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Constituição do plexo lombar do macaco Cebus apella

Lumbar plexus formation of the Cebus apella monkey

Resumos

Os primatas não-humanos têm se constituído em importante grupo dentre os animais submetidos a estudos diversos, o que se reveste de suma importância até para o entendimento de sua própria evolução, somando-se ao fato de que o conhecimento pormenorizado de sua Anatomia pode representar fator importante para sua preservação e proteção. Por outro lado, dentro do sistema neural, mostra particular interesse o estudo comparativo da composição do plexo lombar, representativo da origem dos nervos que se destinam aos membros pélvicos, segmento anatômico este de considerável importância, relativamente aos aspectos evolutivos de postura e locomoção. O objetivo deste trabalho é conhecer a origem, a composição do plexo lombar do Cebus apella, visando um melhor entendimento da Anatomia deste animal. A literatura ao nosso alcance não revelou citação alguma específica sobre o tema, para essa espécie. Utilizamos 20 animais, sendo 10 machos e 10 fêmeas. A preparação das peças anatômicas seguiu metodologia usual empregada em estudos anatômicos. Após análise cuidadosa das peças, verificou-se que o plexo lombar do Cebus apella, está quase sempre separado dos plexos lombar, sacral e coccígeo. Há consideráveis variações entre espécimes e entre antímeros de um mesmo animal. Há participação na formação do plexo lombar, de raízes L2 a L5, com maior freqüência de L3 e L4. Em 75,00% dos casos, o plexo lombar direito está formado por L2, L3 e L4, em 55,00%, apenas por L3 e L4, em 20,00% por L2, L3, L4 e em 5,00%, L5 contribui, enquanto que no antímero esquerdo em 80,00% houve participação de L2, L3 e L4; sendo que, em 50,00% de L3 e L4, em 30,00% de L2, L3, L4 e L5 e em 15,00%, L5 está presente e em 5,00% apenas L2 e L3. O número de anastomoses é variável.

Anatomia; Macacos; Plexo lombo sacral


The non-human primates have been considered an important group among the diverse studied animals, having a great interest not only for the understanding of its own evolution, but also due to the fact that the detailed knowledge of its Anatomy can represent a relevant factor for its preservation and protection. In addition, concerning the neural system, the comparative study on the composition of the lumbo-sacral plexus representing the origin of the nerves that are destined to the pelvic members, shows a particular interest for being an anatomical segment involved in evolutionary aspects of posture and locomotion. The aim of this work was to study the origin, composition of the lumbar plexus in monkey Cebus apella in order to obtain a better comprehension of the Anatomy in this animal. Previous studies have not demonstrated any findings on the topic in this species. Twenty animals, 10 male and 10 female, were obtained from the conserved anatomical piece collection of the Anatomy Laboratory of the Federal University of Uberlândia. The preparation of the specimens consisted of fixation and dissection according to the routine procedures used in anatomical studies. After a detailed analysis of the specimens, it was verified that the lumbar plexus of Cebus apella is almost always separated in lumbar, sacral and coccygeal segments. There were considerable variations among the specimens and between the sides. The roots L2-L5 participated in the formation of the lumbar plexus, with higher frequency of L3 and L4, while the roots L4-S4. The right lumbar plexus was formed by L2, L3, and L4 (75.00% of cases), L3 and L4 (55.00%), L2, L3, L4 (20.00%), and L2, L3, L4 and L5 (5.00%), while on the left side there was participation of L2, L3, and L4 (80.00%), being that L3 and L4 (50.00%) and L2, L3, L4 and L5 (30.00%), and L5 is present in 15.00% and L2 and L3 in 5.00%. The number of anastomoses is variable.

Anatomy; Monkeys; Lumbosacral plexus


Constituição do plexo lombar do macaco Cebus apella

Lumbar plexus formation of the Cebus apella monkey

Roseâmely Angélica de Carvalho BarrosI; Irvênia Luiza de Santis PradaI; Zenon SilvaII; Adriana Rodrigues RibeiroI; Daniela Cristina de Oliveira SilvaIII

IDepartamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, São Paulo – SP

IIInstituto de Morfologia da Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia – MG

