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Saúde mental e cotidiano dos estudantes de terapia ocupacional frente à Covid-19: possíveis impactos e repercussões

Resumo

A presente pesquisa teve como objetivo identificar os impactos na saúde mental e no cotidiano dos estudantes do curso de graduação em terapia ocupacional de uma universidade pública federal frente ao cenário de enfrentamento da COVID-19. Trata-se de um estudo exploratório e descritivo, de abordagem quantiqualitativa. Para coleta de dados, utilizou-se um questionário semiestruturado organizado no Google Formulários®. Participaram do estudo 53 graduandos do primeiro ao último ano do curso. Os resultados apontam que 94% dos participantes são do gênero feminino, com idade entre 20 e 25 anos (78%). Antes da pandemia, os estudantes realizavam uma vasta gama de atividades semanais, sendo que 68% não apresentavam questões prévias de saúde mental ou não apresentavam dificuldades que impactavam a sua vida de forma significativa. Com o advento da pandemia e suas consequências, o estudo apontou que 94% dos participantes observaram sua saúde mental impactada e, desses, 92% sinalizaram a ansiedade como a manifestação mais recorrente. Verificou-se ainda que praticamente todas as atividades que compunham o cotidiano dos estudantes antes da pandemia da COVID-19 foram alteradas de alguma maneira, sendo a categoria socialização a segunda mais citada. Diante do cenário atual de permanência da pandemia há mais de um ano, importa investigar como e quais estratégias de enfrentamento os estudantes, mas também a população geral, têm adotado para lidar com os persistentes e permanentes desafios. Assim, aponta-se para a necessidade e importância de se investir em pesquisas que aprofundem a compreensão desses impactos e das possíveis estratégias de enfrentamento adotadas.

Palavras-chave:
Pandemia; COVID-19; Saúde Mental; Estudantes; Terapia Ocupacional

Abstract

This research aimed to identify the impacts on mental health and the daily lives of students of the undergraduate course in Occupational Therapy at a Federal Public University in the face of the COVID-19 coping scenario. This is an exploratory and descriptive study, with a quantitative and qualitative approach. For data collection, a semi-structured questionnaire organized in Google Forms was used. Fifty-three undergraduate students from the first to the last year of the course participated in the study. The results show that 94% of the participants are female, aged between 20 and 25 years (78%). Before the pandemic, students performed a wide range of weekly activities, 68% of whom had no previous mental health issues, or had no difficulties that significantly impacted their lives. With the advent of the pandemic and its consequences, the study found that 94% of participants observed their mental health impacted, and of these, 92% showed anxiety as the most recurrent manifestation. It was also found that practically all activities that made up students' daily lives before the COVID-19 pandemic were altered in some way, with the socialization category being the second most cited. Given the current scenario, in which the pandemic has been in existence for more than a year, it is important to investigate how and which coping strategies not only students but also the general population, have adopted to deal with the persistent and permanent challenges. Thus, it points to the need and importance of investing in research that deepens the understanding of these impacts and the possible coping strategies adopted.

Keywords:
Pandemic; COVID-19; Mental Health; Students; Occupational Therapy

Introdução

A pandemia da COVID-19 tem se configurado como uma grande ameaça à saúde global (Ferguson et al., 2020Ferguson, N., Laydon, D., Nedjati Gilani, G., Imai, N., Ainslie, K., Baguelin, M., Bhatia, S., Boonyasiri, A., Cucunuba Perez, Z., Cuomo-Dannenburg, G., Dighe, A., Dorigatti, I., Fu, H., Gaythorpe, K., Green, W., Hamlet, A., Hinsley, W., Okell, L., Van Elsland, S., Thompson, H., Verity, R., Volz, E., Wang, H., Wang, Y., Walker, P., Walters, C., Winskill, P., Whittaker, C., Donnelly, C., Riley, S., & Ghani, A. (2020). Impact of non-pharmaceutical interventions (NPIs) to reduce COVID-19 mortality and healthcare demand. Imperial College London, 1-20. https://doi.org/10.25561/77482.
https://doi.org/10.25561/77482...
). A alta transmissibilidade do vírus, associada ao grande número de mortos em poucos meses, alertou os governos de diferentes países sobre a gravidade da pandemia, levando as autoridades a adotarem intervenções de grandes proporções no intuito de conter o número de novos infectados (Sarti et al., 2020Sarti, T. D., Lazarini, W. S., Fontenelle, L. F., & Almeida, A. P. S. C. (2020). Qual o papel da atenção primária à saúde diante da pandemia provocada pela COVID-19? Revista Epidemiologia e Serviços de Saúde, 29(2), 1-5.; Zhu et al., 2020Zhu, N., Zhang, D., Wang, W., Li, X., Yang, B., Song, J., Zhao, X., Huang, B., Shi, W., Lu, R., Niu, P., Zhan, F., Ma, X., Wang, D., Xu, W., Wu, G., Gao, G. F., & Tan, W. (2020). A novel coronavirus from patients with pneumonia in China. The New England Journal of Medicine, 382(8), 727-733.).

