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Repetição da punção por agulha fina para o diagnóstico e seguimento de nódulos de tireoide

Resumos

INTRODUÇÃO:

A classificação de Bethesda para relatórios citológicos de tireoide oferece recomendações clínicas para cada categoria diagnóstica, incluindo a repetição do exame de punção para exames citológicos não diagnósticos (ND) e atipia/lesão folicular de significado indeterminado (A/FLUS). Todavia, a repetição da punção para pacientes com exame citológico inicial benigno ainda é discutida.

OBJETIVO:

Investigar a validade da punção repetida para o manejo de pacientes com nódulos tireoidianos.

MÉTODO:

Estudo longitudinal histórico avaliando 412 pacientes consecutivos com biópsias aspirativas repetidas de nódulos da tireoide após exame inicial ND, A/FLUS, ou benigno.

RESULTADOS:

A citologia não diagnóstica foi a indicação mais comum para um exame repetido em 237 pacientes (57,5%), seguida por citologia inicial benigna (36,8%) e A/FLUS (5,6%). Um exame repetido alterou o diagnóstico inicial de 70,5% e 78,3% dos pacientes com citologia inicial não diagnóstica e A/FLUS, respectivamente, enquanto apenas 28,9% dos pacientes com uma citologia inicial benigna apresentaram um diagnóstico diferente em uma punção sequencial.

CONCLUSÕES:

Repetir a punção aspirativa é um procedimento válido para pacientes com citologia inicial não diagnóstica ou atipia/lesão folicular de significado indeterminado, mas seu uso rotineiro em pacientes com exame inicial benigno parece não aumentar a probabilidade de malignidade para este grupo.

Glândula tireoide; Neoplasias da glândula tireoide; Biópsia por agulha fina; Neoplasias de cabeça e pescoço


INTRODUCTION:

The recently-proposed Bethesda reporting system has offered clinical recommendations for each category of reported thyroid cytology, including repeated fine-needle aspiration (FNA) for non-diagnostic and atypia/follicular lesions of undetermined significance, but there are no sound indications for repeated examination after an initial benign exam.

OBJECTIVE:

To investigate the clinical validity of repeated FNA in the management of patients with thyroid nodules.

METHOD:

The present study evaluated 412 consecutive patients who had repeated aspiration biopsies of thyroid nodules after an initial non-diagnostic, atypia/follicular lesion of undetermined significance, or benign cytology.

RESULTS:

The majority of patients were female (93.5%) ranging from 13 to 83 years. Non-diagnostic cytology was the most common indication for a repeated examination in 237 patients (57.5%), followed by benign (36.8%), and A/FLUS (5.6%) cytology. A repeated examination altered the initial diagnosis in 70.5% and 78.3% of the non-diagnostic and A/FLUS patients, respectively, whereas only 28.9% of patients with a benign cytology presented with a different diagnosis on a sequential FNA.

CONCLUSIONS:

Repeat FNA is a valuable procedure in cases with initial non-diagnostic or A/FLUS cytology, but its routine use for patients with an initial benign examination appears to not increase the expected likelihood of a malignant finding.

Thyroid gland; Thyroid neoplasms; Fine-needle biopsy; Head and neck neoplasms


Introdução

Nódulos tireoidianos são comuns. Os dados atuais sugerem a presença de nódulos em 5%-10% das mulheres e em 1%-2% dos homens adultos11. Tunbridge WMG, Evered DC, Hall R, Appleton D, Brewis M, Clark F, et al. The spectrum of thyroid disease in a community: the Whickham Survey. Clin Endocrinol (Oxf ). 1977;7:481-93.