IIIInstituto de Ciências Biomédicas da USP, São Paulo - SP

Endereço para correspondência Endereço para correspondência IRVÊNIA LUIZA DE SANTIS PRADA Departamento de Cirurgia Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP Avenida Prof. Orlando Marques de Paiva, 87 Cidade Universitária Armando Salles de Oliveira 05508-270 – São Paulo - SP e-mail: roseamely@ig.com.br; irvenia@terra.com.br

RESUMO

Os primatas não-humanos têm se constituído em importante grupo dentre os animais submetidos a estudos diversos, o que se reveste de suma importância até para o entendimento de sua própria evolução, somando-se ao fato de que o conhecimento pormenorizado de sua Anatomia pode representar fator importante para sua preservação e proteção. Por outro lado, dentro do sistema neural, mostra particular interesse o estudo comparativo da composição do plexo lombar, representativo da origem dos nervos que se destinam aos membros pélvicos, segmento anatômico este de considerável importância, relativamente aos aspectos evolutivos de postura e locomoção. O objetivo deste trabalho é conhecer a origem, a composição do plexo lombar do Cebus apella, visando um melhor entendimento da Anatomia deste animal. A literatura ao nosso alcance não revelou citação alguma específica sobre o tema, para essa espécie. Utilizamos 20 animais, sendo 10 machos e 10 fêmeas. A preparação das peças anatômicas seguiu metodologia usual empregada em estudos anatômicos. Após análise cuidadosa das peças, verificou-se que o plexo lombar do Cebus apella, está quase sempre separado dos plexos lombar, sacral e coccígeo. Há consideráveis variações entre espécimes e entre antímeros de um mesmo animal. Há participação na formação do plexo lombar, de raízes L2 a L5, com maior freqüência de L3 e L4. Em 75,00% dos casos, o plexo lombar direito está formado por L2, L3 e L4, em 55,00%, apenas por L3 e L4, em 20,00% por L2, L3, L4 e em 5,00%, L5 contribui, enquanto que no antímero esquerdo em 80,00% houve participação de L2, L3 e L4; sendo que, em 50,00% de L3 e L4, em 30,00% de L2, L3, L4 e L5 e em 15,00%, L5 está presente e em 5,00% apenas L2 e L3. O número de anastomoses é variável.

Palavras-chave: Anatomia. Macacos. Plexo lombo sacral.

SUMMARY

The non-human primates have been considered an important group among the diverse studied animals, having a great interest not only for the understanding of its own evolution, but also due to the fact that the detailed knowledge of its Anatomy can represent a relevant factor for its preservation and protection. In addition, concerning the neural system, the comparative study on the composition of the lumbo-sacral plexus representing the origin of the nerves that are destined to the pelvic members, shows a particular interest for being an anatomical segment involved in evolutionary aspects of posture and locomotion. The aim of this work was to study the origin, composition of the lumbar plexus in monkey Cebus apella in order to obtain a better comprehension of the Anatomy in this animal. Previous studies have not demonstrated any findings on the topic in this species. Twenty animals, 10 male and 10 female, were obtained from the conserved anatomical piece collection of the Anatomy Laboratory of the Federal University of Uberlândia. The preparation of the specimens consisted of fixation and dissection according to the routine procedures used in anatomical studies. After a detailed analysis of the specimens, it was verified that the lumbar plexus of Cebus apella is almost always separated in lumbar, sacral and coccygeal segments. There were considerable variations among the specimens and between the sides. The roots L2-L5 participated in the formation of the lumbar plexus, with higher frequency of L3 and L4, while the roots L4-S4. The right lumbar plexus was formed by L2, L3, and L4 (75.00% of cases), L3 and L4 (55.00%), L2, L3, L4 (20.00%), and L2, L3, L4 and L5 (5.00%), while on the left side there was participation of L2, L3, and L4 (80.00%), being that L3 and L4 (50.00%) and L2, L3, L4 and L5 (30.00%), and L5 is present in 15.00% and L2 and L3 in 5.00%. The number of anastomoses is variable.

Key-words: Anatomy. Monkeys. Lumbosacral plexus.

