Acessibilidade / Reportar erro

Prevalência de sintomas depressivos em pacientes com fissuras labiopalatinas

Resumos

INTRODUÇÃO:

Fissuras labiais e/ou palatinas (FL/Ps) representam as anomalias craniofaciais mais comuns.

OBJETIVOS:

Avaliar a prevalência de sintomas depressivos em crianças e adolescentes não sindrômicos com FL/P (FL/PNS).

MÉTODO:

Foi realizado um estudo observacional de caso-controle com uma amostra populacional de conveniência, com um grupo caso (61 pacientes com FL/PNS, tendo idades entre 7 a 17 anos) e um grupo controle (61 pacientes clinicamente normais). Ambos os grupos foram selecionados na mesma Instituição.

RESULTADOS:

Sintomas depressivos foram observados no grupo caso (FL/PNS), mas não houve diferenças estatisticamente significantes quando comparado com o grupo controle. Não foi encontrada associação entre os dois grupos (caso e controle) em relação às variáveis sociodemográficas: gênero, idade e educação.

CONCLUSÕES:

Este estudo observou a prevalência de sintomas depressivos em crianças e adolescentes com FL/PNS de uma população geográfica localizada, embora os resultados não tenham sido estatisticamente significantes quando comparado com o grupo controle, não justificando assim a utilização de instrumentos rastreadores de sintomas depressivos na população analisada.

Fenda palatina; Fissura labial; Depressão; Criança; Adolescente


INTRODUCTION:

Cleft lip and/or palate (CL/P) represent the most common congenital anomalies of the face.

OBJECTIVE:

To evaluate the prevalence of depressive symptoms in children and adolescents with nonsyndromic cleft lip and/or palate (nsCL/P).

METHODS:

We conducted an observational, case-control study, with a case study group composed of 61 patients with nsCL/P, aged 7-17 years, and a control group of 61clinically normal patients. Both groups were selected at the same institution.

RESULTS:

Depressive symptoms were observed in the case group (nsCL/P), but there were no statistically significant differences compared to the control group. No association was found between the two groups (case and control) in relation to sociodemographic variables: gender, age and education.

CONCLUSIONS:

This study identified the prevalence of depressive symptoms in children and adolescents with nsCL/P from a localized geographic population, although the results were not statistically significant when compared to the control group, not justifying the use of CDI (Child Depression Inventory) as a screening instrument for depressive symptoms in the examined population.

Cleft lip; Cleft palate; Depression; Child; Adolescent


Introdução

Fissura labial e/ou palatina não sindrômica (FL/PNS) é a alteração congênita mais prevalente da área craniofacial e resulta em complicações anatômicas e distúrbios psicológicos e comportamentais.11. Finnell RH, Greer KA, Barber RC, Piedrahita JA. Neural tube and craniofacial defects with special emphasis on folate pathway genes. Crit Rev Oral Biol Med. 1998;9:38-53. A incidência de FL/PNS varia de acordo com a localização geográfica, raça e condição socioeconômica,22. Cobourne MT. The complex genetics of cleft lip and palate. Eur J Orthod. 2004;26:7-16. , 33. Martelli Júnior H, Orsi Júnior J, Chaves MR, Barros LM, Bonan PR, Freitas JA. Estudo epidemiológico das fissuras labiais e palatais em Alfenas - Minas Gerais - de 1986 a 1998. RPG Rev Pos Grad. 2006;13:31-5. e tem uma distribuição média de aproximadamente 1 caso para cada 700 nativivos.44. Mossey PA, Little J, Munger RG, Dixon MJ, Shaw WC. Cleft lip and palate. Lancet. 2009;374:1773-85. A etiologia das FL/PNS é multifatorial, envolvendo alguns genes e complexos eventos moleculares que ocorrem durante a embriogênese, e que são influenciados por fatores ambientais.55. Marazita ML. The evolution of human genetic studies of cleft lip and cleft palate. Annu Rev Genomics Hum Genet. 2012;13:263-83. , 66. Paranaíba LMR, Bufalino A, Martelli-Júnior H, de Barros LM, Graner E, Coletta RD. Lack of association between polymorphisms (rs2235371 and rs642961) and non-syndromic cleft lip and/or palate in a Brazilian population. Oral Dis. 2010;16:193-7.

