Alterações do sono em pacientes vivendo com o vírus da imunodeficiência humana e dor crônica

Aguiar, Glória Pinto Soares de; Dussán-Sarria, Jairo Alberto; Souza, Andressa de

doi:10.5935/2595-0118.20190023

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ARTIGO ORIGINAL • BrJP 2 (2) • Apr-Jun 2019 • https://doi.org/10.5935/2595-0118.20190023 copiar

Alterações do sono em pacientes vivendo com o vírus da imunodeficiência humana e dor crônica

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

RESUMO

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS:

Em pacientes com dor crônica, a insônia é relatada entre 50 e 88% deles. É fundamental reconhecer as alterações do sono para estimar suas repercussões na qualidade de vida e buscar conhecimentos que respaldem as necessárias intervenções. Este estudo buscou identificar os possíveis fatores que influenciam a qualidade do sono, bem como suas prevalências nesses pacientes.

MÉTODOS:

Amostra constituída por 68 pacientes (58 mulheres e 10 homens) com idade média de 45,3±10,3 anos, diagnóstico positivo para o vírus da imunodeficiência humana em tratamento antirretroviral e dor crônica, de uma instituição em Porto Alegre, RS. O Questionário do Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh foi usado para a avaliação dos componentes da escala de sono, bem como sua pontuação total. Para a classificação do tipo de dor crônica foi utilizada a escala Leeds Assessment of Neuropathic Symptoms and Signs, que diferencia dor nociceptiva e neuropática.

RESULTADOS:

Os pacientes foram classificados em sem dor, dor nociceptiva e dor neuropática. A pontuação global foi dividida em sono bom, sono ruim e distúrbio do sono, onde os pacientes sem dor representaram 8,8, 16,2 e 2,9% respectivamente. Com dor nociceptiva 4,4, 11,8 e 5,9% respectivamente. Com dor neuropática 4,4, 23,5 e 22,1% respectivamente. Os pacientes com dor neuropática apresentaram os maiores índices de sono ruim e distúrbio do sono, representando 50,0% e utilizavam mais fármacos para dormir em comparação com o grupo controle (p<0,05).

CONCLUSÃO:

Existe elevada prevalência de distúrbios do sono ou sono ruim em pacientes portadores do vírus com dor neuropática. A importância da avaliação do sono como parte essencial da avaliação clínica deve ser reconhecida e incorporada sem demora pelos profissionais de saúde.

Descritores:
Dor crônica; Enfermagem; Sono; Vírus da imunodeficiência humana

Variáveis		Frequência	%
Sexo	Masculino	10	14,7
Sexo	Feminino	58	85,3
Idade (anos)	Entre 35 e 55	46	67,7
	Mais de 55	13	19,1
	Menos de 35	9	13,2
Moradia	Reside sozinho	15	22,0
	Reside com a família	49	72,0
	Outros tipos de moradia	4	6,0
Tempo de estudo	Média de anos de estudo	5,9
Tempo de estudo	Mediana de anos de estudo	5
Trabalho profissional	Ativo	14	21,0
	Sem emprego	27	40,0
	Em beneficio	25	37,0
Carga viral	Indetectável	31	45,6
	Não informado	3	4,4
	Detectável	34	50,0
Uso do Efavirenz	Utilizam	17	25,0
Uso do Efavirenz	Não utilizam	51	75,0

Variáveis	Características	Controle (Sem dor)	Dor nociceptiva	Dor neuropática	Total	Valor de p
Sexo	Feminino	13 (19,1%)	13 (19,1%)	32 (47,1%)	58 (85,3%)	0,033^* * testes Exato de Fisher e Kruskal-Wallis. Considerou-se diferença significativa p<0,05.
Sexo	Masculino	6 (8,8%)	2 (2,9%)	2 (2,9%)	10 (14,7%)
Idade (anos) ^# # variável expressa em média±DP da média.	-	45,83±9,53	44,93±11,23	44,50±10,48	-	0,838^* * testes Exato de Fisher e Kruskal-Wallis. Considerou-se diferença significativa p<0,05.
Escolaridade (anos) ^# # variável expressa em média±DP da média.	-	6,94±3,37	4,93±2,67	5,78±2,90	-	0,122^* * testes Exato de Fisher e Kruskal-Wallis. Considerou-se diferença significativa p<0,05.
Fumante	Sim	4 (6,1%)	4 (6,1%)	11 (16,7%)	19 (28,8%)	0,938^* * testes Exato de Fisher e Kruskal-Wallis. Considerou-se diferença significativa p<0,05.
	Não	12 (18,2%)	10 (15,2%)	22 (33,3%)	44 (66,7%)
	Não informado	1 (1,5%)	1 (1,5%)	1 (1,5%)	3 (4,5%)
Consumo de álcool	Sim	7 (10,6%)	5 (7,6%)	12 (18,2%)	24 (36,4%)	0,096^* * testes Exato de Fisher e Kruskal-Wallis. Considerou-se diferença significativa p<0,05.
	Não	8 (12,1%)	7 (10,6%)	22 (33,3%)	37 (56,1%)
	Não informado	2 (3%)	3 (4,5%)	0 (0,0%)	5 (7,6%)
Carga viral	Detectável	8 (11,8%)	10 (14,7%)	16 (23,5%)	34 (50%)	0,138^* * testes Exato de Fisher e Kruskal-Wallis. Considerou-se diferença significativa p<0,05.
	Indetectável	9 (13,2%)	4 (5,9%)	18 (26,5%)	31 (45,6%)
	Sem informação	2 (2,9%)	1 (1,5%)	0 (0%)	3 (4,4%)
Uso de Efavirenz	Sim	7 (10,3%)	3 (4,4%)	7 (10,3%)	17 (25%)	0,409^* * testes Exato de Fisher e Kruskal-Wallis. Considerou-se diferença significativa p<0,05.
Uso de Efavirenz	Não	12 (17,6%)	12 (17,6%)	27 (39,7%)	51 (75%)

