Acessibilidade / Reportar erro

Uso e conservação da ictiofauna no ecoturismo da região de Bonito, Mato Grosso do Sul: o mito da sustentabilidade ecológica no Rio baía bonita (aquário natural de Bonito)

Resumos

A região de Bonito, Mato Grosso do Sul, desponta no Brasil como referência nacional de exemplo de práticas corretas no ecoturismo. Apesar de avanços na operação, um estudo de três anos de monitoramento ambiental do Rio Baía Bonita indica perdas de parcela de biodiversidade, muito provavelmente decorrente do excesso de visitação. Propostas de manejo e de turismo de mínimo impacto, com cuidadoso protocolo de operação e redução da capacidade de carga, foram rejeitadas pela empresa responsável pela operação no local. Este evento indica que, infelizmente, ainda há uma enorme lacuna entre o suporte que a Biologia da Conservação poderia dar à operação turística. O modelo de atividade turística desenvolvido pelos empresários é balizado essencialmente por parâmetros econômicos em detrimento dos ambientais, que não passam da retórica. A delicadeza e unicidade de ambientes como o do “Aquário Natural”, contudo, requer aportes científicos para a efetiva conservação da fauna e da sustentabilidade ambiental no longo prazo.

Biodiversidade; Conservação; Ecoturismo; Valoração Econômica da Natureza; Turismo Sustentável; Peixes; Planalto da Bodoquena; Mato Grosso do Sul


The Bonito region, in Mato Grosso do Sul State, stand out in Brazil as national reference of example of correct practices in the ecotourism. In spite of progresses in the tourist operation, a three years study of environmental monitoring in Rio Baía Bonita indicates losses of biodiversity portion, very probably due to the visitation excess. Proposed of management and of low impact tourism practices, with careful operation protocol and reduction of the carrying capacity, they were rejected by the company responsible for the operation in the place. Unfortunattly, this event indicates that there is still an enormous gap among the support that the Conservation Biology could give to the sustainable tourist operation. The model of tourist activity developed by the land-owners is conduct essentially by economical parameters in detriment of the environmental ones, and the conservationism don’t get ahead of the rhetoric. The fragility and uniqueness, as the one of Natural Aquarium area, request scientific contributions for wildlife conservation and environment sustainable use in long term.

Biodiversity; Wildlife Conservation; Ecotourism; Economic Value of Nature; Sustainable Tourism; Fishes; Bodoquena Plateau; Mato Grosso do Sul


Uso e conservação da ictiofauna no ecoturismo da região de Bonito, Mato Grosso do Sul: o mito da sustentabilidade ecológica no Rio baía bonita (aquário natural de Bonito)

José SabinoI Luciana Paes de AndradeI;II

IUniversidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal - UNIDERP Mestrado em Meio-Ambiente e Desenvolvimento Regional Laboratório de Biodiversidade, Ecologia e Conservação de Ecossistemas Aquáticos 79290-000 Bonito, Mato Grosso do Sul, Brasil. E-mail: jsabino@bonitonline.com.br

IIUniversidade de São Paulo, Instituto de Biociências, Departamento de Zoologia Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Zoologia. E-mail: lucituca@bonitonline.com.br

ABSTRACT

The Bonito region, in Mato Grosso do Sul State, stand out in Brazil as national reference of example of correct practices in the ecotourism. In spite of progresses in the tourist operation, a three years study of environmental monitoring in Rio Baía Bonita indicates losses of biodiversity portion, very probably due to the visitation excess. Proposed of management and of low impact tourism practices, with careful operation protocol and reduction of the carrying capacity, they were rejected by the company responsible for the operation in the place. Unfortunattly, this event indicates that there is still an enormous gap among the support that the Conservation Biology could give to the sustainable tourist operation. The model of tourist activity developed by the land-owners is conduct essentially by economical parameters in detriment of the environmental ones, and the conservationism don’t get ahead of the rhetoric. The fragility and uniqueness, as the one of Natural Aquarium area, request scientific contributions for wildlife conservation and environment sustainable use in long term.

Key words: Biodiversity, Wildlife Conservation, Ecotourism, Economic Value of Nature, Sustainable Tourism, Fishes, Bodoquena Plateau, Mato Grosso do Sul

RESUMO

A região de Bonito, Mato Grosso do Sul, desponta no Brasil como referência nacional de exemplo de práticas corretas no ecoturismo. Apesar de avanços na operação, um estudo de três anos de monitoramento ambiental do Rio Baía Bonita indica perdas de parcela de biodiversidade, muito provavelmente decorrente do excesso de visitação. Propostas de manejo e de turismo de mínimo impacto, com cuidadoso protocolo de operação e redução da capacidade de carga, foram rejeitadas pela empresa responsável pela operação no local. Este evento indica que, infelizmente, ainda há uma enorme lacuna entre o suporte que a Biologia da Conservação poderia dar à operação turística. O modelo de atividade turística desenvolvido pelos empresários é balizado essencialmente por parâmetros econômicos em detrimento dos ambientais, que não passam da retórica. A delicadeza e unicidade de ambientes como o do “Aquário Natural”, contudo, requer aportes científicos para a efetiva conservação da fauna e da sustentabilidade ambiental no longo prazo.