No cenário brasileiro, o presidente da república sancionou a Lei n°13.979, em 06 de fevereiro de 2020, que dispôs sobre as medidas de enfrentamento da emergência de saúde pública decorrentes do coronavírus que as autoridades poderiam adotar. Em consonância com a referida lei, o Governador do Estado de São Paulo, no Decreto n°64.881, em 22 de março de 2020, determinou quarentena no Estado de São Paulo, recomendando que a circulação de pessoas se limitasse às atividades essenciais (Brasil, 2020aBrasil. (2020a, 22 de março). Decreto nº 64881, de 22 de março de 2020. Decreta quarentena no Estado de São Paulo, no contexto da pandemia do COVID-19 (Novo Coronavírus), e dá providências complementares. Diário Oficial da União, São Paulo, seção 1, p. 1.). Essas medidas têm variado em intensidade e orientações, desde quando foram inicialmente decretadas, de acordo com a evolução do cenário epidemiológico do país.

No âmbito da educação, o Ministério da Educação (MEC) autorizou, por meio das Portarias de n°343 e n°345, publicadas respectivamente em 17 e 19 de março de 2020, que instituições de educação superior públicas e privadas substituíssem disciplinas presenciais por aulas a distância, fazendo uso de tecnologia de informação e comunicação para os cursos já iniciados. Essas medidas também vêm sendo atualizadas periodicamente a depender do cenário epidemiológico de cada região do país (Brasil, 2020bBrasil. (2020b, 17 de março). Portaria nº 343, de 17 de março de 2020. Dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia do Novo Coronavírus - COVID-19. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, seção 1, p. 39., 2020cBrasil. (2020c, 19 de março). Portaria nº 345, de 19 de março de 2020. Altera a Portaria MEC nº 343, de 17 de março de 2020. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, seção 1, p. 1.).

Embora os efeitos da COVID-19 incidam, em primeira instância, sobre a saúde física das pessoas, a situação atual tem revelado seu potencial para o desencadeamento de sofrimento psíquico intenso na população geral (United Nations, 2020United Nations. (2020). Policy brief: COVID-19 and the need for action on mental health. Recuperado em 20 de maio de 2020, de https://www.un.org/sites/un2.un.org/files/un_policy_brief-covid_and_mental_health_final.pdf.
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). A medida de distanciamento social, amplamente adotada nos diversos países, bem como no Brasil, embora pautada em evidências científicas e imprescindível para a preservação da saúde, também pode impactar negativamente a saúde mental da população (Schmidt et al., 2020aSchmidt, B., Melo, B. D., Lima, C. C., Pereira, D. R., Serpeloni, F., Katz, I., Rabelo, I., Kabad, J. F., Souza, M. S., Kadri, M., & Magrin, N. P. (2020a). Saúde mental e atenção psicossocial na pandemia COVID-19: a quarentena na COVID-19 - orientações e estratégias de cuidado. Rio de Janeiro: Fiocruz/CEPEDES.). Isso porque, na prática, as estratégias adotadas para viabilizar o distanciamento social – a suspensão de eventos e de encontros presenciais entre as pessoas; a suspensão de atividades de trabalho, o cancelamento ou adiamento de projetos pessoais; o fechamento de comércios no geral e a suspensão de atividades educacionais, incluindo as Universidades – impõem restrições que produzem alterações significativas na vida das pessoas, por vezes transformando de maneira drástica aquilo que costumava ser familiar ou mesmo tornando complexo aspectos da vida cotidiana que costumavam ser simples. Para muitas pessoas, a vida comum se alterou e vem se alterando de maneira a produzir uma espécie de suspensão indefinida daquilo que se tinha como vida normal (Usher et al., 2020Usher, K., Bhullar, N., & Jackson, D. (2020). Life in the pandemic: social isolation and mental health. Journal of Clinical Nursing, 29, 15-16.).

Importa ressaltar que os aspectos e elementos constituintes da vida cotidiana supracitados – que sofreram alterações/suspensão significativas com o advento das medidas de contenção da transmissão da COVID-19 – são justamente os que, junto de tantos outros, vão configurando estilos de vida, qualidade de vida e de bem-estar, condições que estão na base do que se compreende aqui por saúde mental. Ou seja, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (2016)Organização Pan-Americana da Saúde – OPAS. (2016). Saúde mental depende de bem-estar físico e social, diz OMS em dia mundial. Recuperado em 5 novembro 2021, de https://brasil.un.org/pt-br/74566-saude-mental-depende-de-bem-estar-fisico-e-social-diz-oms-em-dia-mundial.
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, saúde mental transcende uma compreensão de mera ausência de transtornos mentais, constituindo-se como parte essencial que integra a saúde dos sujeitos e coletividades, sendo influenciada por fatores contextuais, socioeconômicos e biológicos. Trata-se pois de condição cujo bem-estar permite que a pessoa opere no mundo pelas suas habilidades e lide com tensões inerentes à vida. Isso posto,