Introdução

Nos últimos 30 anos, o estudo de Primatas não humanos tem sido efetuado com grande interesse, talvez devido à semelhança anatômica, fisiológica e etológica destes animais com a espécie humana, disso resultando conhecimentos que certamente contribuem para o nosso próprio crescimento cultural. À medida que estes estudos foram se desenvolvendo, muito se descobriu acerca da fragilidade em que se encontra a maioria das espécies, devida, principalmente, à destruição do ambiente onde vivem.1

Os primatas não-humanos têm se constituindo em importante grupo, dentre os animais submetidos a estudos diversos, o que se reveste de suma importância para o entendimento de sua própria evolução, somando-se ao fato de que o conhecimento pormenorizado de sua Anatomia pode representar fator importante para sua preservação e proteção. Vale lembrar que a Anatomia do Cebus apella não apresenta o mesmo nível de conhecimento que o de outros macacos, talvez por serem naturais do continente sul americano, e somente terem despertado a atenção do mundo científico nas últimas décadas.

Material e Método

Nesta pesquisa, utilizamos o macaco Cebus apella (Macaco-prego) uma das quatro espécies do gênero Cebus2. Foram dissecados 20 animais, 10 fêmeas e 10 machos, adultos, pertencentes ao acervo de pesquisas do laboratório de Anatomia Humana da Universidade Federal de Uberlândia. Esse material consta de cadáveres fixados e conservados em solução aquosa de formol a 10,00%, que vem sendo utilizados para outras pesquisas.

A preparação das peças anatômicas foi levada a efeito mediante dissecação cuidadosa do segmento ocupado pelo plexo lombar, em ambos os antímeros, preservando-se, ao máximo, seus componentes. Para tal, utilizamos os seguintes procedimentos: retirando-se vísceras abdominais e pélvicas, assim como o tecido adiposo da região, sobre a área colocamos chumaços de algodão embebidos em solução de álcool absoluto com ácido acético glacial na proporção de 70/30 respectivamente, por 30 a 60 minutos. Por um processo de difusão o ácido acético penetra nos fascículos neurais dilatando-os, e, assim, melhorando sua visualização, e facilitando a sua dissecação e preservação.

Após o tempo necessário, procedemos a cuidadosa dissecação, a olho nu e/ou, quando necessário, sob lupa com aumento 10 X, removendo-se o músculo psoas maior e, em seguida, os corpos vertebrais até exposição completa da medula espinhal e plexo. O processo de embebição com solução de álcool/ácido acético foi repetido sempre que necessário, à medida em que a dissecação era aprofundada.

Com a finalidade de melhorar a visualização fotográfica das de estruturas neurais, repetiu-se o processo de cobertura da área com algodão embebido na solução de álcool/ácido acético por um período aproximado de 12 a 15 horas, sendo que este procedimento não necessariamente era realizado logo após o término das dissecações. A nomenclatura adotada para descrição dos nossos resultados foi a da International Committee on Veterinary Gross Anatomical Nomeclature3.

Resultados

O plexo lombar direito do macaco Cebus apella, segundo nossas observações, resulta de conexões entre as raízes ventrais dos nervos lombares, constituindo uma rede cujo padrão é consideravelmente variável.

Dos 20 espécimes de Cebus apella dissecados, 11 deles (55 ±11,12.00%), apresentaram o plexo lombar direito formado pela união de raízes ventrais de L3 e L4 (Figura 3); em 4 deles (20 ±8,94%) participaram L2, L3 e L4 (Figura1); em 3 deles (15 ±7,98%), L3, L4 e L5. Nos 2 casos restantes, em 1 caso (5 ±4,85.00%), houve contribuição de L2, L3 e, no outro (5 ± 4,87%), apenas de L4 e L5. Enquanto isso, no antímero esquerdo, em 10 casos (50 ±11,18%), o plexo lombar mostrou-se constituído pelas raízes ventrais de L3 e L4 (Figura 2); em 6 casos (30 ±10,25.00%) foram as raízes de L2, L3 e L4 que se uniram para formar o plexo lombar; em 3 casos (15 ±7,98%), L5 contribuiu juntamente com L3 e L4 para formação do plexo lombar. No caso restante (5 ±4,87%), apenas houve a participação de L2 e L3.




Nossos resultados mostram, outrossim, que em 4 espécimes (20 ±8,94%) ocorre a participação de L5 na constituição do plexo lombar. Assim, logo após sua emergência, bifurca-se, sendo que o ramo caudal contribui para a formação do plexo sacral, enquanto o ramo cranial concorre para a formação do nervo femoral, integrante do plexo lombar. O limite em L4 (nervo bifurcado) foi encontrado em 8 espécimes (40 ±10,95.00%) no antímero direito e, em 7 (35 ±10,66%) no esquerdo (Figura 1), enquanto em outros 4 casos (20 ±8,94%) em ambos os antímeros, este limite ocorreu em L5.