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- 33. British Thyroid Association, Royal College of Physicians: British Thyroid Association Guidelines for the management of thyroid cancer. 2ª ed. 2007. Disponível em: http://www.british-thyroid-association.org/Guidelines/; além disso, nódulos têm sido acidentalmente diagnosticados por estudos ultrassônicos em até 67% de mulheres idosas.44. Tan GH, Gharib H. Thyroid incidentalomas: management approaches to nonpalpable nodules discovered incidentally on thyroid imaging. Ann Intern Med. 1997;126:226-31. , 55. Datta RV, Petrelli NJ, Ramzy J. Evaluation and management of incidentally discovered thyroid nodules. Surg Oncol. 2006;15: 33-42. Acredita-se que 5%-15% desses nódulos sejam malignos.66. Hegedus L. Clinical practice. The thyroid nodule. N Engl J Med. 2004;351:1764-71. Justificam-se achados clínicos e diagnósticos para diferenciar pacientes em risco de malignidade que necessitem de exames suplementares. Provavelmente esse diagnóstico mais aprofundado contribui para o aumento em cânceres tireoidianos cirurgicamente tratados ao longo das últimas décadas, afetando 3,5-8,5/100.000 mulheres e 2,3/100.000 homens.77. Davies L, Welch HG. Increasing incidence of thyroid cancer in the United States, 1973-2002. JAMA. 2006;295:2164-7. , 88. Toms JR, editor. CancerStats monograph 2004. Cancer incidence, survival and mortality in the UK and EU. London: Cancer Research UK; 2004. Foi demonstrado que a biópsia aspirativa por agulha fina (BAAF) é instrumento importante para a avaliação desses nódulos, com acurácia diagnóstica de aproximadamente 97% e com implicações clínicas fundamentais.99. Belfiore A, La Rosa GL. Fine-needle aspiration biopsy of the thyroid. Endocrinol Metab Clin North Am. 2001;30:361-400. , 1010. Greaves TS, Olivera M, Florentine BD, Raza AS, Cobb CJ, Tsao-Wei DD, et al. Follicular lesions of thyroid: a 5-year fine-needle aspiration experience. Cancer. 2000;90:335-41. Em geral, BAAF é recomendada para nódulos hipoecóicos sólidos medindo mais de 1 cm em sua maior dimensão, nódulos sólidos/císticos mistos com mais de 2 cm e nódulos microcentímetros com aspectos suspeitos ao ultrassom, como microcalcificações e margens irregulares. Além disso, justifica-se a realização de BAAF para pacientes em alto risco para câncer de tireóide, inclusive aqueles com história familiar de câncer de tireóide ou neoplasia endócrina múltipla, e com exposição à radiação ionizante no início da vida. O sistema de Bethesda para citopatologia tireoidiana, recentemente descrito, define seis categorias com recomendações clínicas correlacionadas para cada categoria. Sugere-se a repetição da BAAF dentro de 3 a 6 meses para exames não diagnósticos iniciais e também para pacientes com atipia/lesões foliculares de significado indeterminado1111. Cooper DS, Doherty GM, Haugen BR, Kloos RT, Lee SL, Mande SJ, et al. Revised American Thyroid Association management guidelines for patients with thyroid nodules and differentiated thyroid cancer. Thyroid. 2009;19:1167-214.

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- 1313. Ali SZ, Cibas ES, editores. The Bethesda system for reporting thyroid cytopathology. New York: Springer Science; 2010. (A/LFSI). Um exame seqüencial não é rotineiramente recomendado para pacientes com citologia benigna inicial, pois a maioria dessas pessoas é seguida criteriosamente com exames clínicos e de imagens seqüenciais. Apesar dessa prática, alguns dados sugerem que a repetição da BAAF também deva ser considerada em pacientes com citologia benigna inicial, com vistas à diminuição do risco de falso-negativos e confirmação das características benignas desses nódulos.1414. Dwarakanathan AA, Staren ED, D'Amore MJ, Kluskens LF, Martirano M, Economou SG. Importance of repeat fine-needle biopsy in the management of thyroid nodules. Am J Surg. 1993;166: 350-2.

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Material e método

Este é um estudo retrospectivo de coorte de 568 pacientes consecutivos que foram submetidos à repetição de biópsia aspirativa de nódulos tireoidianos, com avaliação em uma mesma instituição entre janeiro de 1998 e dezembro de 2010. Devido às diferenças nos relatórios da citologia tireoidiana ao longo do período de estudo, todos os resultados citológicos foram atualizados em conformidade com o sistema de Bethesda de 2010 para relatório da citologia tireoidiana. Todos os pacientes tiveram um exame inicial classificado como não diagnóstico, benigno, ou de atipia/lesão folicular de significado indeterminado, e pelo menos uma repetição da BAAF dentro de um intervalo máximo de 36 meses entre aspirações, além de demonstrar a não ocorrência de alterações clínicas ou radiológicas significativas no nódulo dominante ou solitário previamente avaliado. Pacientes com BAAF repetida num intervalo de tempo superior ao previamente mencionado e aqueles com laudo citológico de neoplasia folicular, com suspeita de neoplasia ou com malignidade confirmada foram excluídos. O estudo foi aprovado pela comissão de revisão da instituição. Foram realizadas análises estatísticas descritivas e comparativas com o uso do programa SPSS 13.0 para Windows(r) com o fito de avaliar a possibilidade de a repetição da BAAF alterar o diagnóstico inicial, com particular ênfase no percentual de achados suspeitos/malignos na BAAF subsequente, estratificados por diagnóstico citológico inicial. Os resultados foram expressos como frequências e percentuais, e utilizamos o teste exato de Fisher para comparar as classificações dos resultados observados entre categorias. Esse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da instituição (CEP 100046).

