui outra acepção: “Sambaquis, obra da paciencia do homem, que, durante um largo espaço de tempo, tinha em vista um fim definido, isto é, sambaquis artificiaes, verdadeiros monumentos archeologicos” (Wiener, 1876, p. 15). Embora a lógica de se enxergar os sambaquis como “monumentos funebres” (Wiener, 1876, p. 18) estivesse presente, a ideia de monumentalidade proposta nas décadas de 1990 e 2000 foi notadamente redimensionada. na arqueologia dos sambaquis. Já não é mais possível abordar estes gigantescos sítios presentes na costa sul e sudeste do Brasil desconsiderando a complexidade das relações sociais envolvidas em práticas tão características de em um modo de vida que perdurou por pelo menos cinco milênios (Gaspar et al., 2008Gaspar, M., DeBlasis, P., Fish. S., & Fish, P. (2008). Sambaqui (shell mound) societies of coastal Brazil. In H. Silverman & W. Isbel (Orgs.), Handbook of South América Archaeology (pp. 319-335). Springer.).

O cenário interpretativo construído sugere que populações caçadoras-pescadoras-coletoras estabeleceram uma série de práticas elaboradas de organização social como “. . . articulação comunal em torno de estratégias/ideologias amplamente compartilhadas, incluindo construções públicas e/ou atividades cerimoniais. . .” (DeBlasis et al., 2007DeBlasis, P., Kneip, A., Scheel-Ybert, R., Giannini, P., & Gaspar, M. (2007). Sambaquis e Paisagem: Dinâmica natural e arqueologia regional no litoral do sul do Brasil. Arqueología Suramericana, 3(1), 29-6., p. 33).

A visibilidade teria sido especialmente proeminente para os viajantes em barcos ao longo do rio das Congonhas e lagoas vizinhas. Com certeza, a intervisibilidade consistente por todo o grupo de enormes sambaquis próximos uns aos outros não é aleatória. Estes sambaquis monumentais e a mensagem codificada em seu crescimento incremental são chaves para as paisagens culturais das sociedades que os construíram

(Fish et al., 2000Fish, S. K., DeBlasis, P., Gaspar, M. D., & Fish, P. R. (2000). Eventos incrementais na construção de sambaquis, litoral Sul do estado de Santa Catarina. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, (10), 69-87. https://doi.org/10.11606/issn.2448-1750.revmae.2000.109378
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, p. 86).

Kneip (2004)Kneip, A. (2004). O povo da lagoa: Uso do sig para modelamento e simulação na área arqueológica do Camacho [Tese de doutorado, Universidade de São Paulo]. demonstrou que o povoamento sambaquieiro no entorno da paleolaguna de Santa Marta, em Santa Catarina, acompanhou o ritmo das transformações paleoambientais decorrentes do paulatino retrocesso das águas oceânicas, subsequente ao último máximo transgressivo holocênico, dado entre 5.100 e 5.600 anos AP (Villwock & Tomazelli, 1995Villwock, J. A., & Tomazelli, L. J. (1995). Geologia costeira do Rio Grande do Sul. Notas Técnicas, 8, 1-45.; Angulo et al., 2006Angulo, R., Lessa, G., & Souza, M. (2006). A critical review of mid- to late-Holocene sea-level fluctuations on the eastern Brazilian coastline. Quaternary Science Reviews, 25(5-6), 486-506. https://doi.org/10.1016/j.quascirev.2005.03.008
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). Via de regra, os grandes sambaquis, visíveis a longas distâncias, são circundados por sambaquis menores, compondo sistemas articulados de ocupação, padrão recorrente em Santa Catarina (Neves, 1888Neves, W. (1988). Paleogenética dos grupos pré-históricos do litoral sul do Brasil (Paraná e Santa Catarina). Pesquisas, Antropologia, 43, 1-176.; Gaspar, 2000Gaspar, M. (2000). Sambaqui: Arqueologia do litoral brasileiro. Jorge Zahar Editor.; De Masi, 2001De Masi, M. (2001). Pescadores coletores da costa sul do Brasil (Pesquisas, Antropologia, No. 57). Instituto Anchietano de Pesquisas.), no Paraná (Neves, 1988Neves, W. (1988). Paleogenética dos grupos pré-históricos do litoral sul do Brasil (Paraná e Santa Catarina). Pesquisas, Antropologia, 43, 1-176.) e no Rio de Janeiro (Gaspar, 1991Gaspar, M. (1991). Aspectos da organização social de um grupo de pescadores, coletores e caçadores: Região compreendida entre a Ilha Grande e o delta do rio Paraíba do Sul, RJ [Tese de doutorado, Universidade de São Paulo].; Tenório, 2003Tenório, M. C. (2003). O lugar dos aventureiros: Identidade, dinâmica de ocupação, e sistema de trocas no litoral do Rio de Janeiro há 3.500 anos antes do presente [Tese de doutorado, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul].)5 5 No Rio Grande do Sul, os sambaquis concentram-se no litoral norte, entre Tramandaí e Torres, ocupando a estreita faixa arenosa situada entre o rosário de lagoas e o mar (Wagner, 2009). As cronologias dos sítios situam-se entre 4.000 e 1.000 anos AP (Wagner, 2012; Ricken et al., 2016), e os grandes sambaquis não se fazem presentes. . Os sambaquis localizados no entorno da paleolaguna de Santa Marta foram sendo construídos ou abandonados na medida em que o contorno do espelho d’água mudava, mas obedecendo a uma lógica territorial, tendo sempre os grandes sambaquis como referências espaciais (Kneip et al., 2018Kneip, A., Farias, D., & DeBlasis, P. (2018). Longa duração e territorialidade da ocupação sambaquieira na laguna de Santa Marta, Santa Catarina. Revista de Arqueologia, 31(1), 25-51. https://doi.org/10.24885/sab.v31i1.526
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).

Uma análise de visibilidade, baseada nas altitudes e localização destes mesmos sambaquis principais, quase sempre centrais para cada agrupamento, novamente aponta a lagoa como a área central do sistema de assentamento sambaquieiro. . . . É, também, a área de onde grande parte deles, especialmente os maiores, pode ser vista concomitantemente

(DeBlasis et al., 2007DeBlasis, P., Kneip, A., Scheel-Ybert, R., Giannini, P., & Gaspar, M. (2007). Sambaquis e Paisagem: Dinâmica natural e arqueologia regional no litoral do sul do Brasil. Arqueología Suramericana, 3(1), 29-6., pp. 49-50).