Características habituais do sono	Controle (sem dor)			Dor nociceptiva			Dor neuropática			Valor de p
Características habituais do sono	Média	DP	Mediana	Média	DP	Mediana	Média	DP	Mediana	Valor de p
Horário de deitar	23,000	1,452	23,000	22,666	2,160	22,000	23,029	1,678	23,000	0,701^* * teste Kruskal Wallis.
Latência (minutos)	43,421	65,448	15,000	57,400	61,719	30,000	51,323	48,073	30,000	0,218^* * teste Kruskal Wallis.
Horário de despertar	7,105	1,696	7,000	6,933	1,944	7,000	7,088	1,896	7,000	0,820^* * teste Kruskal Wallis.
Duração do sono (horas)	7,111	1,449	7,000	7,400	1,993	8,000	6,650	2,281	6,000	0,225^* * teste Kruskal Wallis.
Eficiência habitual do sono
>85%	12 (17,6%)			8 (11,8%)			15 (22,1%)			0,336^# # teste Exato de Fisher; considerou-se diferença significativa p<0,05.
75 a 84%	3 (4,4%)			3 (4,4%)			7 (10,3%)
65 a 74%	2 (2,9%)			0 (0,0%)			8 (11,8%)
<65%	2 (2,9%)			4 (5,9%)			4 (5,9%)
Total	19 (27,9%)			15 (22,1%)			34 (50,0%)

Componentes do PSQI-BR	Controle (sem dor)			Dor nociceptiva			Dor neuropática			Valor de p
	Média	DP	Mediana	Média	DP	Mediana	Média	DP	Mediana	Valor de p
Qualidade subjetiva do sono	1,500	0,730	1,000	1,500	0,650	1,000	1,727	0,801	2,000	0,529^* * teste de Kruskal-Wallis; considerou-se diferença significativa quando p<0,05.
Latência do sono	1,263	1,284	1,000	1,666	1,234	2,000	1,970	1,086	2,000	0,148^* * teste de Kruskal-Wallis; considerou-se diferença significativa quando p<0,05.
Duração do sono	0,736	0,933	0,000	0,866	1,125	0,000	1,294	1,268	1,000	0,276^* * teste de Kruskal-Wallis; considerou-se diferença significativa quando p<0,05.
Eficiência do sono	0,684	1,056	0,000	1,000	1,309	0,000	1,029	1,086	1,000	0,477^* * teste de Kruskal-Wallis; considerou-se diferença significativa quando p<0,05.
Distúrbios do sono	1,578	0,507	2,000	2,000	0,755	2,000	1,911	0,621	2,000	0,119^* * teste de Kruskal-Wallis; considerou-se diferença significativa quando p<0,05.
Fármaco para dormir	0,157	0,688	0,000	1,000	1,463	0,000	1,058	1,412	0,000	0,038^* * teste de Kruskal-Wallis; considerou-se diferença significativa quando p<0,05.
Sonolência diurna	0,894	0,936	1,000	0,866	0,743	1,000	1,323	1,000	1,006	0,192^* * teste de Kruskal-Wallis; considerou-se diferença significativa quando p<0,05.
Pontuação global (%)
Sono bom	6 (8,8%)			3 (4,4%)			3 (4,4%)			0,059^# # teste Exato de Fisher;
Sono ruim	11 (16,2%)			8 (11,8%)			16 (23,5%)
Distúrbio do sono	2 (2,9%)			4 (5,9%)			15 (22,1%)
Total	19 (27,9%)			15 (22,1%)			34 (50,0%)			0,059