Palavras-chave: Biodiversidade, Conservação, Ecoturismo, Valoração Econômica da Natureza, Turismo Sustentável, Peixes, Planalto da Bodoquena, Mato Grosso do Sul

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Recebido em 18/06/2003

Publicado em 01/07/2003

ISSN 1676-0603

  • Araújo-Lima, C.A.R.M., M. Goulding, B. Forsberg, R. Victoria & L. Martinelli, 1998. The economic value of the Amazonian flooded forest from a fisheries perspective. Verh. Internat. Verein. Limnol., 26: 2177-2179.
  • Banducci-Jr., A. & E.C. Moretti (orgs.), 2001. Qual Paraíso? Turismo e Ambiente em Bonito e no Pantanal. Edições Chronos e Editora da UFMS. 205p.
  • Benine, R.C.; R.M.C. Castro & J. Sabino, no prelo. Moenkhausia sp.n., a new species from Pantanal, Rio Paraguai Basin, MS, Brazil (Characiformes: Characidae). Copeia.
  • Boggiani, P.C., 1999. Geologia da Bodoquena. Pp.10-23. In: Nos jardins submersos da Bodoquena: guia para identificação de plantas aquáticas de Bonito e região. Scremin-Dias, E.; Pott, V.J.; Hora, R.C. & Souza, P.R. (eds.). Editora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. 160p.
  • Bratton, S.P., 1985. Effects of disturbance by visitors on two woodland orchid species in Grea Smoky Mountains National Park, USA. Biological Conservation, 31: 211-227.
  • Cifuentes, M., 1992. Determinación de capacidad de carga turística en áreas protegidas. Turrialba: Centro Agronómico Tropical de Investigación y Enseñanza CATIE.
  • Cole, D.N.,1993. Minimizing conflict between recreation and nature conservation. Pp. 105-122. In: Ecology of greenways: Design and function of linear conservation areas. D.S.Smith & P.C. Hellmund (eds.). University of Minnesota Press, Minneapolis.
  • Cole, D.N., 2000. Biophysical impacts of wildland recreation use. Pp. 257-264. In: Trends in outdoor recreation, leisure and tourism. W.C. Gartner & D.W. Lime (eds.). CAB International.
  • Cole, D.N. & P.B. Landres, 1996. Threats to wilderness ecosystems: impacts and research needs. Ecological Applications, 6(1): 168-184.
  • Faria, D.S. & K.S.Carneiro, 2001. Sustentabilidade ecológica no turismo. Editora da UnB. 96p.
  • Frêixedas-Vieira, V.M.; A.J. Passold,; T.C. Magro, 2000. Impactos do Uso Público: um guia de campo para utilização do método VIM. Pp. 296-305. In: Congresso de Unidades de Conservação, 2, Campo Grande, MS. Anais, vol II. Campo Grande: Rede Pró-Unidades de Conservação, Governo de Mato Grosso do Sul, Fundação O Boticário de Proteção à Natureza.
  • Garay, I. & B.F.S. Dias, 2001. Conservação da Biodiversidade em Ecossistemas Tropicais: avanços conceituais e revisão de novas metodologias de avaliação e monitoramento. Editora Vozes. Petrópolis. 430p.
  • Garber, S.D. & J. Burger, 1995. A 20-YR study documenting the relationship between turtle decline and human recreation. Ecological Applications, 5(4): 1151-1162.
  • Goldsmith, F.B., 1994. Monitoring for Conservation and Ecology. Chapman & Hall. London, UK.
  • Greenwood, P.H., 1992. Are the major fish faunas wellknown? Journal of Zoology, 42: 131-138.
  • Lindberg, K. & D.E. Hawkins (eds.), 1993. Ecotourism: a guide for planners & managers. The Ecotourism Society. North Bennington, Vermont, 175 p.
  • Mittermeier, R.A., 1988. Primate diversity and the tropical forest. Pp.145-154. In: Wilson, E.O. (ed.). Biodiversity. Washington DC, National Academy Press. 521p.
  • Mitraud, S.F. (coord.), 2001.Uso Recreativo do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha: um exemplo de planejamento e implementação. WWF Brasil, Brasília. 100p.
  • Niefer, I. & J.C.L.G.Silva, 1999. Critérios para um ecoturismo ambientalmente saudável. Cadernos da Biodiversidade, 2(1): 53-61.
  • Pott, V.J. & A. Pott, 2000. Plantas Aquáticas do Pantanal. Embrapa, Brasília. 404p.
  • Reuss-Strenzel, G.M.; M.L. Asmus; A.P. Chludinski, 1997. Avaliação inicial do impacto causado pelo turismo submarino na Reserva Biológica do Arvoredo Santa Catarina, Brasil utilizando um modelo ecológico de simulação. pp. 528-541. In: Anais do I Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação, vol. II. IAP/UNILIVRE, Curitiba, Brasil.