Klokler et al. (2010)Klokler, D., Villagrán, X., Giannini, P., Peixoto, S., & DeBlasis, P. (2010). Juntos na Costa: Zooarqueologia e geoarqueologia de sambaquis do litoral sul catarinense. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, (20), 53-75. https://doi.org/10.11606/issn.2448-1750.revmae.2010.89910
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demonstram que os sítios do interior da paleolaguna (mais especificamente Jabuticabeira II) possuem, no registro arqueológico, significativa variedade de espécies de peixes, típicos de pescas tanto no mar raso quanto nas águas interiores, quando comparados a sítios instalados na orla marítima da laguna (Encantada III). Embora tainhas, roncadores, sargos de dente e miraguaias sejam representativamente importantes, há uma clara predominância na ocorrência das espécies quando tomadas as amostras dos sítios em conjunto. “Juntos, bagres e corvinas representam 70% dos restos de peixes recuperados. As medições dos otólitos dessas duas espécies demonstraram que a maioria dos espécimens é jovem, a faixa etária mais comum encontrada nos estuários. . . ” (Klokler et al., 2010Klokler, D., Villagrán, X., Giannini, P., Peixoto, S., & DeBlasis, P. (2010). Juntos na Costa: Zooarqueologia e geoarqueologia de sambaquis do litoral sul catarinense. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, (20), 53-75. https://doi.org/10.11606/issn.2448-1750.revmae.2010.89910
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, p. 59).

Gaspar et al. (2011)Gaspar, M., Klokler, D., & DeBlasis, P. (2011). Traditional fishing, mollusk gathering, and the shell mound builders of Santa Catarina, Brazil. Journal of Ethnobiology, 31(2), 188-212. https://doi.org/10.2993/0278-0771-31.2.188
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ratificaram a importância das águas interiores na pesca atual, onde a tainha é usualmente capturada no mar e, mais raramente, na laguna. A pesca tradicional etnografada na região é marcada pelas díades inverno/verão e mar/laguna, com predominância da pesca de dentro da barra, embora seja registrada a pesca embarcada no mar raso. Essa prevalência se dá pela limitação técnica: “. . . quem pesca na laguna não tem o que é preciso para pescar no oceano. . .” (Gaspar et al., 2011Gaspar, M., Klokler, D., & DeBlasis, P. (2011). Traditional fishing, mollusk gathering, and the shell mound builders of Santa Catarina, Brazil. Journal of Ethnobiology, 31(2), 188-212. https://doi.org/10.2993/0278-0771-31.2.188
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, p. 192). A sociedade sambaquieira que acompanhou todas as transformações da paleolaguna desde mais de 4.000 anos atrás parece ter mantido um sistema de pesca bastante efetivo, pois não há mudanças significativas nas amostras, a não ser a mudança de preferência das miraguaias para os bagres, por volta de 1.800 anos AP.

Para além da alimentação, a pesca é atividade central enquanto elemento construtivo e incremental dos sítios, pois os peixes assumem papel importante nos festins mortuários que alicerçaram aquelas sociedades, desde 4.000 anos AP. Dito com mais ênfase, “. . . não é mais possível considerar os depósitos faunísticos em sambaquis como resultantes de acumulações aleatórias de refugo, mas sim como correspondentes a deposições episódicas coordenadas e concomitantes a atividades rituais funerárias. . .” (Klokler, 2016Klokler, D. (2016). Animal para toda obra: Fauna ritual em Sambaquis. Habitus, 14(1), 21-34. http://dx.doi.org/10.18224/hab.v14.1.2016.21-34
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, p. 21). As composições das distintas camadas, o modo de deposição do material construtivo e o processamento diferencial dos vestígios são chave para a compreensão da participação atribuída à fauna ritualizada (Klokler, 2014Klokler, D. (2014). A ritually constructed shell mound: Feasting at the Jabuticabeira II Site. In M. Roksandic, S. Souza, S. Eggers, M. Burcell & D. Klokler (Orgs.), The cultural dynamics of shell middens and shell mounds: A worldwide perspective (pp. 151-162). University of New México Press.). “. . . As espécies de peixes mais comumente identificadas em contextos associados a festins são corvina (Micropogonias furnieri) e bagre (Genidens sp.); peixes caracteristicamente estuarinos. Ambos claramente dominam as amostras dos depósitos funerários. . . [ênfase adicionada]” (Klokler, 2016Klokler, D. (2016). Animal para toda obra: Fauna ritual em Sambaquis. Habitus, 14(1), 21-34. http://dx.doi.org/10.18224/hab.v14.1.2016.21-34
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, p. 24).

VISIBILIDADE E MARCAÇÃO

A arte da “marcação”, da constituição das rotas no mar, é o ponto fundamental às jornadas de pesca, sendo o conhecimento e seu domínio uma das razões de ser da cultura marítima, que se realiza não só numa arte náutica muito eficaz, como também em relações de igualdade e na construção social da pessoa do mestre. . .

(Maldonado, 2000Maldonado, S. (2000). O caminho das pedras: Percepção e utilização do espaço marinho na pesca simples. In A. C. Diegues (Org.), A imagem das águas (pp. 59-68). Hucitec., p. 98).

Considerada fenômeno universal (Kottak, 1966Kottak, C. (1966). The structure of equality in brazilian fishing community. University Press.; Forman, 1970Forman, S. (1970). The raft fishermen: Tradition and change in the Brazilian peasant economy. Indiana University Press.; Maldonado, 1993Maldonado, S. (1993). Mestres e mares, espaço e indivisão na pesca marítima (1 ed.). Annablume.; Diegues, 2004Diegues, A. C. (2004). A Pesca construindo sociedades. NUPAUB–USP.), a marcação é uma das quatro categorias estruturantes das sociedades pesqueiras, entrelaçando-se aos conceitos de mestrança, conhecimento tradicional e território6 6 A indissociabilidade destas quatro categorias analíticas foi discutida em Forman (1967), Maldonado (1993, 2000), Diegues (2000), Wagner e Silva (2014, 2020) e Silva (2012, 2015). , através dos quais é possível perceber “. . . a pesca construindo sociedades” (Diegues, 2004Diegues, A. C. (2004). A Pesca construindo sociedades. NUPAUB–USP., p. 243). No litoral brasileiro, a pesca de marcação7 7 A pesca de marcação possui diversas denominações ao longo do litoral brasileiro, dependendo da região do em que tenha se dado: de pedras marcadas, de marcas de pesca, de cabeço, apoitada. está documentada desde o século retrasado, em Veríssimo (1970 [1895]). Forman (1967)Forman, S. (1967). Cognition and the catch the location of fishing spots in a Brazilian coastal Village. Ethnoloy, 6(4), 417-426. https://doi.org/10.2307/3772828
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sinalizou que estas técnicas de pesca e navegação constituem fainas extremamente antigas nas sociedades pescadoras. Câmara-Cascudo (2002 [1954]) havia sugerido, década antes, que tanto a marcação quanto a engenharia das embarcações consistem em heranças indígenas milenares, aspecto este ricamente detalhado em Alves-Câmara (1976 [1888]Alves-Câmara, A. (1976 [1888]). Ensaio sobre as construções navais indígenas do Brasil. Brasiliana.).