Número e Topografia das Anastomoses

O número de anastomoses no plexo lombar direito do Cebus apella varia entre uma e quatro, sendo que, em 9 espécimes (45 ±11,12.00%), registramos a ocorrência de apenas uma anastomose, em 8 deles (40 ±10,95.00%) a qual ocorre predominantemente, entre as raízes ventrais de L3 e L4 (Figura 3) e, no caso restante (5 ±4,87%), entre L2 e L3. Em 6 casos (30 ±10,25.00%), duas anastomoses estão presentes, sendo que, em 5 espécimes (25 ±9,68%), a cranial, assim como a caudal, ocorre entre ramos de L3 e L4, pois as raízes ventrais de L3 e L4 dividem-se em ramos medial e lateral. Em 1 caso (5 ±4,87%), verificam-se as anastomoses entre L2 e L3 e, L3 e L4.(Figura1). Em 3 casos (15 ±7,98%), três anastomoses foram constatadas: cranial, média e caudal, sendo que a anastomose cranial ocorreu entre L2 e L3 enquanto a média e a caudal implicaram L3 e L4. Em 1 caso dos animais estudados (5 ±4,87%) constatam-se quatro anastomoses na constituição do plexo lombar, sendo duas craniais entre ramos de L2 e L3, duas caudais entre L3 e L4. Em 1 caso (5 ±4,87%), não registramos a ocorrência de anastomose.

Assim como no antímero direito, no esquerdo, o número de anastomoses varia de uma a quatro, sendo que, em 11 espécimes (55 ±11,12.00%) evidenciamos uma única anastomose, a qual, em 1 caso (5 ±4,87%), ocorre entre as raízes de L2 e L3 e, em 10 casos (40 ±10,95.00%), entre L3 e L4 (Figura 3). Em 5 espécimes (25 ±9,68%), verificam-se duas anastomoses, sendo que, em 3 casos (15 ±7,98%), tanto a cranial quanto a caudal ocorrem entre raízes de L3 e L4 enquanto, em 2 casos (10 ±6,71%), a anastomose cranial completa-se entre L2 e L3 e, a caudal, entre L3 e L4. Em 3 espécimes (15 ±7,98%), verificam-se três anastomoses, sendo que a cranial ocorre entre as raízes de L2 e L3 e, a média e a caudal, entre L3 e L4 (Figura 3). Em 1 caso (5 ±4,87%) verificam-se quatro anastomoses, sendo duas craniais entre as raízes de L2 e L3 e duas caudais entre L3 e L4.

Discussão

Quanto à composição do plexo no Cebus apella não registramos, em nenhum caso, a presença dos nervos ilio-hipogástrico, ilioinguinal e gênitofemoral como ramos do plexo lombar, o que é descrito como regra por Warwick e Willians4, para o homem. Hepburn5, concluiu que: "a forma geral do plexo lombar e o número de nervos que o compõe, em antropóides, são muito próximos ou semelhantes, existindo, contudo, ainda, algumas diferenças marcantes na modalidade de origem dos vários ramos do plexo e sua distribuição". Dessa forma, afirma que o Gibbon possui uma disposição do plexo lombar praticamente igual à do Homem, havendo, no entanto, uma diferença notável relacionada à falta de conexão entre L1 e L2. Acrescenta ainda que, no Gorila e no Chimpanzé, pode-se verificar eventual união de L1 com L2 para constituírem o nervo gênitofemoral encontrando-se quase sempre, a participação de L2 com L3 na formação do nervo cutâneo femoral lateral.

Esses fatos tem sido discutidos quanto à possibilidade de representarem uma tendência filogenética de migração cranial do plexo lombar dos primatas inferiores para os superiores, já que a união dos primeiros nervos lombares é disposição padrão no Homem, relativamente freqüente no Gorila e no Chimpanzé e ausente em outros primatas, inclusive o Cebus apella. Hill6 também concorda que há uma tendência para o deslocamento caudal do plexo em todos os gêneros inferiores de Hominidae, caracterizando um plexo pós-fixado. De fato, Bolk (1898), citado por El-Assy7 refere que a primeira raiz envolvida no plexo lombossacral do homem é T12 ou L1 e, do antropóide, L1 ou L2. Entendemos que as expressões "pré-fixado" e "pós-fixado" devam ser usadas com critério, havendo sempre a indicação da referência a partir da qual o plexo vai ser designado desta ou daquela maneira. No caso da citação de Hill6, a referência é a disposição encontrada no homem, em relação à qual, o plexo lombar dos gêneros inferiores de Hominidae é considerado "pós-fixado".

