Acessibilidade / Reportar erro

Ocorrência de Ironstones no Devoniano da Bacia do Paraná

Ironstone ocurrence in the Devonian of the Parana Basin

Resumo:

A origem de ironstones oolíticos, preservados no registro sedimentar, tem sido assunto de muitos debates nas últimas décadas. Tais depósitos formam importantes unidades no registro paleozoico e a determinação de seu significado sedimentológico e estratigráfico é fundamental na interpretação do contexto deposicional dessas sucessões sedimentares. Os ironstones oolíticos da Formação Ponta Grossa estão intimamente associados aos limites de sequência e subsequentes superfícies transgressivas. Essas unidades foram descritas a partir da análise de um furo de sondagem localizado no noroeste da Bacia do Paraná. Esses ooides teriam sido depositados sob baixa taxa de sedimentação em condições marinha rasas, intercalados a eventos transgressivos episódicos, os quais retrabalhariam esses sedimentos. A descrição da evolução diagenética destes ooides de ferro foi feita através de estudos petrográficos e análises de difratometria de raios-X e de microscopia eletrônica de varredura (MEV). Tais análises indicam que a mineralogia dos ooides foi gerada durante a eodiagênese. Os ironstones são constituídos, principalmente, por ooides e cutículas de bertierina, cimento de siderita preenchendo os poros e por calcita ferrosa tardia. O intervalo oolítico estudado apresenta-se no furo de sondagem com laminação ondulada truncada. Esse aspecto faciológico reforça a ideia de que as condições necessárias para o desenvolvimento dos depósitos de ironstones oolíticos foi o intenso retrabalhamento sedimentar, unido às baixas taxas de acumulação.

Palavras-chave:
ironstone; diagênese; estratigrafia de sequências; Bacia do Paraná

Abstract:

The ooidal ironstones origin preserved in the sedimentary record has been subject of many discussions in the last decades. These deposits form prominent units in the Paleozoic record, and an assessment of their sedimentological and stratigraphic significance is essential for the interpretation of sedimentary successions. The ooidal ironstones from the Ponta Grossa Formation are associated with a major sequence boundary and subsequent transgressive surface. These ooidal ironstones were described in a borehole located in the north part of Paraná Basin. They were interpreted as they had been deposited under conditions of low net sediment accumulation with episodic storm events reworking the sediments, in a shallow-marine environment. Through petrographic studies, X-ray diffraction, and scanning electron microscope (SEM) analyses made possible the depiction of the ooidal ironstones diagenetic evolution. Such analyses indicate that the ooidal ironstone mineralogy was formed during eodiagenesis. The ironstones are dominated by berthierine ooids and grain-rimming and pore-filling siderite, with later ferroan calcite. The ooidal interval observed in the borehole presented wave cross lamination. This faciologic aspect reinforces the idea that the conditions required for the development of the ironstones deposits were intense sediment reworking and slow net sediment accumulation rates.

Keywords:
ironstone; diagenesis; sequence stratigraphy; Paraná Basin

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Agradecimentos

À Agência Nacional do Petróleo (ANP) pela concessão de bolsa de mestrado ao primeiro autor; à FINEP pelo financiamento desta pesquisa; à Geóloga Fátima Andreia de Freitas Brazil (CENPES/PETROBRAS) pela colaboração nas descrições de lâminas petrográficas; à PETROBRAS pela disponibilização dos laboratórios de MEV e raios-X; ao Geólogo Sergio Brandolise Citroni (LAMM/UFRRJ) no auxílio às análises remanescentes de difratometria de raios-X; o segundo autor agradece ao CNPq e à FAPERJ pelos auxílios recebidos para execução desta pesquisa.