Trata-se, de forma objetiva, de uma pesca embarcada, caracterizada pela técnica de memorização de pontos de destaque na paisagem de terra, como picos e montanhas, acidentes geográficos, dunas, coqueirais, ilhas ou quaisquer elementos que possuam visibilidade a longas distâncias, quando a bordo. “É uma navegação observada pela marcação de pontos de costa. Podia-se mesmo dizer que é estimada. . . . O essencial é a memória para guardar com exatidão as posições nítidas do caminho e do assento. . .” (Câmara-Cascudo, 2002Câmara-Cascudo, L. (2002 [1954]). Jangada: Uma pesquisa etnográfica. Global Editora. [1954], p. 13)8 8 É importante destacar que a base de dados etnográficos presentes em Câmara-Cascudo (2002 [1954]) advém das pesquisas realizadas com os jangadeiros dos litorais do Ceará e do Rio Grande do Norte. . Desprovidos de quaisquer instrumentos náuticos, geodésicos ou de navegação, os mestres pescadores dependem daquilo que aprenderam de seus predecessores na faina do barco, em silêncio, na observação. “. . . O caminho corresponderá à latitude, norte e sul, e o assento será a longitude, leste e oeste. Todos os pesqueiros conhecidos. . . . têm caminho e assento, únicos para a localização” (Câmara-Cascudo, 2002Câmara-Cascudo, L. (2002 [1954]). Jangada: Uma pesquisa etnográfica. Global Editora. [1954], p. 13). O caminho e o assento são, então, as linhas referenciais que permitem aos mestres o posicionamento da embarcação por triangulação dos pontos de terra projetados em alto mar.

Caminho e assento possuem correlatos em outras regiões da costa brasileira. A marca de confrontação é a linha reta, que vem de uma marca na costa até a embarcação. A marca de altura é tomada a partir de algum ponto no mar, a norte ou a sul, perpendicularmente à marca de confrontação.

When landmarks are used, they may be a grove of coconut palms, a igh sand dune, the outline of a familiar plantation. . . . A fisherman is able to determine his course by ‘lining up’ one landmark behind another in such a way as to constitute directional cues

(Forman, 1967Forman, S. (1967). Cognition and the catch the location of fishing spots in a Brazilian coastal Village. Ethnoloy, 6(4), 417-426. https://doi.org/10.2307/3772828
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, p. 419)9 9 Por sua vez, Forman (1967, 1970) realizou trabalho específico no Coqueiral, cidade de Guaiamu, Alagoas. .

Aprumadas as marcas de confrontação e altura, o caminho e o assento, as triangulações por pontos de terra são usualmente acompanhadas pelo fundeio, pela sondagem, que consiste em perscrutar o fundo do oceano por linha e peso, por vezes com a própria fateixa10 10 É uma armação segurando por meio de travessas uma pedra arredondada. As extremidades dos paus se fixam no fundo d’água e a pedra reforça a pressão quase imobilizando a jangada. . O proeiro perscruta o cabeço “. . . na vibração da corda da sassanga. . .” 11 11 “Instrumento de orientação. Cordão que um pescador segura na proa do barco com um peso de pedra ou de chumbo na extremidade oposta que mantém o cordel teso e cujo impacto, cuja vibração dão sinais das formações submersas e dos fundos marinhos” (Maldonado, 1993, p. 97). (Maldonado, 1993Maldonado, S. (1993). Mestres e mares, espaço e indivisão na pesca marítima (1 ed.). Annablume., p. 97). A resistência encontrada pelo peso transmitida pela linha sempre tesa indica o tipo de fundo: no lodo, o peso gruda; na areia, ele corre; e, na pedra, ele trinca.

Por vezes, quando o pesqueiro é raso, a superfície enrugada, áspera, crespa do mar indica a alteração do fundo, bem como as nuances em azul e verde na superfície das águas. No pesqueiro, à noite, sem lua, o peixe movimenta-se por debaixo d’água, agitando microorganismos que provocam fosforescência: o peixe “. . . acende o mar. . .” (Kant de Lima, 1997Kant de Lima, R. (1997 [1978]). Pescadores de Itaipu: A pescaria da tainha e a produção ritual da identidade social. Museu Nacional. [1978], p. 86). O mestre experimentado distingue, inclusive, aromas que revelam a composição do fundo “. . . Rocky areas are said to smell sweet, while gravel has a bad odor, and mud smells foul” (Forman, 1967Forman, S. (1967). Cognition and the catch the location of fishing spots in a Brazilian coastal Village. Ethnoloy, 6(4), 417-426. https://doi.org/10.2307/3772828
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, p. 420).

Marcados, nomeados e mantidos em segredo pelos mestres de navegação, os pesqueiros12 12 Os pesqueiros ou pontos de pesca são conhecidos por nomes completamente diferentes, denotando a riqueza e a multiplicidade das práticas de pesca e os conhecimentos ao longo da costa do Brasil. No litoral amazônico, os pesqueiros são conhecidos por viveiros (cf. Veríssimo, 1970 [1895]); no Nordeste, recebem diversos nomes, como pedras, marcas, cabeços, paredes, altos, corubas, rasos, tassis, poços de peixes, bancos de peixes (cf. Câmara-Cascudo, 2002 [1954]; Kottak, 1966, 1983; Forman, 1967, 1970; Maldonado, 1993, 2000; Diegues, 1973, 2000; Begossi, 2004); na região Sudeste, são conhecidos por pedras, marcas ou pesqueiros (cf. Mourão, 2003 [1971]; Duarte, 1999 [1978]; Diegues, 1997, 2004; Maldonado, 1993, 2000; Begossi, 2004); e no Sul do Brasil, como pesqueiros ou pontos de pesca (cf. Adomilli, 2002; Silva, 2012, 2015). são revisitados sistematicamente por décadas13 13 As pedras, arrecifes e lages submersas são os enrocamentos em que se desenvolvem todos os níveis tróficos da cadeia alimentar marinha e constituem, naturalmente, os pesqueiros de maior produtividade. (Begossi, 2004Begossi, A. (Org.). (2004). Ecologia de pescadores da Mata Atlântica e da Amazônia. NUPAUB-USP.). A capacidade de descobrir e voltar aos pesqueiros é de competência do mestre e é a chave de seu prestígio (Kant de Lima, 1997Kant de Lima, R. (1997 [1978]). Pescadores de Itaipu: A pescaria da tainha e a produção ritual da identidade social. Museu Nacional. [1978]). O segredo de suas localizações e coordenadas é vital para o descanso do pesqueiro, “. . . evitando até fumar, quando pescam à noite para não denunciar aos outros a sua presença” (Mussolini, 1945Mussolini, G. (1945). O Cêrco da tainha na Ilha de São Sebastião. Sociologia: Revista Didática e Científica, 7(3), 135-147., p. 267). Caminhos e assentos são segredos de família transmitidos e eternizados pela oralidade (Diegues, 1997Diegues, A. C. (1997). Tradition and change in brazilian fishing communities: Towards a social anthropology of the sea. In A. C. Diegues (Org.), Tradition and social change in the coastal communities of Brazil (pp. 1-24). NUPAUB.; Maldonado, 1997Maldonado, S. (1997). Perception and utilization of space in artisanal fishing communities. In A. Diegues, Tradition and social change in the coastal communities of Brazil (pp. 175-184). NUPAUB-USP.). O pesqueiro é território, propriedade, pertença e ancestralidade: “. . . meu pai já pescava ali e sempre dava muito peixe. . .” (Silva, 2015Silva, L. A. (2015). Com vento a lagoa vira mar: Uma etnoarqueologia da pesca no litoral norte do RS. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 10(2), 537-547. https://doi.org/10.1590/1981-81222015000200016
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, p. 542). A mestrança atravessa as gerações na aprendizagem e na repetição silenciosa da faina a bordo.