Alguns estudos têm associado o aumento do risco para o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos em crianças e adolescentes com FL/PNS, observando níveis alterados ​​de sintomas depressivos.77. Okkerse JM, Beemer FA, Cordia-de Haan M, Heineman-de Boer JA, Mellenbergh GJ, Wolters WH. Facial attractiveness and facial impairment ratings in children with craniofacial malfor- mations. Cleft Palate Craniofac J. 2001;38:386-92.

8. Schuster M, Kummer P, Eysholdt U, Rosanowski F. Social orien- tation of parents of children with cleft lip and palate. HNO. 2003;51:507-12.

9. Hunt O, Burden D, Hepper P, Johnston C. The psychosocial effects of cleft lip and palate: a systematic review. Eur J Orthod. 2005;27:274-85.

10. De Sousa A, Devare S, Ghanshani J. Psychological issues in cleft lip and cleft palate. J Indian Assoc Pediatr Surg. 2009;14:55-8.

11. Snyder H, Pope AW. Psychosocial adjustment in children and adolescents with a craniofacial anomaly: diagnosis-specific pat- terns. Cleft Palate Craniofac J. 2010;47:264-72.
- 1212. Demir T, Karacetin G, Baghaki S, Aydin Y. Psychiatric assessment of children with nonsyndromic cleft lip and palate. General Hospital Psychiatry. 2011;33:594-603. Observa-se na literatura que os transtornos depressivos na população normal, em estudos de base popula cional, atingem prevalência de 10% e incidência de 2% na população.1313. Rombaldi AJ, Silva MCD, Gazalle FK, Azevedo MR, Hallal PC. Prevalência e fatores associados a sintomas depressivos em adultos do sul do Brasil: estudo transversal de base populacional [Prevalence of depressive symptoms and associated factors among southern Brazilian adults: cross-sectional population- based study]. Rev Bras Epidemiol. 2010;13:620-9. Estima-se que cerca de 5% das pessoas no mundo tenham depressão, e que cerca de 10% a 25% delas podem apresentar algum episódio depressivo em durante a vida.1414. Mattos Souza LD, Silva RS, Godoy RV, Cruzeiro ALS, Faria AD, Pinheiro RT. Sintomatologia depressiva em adoles- centes iniciais-estudo de base populacional. J Bras Psiquiatr. 2008;57:261-6. , 1515. Bahls SC. Depressive symptoms in adolescents of a public school. Rev Bras Psiquiatr. 2002;24:63-7.

O predomínio da depressão infantil aumenta com a idade e centraliza-se em torno de 2% e, durante a adolescência, vai aumentando progressivamente, até alcançar números próximos aos da vida adulta.16 Em diferentes regiões do mundo e, inclusive no Brasil, estes valores variam de 0,4% a 3,0% para crianças e de 3,3% a 12,4% para adolescentes. Essas variações podem ser explicadas pelas diferenças metodológicas na estratégia de seleção da amostra, assim como por diferenças culturais dos locais nos quais os estudos foram conduzidos.1515. Bahls SC. Depressive symptoms in adolescents of a public school. Rev Bras Psiquiatr. 2002;24:63-7.

16. Álvares ADM, Lobato GR. Um estudo exploratório da incidência de sintomas depressivos em crianças e adolescentes em acolhi- mento institucional. Temas em Psicologia. 2013;21:151-64.
- 1717. Adewuya AO, Ologum YA. Factors associated with depres- sive symptoms in Nigerian adolescents. J Adolesc Health. 2006;39:105-10.

A detecção precoce de sintomas depressivos pode indicar danos ao ambiente social, escolar e familiar77. Okkerse JM, Beemer FA, Cordia-de Haan M, Heineman-de Boer JA, Mellenbergh GJ, Wolters WH. Facial attractiveness and facial impairment ratings in children with craniofacial malfor- mations. Cleft Palate Craniofac J. 2001;38:386-92. , 88. Schuster M, Kummer P, Eysholdt U, Rosanowski F. Social orien- tation of parents of children with cleft lip and palate. HNO. 2003;51:507-12. , 1818. Johansson B, Ringsberg KC. Parents' experiences of having a child with cleft lip and palate. J Adv Nur. 2004;47:165-73. e, para isso, existem vários métodos aplicados para triagem e diagnóstico.1919. Kovacs M. The Children's Depression Inventory (CDI). Psy- chopharmacol Bull. 1985;21:995-8. , 2020. Turner SR, Rumsey N, Sandy JR. Psychological aspects of cleft lip and palate. Eur J Orthod. 1998;20:407-15. O Inventário de Depressão Infantil (IDI) é usado para avaliar sintomas depressivos em crianças e adolescentes em diferentes contextos clínicos e de pesquisa.1919. Kovacs M. The Children's Depression Inventory (CDI). Psy- chopharmacol Bull. 1985;21:995-8.