podemos pensar que a vida implica processualidade, movimento, criação. O ser vivo está em constante transformação. Muitas coisas podem acontecer a quem está vivo, muitas intempéries e percalços, e muitas coisas boas também. Para continuar vivendo, temos que, de alguma forma, incorporar esses acontecimentos, mas isso implica a criação de novas organizações, de novos corpos, de formas de vida sempre provisórias (Lima, 2006Lima, E. M. F. A. (2006). A Saúde Mental nos caminhos da Terapia Ocupacional. O mundo da saúde, 30(1), 117-122., p. 119).

Dessa compreensão, deriva-se que saúde mental e bem-estar são condições de extrema importância para a configuração da vida individual e coletiva, possibilitando às pessoas agir, pensar, sentir e interagir (Organização Pan-Americana da Saúde, 2016Organização Pan-Americana da Saúde – OPAS. (2016). Saúde mental depende de bem-estar físico e social, diz OMS em dia mundial. Recuperado em 5 novembro 2021, de https://brasil.un.org/pt-br/74566-saude-mental-depende-de-bem-estar-fisico-e-social-diz-oms-em-dia-mundial.
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), construindo cotidianamente formas de vida e de viver.

Argumenta-se que situações como essa, inaugurada pela pandemia da COVID-19, ao imporem alterações tão drásticas e indefinidas à vida das pessoas, podem atingir dimensões subjetivas da existência de maneira muito particular e singular, podendo, algumas vezes, comprometer pilares de sustentação da vida emocional. Nessa direção, um documento produzido por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz, no qual constam recomendações gerais relativas ao cuidado à Saúde Mental e Atenção Psicossocial em tempos de COVID-19, aponta que o isolamento social pode produzir aumento de sensação de solidão, desamparo e tristeza (Melo et al., 2020Melo, B. D., Pereira, D. R., Serpeloni, F., Kabad, J. F., Kadri, M., Souza, M. S., & Rabelo, I. V. M. (2020). Saúde mental e atenção psicossocial na pandemia COVID-19: recomendações gerais. Rio de Janeiro: Fiocruz.).

O estudo de Wang et al. (2020)Wang, C., Pan, R., Wan, X., Tan, Y., Xu, L., Ho, C. S., & Ho, R. C. (2020). Immediate psychological responses and associated factors during the initial stage of the 2019 Coronavirus disease (COVID-19) epidemic among the general population in China. International Journal of Environmental Research and Public Health, 17(5), 1729-1754., no intuito de compreender os níveis de impacto psicológico e de ansiedade, depressão e estresse durante o estágio inicial do surto de COVID-19 na população chinesa, apontou que: 53,8% dos entrevistados classificaram o impacto psicológico do surto como moderado ou grave; 16,5% dos entrevistados relataram sintomas depressivos moderados a graves; 28,8% dos entrevistados relataram sintomas de ansiedade moderados a graves; e 8,1% relataram níveis de estresse moderado a grave. Importa destacar que o estudo, apesar de objetivar compreender como a população geral chinesa foi impactada, iniciou-se com estudantes universitários e eles foram incentivados a repassá-la a outros (numa amostragem de bola de neve), levando a um viés de seleção por ter uma amostragem excessiva de estudantes (52,8% dos participantes totais). Os autores sugerem ainda que o atraso na progressão acadêmica pode ter sido um dos elementos a produzir um efeito adverso na saúde mental desses estudantes.

Dessa forma, questiona-se quais são os impactos da atual pandemia e a consequente interrupção das atividades acadêmicas presenciais para a população universitária, mais especificamente sobre sua saúde mental. Esse questionamento se justifica na medida em que essa população, assim como a população geral, foi amplamente atingida nas diversas dimensões de sua vida pessoal e, mais especificamente, foi apartada do contexto universitário, espaço no qual pode haver produção de vivências importantes e significativas.

A vida universitária faz parte do ciclo vital de muitas pessoas, normalmente ocorrendo entre o período da adolescência e juventude, promovendo, geralmente, vivências individuais e coletivas que solicitam do sujeito estratégias de sociabilidade e adoção de novas responsabilidades. Adicionalmente, há, em geral, a vivência de eventos novos e significativos, como o distanciamento da família nuclear, além de novos desafios, conflitos, decisões, escolhas e posturas que, além de delinear aspectos da vida universitária, coincidem, por vezes, com o ingresso na vida adulta, podendo suscitar sentimentos difíceis de lidar, como angústia, desânimo e ansiedade (Assis & Oliveira, 2010Assis, A. D., & Oliveira, A. G. B. (2010). Vida universitária e saúde mental: atendimento às demandas de saúde e saúde mental de estudantes de uma universidade brasileira. Cadernos Brasileiros de Saúde Mental, 2(4-5), 159-177.; Osse & Costa, 2011Osse, C., & Costa, I. (2011). Saúde mental e qualidade de vida na moradia estudantil da Universidade de Brasília. Estudos de Psicologia, 28(1), 115-122.).