A partir das marcas de confrontação ou do assento, a superfície do mar é dividida em territórios de pesca por linhas retas, como sesmarias de mar imaginadas. O fundo, entretanto, é pontilhado por pedras, cabeços, altos, separados por lisos de areia improdutivos. A superfície plana e monótona do espelho d’água é, na realidade, um mosaico de pedras, rotas, e lisos são cognitivamente sistematizados, imaginados, mapeados, sentidos e significados: sociabilizados.

Quando a luz do dia já não ilumina os contornos de terra e mar e o horizonte se apaga, o olhar do mestre se verticaliza para a noite e a singradura passa a uma orientação zenital, espelhando nas águas a rota de cada astro.

Quando se faz a pesca de sereno ou de dormida, a navegação faz-se com a ajuda dos planetas (estrelas). . . . A gente faz a base pelas estrelas, porque as estrelas navegam, né? Vão fazendo aquele caminho delas. Uma vem montando, outra vem saindo. . . . as estrelas navegam. Marca-se uma e quando ela desaparece, segue-se a outra. Uma se chama Barca, a outra Can-Can que leva para Caiçara. . . . Hoje a rapaziada não sabe navegar pelos planetas (Mestre Severino)

(Diegues, 2000Diegues, A. C. (Org.). (2000). A imagem das águas. Hucitec., pp. 79-80).

Dentro das barras ou no mar raso, no sentido proposto em Wagner e Silva (2014Wagner, G., & Silva, L. A. (2014). Prehistoric maritime domain and Brazilian shellmounds. Archaeological Discovery, 2(1) 1-5. http://dx.doi.org/10.4236/ad.2014.21001
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, 2020)Wagner, G., & Silva, L. (2020). A pesca e o pescador: Por uma haliêutica historicizada. Oficina do historiador, 13(1), 1-6. https://doi.org/10.15448/2178-3748.2020.1.36763
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14 14 “Partindo da ideia de que pescadores do litoral possuem uma cultura voltada para a exploração desse ambiente específico, aqui sugerimos que o modo de vida das comunidades indígenas costeiras do passado esteve atrelado ao ambiente físico das águas, caracterizado por mudanças sazonais, alterações bruscas de tempo e invisibilidade dos recursos. As águas a que aqui nos referimos são as águas interiores, lagos, estuários, lagunas, rios: ‘dentro das barras’. ‘Fora das barras’ as sociedades ou populações costeiras exploram o ‘mar raso’. Estes pescadores possuem uma economia fortemente apoiada na exploração dos recursos de terra. Os recursos naturais renováveis retirados das águas são inconstantes, invisíveis (embora previsíveis) e obedecem aos padrões biológicos de cada espécie” (Wagner & Silva, 2021b, p. 127). , onde a escala de visão diminui e a paisagem amplia-se em detalhes, a marcação passa a circunscrever-se aos alinhamentos por marcas de destaque topográfico. A visibilidade minuciosa de elementos materiais específicos na paisagem facilita a marcação dos pesqueiros: “. . . ‘vô pescar lá na altura do morro’ [dizia o mestre] se referindo ao pesqueiro próximo, alinhado ao leme da embarcação. . . ” (Silva, 2015Silva, L. A. (2015). Com vento a lagoa vira mar: Uma etnoarqueologia da pesca no litoral norte do RS. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 10(2), 537-547. https://doi.org/10.1590/1981-81222015000200016
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, p. 545).

Nas águas abrigadas das baías e lagoas costeiras, a força e a impetuosidade do mar de fora dão lugar a outro agente cujo domínio obriga a ronda dos pesqueiros: o vento. Nas lagoas da planície costeira interior, este elemento determina o sucesso das pescarias e a viração tem a morte, os naufrágios e as perdas como referências. O vento agita a superfície e remexe o fundo: a água encrespa e o peixe some. A navegação torna-se impossível e a sabedoria popular se faz imperiosa: o melhor pé de borrasga é pé seco. Ou, como bem apanhado entre os pescadores do rosário de lagoas do litoral norte do Rio Grande do Sul, “. . . Com vento a lagoa vira mar. . .” (Silva, 2015Silva, L. A. (2015). Com vento a lagoa vira mar: Uma etnoarqueologia da pesca no litoral norte do RS. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 10(2), 537-547. https://doi.org/10.1590/1981-81222015000200016
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, p. 537).

Mas o domínio do vento também permite que se faça dele um aliado. Nota-se que a escolha diária dos pesqueiros se define, prioritariamente, pela direção e intensidade do vento: “. . . se o vento é nordeste, é necessário lançar a rede no sentido nordeste sudoeste, de modo que este auxilie no deslocamento da embarcação e deixe a rede esticada” (Silva, 2015Silva, L. A. (2015). Com vento a lagoa vira mar: Uma etnoarqueologia da pesca no litoral norte do RS. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 10(2), 537-547. https://doi.org/10.1590/1981-81222015000200016
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, p. 543). Na hora de recolher, o movimento é contrário ao vento, e o pescador vem trazendo o barco pela testa da rede, aproveitando o vento para a faina da despesca.