20. Turner SR, Rumsey N, Sandy JR. Psychological aspects of cleft lip and palate. Eur J Orthod. 1998;20:407-15.
- 2121. Rivera CL, Bernal G, Rosselló J. The Children Depression Inven- tory (CDI) and the Beck Depression Inventory (BDI): their validity as screening measures for major depression in a group of Puerto Rican adolescents. Int J Clin Health Psychol. 2005;5:485-98. Dessa maneira, alguns estudos têm mostrado uma associação entre a ocorrência dessa malformação e o ajustamento psicossocial, sugerindo maior atenção aos pacientes com FL/PNS, incluindo seu desenvolvimento global e integração no ambiente social.2121. Rivera CL, Bernal G, Rosselló J. The Children Depression Inven- tory (CDI) and the Beck Depression Inventory (BDI): their validity as screening measures for major depression in a group of Puerto Rican adolescents. Int J Clin Health Psychol. 2005;5:485-98.

22. Gorestein C, Andrade L. Inventário de depressão de Beck: pro- priedades psicométricas da versão em português. Rev Psiq Clin. 1998;25:245-50.

23. Christensen K, Juel K, Herskind AM, Murray JC. Long term follow up of survival associated with cleft lip and palate birth. BMJ. 2004;328:1405.
- 2424. Millar K, Bell A, Bowman A, Brown D, Lo TW, Siebert P, et al. Psychological status as a function of residual scarring and facial asymmetry after surgical repair of cleft lip and palate. Cleft Palate Craniofac J. 2011;50:150-7.

Além disso, é necessário um apoio psiquiátrico e psicológico ao longo do crescimento e desenvolvimento dos pacientes com FL/PNS e também durante todo o período de reabilitação, buscando entender suas necessidades e a de seus pais no processo de sentir e vivenciar a malformação craniofacial.1010. De Sousa A, Devare S, Ghanshani J. Psychological issues in cleft lip and cleft palate. J Indian Assoc Pediatr Surg. 2009;14:55-8. , 1111. Snyder H, Pope AW. Psychosocial adjustment in children and adolescents with a craniofacial anomaly: diagnosis-specific pat- terns. Cleft Palate Craniofac J. 2010;47:264-72. , 2323. Christensen K, Juel K, Herskind AM, Murray JC. Long term follow up of survival associated with cleft lip and palate birth. BMJ. 2004;328:1405. , 2424. Millar K, Bell A, Bowman A, Brown D, Lo TW, Siebert P, et al. Psychological status as a function of residual scarring and facial asymmetry after surgical repair of cleft lip and palate. Cleft Palate Craniofac J. 2011;50:150-7. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a prevalência de sintomas depressivos em crianças e adolescentes com FL/PNS.

Método

Realizou-se um estudo caso-controle, observacional. Todos os participantes foram selecionados na mesma instituição (Centro de Referência para Reabilitação de Anomalias Craniofaciais e Clínicas Odontológicas e Médicas), no estado de Minas Gerais, Brasil. O grupo caso foi constituído de 61 pacientes com FL/PNS, com idades entre sete e 17 anos; e o grupo controle foi formado por 61 indivíduos clinicamente saudáveis (com história pessoal ou familiar negativas para alterações ou síndromes craniofaciais) na mesma faixa etária. Ambos os grupos de estudo foram selecionados por conveniência, respeitando, quantitativamente, cálculos amostrais prévios para definição do número de sujeitos envolvidos. Foram excluídos do estudo aqueles pacientes sem um diagnóstico ou sindrômicos, com anomalias craniofaciais ou história familiar de consanguinidade. Comparou-se a prevalência e a gravidade de sintomas depressivos entre os grupos através da aplicação de um questionário autodirigido e autoexplicativo, o IDI.1919. Kovacs M. The Children's Depression Inventory (CDI). Psy- chopharmacol Bull. 1985;21:995-8.