Estudos nacionais têm focalizado a saúde mental da população universitária, tanto na perspectiva de implantar, descrever, avaliar e recomendar aprimoramento de programas de intervenção no cuidado à saúde mental ofertados pelas universidades (Assis & Oliveira, 2010Assis, A. D., & Oliveira, A. G. B. (2010). Vida universitária e saúde mental: atendimento às demandas de saúde e saúde mental de estudantes de uma universidade brasileira. Cadernos Brasileiros de Saúde Mental, 2(4-5), 159-177.; Cerchiari et al., 2005aCerchiari, E., Caetano, D., & Faccenda, O. (2005a). Utilização do Serviço de Saúde Mental em uma universidade pública. Psicologia: Ciência e Profissão, 25(2), 252-265.; Peres et al., 2003Peres, R., Santos, M., & Coelho, H. (2003). Atendimento psicológico a estudantes universitários: considerações acerca de uma experiência em clínica-escola. Rev. Estudos de Psicologia, 20(3), 47-57.) quanto na de mapear as condições psicossociais e estimar a prevalência de transtornos mentais menores entre os universitários (Osse & Costa, 2011Osse, C., & Costa, I. (2011). Saúde mental e qualidade de vida na moradia estudantil da Universidade de Brasília. Estudos de Psicologia, 28(1), 115-122.; Cerchiari et al., 2005bCerchiari, E., Caetano, D., & Faccenda, O. (2005b). Prevalência de transtornos mentais menores em estudantes universitários. Estudos de Psicologia, 10(3), 413-420.), revelando preocupação com essa parcela da população, cuja particularidade reside nas vivências e experiências oriundas da vida universitária. Pesquisas produzidas tanto no contexto nacional quanto no internacional (Duarte et al., 2020Duarte, M. Q., Santo, M. A. S., Lima, C. P., Giordani, J. P., & Trentini, C. M. (2020). COVID-19 e os impactos na saúde mental: uma amostra do Rio Grande do Sul, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 25(9), 3401-3411.; Garvey et al., 2021Garvey, A. M., García, I. J., Otal Franco, S. H., & Fernández, C. M. (2021). The psychological impact of strict and prolonged confinement on business students during the COVID-19 pandemic at a Spanish University. International Journal of Environmental Research and Public Health, 18(4), 1710-1722.; Maia & Dias, 2020Maia, B. R., & Dias, P. C. (2020). Ansiedade, depressão e estresse em estudantes universitários: o impacto da covid-19. Estudos de Psicologia, 37, 1-8.; Wang et al., 2020Wang, C., Pan, R., Wan, X., Tan, Y., Xu, L., Ho, C. S., & Ho, R. C. (2020). Immediate psychological responses and associated factors during the initial stage of the 2019 Coronavirus disease (COVID-19) epidemic among the general population in China. International Journal of Environmental Research and Public Health, 17(5), 1729-1754.) já indicam que a pandemia e seus desdobramentos causam efeitos negativos à saúde mental dos universitários, levando-os, por vezes, a apresentarem níveis elevados de ansiedade, depressão e estresse desencadeados, possivelmente, pelo atraso na progressão acadêmica, exposição ao excesso de informações sobre o cenário pandêmico e medidas de distanciamento social. Gundim et al. (2021)Gundim, V. A., Encarnação, J. P., Santos, F. C., Santos, J. E., Vasconcellos, E. A., & Souza, R. C. (2021). Saúde mental de estudantes universitários durante a pandemia de COVID-19. Revista Baiana de Enfermagem, 35, 1-14. apontam para a necessidade de produção de pesquisas que aprofundem a compreensão desses impactos na atualidade.

Diante do exposto, a presente pesquisa teve como objetivo identificar os impactos na saúde mental e no cotidiano dos estudantes do curso de graduação em terapia ocupacional de uma universidade pública federal frente ao cenário de enfrentamento da COVID-19.

Metodologia

Trata-se de um estudo exploratório e descritivo, de abordagem quantiqualitativa. Considera-se que estudos dessa natureza possibilitam uma maior compreensão da realidade investigada e do problema de pesquisa (Minayo et al., 2005Minayo, M. C. S., Assis, S. G., & Souza, E. R. (2005). Avaliação por triangulação de métodos: abordagem de programas sociais. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz.; Leopardi, 2001Leopardi, M. T. (2001). Fundamentos gerais da produção científica. In M. T. Leopardi (Ed.), Metodologia da pesquisa na saúde (pp. 138-139). Santa Maria: Pallotti.).