Na costa meridional, espera-se com ansiedade a referência barométrica que anuncia o sudoeste: “. . . o vento forte que encosta a tainha. . .” (Mussolini, 1945Mussolini, G. (1945). O Cêrco da tainha na Ilha de São Sebastião. Sociologia: Revista Didática e Científica, 7(3), 135-147., p. 266).

Um pescador me explicou: “Conhece-se o vento por como ele se forma. O SW traz escurecimento na bocaina. O NO traz bolas de nuvens brancas em cima da serra no continente. Estas bolas avançam... formando uma grande bola única que se precipita num vento forte sobre o canal. É assim que o NO se transforma no SW. E o SW é o vento que estamos esperando para encostar a tainha

(Mussolini, 1945Mussolini, G. (1945). O Cêrco da tainha na Ilha de São Sebastião. Sociologia: Revista Didática e Científica, 7(3), 135-147., p. 266).

O vento é certamente o fenômeno de maior grandeza na pesca lacustre do Sul do Brasil. Os ciclos de cheias e vazantes que são determinados pelas marés lunares nos mangues e estuários são, nas lagoas interiores, pluvio-barométricos:

. . . os pescadores atribuem o ciclo das águas à dinâmica dos ventos e das chuvas. . . . o vento sul e suas derivações favorecem o represamento das águas e o surgimento dos banhados. Em contraponto, o vento norte e suas derivações contribuem para o escoamento e a diminuição do nível das águas

(Silva, 2015Silva, L. A. (2015). Com vento a lagoa vira mar: Uma etnoarqueologia da pesca no litoral norte do RS. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 10(2), 537-547. https://doi.org/10.1590/1981-81222015000200016
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, p. 542).

O ciclo das águas amplia e reduz as superfícies d’água, impondo a ronda dos pesqueiros e criando uma lógica igualmente cíclica para as ocupações dos acampamentos de pesca: esporádicos, efêmeros, mas reincidentes. No ciclo de vazante, o mais produtivo “. . . deslocamentos de mais de 20 a 30 quilômetros com os barcos em curtos períodos de tempo, entorno de um ou dois dias, são naturais. . .” (Silva, 2012Silva, L. A. (2012). Pescadores da Barra do João Pedro, um estudo etnoarqueológico [Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul]., p. 108), e os pernoites em barracos improvisados permitem a vigília de redes e cardumes, assim como o tráfego nas águas. É o período que se estende de novembro a março, em que a navegabilidade permite que a faina se concentre nas grandes lagoas, sempre à espreita da viração (Wagner et al., 2020Wagner, G., & Silva, L. (2020). A pesca e o pescador: Por uma haliêutica historicizada. Oficina do historiador, 13(1), 1-6. https://doi.org/10.15448/2178-3748.2020.1.36763
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). O ciclo da cheia é marcado pela ampliação do espelho d’água, quando se formam os banhados e se enchem os canais. Neste período, a navegação se dá nas águas rasas e as canoas são tocadas por varejões (Wagner & Silva, 2021aWagner, G., & Silva, L. (2021a). “Outros Pesqueiros”: Apontamentos sobre a pesca, os pescadores e os ambientes do Sul do Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 16(1), 1-10. https://doi.org/10.1590/2178-2547-BGOELDI-2020-0024
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).

Nas lagunas e nos estuários, a tábua das marés ritma a navegação entre pesqueiros. Estes ambientes são propícios para as pescas de armadilhas conhecidas em todo o litoral brasileiro por cercos ou currais. Em que pese tenham sido documentadas em toda a sua riqueza na bacia amazônica e no litoral do Salgado (Furtado, 1987Furtado, L. G. (1987). Curralistas e redeiros de Marudá: Pescadores do litoral do Pará. Museu Paraense Emílio Goeldi., 2002Furtado, L. G. (2002). Iconografia da pesca ribeirinha e marítima na Amazônia. Museu Paraense Emílio Goeldi.), estas engenharias de pesca são recorrentes na pesca caiçara em mangues e estuários da costa meridional (Mussolini, 1953Mussolini, G. (1953). Aspectos da cultura e da vida social no litoral brasileiro. Revista de Antropologia, 1(2) 81-97. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.1953.131254
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; Kant de Lima, 1997Kant de Lima, R. (1997 [1978]). Pescadores de Itaipu: A pescaria da tainha e a produção ritual da identidade social. Museu Nacional. [1978]; Diegues, 2004Diegues, A. C. (2004). A Pesca construindo sociedades. NUPAUB–USP.) e remontam a uma ancestralidade eminentemente indígena (cf. Diegues, 1997Diegues, A. C. (1997). Tradition and change in brazilian fishing communities: Towards a social anthropology of the sea. In A. C. Diegues (Org.), Tradition and social change in the coastal communities of Brazil (pp. 1-24). NUPAUB.). A palavra caiçara, inclusive, deriva do velho nhengatu: kaa (mato) yçara (estaca, espeto).

Na pesca da tainha, em especial, os velhos mestres pescadores que já não embarcam desenvolvem um papel de extrema importância, em que experiência e conhecimento são decisivos: a vigília da tainha. Estrategicamente posicionado nos outeiros e nas penhas que permitam a visibilidade, o mestre perscruta o espelho d’água em busca dos sinais: “. . . a luminosidade e a ‘ardentia’ que indicam os cardumes em movimento” (Diegues, 2004Diegues, A. C. (2004). A Pesca construindo sociedades. NUPAUB–USP., p. 274). Quando o cardume é grande, a água “brilha igual prata” (Mussolini, 1945Mussolini, G. (1945). O Cêrco da tainha na Ilha de São Sebastião. Sociologia: Revista Didática e Científica, 7(3), 135-147.). Este é o momento em que o espia, ou vigia, sinaliza com um aceno branco da bandeira ou com o toque do búzio, a buzina de rede, anunciando a chegada da manta da tainha. À noite, a busca pela manta é feita embarcada, em que a proa da canoa é equipada com o facho que ilumina a água e permite ao arpoador ferrar o primeiro peixe da manta, numa pesca que é conhecida como ‘de facheio’ (Mussolini, 1946Mussolini, G. (1946). O Cêrco flutuante: Uma rede de pesca japonesa que teve na Ilha de São Sebastião como centro de difusão no Brasil. Sociologia: Revista Didática e Científica, 8(3), 172-183., 1953).