Este instrumento (IDI) (tabela 1) foi desenvolvido para detectar a presença e a gravidade de sintomas depressivos em crianças e adolescentes, a fim de se identificar alterações no humor, na capacidade hedônica, nas funções vegetativas e nos comportamentos autoavaliativos e interpessoais. Os 27 itens do questionário são somados para obtenção de uma pontuação (escore), que pode ser positiva conforme a validação da nacionalidade do questionário.1919. Kovacs M. The Children's Depression Inventory (CDI). Psy- chopharmacol Bull. 1985;21:995-8. , 2525. Gouveia V, Barbosa G, Almeida H, Gaião A. Inventário de Depressão Infantil - CDI: Estudo de adaptação com escolares de João Pessoa. J Bras Psiquiatr. 1995;44:345-9. Durante a aplicação do questionário, cada item do IDI foi lido em conjunto com os pacientes, permitindo, assim, o esclarecimento de possíveis dúvidas. O valor de alfa foi fixado em 0,5%. O ponto de corte (escore) estabelecido previamente e com significância estatística foi de 17 pontos. Os resultados foram comparados por meio do teste do Qui-quadrado e análise de regressão logística. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética Institucional (nº 56/2010).

Tabela 1
Inventário de Depressão Infantil (IDI)

Resultados

A distribuição para os grupos caso (n = 61) e controle (n = 61) seguiu um padrão normal para o gênero; e, em ambos os grupos, a faixa etária mais prevalente foi entre sete e 13 anos de idade (tabela 2). Ao avaliar a classificação de FL/PNS para o grupo caso, encontrou-se uma maior frequência de fissura de palato (n = 33), com distribuição igual para fissura de lábio e palato isolada (n = 14; correspondente a 23% para cada, no grupo). A análise de regressão logística não identificou associação entre as variáveis ​​ sociodemográficas, quando os dois grupos foram comparados: gênero (p = 0,716; OR 1,14; 95% IC 0,56-2,32), idade (p = 0,364; OR 1,40; 95% IC 0,68-2,85); e educação (p = 0,082; OR 3,34; 95% IC 0,86-13,0). Houve uma associação para a cor da pele (p = 0,048; OR 3,34; 95% IC 1,0-4,27), o que significa que os indivíduos com FL/PNS são 3,34 vezes mais propensos a serem leucodermos (tabela 2).

Tabela 2
Características gerais dos pacientes com fissuras labiopalatinas não sindrômicas (grupo caso) e sem fissuras labiopalatinas (grupo controle)

Observou-se uma prevalência de sintomas depressivos no grupo caso (FL/PNS; 21,3%, n = 13), porém não houve significância estatística quando comparado com o grupo controle (p = 0,234, OR 1,80, 95% IC 0,68-4,70) (tabela 2). A análise de cada um dos 27 itens do IDI identificou uma distribuição homogênea na frequência de sintomas depressivos em ambos os grupos, e houve associação para três itens quando se comparou a média dos escores, por subitem do IDI (tabela 3). Com relação ao item que contemplava a investigação sobre suicídio, observou-se que 8,4% (n = 5) dos indivíduos no grupo caso (FL/PNS) relataram algum desejo de se matar, em comparação com o grupo controle, com apenas 6% (n = 1).

Tabela 3
Comparação dos escores médios por subitem do CDI (p-valor, comparação de medianas por Kruskall-Wallis) de pacientes com fissuras labiopalatinas não sindrômicas (grupo caso) e pacientes do grupo controle (n = 122)

Discussão

Alguns estudos têm relacionado o risco aumentado para o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos em crianças e adolescentes com FL/PNS, sugerindo níveis desfavoráveis ​​de sintomas depressivos.1010. De Sousa A, Devare S, Ghanshani J. Psychological issues in cleft lip and cleft palate. J Indian Assoc Pediatr Surg. 2009;14:55-8. , 1111. Snyder H, Pope AW. Psychosocial adjustment in children and adolescents with a craniofacial anomaly: diagnosis-specific pat- terns. Cleft Palate Craniofac J. 2010;47:264-72. , 2626. Leite GIC, Paumgarten RJF, Koifman S. Oral clefts in the new- born and medical intakes and maternal health conditions: a case-control study in the city of Rio de Janeiro, Brasil. Rev Bras Saúde Matern Infant. 2005;5:35-43.