Participantes

Participaram da presente pesquisa 53 estudantes regularmente matriculados no curso de graduação em terapia ocupacional de uma universidade pública federal, ingressantes de 2014 a 2020.

Os critérios de inclusão dos participantes foram: graduandos em terapia ocupacional regularmente matriculados, do primeiro ao último ano do curso e que aceitaram participar da pesquisa.

Foram excluídos do estudo alunos que, embora regularmente matriculados, não estivessem com o curso em vigência, ou seja, estivessem com o curso trancado.

Local

O estudo foi realizado de forma virtual, junto aos estudantes do curso de graduação em terapia ocupacional de uma universidade pública federal.

Instrumento

O instrumento utilizado para a coleta de dados foi um questionário semiestruturado, elaborado pelas pesquisadoras na plataforma do Google Formulários. Trata-se de um questionário autoaplicável, composto por 32 questões, abertas e fechadas, organizadas em duas sessões: a primeira referente à caracterização dos participantes e a segunda voltada à investigação do cotidiano e saúde mental dos estudantes antes e depois da pandemia da COVID-19.

Procedimentos

Questões éticas

O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade Federal de São Carlos (CEP - UFSCar) com número de parecer 4.128.864. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi enviado para os e-mails de cada turma do curso no momento da divulgação da pesquisa e também constava, na íntegra, no questionário do Google Formulários.

Validação do instrumento de coleta de dados e estudo piloto

Após ser elaborado pelas pesquisadoras, o questionário foi encaminhado para ser avaliado por juízes especialistas na área, conforme sugerido por Manzini (2003)Manzini, E. J. (2003). Considerações sobre a elaboração de roteiro para entrevista semiestruturada. In M. C. Marquezine, M. A. Almeida & S. Omote (Eds.), Colóquios sobre pesquisa em educação especial (pp. 11 - 25). Londrina: EDUEL.. Suas sugestões e contribuições foram incorporadas pelas pesquisadoras e, posteriormente, o instrumento foi submetido a um estudo piloto. O estudo piloto foi realizado com três graduandos de diferentes períodos, do curso de terapia ocupacional de uma universidade pública federal, visando realizar os últimos ajustes do instrumento antes do início da coleta de dados. Com base nas respostas apresentadas por esses estudantes, o instrumento sofreu as últimas adequações e foi finalizado.

Coleta de dados

Inicialmente, foi feita uma consulta à coordenação do curso de graduação em terapia ocupacional, momento em que foram identificados 227 estudantes regularmente matriculados. Desses 227, cinco estudantes foram excluídos por não atenderem a todos os critérios de inclusão. Logo, 222 estudantes foram elegíveis e, portanto, receberam o convite para participar da pesquisa.

O contato com os participantes se deu por meio do envio de convite aos endereços de e-mail das turmas. Outro veículo de divulgação adotado foram as redes sociais do centro acadêmico de terapia ocupacional, assim como também foram contatados os representantes de cada turma do curso de terapia ocupacional, que se prontificaram a divulgar a pesquisa com suas respectivas turmas por meio de grupos em um aplicativo de mensagens.

A coleta de dados ocorreu no período de julho a agosto de 2020, após distintas estratégias de divulgação e convites. Ao final do referido período, foram obtidas 53 respostas, o que corresponde a 23,87% da amostra total.

Análise de dados

Os dados quantitativos foram analisados por meio de estatística descritiva e apresentados por meio de figuras e tabelas. Para as questões abertas, utilizou-se a técnica de Análise Categorial, uma das técnicas contidas na Análise de Conteúdo proposta por Bardin (2011)Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70..

Tal técnica adota a totalidade do texto na análise, passando-o por uma triagem de classificação e de quantificação, segundo a frequência de presença ou ausência de itens de sentido (Bardin, 2008Bardin, L. (2008). Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70.). Isso é, para cada questão aberta, foram reunidas e enumeradas todas as respostas obtidas e, na sequência, baseado na leitura e identificação de elementos em comum, criava-se uma categoria. Para cada categoria, registraram-se exemplos que a ilustravam, bem como o número de citações, com base na contagem desses elementos em comum.

Resultados e Discussão

Informações gerais sobre os participantes

Participaram da presente pesquisa 53 estudantes do curso de graduação em terapia ocupacional de uma universidade pública federal, o que corresponde a 23,87% do total de alunos inicialmente identificados como potenciais participantes.