Resultados

A análise final abrangeu 412 pacientes com idades variando de 13 a 83 anos (média 49,3 anos). Em sua grande maioria, os pacientes eram mulheres (93,5%) e apenas 6,5% eram homens. O intervalo médio entre o exame inicial e o exame seqüencial foi de 10,8 meses para toda a coorte. Mas esse intervalo variou de 6,3 meses para a citologia não diagnóstica até 18,1 meses e 13,8 meses para as citologias benigna e A/LFSI, respectivamente. Uma citologia não diagnóstica foi a indicação mais comum para uma repetição da BAAF em 237 pacientes (57,5%), seguida pela citologia benigna (36,8%) e por A/LFSI (5,6%) na BAAF inicial (tabela 1). A repetição do exame alterou o diagnóstico inicial em 70,5% e 78,3% dos pacientes com citologia não diagnóstica e A/LFSI, respectivamente, enquanto que apenas 28,9% dos pacientes com citologia benigna se apresentaram com um diagnóstico diferente na BAAF sequencial. Essa diferença entre grupos foi significativa, pois pacientes com citologia inicial benigna tiveram probabilidade muito maior de um resultado similar em um exame seqüencial (tabela 2). Não foi observada diferença significativa na ocorrência de uma repetição da BAAF revelando uma citologia suspeita/maligna para um exame inicial não diagnóstico (5,1%), benigno (3,3%) ou A/LFSI (4,3%) (tabela 3).

Tabela 1
Resultados citológicos para BAAF inicial versus repetição da BAAF
Tabela 2
Probabilidade de relatório diferente de citologia BAAF2 entre grupos
Tabela 3
Comparação do risco de malignidade para uma repetição da BAAF entre grupos

Foram obtidos dados dos resultados do tratamento cirúrgico para 26,6% (63/237) dos pacientes com uma BAAF inicial não diagnóstica, e para 21,7% (5/23) dos pacientes com citologia A/LFSI, enquanto que apenas 14,5% (22/152) dos pacientes com um diagnóstico inicial benigno precisaram de cirurgia. Os dados histológicos estão resumidos na tabela 4.

Tabela 4
Desfecho histológico de acordo com a citologia BAAF inicial

Discussão

Achados clínicos e fortuitos de nódulos tireoidianos se tornaram comuns, sobretudo graças ao conhecimento mais aprofundado dessa condição e também pela pronta disponibilidade de técnicas diagnósticas como o ultrassom de alta resolução. Quase todos esses nódulos são benignos, com indicações cirúrgicas limitadas. Obviamente, seria ideal operar apenas aqueles pacientes com tumores malignos e pacientes cujos sintomas clínicos necessitassem de tratamento cirúrgico. O uso da BAAF para a citologia tireoidiana remonta aos anos 50, com o objetivo de identificar os nódulos com maior risco de malignidade. BAAF vem evoluindo gradativamente como um instrumento diagnóstico essencial, sendo responsável pelo aumento do número de cânceres tireoidianos cirurgicamente tratados; atualmente, 50% das tireoidectomias são decorrentes de tumores malignos, enquanto que esse percentual era inferior a 14% no passado.2121. Cibas ES. Fine-needle aspiration in the work-up of thyroid nodules. Otolaryngol Clin North Am. 2010;43:257-71. Os relatórios de citologia da BAAF baseados no sistema de Bethesda recentemente proposto estão associados a percentuais de sensibilidade, especificidade e acurácia diagnóstica de 97%; 50,7% e 68,8%, respectivamente.2222. Bongiovanni M, Spitale A, Faquin WC, Mazzucchelli L, Baloch ZW. The Bethesda system for reporting thyroid cytopathology: a meta-analysis. Acta Cytol. 2012;56:333-9. Apesar desses números, a citologia tireoidiana pode ser afetada por espécimes não diagnósticos em aproximadamente 10% dos casos,2323. Yang J, Schnadig V, Logrono R, Wasserman PG. Fine-needle aspiration of thyroid nodules: a study of 4703 patients with histologic and clinical correlations. Cancer. 2007;111:306-15. sendo particularmente desafiadora em casos de atipia ou de lesões foliculares de significado indeterminado (A/LFSI).