27. Boes AD, Murko V, Wood JL, Langbehn DR, Canady J, Richman L, et al. Social function in boys with cleft lip and palate: rela- tionship to ventral frontal cortex morphology. Behav Brain Res. 2007;181:224-31.
- 2828. Pinquart M, Shen Y. Depressive symptoms in children and adoles- cents with chronic physical illness: an updated meta-analysis. J Pediatr Psychol. 2011;36:375-84. Uma meta-análise que incluiu 340 estudos identificou altos níveis de sintomas depressivos em diversas condições crônicas ou doenças, quando comparados com indivíduos normais.2828. Pinquart M, Shen Y. Depressive symptoms in children and adoles- cents with chronic physical illness: an updated meta-analysis. J Pediatr Psychol. 2011;36:375-84. Diferenças marcantes foram encontradas na síndrome da fadiga crônica, na fibromialgia, na enxaqueca, na epilepsia e nas FL/P. A presença desses sintomas foi mais prevalente em pacientes do gênero feminino e em indivíduos de países em desenvolvimento.2828. Pinquart M, Shen Y. Depressive symptoms in children and adoles- cents with chronic physical illness: an updated meta-analysis. J Pediatr Psychol. 2011;36:375-84. No presente estudo, apesar da presença de sintomas depressivos no grupo caso FL/PNS (21,3%, n = 13), não houve significância estatística positiva quando comparado com o grupo controle (p = 0,234; OR 1,80; 95% IC 0,68-4,70). A análise estratificada não demonstrou nenhuma associação de sintomas depressivos em ambos os grupos (caso vs.controle) em combinação de variáveis​​, tais como gênero (p = 0,145) e idade (p = 0,165).

Sabe-se que a detecção precoce de sintomas depressivos é importante, uma vez que identifica antecipadamente danos para o ambiente familiar, social e escolar,77. Okkerse JM, Beemer FA, Cordia-de Haan M, Heineman-de Boer JA, Mellenbergh GJ, Wolters WH. Facial attractiveness and facial impairment ratings in children with craniofacial malfor- mations. Cleft Palate Craniofac J. 2001;38:386-92. , 88. Schuster M, Kummer P, Eysholdt U, Rosanowski F. Social orien- tation of parents of children with cleft lip and palate. HNO. 2003;51:507-12. , 2626. Leite GIC, Paumgarten RJF, Koifman S. Oral clefts in the new- born and medical intakes and maternal health conditions: a case-control study in the city of Rio de Janeiro, Brasil. Rev Bras Saúde Matern Infant. 2005;5:35-43.

27. Boes AD, Murko V, Wood JL, Langbehn DR, Canady J, Richman L, et al. Social function in boys with cleft lip and palate: rela- tionship to ventral frontal cortex morphology. Behav Brain Res. 2007;181:224-31.
- 2828. Pinquart M, Shen Y. Depressive symptoms in children and adoles- cents with chronic physical illness: an updated meta-analysis. J Pediatr Psychol. 2011;36:375-84. e que a aplicação de métodos de rastreio e diagnóstico pode orientar o tratamento desses pacientes.1919. Kovacs M. The Children's Depression Inventory (CDI). Psy- chopharmacol Bull. 1985;21:995-8. , 2929. Thurber S, Snow M, Honts CR. The Zung Self-Rating Depres- sion Scale: convergent validity and diagnostic discrimination. Assessment. 2002;9:401-5. Em estudo caso-controle irlandês, comparou-se a presença de distúrbios psicológicos funcionais, tais como ansiedade e depressão, e distúrbios de comportamento entre 160 crianças e adolescentes com FL/PNS e 113 indivíduos normais.3030. Hunt O, Burden D, Hepper P, Stevenson M, Johnston C. Self- reports of psychosocial functioning among children and young adults with cleft lip and palate. Cleft Palate Craniofac J. 2006;43:598-605. Foi observada uma associação importante entre alterações de comportamento e sintomas depressivos na presença de FL/PNS (p < 0,001). No presente estudo, a pontuação utilizada (escore) foi de 17, com base na adaptação e padronização deste instrumento no Brasil.2626. Leite GIC, Paumgarten RJF, Koifman S. Oral clefts in the new- born and medical intakes and maternal health conditions: a case-control study in the city of Rio de Janeiro, Brasil. Rev Bras Saúde Matern Infant. 2005;5:35-43. A análise de cada um dos 27 itens do IDI identificou uma distribuição homogênea para a frequência de sintomas depressivos em ambos os grupos, não havendo, portanto, uma associação positiva. No estudo irlandês, com relação à aparência facial e dificuldade com a fala, os pacientes mostraram-se mais infelizes do que os controles, observando-se altas taxas de suicídio, como observado em nosso estudo, com 8,4% (n = 5) dos entrevistados no grupo caso (FL/PNS), em comparação com 1,6 % (n = 1) no grupo controle.3030. Hunt O, Burden D, Hepper P, Stevenson M, Johnston C. Self- reports of psychosocial functioning among children and young adults with cleft lip and palate. Cleft Palate Craniofac J. 2006;43:598-605. Outro estudo encontrou uma alta incidência de distúrbios psicológicos e dificuldade na interação social em pacientes com FL/P.1010. De Sousa A, Devare S, Ghanshani J. Psychological issues in cleft lip and cleft palate. J Indian Assoc Pediatr Surg. 2009;14:55-8.