Em relação ao gênero, dos 53 participantes, 43 (81%) se identificaram como do gênero feminino, 7 (13%) como mulher cisgênero, 2 (4%) como do gênero masculino e 1 (2%) como “outros”. Em relação à idade, 6 (11%) participantes têm entre 17 e 19 anos, 20 (38%) têm idade entre 20 e 22 anos, 21 (40%) têm idade entre 23 e 25 anos. 2 (4%) têm idade entre 26 e 28 anos e 4 (7%) têm idade entre 29 e 35 anos. Em relação à raça/etnia, dos 53 participantes, 38 (72%) se declararam brancos. 2 (4%) se declararam pretos, 8 (15%) se declararam pardos, 4 (7%) se declararam amarelos e 1 (2%) se classificou na categoria “outros”. Em relação ao estado civil, quase a totalidade dos participantes – 50 (94,3%) – se declararam “solteiros”. Uma porcentagem significativa dos participantes corresponde aos “veteranos mais antigos” (57% do total da amostra), ou seja, que ingressaram na graduação em 2014, 2015 e 2016, e que possivelmente caminham para o final do curso. Outra categoria que merece destaque, em função da quantidade de respondentes, é a de “alunos ingressantes” (13%), que iniciaram a graduação em 2020.

Ariño & Bardagi (2018)Ariño, D. O., & Bardagi, M. P. (2018). Relação entre fatores acadêmicos e a saúde mental de estudantes universitários. Psicologia em Pesquisa, 12(3), 44-52. apontam que um curso de graduação pode ser dividido em três grandes momentos: o inicial (no qual há a migração do ensino médio para o ensino superior); o médio (no qual se inicia o contato com a prática profissional por meio dos estágios); e o final (caracterizado pelo encerramento do papel de estudante e ingresso no mercado de trabalho), de forma que cada um desses momentos é composto por diferentes demandas, as quais podem influenciar no perfil de saúde dos estudantes de cada fase.

A título de exemplo, o estudo de Brandtner & Bardagi (2009)Brandtner, M., & Bardagi, M. (2009). Sintomatologia de depressão e ansiedade em estudantes de uma universidade privada do Rio Grande do Sul. Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, 2(2), 81-91., realizado com 200 estudantes universitários distribuídos entre os cursos de Educação Física, Letras, Engenharia de Alimentos, Psicologia e Administração indicou que, no geral, os índices de ansiedade foram maiores do que os de depressão entre o total dos participantes; no entanto, os alunos de início de curso apresentaram índices significativamente mais altos de depressão do que os de final de curso. Já a pesquisa de Jardim et al. (2020)Jardim, M. G. L., Castro, T. S., & Rodrigues, C. F. F. (2020). Sintomatologia depressiva, estresse e ansiedade em universitários. Psico-USF, 25(4), 645-657., realizada com 410 estudantes universitários de cursos da saúde, revelou não haver diferença significativa entre ingressantes e concluintes no que se refere aos níveis de depressão, estresse e ansiedade identificados. Por fim, o estudo de Silva et al. (2020)Silva, R. C., Pereira, A. A., & Moura, E. P. (2020). Qualidade de vida e transtornos mentais menores dos estudantes de medicina do Centro Universitário de Caratinga (UNEC), Minas Gerais. Revista Brasileira de Educação Médica, 44(2), e064., realizado com estudantes de Medicina de uma universidade, revelou, dentre seus resultados, que os participantes do estudo apresentaram alto índice de transtornos mentais menores, apesar de não haver diferenças expressivas na saúde mental geral entre os participantes em diferentes períodos do curso.

A despeito das particularidades metodológicas e dos distintos indicativos presentes nos estudos supracitados, além de o período no qual os estudantes se encontram na graduação não poder ser colocado como fator determinante para a ocorrência ou não de sofrimento psíquico, foi possível constatar nos resultados de todos eles preditivos ou a já existência de sofrimento psíquico entre estudantes universitários. Há ainda a indicação da necessidade de novos estudos que investiguem sobre a saúde mental dos universitários, bem como sobre a função da universidade e suas possibilidades para auxiliar no cuidado e promoção da saúde mental dessa população (Brandtner & Bardagi, 2009Brandtner, M., & Bardagi, M. (2009). Sintomatologia de depressão e ansiedade em estudantes de uma universidade privada do Rio Grande do Sul. Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, 2(2), 81-91.; Castro, 2017Castro, V. R. (2017). Reflexões sobre a saúde mental do estudante universitário: estudo empírico com estudantes de uma instituição pública de ensino superior. Revista Gestão em Foco, 9(1), 380-401.; Jardim et al., 2020Jardim, M. G. L., Castro, T. S., & Rodrigues, C. F. F. (2020). Sintomatologia depressiva, estresse e ansiedade em universitários. Psico-USF, 25(4), 645-657.; Silva et al., 2020Silva, R. C., Pereira, A. A., & Moura, E. P. (2020). Qualidade de vida e transtornos mentais menores dos estudantes de medicina do Centro Universitário de Caratinga (UNEC), Minas Gerais. Revista Brasileira de Educação Médica, 44(2), e064.). Isso se coloca também como objeto de análise e preocupação no presente estudo, especialmente em função do advento da pandemia e seus impactos na vida e saúde mental dos estudantes.