Nós entendemos por plexo pós-fixado aquele que, mantendo seu limite cranial, estende-se por um ou mais segmentos caudais não acontecendo, portanto, o deslocamento caudal de todo o plexo. Neste aspecto, entendemos que em 20,00% de Cebus apella, podemos confirmar a presença de plexo lombar pós-fixado, uma vez que nestes, L5 contribui para formá-lo. Acreditamos poder considerar como plexo pré-fixado, aquele encontrado em 25,00% de Cebus apella, nos quais L2 participa de sua constituição. Howell e Straus (1932) apud Hartman e Straus8 são de opinião que no Rhesus é mais conveniente considerar os plexos lombar e sacral como uma unidade única, já que consistem de ramos ventrais de nervos lombares e sacrais divisíveis, como no caso dos outros nervos espinhais, em ramos dorsal e ventral, participando os sete nervos lombares e os dois primeiros sacrais.

Nós descrevemos o plexo lombar separadamente do plexo sacral, uma vez que não se constata, em nenhum caso, a participação de nervos sacrais na constituição do plexo lombar. Ao contrário, L5 é tipicamente um nervo do plexo sacral, aparecendo poucas vezes (20,00%) na constituição do plexo lombar. Nesses casos L5 surge claramente bifurcado, aspecto normalmente exibido por L4.

Também Miller9, ao descrever que o plexo lombossacral de cães consiste de uma intercomunicação de ramos ventrais dos cinco últimos nervos lombares e dos três primeiros sacrais, considera que este pode ser subdividido em plexo lombar e plexo sacral. Nossos achados para o Cebus apella são correspondentes às descrições de Miller9, para cães, já que os três plexos estão claramente separados. El-Assy7 cita que o plexo lombossacral é composto pelas ramificações ventrais de todos os nervos lombares e do primeiro sacral, estando o último torácico eventualmente presente. Embora Paterson (1887) apud El-Assy7 considere como plexo lombar apenas a cadeia de nervos que se destinam ao membro pélvico, excluindo os nervos lombares superiores, El-Assy7 inclui estes nervos no plexo lombar. Sonntag (1923), assim como Eisler (1890) ambos citados por El-Assy7 consideram que o plexo lombossacral, respectivamente no Chimpanzé e no Gorila, tem sua origem cranial em L2 e L3.. No Cebus apella, verificamos que o plexo lombar pode ter sua porção mais alta em L2 contudo, na maioria dos casos é L3 o ramo mais alto. Este padrão de fixação aproxima-se mais daquele encontrado em Gorila, do que em Chimpanzé.

No Cebus apella, cinco são os nervos lombares, mas L1 não integra o plexo, sendo que L2 e L5 dele participam com pouca freqüência. Conforme descrevem Urbanowicz e Zaluska10, o plexo lombar, no homem, é constituído por ramos de L1, L2, L3 e L4 e, nos macacos, por L1, L2, L3, L4 e L5. No Cebus apella, L3 e L4 são os nervos que se acham sempre presentes na constituição do plexo lombar. L2 e L5 estão presentes com certa freqüência.

Urbanowicz e Zaluska10, citam que em prossímios o nervo subcostal não entra na composição do plexo lombar, o que também registramos no Cebus apella. Em Catarrinos inferiores esta é uma ocorrência rara, relativamente freqüente em platirrinos e freqüente nos antropóides, sendo que no Homem L1 está presente em 96,00% dos casos, mas nunca foi detectado por nós, no Cebus apella, já L2 e L5 foi constatado poucas vezes.