Referências

  • Amorossi A. 1997. Detecting compositional, spatial, and temporal attributes of glaucony: a tool for provenance research. Sedimentary Geology, 109:135-153.
  • Assine M.L. 1996. Aspectos da estratigrafia das sequências pré-carboníferas da Bacia do Paraná no Brasil Tese de Doutoramento, Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 207 p.
  • Assine M.L., Fúlfaro V.J., Perinotto J.A.J., Petri S. 1998. Progradação deltaica Tibagi no devoniano médio da Bacia do Paraná. Rev. Bras. Geoc., 28(2):125-134.
  • Astini R.A. 1998. El Ordovícico de la región central del Famatina (provincia de La Rioja, Argentina): aspectos estratigráficos, geológicos y geotectónicos. Revista de la Asociación Geológica Argentina, 53(4):445-460.
  • Bergamaschi S. 1992. Análise sedimentológica da Formação Furnas na faixa de afloramentos do flanco norte do arco estrutural de Ponta Grossa, Bacia do Paraná, Brasil Dissertação de Mestrado. Instituto de Geociências, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 172 p.
  • Bergamaschi S., & Pereira E. 2001. Caracterização de seqüências deposicionais de 3ª ordem para o SiluroDevoniano na sub-bacia de Apucarana, bacia do Paraná, Brasil. In: Melo J.H.G., & Terra G.J.S. (eds.) Correlações de Seqüências Paleozóicas Sul-Americanas Rio de Janeiro, Petrobras, p. 63-72.
  • Candido A.G., & Rostirola S.P. 2008. Análise de fácies e revisão da estratigrafia de seqüências da Formação Ponta Grossa, Bacia do Paraná ênfase nos arenitos do Membro Tibagi. B. Geoci. Petrobras, 15(1):45-62.
  • Collin P.Y., Loreau J.P., Courville P. 2005. Depositional environments and iron ooid formation in condensed sections (Callovian-Oxfordian, south-eastern Paris basin, France). Sedimentology 52:969-985.
  • Curtis C.D. 1985. Clay mineral precipitation and transformation during burial diagenesis. Philosophical Transactions of the Royal Society of London, A315:91-105.
  • Deer W.A., Howie R.A., Zussman J. 1996. An Introduction to the Rock-Forming Minerals 2.ed., London, Longman, 712 p.
  • Donaldson W.S., Plint A.G., Longstaffe F.J. 1999. Tectonic and eustatic control on deposition and preservation of Upper Cretaceous ooidal ironstone and associated facies: Peace River Arch area, NW Alberta, Canada. Sedimentology, 46:1159-1182.
  • Freitas-Brazil F.A. 2004. Estratigrafia de seqüências e processo diagenético: exemplo dos arenitos marinhorasos da Formação Ponta Grossa, noroeste da Bacia do Paraná Dissertação de Mestrado, Faculdade de Geologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 135 p.
  • Folk R.L. 1980. Petrology of sedimentary rocks Austin, Hemphill Publishing Company, 182 p.
  • Fúlfaro V.J., Gama Jr. E., Soares P.C. 1980. Revisão estratigráfica da Bacia do Paraná São Paulo, Paulipetro, 155 p.
  • Gaugris K.A., & Grahn Y. 2006. New chitinozoan species from the Devonian of the Paraná Basin, south Brazil, and their biostratigraphic significance. Ameghiniana, 43(2):293-310.
  • Grahn Y., Bergamaschi S., Pereira E. 2002. Middle and Upper Devonian chitinozoan biostratigraphy of the Paraná Basin in Brazil and Paraguay. Palynology, 26:135-165.
  • Grahn Y., Mendlowicz Mauller P., Pereira E., Loboziak S. 2010a. Palynostratigraphy of the Chapada Group and its significance in the Devonian stratigraphy of the Paraná Basin, south Brazil. Journal of South American Earth Sciences, 29:354-370.
  • Grahn Y., Mendlowicz Mauller P., Breuer P., Bosetti E.P., Bergamaschi S., Pereira E. 2010b. The Furnas/Ponta Grossa contact and the age of the lowermost Ponta Grossa Formation in the Apucarana sub-basin (Paraná Basin, Brazil): integrated palynological age determination. Rev. Bras. Paleontol., 13(2):89-102.