BAAF não diagnóstica foi a indicação mais comum para repetição do exame nessa série, em que 70,5% resultaram em um diagnóstico diferente da primeira citologia. É curioso observar que 44,7% das BAAFs iniciais não diagnósticas foram reclassificadas como Bethesda 2 - citologia benigna, possibilitando o tratamento não cirúrgico e um seguimento clínico, quando apropriado, enquanto que apenas 5,1% se apresentaram com um segundo exame suspeito/maligno. Furlan et al.2424. Furlan JC, Bedard YC, Rosen IB. Single versus sequential fine-needle aspiration biopsy in the management of thyroid nodular disease. Can J Surg. 2005;48:12-8. também observaram que 100% dos pacientes com citologia inicial não diagnóstica foram reclassificados em uma diferente categoria da classificação de Bethesda em uma BAAF seqüencial. Orija et al.2525. Orija IB, Piñeyro M, Biscotti C, Reddy SS, Hamrahian AH. Value of repeating a nondiagnostic thyroid fine-needle aspiration biopsy. Endocr Pract. 2007;13:735-42. também observaram decréscimo no percentual de resultados não diagnósticos; esses autores constataram que a BAAF seqüencial proporcionou um diagnóstico em até 60% dos casos.

Portanto, a repetição do exame é apoiado pela recomendação do sistema de Bethesda depois de 3 a 6 meses após a primeira BAAF. Coorough et al.2626. Coorough N, Hudak K, Jaume JC, Buehler D, Selvaggi S, Rivas J, et al. Nondiagnostic fine-needle aspirations of the thyroid: is the risk of malignancy higher? J Surg Res. 2013;184: 746-50. também observaram que repetir a BAAF, gerando outro achado não diagnóstico apresentou o dobro da probabilidade do diagnóstico de carcinoma na histologia final, em comparação com um risco de 5% de malignidade em pacientes que tiveram uma citologia diagnóstica antes da intervenção cirúrgica. Tivemos 63 pacientes com uma citologia inicial não diagnóstica submetidos a ressecção cirúrgica; observamos que 17,5% deles apresentavam um tumor maligno no exame histopatológico final. Esses resultados são similares aos de Jo et al.,2727. Jo VC, VanderLaan PA, Marqusee E, Krane JF. Repeatedly nondiagnostic thyroid fine-needle aspirations do not modify malygnancy risk. Acta Cytol. 2011;55:539-43 que avaliaram um grupo de 57 aspirados tireoidianos não diagnósticos seguidos por ressecção cirúrgica e demonstrando um risco de 20% de malignidade após uma BAAF diagnóstica, o que poderia falar em favor da necessidade de uma repetição da BAAF para esse grupo de pacientes. Segundo o sistema de Bethesda, a repetição da BAAF para lesões A/LFSI também poderia ser levada em consideração, mas os benefícios dessa abordagem ainda não estão bem estabelecidos.