Em suas observações para o homem e para os macacos Cynomolgos e Rhesus, Ancel (1901), Bardeen (1901), Loth (1931), Paterson (1894) apud Urbanowicz e Zaluska10 consideram o plexo lombar constituído por L1, L2, L3, L4 como "normal". Já a participação do nervo subcostal, consideram-na indicativa de progresso evolutivo, já que se acha mais freqüente no homem e nos antropóides. Wood James (1910), apud Urbanowicz e Zaluska10 relaciona a participação do nervo subcostal na construção do plexo, com desaparecimento da décima primeira e décima segunda costelas ou com ocorrência de uma costela lombar adicional. Enquanto isso, o deslocamento caudal do plexo, com participação de L5 é considerado um traço primitivo.

No Cebus apella, ainda que a décima segunda e décima terceira costelas não estejam presentes, não se verifica a participação de L1 e do nervo subcostal na construção do plexo lombar.

Entretanto, segundo nossa leitura, ainda se deve considerar com restrições, a participação do nervo subcostal e a ausência de L5 na constituição do plexo lombar, como marcas indicativas de evolução, pois a maioria dos dados apresentados mostra que, neste caso, os antropóides apresentam traços progressivos mais acentuados do que o homem.

Hill11 descreve que no plexo lombossacral do Brachyteles, nenhuma comunicação ocorre entre o nervo subcostal e L1. As divisões primárias ventrais dos nervos lombares estão interligadas por uma série de alças, enquanto que as ramificações de L1 que não participam na formação da primeira alça do plexo constituirão os nervos ilio-hipogástrico e ilio-inguinal. L3, L4 e L5, mas, principalmente L4 e L5 formam a maior parte do plexo lombossacral. Krechowiechi, GOSCICKA E SAMULAK12 verificaram que o plexo lombar é maior na macaca do que no homem e que em 50,00% dos espécimes de Macaca mullata o plexo lombossacral origina-se de L1, L2, L3, mas pode originar-se desde L1 até L4, estando o limite cranial do plexo em 45,00% dos casos, em T12. Nós encontramos no Cebus apella o limite cranial com maior freqüência em L3 e menor freqüência em L2. Segundo Piasecka-Kacperska e Gladykowska-RZECKZYCKA13, a diferenciação dos plexos lombossacrais nos diversos animais depende principalmente do desenvolvimento dos seus membros e postura do corpo. A altura do início de cada plexo é difícil de se estabelecer, em razão do número diverso de vértebras pré-sacrais nos diferentes grupos de primatas. Generalizando, pode-se afirmar que nos Lemur e Catarrinos inferiores, o plexo inicia-se nas raízes que saem uma ou duas vértebras mais caudalmente do que no Ateles e Antropóides.

No Cebus apella, a redução do número de vértebras parece haver atingido menos a região torácica do que as demais regiões, uma vez que não é rara a presença de treze ou quatorze pares de costelas neste animal. Contudo, mesmo que os plexos lombossacrococcígeos sejam mais extensos, no Cebus apella, estes não acompanham de forma clara o maior número de vértebras eventualmente presentes.

Embora Piasecka-Kacperska e Gladykowska-RZECKZYCKA13 afirmem que é difícil estabelecer o limite cranial do plexo lombar, em razão da variação do número de vértebras pré-sacrais, no Cebus apella este limite é constante e independente da variação óssea, pois tanto nos animais com treze quanto nos de quatorze costelas, o limite cranial foi registrado em L2. Zaluska e Urbanowicz14 descrevem que, no homem, o plexo lombossacral está constituído principalmente por L4 e L5 e pela maioria dos nervos sacrais, mas o número de nervos que contribui para a formação do plexo lombossacral é variável tanto no homem como nos macacos. No homem predominam cinco, enquanto no Rhesus e no Cynomolgus predomina quatro nervos. No Cebus apella é mais freqüente a constituição por três ramos, ou seja, L3, L4 e L5 (40,00%). Ainda, de acordo com Zaluska e Urbanowicz14, o número de nervos que formam o plexo lombossacral varia de três a oito nos primatas, sendo quatro ou cinco encontrados nos catarrinos inferiores, quatro nos antropóides e cinco ou seis no homem. No Cebus apella encontramos a ocorrência de dois a quatro ramos, sendo mais freqüente a presença de três ramos. Segundo Hill11, o número de nervos espinhais varia segundo o número de costelas. Na região lombar via de regra é igual a cinco pares. Champneys15 afirma que o arranjo geral dos nervos do membro pélvico, plexo lombar e sacral do Chimpanzé é muito similar àquele do homem, mas muito diferente na composição, provavelmente devido à presença de doze ou treze vértebras torácicas. Os plexos lombossacrais direito e esquerdo, segundo Champneys15 tem origem nos últimos nervos lombares, primeiro e segundo nervos sacrais. De acordo com Getty16, o plexo lombossacral de cães é formado pela união dos ramos ventrais de L6, L7, S1, S2, dados não concordantes com os de Frandson17 em eqüinos, bovinos e caprinos que alude à participação dos cinco últimos nervos lombares e apenas do primeiro nervo sacral. Getty16 descreve, ainda, seis pares de nervos lombares para o eqüino, cinco para ruminantes e suínos, dados similares aos apresentados por Frandson17.