Os manguezais são palco da mais elaborada pesca de cerco documentada na costa brasileira. Trata-se de um complexo sistema em que os mestres de calão15 15 Trata-se da pesca de calão (nome dado localmente às canoas), descrita originalmente por Cordell (1974), na região de Valença, no sul da Bahia. controlam a variação das marés lunares, e a multiplicidade de comportamentos de cada cardume e suas diferentes espécies “. . . variam a cada estação, e a cada maré dentro da estação. . .” (Maldonado, 1993Maldonado, S. (1993). Mestres e mares, espaço e indivisão na pesca marítima (1 ed.). Annablume., p. 107). Soma-se a esta intrincada multiplicidade de variáveis o controle do quadrante de origem do vento dominante ao longo do ano, pois é quem empurra as marés e os cardumes para dentro dos mangues (Diegues, 1997Diegues, A. C. (1997). Tradition and change in brazilian fishing communities: Towards a social anthropology of the sea. In A. C. Diegues (Org.), Tradition and social change in the coastal communities of Brazil (pp. 1-24). NUPAUB.). A pesca de maré lunar caracteriza-se pelo extremo dinamismo, que subdivide os pesqueiros móveis por lanços de propriedade: “. . . espaços determinados pelas correntes, pelas marés e pelos níveis de visibilidade, a depender das fases da lua. . .” (Maldonado, 1993Maldonado, S. (1993). Mestres e mares, espaço e indivisão na pesca marítima (1 ed.). Annablume., p. 107). Para cada pesqueiro, a depender da espécie do cardume, faz-se necessária uma tralha determinada, demandando tamanhos de anzóis, malhas de redes, espinhéis e diversos outros petrechos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Realizado o percurso teórico proposto, cabe aqui reiterar que a visibilidade é a trama dos conceitos com que se trabalhou ao longo do texto. Do alto dos monumentais sambaquis que circundaram a paleolaguna de Santa Marta, as populações sambaquieiras monitoram seu território de pesca. Mas, para além disso, os monumentais sambaquis foram as marcas de terra que orientaram os pescadores, quando a bordo. Marcação e monumentalidade são categorias conceituais imbricadas, que permitem a compreensão das práticas cotidianas a estruturar aquelas sociedades há mais de 4.000 anos.

Sejam as práticas incrementais com a presença massiva do pescado nos festins funerários, fainas diárias coordenadas e ritualizadas, ou práticas produtivas, a pesca está muito além da economia básica de uma população. É elemento de coesão social, é identitário, pois é alicerçado em saberes mantidos tradicionalmente e vividos a bordo, no mar raso ou nos espelhos d’água interiores. A pesca é socializada e a navegação é ação social, no sentido dado por Farr (2006)Farr, H. (2006). Seafaring as social action. Journal of Maritime Archaeology, 1(1), 85-99. http://dx.doi.org/10.1007/s11457-005-9002-7
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. De fato, a haliêutica constrói sociedades.

Um destes saberes é, justamente, a capacidade do mestre de localizar os pesqueiros produtivos. Não apenas de os encontrar, os descobrir, mas de retornar a eles. A orientação por pontos de destaque na costa é indispensável e a monumentalidade dos sambaquis assume mais este significado na estruturação da sociedade sambaquieira. Para além de todas as referências já mencionadas – ancestralidade, direito ao território, demarcação de área de domínio, ritualização da paisagem –, o que se propõe é que sejam elementos de marcação dos pesqueiros, de orientação para a pesca.

A partir das marcas de confrontação ou do assento, a superfície do mar é dividida em territórios de pesca por linhas retas, como sesmarias de mar imaginadas. O fundo, entretanto, é pontilhado por pedras, cabeços, altos, separados por lisos de areia improdutivos. A superfície plana e monótona do espelho d’água é, na realidade, um mosaico de pedras, rotas, e lisos são cognitivamente sistematizados, imaginados, mapeados, sentidos e significados: sociabilizados.

Outro aspecto que se procurou destacar foi a diversidade dos conhecimentos compartilhados pelas populações pescadoras litorâneas. Para cada peixe, uma tralha. Para cada pesqueiro, uma estratégia. E é necessário destacar que a revisão bibliográfica sistematizada aqui teve, precisamente, o intuito de demonstrar a multiplicidade dos saberes, que seguramente compuseram o instrumental cognitivo dos pescadores dos sambaquis: o conhecimento preciso dos comportamentos dos animais, dos eventos meteorológicos, sinalizando a chegada das massas de ar que mudam as marés e encostam o peixe, dos melhores locais para o posicionamento dos espias que buzinarão à chegada da manta, dos sinais na água (a ardentia prateada no dia ou a bioluminescência à noite) ou dos cheiros da água que denunciam as pedras de fundo. Todo esse conjunto de saberes qualifica o mestre pescador e lhe confere prestígio, não apenas nas companhas, mas em terra, enquanto liderança. É a pesca que rege a sociabilidade. Monumentalidade e marcação são, de fato, dois conceitos para se pensar a sociedade sambaquieira do Brasil meridional.