Com relação ao tipo de fissura, foram encontradas maiores taxas de problemas relacionados à ansiedade, à depressão e às dificuldades de aprendizagem e de fala em crianças com fissura palatina isolada, quando comparadas àquelas com fissura labial e palatina em conjunto.3131. Millard T, Richman LC. Different cleft conditions, facial appear- ance, and speech: relationship to psychological variables. Cleft Palate Craniofac J. 2001;38:68-75. No presente estudo, ao comparar a presença de sintomas depressivos entre os pacientes do grupo caso (FL/PNS) e o grupo controle, houve semelhanças com aqueles resultados, porém ausência de correlação estatística positiva. Outros estudos também apontam para uma associação entre a ocorrência dessa malformação e o ajuste psicossocial, sugerindo maior atenção aos pacientes com FL/PNS, incluindo seu desenvolvimento global e integração no ambiente social.2929. Thurber S, Snow M, Honts CR. The Zung Self-Rating Depres- sion Scale: convergent validity and diagnostic discrimination. Assessment. 2002;9:401-5. , 3232. Christensen K, Mortensen PB. Facial clefting and psychiatric dis- eases: a follow-up of the Danish 1936-1987 Facial Cleft cohort. Cleft Palate Craniofac J. 2002;39:392-6.

33. Lockhart E. The mental health needs of children and adoles- cents with cleft lip and/or palate. Clin Child Psychol Psychiatry. 2003;8:7-16.

34. Kapp-Simon KA. Psychological issues in cleft lip and palate. Clin Plast Surg. 2004;31:347-52.
- 3535. Vieira AR. Unraveling human cleft lip and palate research. J Dent Res. 2008;87:119-25.

Embora o presente estudo tenha sido realizado em um centro de referência para reabilitação de anomalias craniofaciais, o mesmo apresenta algumas limitações, como o a área geográfica reduzida, ou seja, restrita a uma parcela de um único estado brasileiro. Para todas as análises, o alfa foi de 0,05. O tamanho da amostra foi suficiente para a detecção de uma diferença de dois pontos entre os grupos no IDI, considerando-se um coeficiente de variação de 0,5 e uma potência estatística de 0,8.

Embora os resultados não confirmem os achados da literatura, este estudo sugere que o apoio psicológico e psiquiátrico seja necessário para pacientes com FL/PNS durante todo o seu crescimento e desenvolvimento, e durante todo o período de reabilitação, buscando, assim, entender suas necessidades e de suas famílias no processo de sentir e vivenciar a malformação craniofacial.77. Okkerse JM, Beemer FA, Cordia-de Haan M, Heineman-de Boer JA, Mellenbergh GJ, Wolters WH. Facial attractiveness and facial impairment ratings in children with craniofacial malfor- mations. Cleft Palate Craniofac J. 2001;38:386-92. , 88. Schuster M, Kummer P, Eysholdt U, Rosanowski F. Social orien- tation of parents of children with cleft lip and palate. HNO. 2003;51:507-12. , 1818. Johansson B, Ringsberg KC. Parents' experiences of having a child with cleft lip and palate. J Adv Nur. 2004;47:165-73. , 3535. Vieira AR. Unraveling human cleft lip and palate research. J Dent Res. 2008;87:119-25. Destaca-se ainda que na população estudada, de uma área geográfica limitada, com a metodologia e o instrumento utilizado, não se justifica o rastreamento de sintomas depressivos neste grupo de indivíduos com FL/PNS.