No Cebus apella, constatam-se quatro nervos participando, na formação do plexo lombar havendo, portanto, uma redução do número de nervos neste primata, em relação àqueles animais.

Segundo Testut E Latarjet18, no homem é difícil definir limites do plexo lombar que sejam válidos para todos os casos. Segundo Bonniot apud Testut e Latarjet18, devem ser levados em conta os ramos dos nervos abdominogenitais, abdominogenitais crurais e anteriores do membro inferior, sendo o limite superior, então, marcado pela primeira raiz do nervo mais alto e, o seu limite inferior, pela raiz cranial do plexo sacral. Quanto à forma de constituição do plexo lombar, Testut E Latarjet18 afirmam haver numerosas variações de plexos. A distribuição clássica é aquela da qual participam os três primeiros nervos lombares e parte do quarto.

O limite cranial do plexo lombar no Cebus apella é bastante claro e ocorre quase sempre em L3, de onde nasce o nervo cutâneo femoral lateral, sendo que os nervos abdominogenitais e genitocrurais não contribuem. Swindler e Wood19 citam que entre os primatas existe uma variabilidade marcante quanto ao número de ramos ventrais primários dos nervos espinhais lombares que formam o plexo lombossacral, o mesmo acontecendo quanto à formação dos nervos que emergem do plexo.

As variações anatômicas que acabamos de comentar levam a muitas dificuldades quando se estudam as diferenças e semelhanças no modo de formação do plexo entre os primatas19 pois, como já referiu Bonniot apud Testut E Latarjet18, qualquer variação quanto aos níveis de origem superior e inferior do plexo modifica a constituição geral do mesmo.

Finalmente, gostaríamos de ainda deixar em aberto a discussão dos fatores de migração (deslocamento cranial e caudal) e de alongamento do plexo estudado na conceituação do que sejam plexos pré e pós-fixados, sobre o que já exaramos nossa opinião. O alongamento de um plexo seja cranial seja caudalmente, sempre implicará na conceituação de plexo respectivamente pré e pós-fixado, dentro de uma mesma espécie, em relação ao tipo padrão dessa espécie. Por outro lado, comparativamente entre diferentes espécies tem-se observado evolutivamente, uma tendência à migração cranial do plexo, mais evidente no grupo primata (Hominidae).

Entretanto, outros estudos ainda se fazem necessários para uma melhor apreciação do assunto.

Conclusões

Em relação ao plexo lombar do macaco Cebus apella, podemos concluir que este está claramente separado dos plexos sacral e coccígeo. As variações anatômicas são freqüentes mesmo quando se consideram os dois antímeros do mesmo animal. Este animal possui número variável de costelas, entre treze e quatorze, podendo possuir números diferentes entre os dois antímeros do mesmo animal, o que não influencia o padrão do plexo lombar. O plexo lombar é formado pelas raízes ventrais de L2, L3, L4 e L5, mas na maioria dos casos por L3 e L4 (55,00%). Os raízes ventrais estabelecem, entre si, de uma (mais freqüente) a quatro anastomoses. Os plexos pré e pós-fixados estão presentes, envolvendo respectivamente L2 e L5.(25,00% e 20,00% )

Recebido para publicação: 11/12/2002

Aprovado para publicação: 03/06/2003

  • 1
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  • Endereço para correspondência
    IRVÊNIA LUIZA DE SANTIS PRADA
    Departamento de Cirurgia
    Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      04 Maio 2004
    • Data do Fascículo
      2003

    Histórico

    • Aceito
      03 Jun 2003
    • Recebido
      11 Dez 2002
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