  • 1
    Embora seja necessário colocar aqui que Lima (1991)Lima, T. (1991). Dos mariscos aos peixes: Um estudo zooarqueológico de mudança de subsistência na pré-história do Rio de Janeiro [Tese de doutorado, Universidade de São Paulo]. considerou a passagem da coleta de moluscos para a pesca uma estratégia adaptativa em resposta à paulatina escassez resultante da sobre-exploração dos bancos de moluscos. A pesca seria um fenômeno tardio na milenar história das sociedades sambaquieiras.
  • 2
    “Enquanto fenômeno social a haliêutica traduz atividades produtivas e relações simbólicas no âmbito da vida cotidiana. As atividades produtivas dependem dos saberes técnicos tradicionais relativos, basicamente a confecção e manuseio dos equipamentos e embarcações, mas também de uma série de conhecimentos não expressos materialmente. A mestrança é a categoria que reúne tais pré-requisitos, incorporando as noções de espacialidade, marcação e domínio dos territórios e pesqueiros, domínio sobre a meteorologia, bem como a navegação, seja de mar ou de costa (águas costeiras interiores). No cotidiano das atividades são estabelecidas e expressas, por um lado, as relações identitárias e de pertença e, por outro, é construído e vivido o universo simbólico do mundo da pesca” (Wagner & Silva, 2014Wagner, G., & Silva, L. A. (2014). Prehistoric maritime domain and Brazilian shellmounds. Archaeological Discovery, 2(1) 1-5. http://dx.doi.org/10.4236/ad.2014.21001
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    , p. 3).
  • 3
    A pesca enquanto elemento de coesão social já está demonstrada em Mussolini (1953)Mussolini, G. (1953). Aspectos da cultura e da vida social no litoral brasileiro. Revista de Antropologia, 1(2) 81-97. https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.1953.131254
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    , Mourão (2003 [1971])Mourão, F. (2003 [1971]). Pescadores do litoral sul do Estado de São Paulo. Hucitec., Diegues (1997Diegues, A. C. (1997). Tradition and change in brazilian fishing communities: Towards a social anthropology of the sea. In A. C. Diegues (Org.), Tradition and social change in the coastal communities of Brazil (pp. 1-24). NUPAUB., 2004)Diegues, A. C. (2004). A Pesca construindo sociedades. NUPAUB–USP., Maldonado (1993, 1997, 2000), Adomilli (2002)Adomilli, G. (2002). Trabalho, meio ambiente e conflito: Um estudo antropológico sobre a construção da identidade social dos pescadores do Parque Nacional da Lagoa do Peixe – RS [Dissertação de mestrado em Antropologia Social, Universidade Federal do Rio Grande do Sul]. e Begossi (2004)Begossi, A. (Org.). (2004). Ecologia de pescadores da Mata Atlântica e da Amazônia. NUPAUB-USP.. O termo haliêutica é proposto em uma perspectiva mais ampla, no intuito de abraçar todas as expressões materiais e imateriais do ethos que configura as sociedades pescadoras (cf. Wagner & Silva, 2014Wagner, G., & Silva, L. A. (2014). Prehistoric maritime domain and Brazilian shellmounds. Archaeological Discovery, 2(1) 1-5. http://dx.doi.org/10.4236/ad.2014.21001
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    , 2020Wagner, G., & Silva, L. (2020). A pesca e o pescador: Por uma haliêutica historicizada. Oficina do historiador, 13(1), 1-6. https://doi.org/10.15448/2178-3748.2020.1.36763
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    , 2021aWagner, G., & Silva, L. (2021a). “Outros Pesqueiros”: Apontamentos sobre a pesca, os pescadores e os ambientes do Sul do Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 16(1), 1-10. https://doi.org/10.1590/2178-2547-BGOELDI-2020-0024
    https://doi.org/10.1590/2178-2547-BGOELD...
    , 2021bWagner, G., & Silva, L. (2021b). Saberes e pesqueiros: Reflexões sobre conhecimento e território na pesca tradicional do sul do Brasil. Revista de Arqueologia, 34(2), 63-86.). Naquilo que é fundamental, a abordagem é a mesma.
  • 4
    “. . . Wiener (1876)Wiener, C. (1876). Estudos Sobre Sambaquis do Sul do Brazil. Archivos do Museu Nacional, 1, 1-25. se referiu aos grandes sambaquis da costa sul como ‘monumentos’” (DeBlasis et al., 1998DeBlasis, P., Fish, S., Gaspar, M., & Fish, P. (1998). Some references for the discussion of complexity among the Sambaqui Moundbuilders from the southern shores of Brazil. Revista de Arqueología Americana, 15(1), 75-106., p. 88). Ao se retomar o original, é notório que o termo possui outra acepção: “Sambaquis, obra da paciencia do homem, que, durante um largo espaço de tempo, tinha em vista um fim definido, isto é, sambaquis artificiaes, verdadeiros monumentos archeologicos” (Wiener, 1876Wiener, C. (1876). Estudos Sobre Sambaquis do Sul do Brazil. Archivos do Museu Nacional, 1, 1-25., p. 15). Embora a lógica de se enxergar os sambaquis como “monumentos funebres” (Wiener, 1876Wiener, C. (1876). Estudos Sobre Sambaquis do Sul do Brazil. Archivos do Museu Nacional, 1, 1-25., p. 18) estivesse presente, a ideia de monumentalidade proposta nas décadas de 1990 e 2000 foi notadamente redimensionada.
  • 5
    No Rio Grande do Sul, os sambaquis concentram-se no litoral norte, entre Tramandaí e Torres, ocupando a estreita faixa arenosa situada entre o rosário de lagoas e o mar (Wagner, 2009Wagner, G. (2009). A evolução paleogeográfica e a ocupação dos sambaquis no litoral norte do Rio Grande do Sul, Brasil. In S. Bauermann, A. Ribeiro & C. Scherer (Eds.), Quaternário do Rio Grande do Sul, integrando conhecimentos (pp. 243-254). Sociedade Brasileira de Paleontologia.). As cronologias dos sítios situam-se entre 4.000 e 1.000 anos AP (Wagner, 2012Wagner, G. (2012). Escavações no sítio LII-29, Sambaqui de Sereia do Mar. Revista de Arqueologia, 25(2), 104-119. https://doi.org/10.24885/sab.v25i2.357
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    ; Ricken et al., 2016Ricken, C., Herberts, A., Wagner, G., & Malabarba, L. (2016). Coastal Hunter-Gatherers fishing from the Site RS-AS-01, Arroio do Sal, Rio Grande do Sul, Brasil. Pesquisas, Antropologia, (72), 209-224.), e os grandes sambaquis não se fazem presentes.
  • 6
    A indissociabilidade destas quatro categorias analíticas foi discutida em Forman (1967)Forman, S. (1967). Cognition and the catch the location of fishing spots in a Brazilian coastal Village. Ethnoloy, 6(4), 417-426. https://doi.org/10.2307/3772828
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    , Maldonado (1993Maldonado, S. (1993). Mestres e mares, espaço e indivisão na pesca marítima (1 ed.). Annablume., 2000)Maldonado, S. (2000). O caminho das pedras: Percepção e utilização do espaço marinho na pesca simples. In A. C. Diegues (Org.), A imagem das águas (pp. 59-68). Hucitec., Diegues (2000)Diegues, A. C. (Org.). (2000). A imagem das águas. Hucitec., Wagner e Silva (2014Wagner, G., & Silva, L. A. (2014). Prehistoric maritime domain and Brazilian shellmounds. Archaeological Discovery, 2(1) 1-5. http://dx.doi.org/10.4236/ad.2014.21001
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    , 2020)Wagner, G., & Silva, L. (2020). A pesca e o pescador: Por uma haliêutica historicizada. Oficina do historiador, 13(1), 1-6. https://doi.org/10.15448/2178-3748.2020.1.36763