  • Reys. P.; J. Sabino, & M. Galetti, 2000. Frugivory and seed dispersal by the fish Brycon microlepis (Characidae) and other frugivores in a riverine forest in Bonito, Western Brazil. Pp. 247. 3rd International Symposium - Workshop on Frugivores and Seed Dispersal. São Pedro, Brazil.
  • Rizzo, H.G., 2001. Programa nacional de monitoramento ambiental integrado Monitore. Conservação da Biodiversidade em Ecossistemas Tropicais: avanços conceituais e revisão de novas metodologias de avaliação e monitoramento. Pp. 59-67. In: Garay, I. & B.F.S. Dias (eds.). Editora Vozes. Petrópolis. 430p.
  • Roggenbuck, J.W. & R.C. Lucas, 1987. Wilderness use and user characteristics: a state of knowledge review. General Technical Report. USDA Forest Service, Fort Collins, USA.
  • Sabino, J., 1999. Comportamento de peixes em riachos: métodos de estudo para uma abordagem naturalística. pp. 183-208. In: Ecologia de Peixes de Riachos. Caramaschi, E.P.; R. Mazzoni, & P.R. Peres-Neto (eds.). Série Oecologia Brasiliensis, vol. VI. PPGE-UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil.
  • Sabino, J., 2002. Planalto da Bodoquena: Natureza em estado de graça. Revista Os Caminhos da Terra, 125: 58-65.
  • Sabino, J. & L.P.Andrade, 2002. Monitoramento e conservação no rio Baía Bonita, região de Bonito, Mato Grosso do Sul, Brasil. Pp. 397-404. In: Anais do III Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação. Rede Pró-Unidades de Conservação, Fundação Boticário de Proteção à Natureza e Associação Caatinga. Fortaleza, Ceará. 876p.
  • Sabino, J. & L.P. Andrade, 2003. Comportamento reprodutivo e cuidados parentais da joaninha Crenicichla lepidota (Cichlidae) no sistema do Rio Formoso, Bonito, Mato Grosso do Sul. CD-Rom. XV Encontro Brasileiro de Ictiologia. Universidade Metodista Mackenzie, São Paulo.
  • Sabino, J. & I. Sazima, 1997. A comunidade de peixes da nascente da Baía Bonita, em Bonito, Mato Grosso do Sul. XII Encontro Brasileiro de Ictiologia, IOUSP, São Paulo.
  • Sabino, J. & I. Sazima, 1999. Association between fruiteating fish and foraging monkeys in western Brazil. Ichthyological Explorations of Freshwaters, 10 (4): 309-312.
  • Sabino, J. & P.I. Prado, no prelo. Síntese do Conhecimento da Diversidade de Vertebrados do Brasil. Série Biodiversidade. Ministério do Meio Ambiente e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD - ONU).
  • Sánchez-Botero, J.I. & C.A.R.M. Araújo-Lima, 2001. As macrófitas aquáticas como berçário para ictiofauna da várzea do Rio Amazonas. Acta Amazônica, 31 (3): 437-447.
  • Stankey, G.; D. Cole; R. Lucas; M. Petersen; S. Frissell, 1985. The limits of acceptable change (LAC) system for wilderness planning. General Technical Report INT-176. Ogden, UT: U.S. Department of Agriculture, Forest Service, Intermountain Research Station.
  • Takahashi, L.Y., 1997. Limite aceitável de câmbio (LAC): Manejando e monitorando visitantes. Pp. 445-464. In: Anais do I Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação, vol. I. IAP/UNILIVRE, Curitiba.
  • Terborgh, J.; C. van Schaik; L. Davenport & M. Rao, 2002. Tornando os parques eficientes: estratégias para conservação da natureza nos trópicos. Curitiba. Editora da UFPR. Fundação O Boticário de Proteção à Natureza.
  • Tolmasquim, M.T., 2001. Estrutura conceitual para a elaboração de indicadores de sustentabilidade para o Brasil. Pp. 68-75. In: Conservação da Biodiversidade em Ecossistemas Tropicais: avanços conceituais e revisão de novas metodologias de avaliação e monitoramento. Garay, I. & B.F.S. Dias (eds.). Editora Vozes. Petrópolis. 430p.
  • Walpole, M.J. & N. Leader-Willliams, 2002. Tourism and flagship species in conservation. Biodiversity and Conservation, 11: 543-547.
  • Wilson, E.O., 1988. Biodiversity. Washington DC, National Academy Press. 521p.
  • Wilson, E.O., 2002. O Futuro da Vida. Rio de Janeiro, Editora Campus. 242p.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    2003

Histórico

  • Aceito
    01 Jul 2003
  • Recebido
    18 Jun 2003
Instituto Virtual da Biodiversidade | BIOTA - FAPESP Departamento de Biologia Vegetal - Instituto de Biologia, UNICAMP CP 6109, 13083-970 - Campinas/SP, Tel.: (+55 19) 3521-6166, Fax: (+55 19) 3521-6168 - Campinas - SP - Brazil
E-mail: contato@biotaneotropica.org.br