  • Gygi, R.A., 1981, Oolitic iron formations: marine or not marine?: Eclogae Geologicae Helvetiae, 74:233-254.
  • Hallam, A. and Bradshaw, M. 1979. Bituminous shale and oolitic ironstones as indicators of regressions and transgressions. Journal of the Geological Society of London, 136:157-164.
  • Lange F.W., & Petri S. 1967. The Devonian of the Paraná Basin. Bol. Paranaense Geociências, 21/22:5-55.
  • Hornibrook E.R.C., & Longstaffe F.J. 1996. Berthierine from the Lower Cretaceous Clearwater Formation, Alberta, Canada. Clays Clay Miner, 44:1-21.
  • Kearsley A.T. 1989. Iron-rich ooids, their mineralogy and microfabric: clues to their origin and evolution, In: Young T.P., & Taylor W.E.G. (eds.) Phanerozoic Ironstones London, Geological Society Special Publication, p. 141-164.
  • Ketzer J.M. 2002. Diagenesis and sequence stratigraphy: an integrated approach to constrain evolution of reservoir quality in sandstone Tese de Doutorado, Universidade de Uppsala, Uppsala, 30 p.
  • Ketzer J. M., Morad S., Amorossi A. 2003. Predictive diagenetic clay-mineral distribution in siliciclastic rocks within a sequence stratigraphy framework. In: Worden, R.H., & Morad, S. (eds.) Clay Mineral Cements in Sandstones Oxford, Int. Assoc. Sedimentol. Spec. Publ., p. 43-61.
  • Kimberley M.M. 1974. Origin of oolitic iron ore by diagenetic replacememt of calcareous oolite. Nature, 250:319-320.
  • Kimberley M.M. 1979, Origin of oolitic iron formations. Journal of Sedimentary Petrology, 49:111-132.
  • Melo J.H.G. 1988. The malvinokaffric realm in the Devonian of Brazil. In: McMillan N. J., Embry A.F., Glass D.J. (eds.) Devonian of the World Calgary, Can. Soc. Petrol. Geol., p. 669-703.
  • Mendlowicz Mauller P. 2008. Bioestratigrafia do Devoniano da Bacia do Paraná - Brasil, com ênfase na Sub-bacia de Alto Garças Tese de Doutorado, Faculdade de Geologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 141 p.
  • Milani E.J. 1997. Evolução tectono-estratigráfica da Bacia do Paraná e seu relacionamento com a geodinâmica fanerozóica do Gondwana Sul-Ocidental Tese de Doutorado, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 254 p.
  • Milani E.J. 2004. Comentários sobre a origem e a evolução tectônica da Bacia do Paraná. In: Mantesso-Neto, V.; Bartorelli, A.; Carneiro, S. D. R.; Brito, B. B. N. (eds.) Geologia do continente sul-americano: evolução da obra de Fernando Flávio Marques de Almeida São Paulo, Beca, p. 265-279.
  • Morad S., Ketzer J.M., De Ros L.F. 2000. Spatial and temporal distribution of diagenetic alterations in siliciclastic rocks: implications for mass transfer in sedimentary basins. Sedimentology, 47:95-120.
  • Odin G.S. 1988. Green Marine Clays - Developments in Sedimentology Amsterdam, Elsevier, 444 p.
  • Oliveira A.S., & Pereira E. 2008. Carbono orgânico total, gamaespectometria e bioturbação como ferramentas na identificação de possíveis horizontes geradores de hidrocarbonetos. In: IBP, Rio Oil & Gas - Expo and Conference, 14, Anais, p. 1-8.
  • Oliveira L.C. 2009. Estudo das relações entre o arcabouço estratigráfico e as alterações diagenéticas observadas na seção Devoniana da Bacia do Paraná Dissertação de Mestrado, Faculdade de Geologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 100 p.
  • Orcel, J., Hénin, S., and Caillère, S. 1949. Sur les silicates phylliteux des minerals de fer oolithiques. C.R. Acad. Sci. Paris, 229:134-135.