Conclusão

Este estudo observou uma prevalência de sintomas depressivos em crianças e adolescentes com FL/PNS, de uma população geográfica localizada, embora os resultados não tenham sido estatisticamente significantes quando comparados com o grupo controle. Não houve associação dos sintomas depressivos com as variáveis sociodemográficas (gênero, idade e escolaridade). O IDI é um instrumento utilizado em diversas condições clínicas e genéticas crônicas, que visa identificar pacientes com potencial ou risco de desenvolvimento de sintomas depressivos; porém, na população específica do presente estudo não foi observada a necessidade de se adotar o mesmo como rastreador para tais alterações craniofaciais.

Agradecimentos

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais - FAPEMIG; Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

- CNPq; Procad/Casadinho - CNPq/Capes.

References

  • 1
    Finnell RH, Greer KA, Barber RC, Piedrahita JA. Neural tube and craniofacial defects with special emphasis on folate pathway genes. Crit Rev Oral Biol Med. 1998;9:38-53.
  • 2
    Cobourne MT. The complex genetics of cleft lip and palate. Eur J Orthod. 2004;26:7-16.
  • 3
    Martelli Júnior H, Orsi Júnior J, Chaves MR, Barros LM, Bonan PR, Freitas JA. Estudo epidemiológico das fissuras labiais e palatais em Alfenas - Minas Gerais - de 1986 a 1998. RPG Rev Pos Grad. 2006;13:31-5.
  • 4
    Mossey PA, Little J, Munger RG, Dixon MJ, Shaw WC. Cleft lip and palate. Lancet. 2009;374:1773-85.
  • 5
    Marazita ML. The evolution of human genetic studies of cleft lip and cleft palate. Annu Rev Genomics Hum Genet. 2012;13:263-83.
  • 6
    Paranaíba LMR, Bufalino A, Martelli-Júnior H, de Barros LM, Graner E, Coletta RD. Lack of association between polymorphisms (rs2235371 and rs642961) and non-syndromic cleft lip and/or palate in a Brazilian population. Oral Dis. 2010;16:193-7.
  • 7
    Okkerse JM, Beemer FA, Cordia-de Haan M, Heineman-de Boer JA, Mellenbergh GJ, Wolters WH. Facial attractiveness and facial impairment ratings in children with craniofacial malfor- mations. Cleft Palate Craniofac J. 2001;38:386-92.
  • 8
    Schuster M, Kummer P, Eysholdt U, Rosanowski F. Social orien- tation of parents of children with cleft lip and palate. HNO. 2003;51:507-12.
  • 9
    Hunt O, Burden D, Hepper P, Johnston C. The psychosocial effects of cleft lip and palate: a systematic review. Eur J Orthod. 2005;27:274-85.
  • 10
    De Sousa A, Devare S, Ghanshani J. Psychological issues in cleft lip and cleft palate. J Indian Assoc Pediatr Surg. 2009;14:55-8.
  • 11
    Snyder H, Pope AW. Psychosocial adjustment in children and adolescents with a craniofacial anomaly: diagnosis-specific pat- terns. Cleft Palate Craniofac J. 2010;47:264-72.
  • 12
    Demir T, Karacetin G, Baghaki S, Aydin Y. Psychiatric assessment of children with nonsyndromic cleft lip and palate. General Hospital Psychiatry. 2011;33:594-603.
  • 13
    Rombaldi AJ, Silva MCD, Gazalle FK, Azevedo MR, Hallal PC. Prevalência e fatores associados a sintomas depressivos em adultos do sul do Brasil: estudo transversal de base populacional [Prevalence of depressive symptoms and associated factors among southern Brazilian adults: cross-sectional population- based study]. Rev Bras Epidemiol. 2010;13:620-9.
  • 14
    Mattos Souza LD, Silva RS, Godoy RV, Cruzeiro ALS, Faria AD, Pinheiro RT. Sintomatologia depressiva em adoles- centes iniciais-estudo de base populacional. J Bras Psiquiatr. 2008;57:261-6.
  • 15
    Bahls SC. Depressive symptoms in adolescents of a public school. Rev Bras Psiquiatr. 2002;24:63-7.
  • 16
    Álvares ADM, Lobato GR. Um estudo exploratório da incidência de sintomas depressivos em crianças e adolescentes em acolhi- mento institucional. Temas em Psicologia. 2013;21:151-64.
  • 17
    Adewuya AO, Ologum YA. Factors associated with depres- sive symptoms in Nigerian adolescents. J Adolesc Health. 2006;39:105-10.