Aspectos mais específicos referentes à saúde mental dos estudantes e as atividades que compunham o seu cotidiano antes da pandemia da COVID-19 e suas consequências serão discutidas na seção seguinte.

Saúde mental e atividades cotidianas dos participantes antes da pandemia da COVID-19

A Figura 1 a seguir apresenta quais as percepções pessoais dos estudantes a respeito da sua saúde mental antes do cenário pandêmico.

Figura 1
Figura representativa da Saúde Mental dos estudantes antes da pandemia da COVID-19. Fonte: elaborada pelas autoras.

A análise da Figura 1 permite identificar que, antes da pandemia da COVID-19 e suas consequências, 36 (68%) estudantes ou não tinham problemas prévios, ou não tinham problemas que interferiam/impactavam a sua vida de forma significativa. No entanto, é importante pontuar que 13 (24%) já apresentavam questões de saúde mental que impactavam a sua vida (de forma significativa ou não) e 4 (8%) já tinham diagnóstico de transtorno mental que interferia em sua vida e no cumprimento das atividades obrigatórias. Os índices encontrados no presente estudo chamam a atenção e talvez caminhem em direção à constatação feita por Constantinidis & Matsukura (2021)Constantinidis, T. C., & Matsukura, T. S. (2021). Saúde mental de estudantes de terapia ocupacional: revisão de escopo. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 29, e2139. http://dx.doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAR2139.
http://dx.doi.org/10.1590/2526-8910.ctoA...
, de que a identificação do aumento na prevalência de sofrimento psíquico entre estudantes universitários nos últimos anos tem feito aumentar os estudos dedicados a investigar sobre a saúde mental de estudantes de cursos de terapia ocupacional.

Não se pode afirmar que essas questões prévias relativas à saúde mental pontuadas pelos estudantes são provocadas ou acentuadas pela condição de ser estudante universitário. Porém, cursar uma graduação gera novas demandas, como, por exemplo, a necessidade de realizar longas horas de estudo, para as quais os estudantes são levados a se adaptar para conseguir enfrentar tais exigências. Esse processo, que requer um repertório comportamental, pode ser estressor e impactar diretamente a saúde mental dos estudantes, principalmente a daqueles que não possuíam previamente essa bagagem de habilidades e competências (Ariño & Bardagi, 2018Ariño, D. O., & Bardagi, M. P. (2018). Relação entre fatores acadêmicos e a saúde mental de estudantes universitários. Psicologia em Pesquisa, 12(3), 44-52.) para lidar com as demandas do contexto e com os desafios impostos. Ademais, segundo o relatório do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (FONAPRACE) de 2019, numa amostra de 424.128 discentes de cursos de graduação de 63 universidades federais brasileiras, o percentual de participantes que sinalizaram alguma dificuldade emocional (como ansiedade, tristeza persistente, medo/pânico, insônia ou alterações significativas de sono, sensação de desamparo/ desespero/ desesperança, desânimo, falta de vontade para realizar atividades, sentimento de solidão e pensamento suicida) nos últimos 12 meses foi de 83,5%, sendo que a ansiedade foi assinalada por 6 a cada 10 estudantes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior, 2019Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior – ANDIFES. (2019). V Pesquisa Nacional de perfil socioeconômico e cultural dos(as) graduandos(as) das IFES. Uberlândia: Fonaprace.). Assim, já se faz conhecida na literatura a ocorrência de algum tipo de sofrimento psíquico em estudantes universitários, mesmo em condições anteriores à pandemia, tal como também apontam os dados da Figura 1 do presente estudo. No entanto, além da percepção quanto à própria saúde mental, para se compreender como estavam os estudantes antes do advento da pandemia e seus desdobramentos, importa conhecer como a sua rotina era composta, a fim de ser possível avaliar se e como a pandemia a impactou.

A Tabela 1 em seguida traz um panorama de quais atividades compunham o cotidiano dos estudantes antes da pandemia e suas consequências.

Tabela 1
Atividades realizadas pelos estudantes antes da pandemia de COVID-19.

Observa-se, na Tabela 1, que os participantes realizavam uma vasta gama de atividades, as quais perpassavam o âmbito acadêmico, social, esportivo, espiritual, de lazer, trabalho etc. As categorias citadas de forma expressiva foram as de atividades acadêmicas, sociais (nas quais necessariamente foram consideradas atividades coletivas) e de atividades físicas. Além do que foi apresentado na Tabela 1 1 1 Aponta-se que, em algumas figuras, não serão exemplificadas todas as categorias geradas, somente as mais citadas, uma vez que foi encontrado um número muito elevado de categorias. , outras atividades foram pouco citadas – viagens (8 citações), atividades religiosas (6 citações), práticas integrativas e complementares (5 citações) e atividades extracurriculares (4 citações).