Variáveis	Ocorrência	Controle (sem dor)	Dor nociceptiva	Dor neuropática	Valor de p
Tossir ou roncar muito alto	Nenhuma Vez	13 (19,1%)	9 (13,2%)	15 (22,1%)	0,592^* * teste Exato de Fisher; considerou-se diferença significativa quando p<0,05.
	Menos de 1 vez/sem	1 (1,5%)	1 (1,5%)	1 (1,5%)
	1 a 2 vezes/semana	2 (2,9%)	2 (2,9%)	6 (8,8%)
	3 vezes/sem ou mais	3 (4,4%)	4 (4,4%)	12 (17,6%)
Demorar mais de 30 min para pegar no sono	Nenhuma Vez	7 (10,3%0	4 (5,9%)	8 (11,8%)	0,647^* * teste Exato de Fisher; considerou-se diferença significativa quando p<0,05.
	Menos de 1 vez/sem	2 (2,9%)	2 (2,9%)	1 (1,5%)
	1 a 2 vezes/semana	3 (4,4%)	3 (4,4%)	6 (8,8%)
	3 vezes/sem ou mais	7 (10,3%)	6 (8,8%)	19 (27,9%)
Levantar-se para ir no banheiro	Nenhuma Vez	2 (2,9%)	3 (4,4%)	4 (5,9%)	0,694^* * teste Exato de Fisher; considerou-se diferença significativa quando p<0,05.
	Menos de 1 vez/sem	1 (1,5%)	0 (0,0%)	1 (1,5%)
	1 a 2 vezes/semana	4 (5,9%)	1 (1,5%)	9 (13,2%)
	3 vezes/sem ou mais	12 (17,6%)	11 (16,2%)	20 (29,4%)
Acordar no meio da noite ou de manhã muito cedo	Nenhuma Vez	5 (7,4%)	1 (1,5%)	2 (2,9%)	0,114^* * teste Exato de Fisher; considerou-se diferença significativa quando p<0,05.
	Menos de 1 vez/sem	1 (1,5%)	0 (0,0%)	6 (8,8%)
	1 a 2 vezes/semana	5 (7,4%)	2 (2,9%)	7 (10,3%)
	3 vezes/sem ou mais	8 (11,8%)	12 (17,6%)	19 (27,9%)
Ter dificuldade para respirar	Nenhuma Vez	14 (20,6%)	9 (13,2%)	23 (33,9%)	0,928^* * teste Exato de Fisher; considerou-se diferença significativa quando p<0,05.
	Menos de 1 vez/sem	1 (1,5%)	2 (2,9%)	1 (1,5%)
	1 a 2 vezes/semana	2 (2,9%)	2 (2,9%)	6 (8,8%)
	3 vezes/sem ou mais	2 (2,9%)	2 (2,9%)	4 (5,9%)
Sentir muito frio	Nenhuma Vez	12 (17,6%)	4 (5,9%)	15(22,1%)	0,504^* * teste Exato de Fisher; considerou-se diferença significativa quando p<0,05.
	Menos de 1 vez/sem	1 (1,5%)	2 (2,9%)	2 (2,9%)
	1 a 2 vezes/semana	3 (4,4%)	4 (5,9%)	7 (10,3%)
	3 vezes/sem ou mais	3 (4,4%)	5 (7,4%)	10 (14,7%)
Sentir muito calor	Nenhuma Vez	11 (16,2%)	3 (4,4%)	15 (22,1%)	0,088^* * teste Exato de Fisher; considerou-se diferença significativa quando p<0,05.
	Menos de 1 vez/sem	2 (2,9%)	5 (7,4%)	2 (2,9%)
	1 a 2 vezes/semana	4 (5,9%)	3 (4,4%)	6 (8,8%)
	3 vezes/sem ou mais	2 (2,9%)	4 (5,9%)	11 (16,2%)
Ter sonhos ruins ou pesadelos	Nenhuma Vez	15 (22,1%)	7 (10,3%)	13 (19,1%)	0,051^* * teste Exato de Fisher; considerou-se diferença significativa quando p<0,05.
	Menos de 1 vez/sem	1 (1,5%)	4 (5,9%)	4 (5,9%)
	1 a 2 vezes/semana	2 (2,9%)	3 (4,4%)	7 (10,3%)
	3 vezes/sem ou mais	1 (1,5%)	1 (1,5%)	10 (14,7%)
Sentir dores	Nenhuma Vez	15 (22,1%)	8 (11,8%)	12 (17,6%)	0,007^* * teste Exato de Fisher; considerou-se diferença significativa quando p<0,05.
	Menos de 1 vez/sem	0 (0,0%)	1 (1,5%)	2 (2,9%)
	1 a 2 vezes/semana	4 (5,9%)	2 (2,9%)	6 (8,8%)
	3 vezes/sem ou mais	0 (0,0%)	4 (5,9%)	14 (20,%)
Outras razões	Nenhuma Vez	14 (20,5%)	9 (13,2%)	21 (30,8%)	0,668^* * teste Exato de Fisher; considerou-se diferença significativa quando p<0,05.
	Menos de 1 vez/sem	1 (1,5%)	1 (1,5%)	0 (0,0%)
	1 a 2 vezes/semana	2 (2,9%)	1 (1,5%)	5 (7,4%)
	3 vezes/sem ou mais	2 (2,9%)	4 (5,9%)	8 (11,8%)

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