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    e Silva (2012Silva, L. A. (2012). Pescadores da Barra do João Pedro, um estudo etnoarqueológico [Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul]., 2015)Silva, L. A. (2015). Com vento a lagoa vira mar: Uma etnoarqueologia da pesca no litoral norte do RS. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 10(2), 537-547. https://doi.org/10.1590/1981-81222015000200016
    https://doi.org/10.1590/1981-81222015000...
    .
  • 7
    A pesca de marcação possui diversas denominações ao longo do litoral brasileiro, dependendo da região do em que tenha se dado: de pedras marcadas, de marcas de pesca, de cabeço, apoitada.
  • 8
    É importante destacar que a base de dados etnográficos presentes em Câmara-Cascudo (2002 [1954])Câmara-Cascudo, L. (2002 [1954]). Jangada: Uma pesquisa etnográfica. Global Editora. advém das pesquisas realizadas com os jangadeiros dos litorais do Ceará e do Rio Grande do Norte.
  • 9
    Por sua vez, Forman (1967Forman, S. (1967). Cognition and the catch the location of fishing spots in a Brazilian coastal Village. Ethnoloy, 6(4), 417-426. https://doi.org/10.2307/3772828
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    , 1970)Forman, S. (1970). The raft fishermen: Tradition and change in the Brazilian peasant economy. Indiana University Press. realizou trabalho específico no Coqueiral, cidade de Guaiamu, Alagoas.
  • 10
    É uma armação segurando por meio de travessas uma pedra arredondada. As extremidades dos paus se fixam no fundo d’água e a pedra reforça a pressão quase imobilizando a jangada.
  • 11
    “Instrumento de orientação. Cordão que um pescador segura na proa do barco com um peso de pedra ou de chumbo na extremidade oposta que mantém o cordel teso e cujo impacto, cuja vibração dão sinais das formações submersas e dos fundos marinhos” (Maldonado, 1993Maldonado, S. (1993). Mestres e mares, espaço e indivisão na pesca marítima (1 ed.). Annablume., p. 97).
  • 12
    Os pesqueiros ou pontos de pesca são conhecidos por nomes completamente diferentes, denotando a riqueza e a multiplicidade das práticas de pesca e os conhecimentos ao longo da costa do Brasil. No litoral amazônico, os pesqueiros são conhecidos por viveiros (cf. Veríssimo, 1970Veríssimo, J. (1970 [1895]). A pesca na Amazônia (Coleção Amazônia, Série José Veríssimo). Universidade Federal do Pará. [1895]); no Nordeste, recebem diversos nomes, como pedras, marcas, cabeços, paredes, altos, corubas, rasos, tassis, poços de peixes, bancos de peixes (cf. Câmara-Cascudo, 2002Câmara-Cascudo, L. (2002 [1954]). Jangada: Uma pesquisa etnográfica. Global Editora. [1954]; Kottak, 1966Kottak, C. (1966). The structure of equality in brazilian fishing community. University Press., 1983Kottak, C. (1983). An Assault on Paradise. Ann Arbor University of Michigan Press.; Forman, 1967Forman, S. (1967). Cognition and the catch the location of fishing spots in a Brazilian coastal Village. Ethnoloy, 6(4), 417-426. https://doi.org/10.2307/3772828
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    , 1970Forman, S. (1970). The raft fishermen: Tradition and change in the Brazilian peasant economy. Indiana University Press.; Maldonado, 1993Maldonado, S. (1993). Mestres e mares, espaço e indivisão na pesca marítima (1 ed.). Annablume., 2000Maldonado, S. (2000). O caminho das pedras: Percepção e utilização do espaço marinho na pesca simples. In A. C. Diegues (Org.), A imagem das águas (pp. 59-68). Hucitec.; Diegues, 1973Diegues, A. C. (1973). A Pesca no litoral sul de São Paulo [Dissertação de mestrado, Universidade de São Paulo]., 2000; Begossi, 2004Begossi, A. (Org.). (2004). Ecologia de pescadores da Mata Atlântica e da Amazônia. NUPAUB-USP.); na região Sudeste, são conhecidos por pedras, marcas ou pesqueiros (cf. Mourão, 2003Mourão, F. (2003 [1971]). Pescadores do litoral sul do Estado de São Paulo. Hucitec. [1971]; Duarte, 1999Duarte, F. (1999 [1978]). As redes do suor: A reprodução social dos trabalhadores da produção do pescado em Jurujuba [Dissertação de mestrado, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro]. [1978]; Diegues, 1997Diegues, A. C. (1997). Tradition and change in brazilian fishing communities: Towards a social anthropology of the sea. In A. C. Diegues (Org.), Tradition and social change in the coastal communities of Brazil (pp. 1-24). NUPAUB., 2004Diegues, A. C. (2004). A Pesca construindo sociedades. NUPAUB–USP.; Maldonado, 1993Maldonado, S. (1993). Mestres e mares, espaço e indivisão na pesca marítima (1 ed.). Annablume., 2000; Begossi, 2004Begossi, A. (Org.). (2004). Ecologia de pescadores da Mata Atlântica e da Amazônia. NUPAUB-USP.); e no Sul do Brasil, como pesqueiros ou pontos de pesca (cf. Adomilli, 2002Adomilli, G. (2002). Trabalho, meio ambiente e conflito: Um estudo antropológico sobre a construção da identidade social dos pescadores do Parque Nacional da Lagoa do Peixe – RS [Dissertação de mestrado em Antropologia Social, Universidade Federal do Rio Grande do Sul].; Silva, 2012Silva, L. A. (2012). Pescadores da Barra do João Pedro, um estudo etnoarqueológico [Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul]., 20Silva, L. A. (2015). Com vento a lagoa vira mar: Uma etnoarqueologia da pesca no litoral norte do RS. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, 10(2), 537-547. https://doi.org/10.1590/1981-81222015000200016
    https://doi.org/10.1590/1981-81222015000...
    15).
  • 13
    As pedras, arrecifes e lages submersas são os enrocamentos em que se desenvolvem todos os níveis tróficos da cadeia alimentar marinha e constituem, naturalmente, os pesqueiros de maior produtividade.
  • 14
    “Partindo da ideia de que pescadores do litoral possuem uma cultura voltada para a exploração desse ambiente específico, aqui sugerimos que o modo de vida das comunidades indígenas costeiras do passado esteve atrelado ao ambiente físico das águas, caracterizado por mudanças sazonais, alterações bruscas de tempo e invisibilidade dos recursos. As águas a que aqui nos referimos são as águas interiores, lagos, estuários, lagunas, rios: ‘dentro das barras’. ‘Fora das barras’ as sociedades ou populações costeiras exploram o ‘mar raso’. Estes pescadores possuem uma economia fortemente apoiada na exploração dos recursos de terra. Os recursos naturais renováveis retirados das águas são inconstantes, invisíveis (embora previsíveis) e obedecem aos padrões biológicos de cada espécie” (Wagner & Silva, 2021bWagner, G., & Silva, L. (2021b). Saberes e pesqueiros: Reflexões sobre conhecimento e território na pesca tradicional do sul do Brasil. Revista de Arqueologia, 34(2), 63-86., p. 127).
  • 15
    Trata-se da pesca de calão (nome dado localmente às canoas), descrita originalmente por Cordell (1974)Cordell, J. (1974). Lunar tide fishing cycle in northeastern Brazil. Ethnology, 13(4), 379-392., na região de Valença, no sul da Bahia.
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Editado por

Responsabilidade editorial: Fernando Ozório de Almeida

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Maio 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    22 Jan 2021
  • Aceito
    28 Jul 2021
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