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Plasticidade comportamental no horário de atividade de cutia, Dasyprocta leporina (Mammalia: Rodentia), na Mata Atlântica do sudeste do Brasil

Resumo

O horário de atividade reflete adaptações e respostas das espécies às variações diárias e sazonais do ambiente, sendo o entendimento destes padrões importante para uma melhor compreensão do nicho temporal das espécies. Este trabalho objetivou caracterizar o horário de atividade da cutia (Dasyprocta leporina) em dois remanescentes de Mata Atlântica e estabelecer os fatores que podem interferir no ritmo circadiano da espécie considerando peculiaridades das áreas amostradas. Foram analisados dados obtidos a partir de armadilhas fotográficas em duas áreas protegidas, sendo uma na região serrana e outra próximo à costa, ambas no estado do Espírito Santo, sudeste do Brasil. Foram obtidos 49 registros na região serrana e 152 registros na área costeira. A espécie apresentou padrão de atividade diurno e bimodal, mantendo-se ativa por 14-15 horas. Foi detectado um pico de atividade matutino, logo após o nascer do sol, e outro vespertino. O padrão de distribuição diária dos registros foi diferente entre as áreas amostradas (W = 6,766; p = 0,034), ressaltando que o pico de atividade matutino apresentou maior duração na área costeira, enquanto o pico vespertino foi proporcionalmente mais representativo na região serrana, onde as atividades se iniciam mais tarde e se tornam menos intensas mais cedo. Estas diferenças evidenciam a ocorrência de plasticidade comportamental em D. leporina no que se refere ao padrão de atividade local. Entretanto, a diferença entre as áreas estudadas não pode ser atribuída à latitude, uma vez que a distância entre as localidades é de menos de um grau. Sugere-se que a variação do horário de atividade de cutias nas áreas amostradas seja devido a diferenças na temperatura ambiente, associadas a variações locais decorrentes do efeito da altitude e da topografia do terreno na incidência de raios solares no interior da floresta. A influência de outros fatores também é discutida. Além do melhor entendimento do nicho temporal de cutias, os padrões comportamentais descritos no presente estudo podem ser úteis para otimizar estratégias de conservação de D. leporina no sudeste do Brasil considerando que a espécie é mais suscetível à caça quando os animais estão mais ativos.

Palavras-chave:
Dasyproctidae; fatores abióticos; fotoperíodo; padrão de atividade; ritmo circadiano

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