Observamos que 5,6% das repetições da BAAF foram decorrentes de uma citologia A/LFSI, o que é consistente com um percentual esperado de 7% de A/LFSI,1313. Ali SZ, Cibas ES, editores. The Bethesda system for reporting thyroid cytopathology. New York: Springer Science; 2010. e 43,5% desses pacientes foram classificados como Bethesda 2 - citologia benigna - em uma BAAF seqüencial, enquanto que apenas 21,7% persistiram com a classificação de A/LFSI. Esses percentuais são similares àqueles informados por Chen et al.,2828. Chen JC, Pace SC, Chen BA, Khiyami A, McHenry CR. Yield of repeat fine-needle aspiration biopsy and rate of malignancy in patients with atypia or follicular lesion of undetermined significance: the impact of the Bethesda system for reporting thyroid cytopathology. Surgery. 2012;152:1037-44. que examinaram 26 pacientes com nódulos A/LFSI e tiveram uma repetição da BAAF que se revelou benigna em 42,3% dos casos, enquanto que 23,07% persistiram como A/LFSI. Embora sua incidência de casos suspeitos ou de malignidades tenha sido de 15,38% - o triplo de nosso percentual de 4,3%, essas diferenças são razoáveis, pois a real incidência de malignidades para A/LFSI ainda é desconhecida, e uma variação de 5% a 15% para as malignidades é uma faixa de variabilidade aceitável. Repetir a BAAF nas lesões A/LFSI também se revelou uma estratégia com bom custo-benefício, se comparada a uma lobectomia diagnóstica de rotina.2929. Heller M, Zanocco K, Zydowicz S, Elaraj D, Nayar R, Sturgeon C. Cost-effectiveness analysis of repeat fine-needle aspiration for thyroid biopsies read as atypia of undetermined significance. Surgery. 2012;152:423-30. Apesar desses achados, aproximadamente 60% dos pacientes que têm uma citologia inicial A/LFSI são ainda encaminhados para a cirurgia sem uma repetição da BAAF,2424. Furlan JC, Bedard YC, Rosen IB. Single versus sequential fine-needle aspiration biopsy in the management of thyroid nodular disease. Can J Surg. 2005;48:12-8. e a maioria dos estudiosos espera que essa abordagem venha a ser mudada, em função de uma maior conformidade com as recomendações do sistema Bethesda. Observamos que 40% dos pacientes cirurgicamente tratados com uma citologia inicial A/LFSI tiveram um tumor maligno diagnosticado na histologia. Esses números concordam com os achados de Van der Laann et al.,3030. VanderLaan PA, Marqusee E, Krane JF. Clinical outcome for atypia of undetermined significance in thyroid fine-needle aspirations: should repeated FNA be the preferred initial approach? Am J Clin Pathol. 2001;135:770-5. que chegaram a um diagnóstico de malignidade em 41% a 43% dos pacientes depois de uma BAAF isolada ou consecutiva para A/LFSI, respectivamente. Entretanto, qualquer consideração mais aprofundada acerca do risco relativo de malignidade de pacientes com citologia A/LFSI e de sua correlação com achados histológicos ultrapassa os objetivos desse estudo, e sofreria as limitações decorrentes do pequeno número de pacientes nesse grupo.

Também está em curso a seguinte discussão - se pacientes com citologia benigna também podem se beneficiar com a repetição rotineira da BAAF com o objetivo de reduzir o risco de resultados falso-negativos. Alguns autores demonstraram que aproximadamente 90% a 98% dos pacientes com um diagnostico inicial benigno não mudarão depois de repetidas BAAFs, tendo concluído que a rotina de exames repetidos não deve ser considerada para todos os pacientes.1717. Aguilar J, Rodriguez JM, Flores B, Sola J, Bas A, Soria T, et al. Value of repeated fine-needle aspiration cytology and cytologic experience on the management of thyroid nodules. Otolaryngol Head Neck Surg. 1998;119:121-4. , 3131. Erdogan MF, Kamel N, Aras D, Akdogan A, Baskal N, Erdogan G. Value of re-aspirations in benign nodular thyroid disease. Thyroid. 1998;8:1087-90.

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Conclusão

A repetição da BAAF é um procedimento importante em casos com citologia inicial não diagnóstica ou com A/LFSI, por proporcionar informações que podem ter implicações no que tange ao seguimento clínico versus intervenção cirúrgica.

Seu uso rotineiro para o seguimento de todos os pacientes com um exame inicial benigno parece não aumentar a probabilidade esperada de uma lesão maligna, devendo ficar reservado para casos selecionados.

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  • Como citar este artigo: Graciano AJ, Chone CT, Fischer CA, Bublitz GS, Peixoto AJ. Repeated fine-needle aspiration cytology for the diagnosis and follow-up of thyroid nodules. Braz J Otorhinolaryngol. 2014;80:422-7.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Oct 2014

Histórico

  • Recebido
    30 Set 2013
  • Aceito
    28 Dez 2013
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