  • 18
    Johansson B, Ringsberg KC. Parents' experiences of having a child with cleft lip and palate. J Adv Nur. 2004;47:165-73.
  • 19
    Kovacs M. The Children's Depression Inventory (CDI). Psy- chopharmacol Bull. 1985;21:995-8.
  • 20
    Turner SR, Rumsey N, Sandy JR. Psychological aspects of cleft lip and palate. Eur J Orthod. 1998;20:407-15.
  • 21
    Rivera CL, Bernal G, Rosselló J. The Children Depression Inven- tory (CDI) and the Beck Depression Inventory (BDI): their validity as screening measures for major depression in a group of Puerto Rican adolescents. Int J Clin Health Psychol. 2005;5:485-98.
  • 22
    Gorestein C, Andrade L. Inventário de depressão de Beck: pro- priedades psicométricas da versão em português. Rev Psiq Clin. 1998;25:245-50.
  • 23
    Christensen K, Juel K, Herskind AM, Murray JC. Long term follow up of survival associated with cleft lip and palate birth. BMJ. 2004;328:1405.
  • 24
    Millar K, Bell A, Bowman A, Brown D, Lo TW, Siebert P, et al. Psychological status as a function of residual scarring and facial asymmetry after surgical repair of cleft lip and palate. Cleft Palate Craniofac J. 2011;50:150-7.
  • 25
    Gouveia V, Barbosa G, Almeida H, Gaião A. Inventário de Depressão Infantil - CDI: Estudo de adaptação com escolares de João Pessoa. J Bras Psiquiatr. 1995;44:345-9.
  • 26
    Leite GIC, Paumgarten RJF, Koifman S. Oral clefts in the new- born and medical intakes and maternal health conditions: a case-control study in the city of Rio de Janeiro, Brasil. Rev Bras Saúde Matern Infant. 2005;5:35-43.
  • 27
    Boes AD, Murko V, Wood JL, Langbehn DR, Canady J, Richman L, et al. Social function in boys with cleft lip and palate: rela- tionship to ventral frontal cortex morphology. Behav Brain Res. 2007;181:224-31.
  • 28
    Pinquart M, Shen Y. Depressive symptoms in children and adoles- cents with chronic physical illness: an updated meta-analysis. J Pediatr Psychol. 2011;36:375-84.
  • 29
    Thurber S, Snow M, Honts CR. The Zung Self-Rating Depres- sion Scale: convergent validity and diagnostic discrimination. Assessment. 2002;9:401-5.
  • 30
    Hunt O, Burden D, Hepper P, Stevenson M, Johnston C. Self- reports of psychosocial functioning among children and young adults with cleft lip and palate. Cleft Palate Craniofac J. 2006;43:598-605.
  • 31
    Millard T, Richman LC. Different cleft conditions, facial appear- ance, and speech: relationship to psychological variables. Cleft Palate Craniofac J. 2001;38:68-75.
  • 32
    Christensen K, Mortensen PB. Facial clefting and psychiatric dis- eases: a follow-up of the Danish 1936-1987 Facial Cleft cohort. Cleft Palate Craniofac J. 2002;39:392-6.
  • 33
    Lockhart E. The mental health needs of children and adoles- cents with cleft lip and/or palate. Clin Child Psychol Psychiatry. 2003;8:7-16.
  • 34
    Kapp-Simon KA. Psychological issues in cleft lip and palate. Clin Plast Surg. 2004;31:347-52.
  • 35
    Vieira AR. Unraveling human cleft lip and palate research. J Dent Res. 2008;87:119-25.
  • Como citar este artigo: Lima LS, Ribeiro GS, de Aquino SN, Volpe FM, Martelli DR, Swerts MS, et al. Prevalence of depressive symptoms in patients with cleft lip and palate. Braz J Otorhinolaryngol. 2015;81:177-83.
  • ☆☆
    Instituição: Postgraduate Program in Health Sciences, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), Montes Claros, MG, Brazil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Abr 2015

Histórico

  • Recebido
    29 Nov 2013
  • Aceito
    06 Jul 2014
Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial. Sede da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial, Av. Indianópolia, 1287, 04063-002 São Paulo/SP Brasil, Tel.: (0xx11) 5053-7500, Fax: (0xx11) 5053-7512 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista@aborlccf.org.br