  • Orué D. 1996. Síntese da Geologia do Paraguai oriental, com ênfase para o magmatismo alcalino associado Dissertação de Mestrado, Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 163 p.
  • Pereira E. 2000. Evolução tectono-sedimentar do intervalo ordoviciano-devoniano da Bacia do Paraná com ênfase na Sub-Bacia de Alto Garças e no Paraguai oriental Tese de Doutorado, Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 276 p.
  • Pereira E., Rodrigues R., Bergamaschi S., Pessôa de Souza M.S. 2010. Isotope Characterization of Late Devonian Flooding Surfaces in the Paraná Basin. In: SSAGI, South American Symposium on Isotope Geology, 7, Standard Abstract, p. 544-547.
  • Pessôa de Souza M.S. 2006. A Aplicação da Geoquímica Orgânica no Devoniano Médio/Superior da Borda Norte da Bacia do Paraná. Tese de Doutorado, Faculdade de Geologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 153 p.
  • Ramos A.N. 1970. Aspectos paleo-estruturais da Bacia do Paraná e sua influência na sedimentação. Rio de Janeiro. Boletim Técnico da Petrobras, 13:85-93.
  • Schneider R.L., Mühlmann H., Tommasi E., Medeiros R.A., Daemon R.F., Nogueira A.A. 1974. Revisão estratigráfica da Bacia do Paraná. In: SBG, Congresso Brasileiro de Geologia, 28, Anais, p. 41-65.
  • Siehl A., & Thein J. 1989. Minette-type ironstones. In: Phanerozoic Ironstones (T.P. Young & W.E.G. Taylor, editores). Geol. Soc. Spec. Publ., 46:175-193.
  • Sturesson U. 1995. Llanvirnian (Ord.) iron ooids in Baltoscandia: element mobility, REE distribution patterns, and origin of the REE. Chem. Geol., 125:45-60.
  • Sturesson U., Dronov A., Saadre T. 1999. Lower Ordovician iron ooids and associated oolitic clays in Russia and Estonia. Sedim. Geol., 123:63-80.
  • Sturesson U., Heikoop J.M., Risk M.J. 2000. Modern and Palaeozoic iron ooids - a similar volcanic origin. Sedim. Geol., 136:137-146.
  • Taylor K.G., & Curtis C.D. 1995. Stability and facies association of early diagenetic mineral assemblages: an example from a Jurassic ironstone-mudstone succession. Journal of Sedimentary Research, A65:358-368.
  • Taylor K.G., Simo J.A., Yocum D., Leckie D.A. 2002. Stratigraphic significance of ooidal ironstones from the Cretaceous Western Interior Seaway: the Peace River Formation, Alberta, Canada, and the Castlegate Sandstone, Utah, U.S.A. Journal of Sedimentary Research, 72(2):316-327.
  • Van Houten F.B. 1982. Phanerozoic oolitic ironstones - geologic record and facies model. Ann. Rev. Earth Planet. Sci., 10:441-457.
  • Velde B. 2003. Green Clay Minerals - Treatise on Geochemistry. Elsevier, 7:309-324.
  • Worden R.H., & Morad S. 2003. Clay minerals in sandstone: controls on formation, distribution and evolution. In: R.H. Worden & S. Morad (eds.) Clay Mineral Cements in Sandstones Oxford, Blackwell Publishing, p. 3-41.
  • Young T.P. 1989. Eustatucally controlled ooidal ironstone deposition: facies relationships of the Ordovician openshelf ironstones of western Europe. In: Phanerozoic Ironstones (T.P. Young & W.E.G. Taylor, editors). Geol. Soc. Spec. Publ., 46:51-64.
  • Young T.P. 1992. Ooidal ironstones from Ordovician Gondwana: a review. Palaeogeogr. Palaeoclimatol. Palaeoecol., 99:321-346.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2011

Histórico

  • Recebido
    31 Jan 2011
  • Aceito
    13 Out 2011
Sociedade Brasileira de Geologia R. do Lago, 562 - Cidade Universitária, 05466-040 São Paulo SP Brasil, Tel.: (55 11) 3459-5940 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: sbgeol@uol.com.br