O amplo universo de atividades, representado na Tabela 1, realizadas pelos participantes da presente pesquisa evoca uma discussão em torno da importância dos fazeres e das atividades para a existência humana, o que implica na constituição de uma vida cotidiana e que certamente produz reverberações na saúde mental.

Os apontamentos de Lima (2019)Lima, E. M. F. A. (2019). Uma perspectiva ético-estético-política para as atividades em terapia ocupacional. In C. R. Silva (Ed.), Atividades humanas e terapia ocupacional: saber-fazer, cultura, política e outras resistências (pp. 97-127). São Paulo: Hucitec. contribuem para essa discussão, ampliando-a, já que para a autora

Os seres humanos são esses seres de potência, que podem fazer e não fazer, conseguir e falhar, perder-se e encontrar-se. Sua singularidade ganha existência e aparece na dimensão pública do mundo comum naquelas atividades que só existem na mera realização e que estão condicionadas à presença dos outros. O quem que aparece na ação e no discurso, aparece em sua singularidade e importa sobretudo porque sua existência é potência (Lima, 2019Lima, E. M. F. A. (2019). Uma perspectiva ético-estético-política para as atividades em terapia ocupacional. In C. R. Silva (Ed.), Atividades humanas e terapia ocupacional: saber-fazer, cultura, política e outras resistências (pp. 97-127). São Paulo: Hucitec., p. 124, grifo da autora).

Numa primeira visada, cotidiano pode indicar a forma como cada um se relaciona com sua rotina, seus hábitos, com seus afazeres e acontecimentos diários (Maximino & Tedesco, 2016Maximino, V. S., & Tedesco, S. (2016). Rotina, hábitos, cotidiano: no banal e no sutil, a trama da vida. In T. S. Matsukura & M. M. Salles (Eds.), Cotidiano, atividade humana e ocupação: perspectivas da terapia ocupacional no campo da saúde mental (pp. 123-146). São Carlos: EdUFSCar.), mas se amplia subjetivamente quando se trata de pensar vida cotidiana, a qual se apresenta como resultado da interação entre a realidade externa e a psíquica do sujeito, a trama das relações sociais, as atividades triviais de cuidado de si, as ações de solidariedade (Galheigo, 2003Galheigo, S. M. (2003). O cotidiano na terapia ocupacional: cultura, subjetividade e contexto histórico-social. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 14(3), 104-109.). Nesse sentido, é possível afirmar que é na vida cotidiana que o ser humano se mostra por inteiro, colocando em curso as suas ideias, paixões, sentimentos e capacidades intelectuais (Heller, 2000Heller, A. (2000). O cotidiano e a história. São Paulo: Paz e Terra.).

Isso posto, argumenta-se que a vida é tecida em processo, com base em fragmentos de experiências, vivências, sentimentos, memórias. O cotidiano, então, essa espécie de trama sob a qual repousa, mas também acontece dinamicamente, a vida de cada um, é que possibilita “acessar a experiência, o real, o imaginário, a memória, os sonhos, os sentimentos, as necessidades e os afetos” (Galheigo, 2020Galheigo, S. M. (2020). Terapia ocupacional, cotidiano e a tessitura da vida: aportes teórico-conceituais para a construção de perspectivas críticas e emancipatórias. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 28(1), 5-25., p. 8).

É possível então sugerir que mudanças e alterações na estrutura que representa a vida cotidiana de cada um podem impactar no bem-estar, no bem-viver e, consequentemente, na saúde mental.

A seção seguinte reúne informações em torno de alterações gerais provocadas pela pandemia da COVID-19 e seus desdobramentos no cotidiano dos estudantes.

Pandemia da COVID-19 e seus impactos nas distintas dimensões da vida dos estudantes

Os estudantes do curso de graduação em terapia ocupacional, em função de organização e decisão institucional, até o momento da coleta de dados da presente pesquisa, seguiam com todas as atividades acadêmicas suspensas, tanto na modalidade presencial quanto na modalidade remota. Ou seja, no que diz respeito a esse departamento da vida desses sujeitos – atividades acadêmicas cotidianas, papel social, relações sociais e demais atividades cotidianas organizadas em torno da vida acadêmica –, é possível sugerir que ele foi significativamente alterado, uma vez que ficou “em suspensão” na vida de todos esses estudantes.

Com o advento da pandemia e a interrupção das atividades acadêmicas presenciais, os estudantes se depararam com a necessidade de se adaptar a esse novo cenário. A depender da cidade de origem, essa adaptação apresentou diferentes seguimentos. Foi questionado aos participantes se eles residiam na cidade na qual se localizava a universidade; caso eles viessem de outra cidade, questionou-se se eles retornaram à cidade de origem e qual a justificativa do seu retorno à cidade natal ou permanência na cidade na qual se localiza a universidade. Ademais, questionou-se se eles estariam vivenciando esse período de distanciamento social acompanhados, e quem seria essa companhia.

Dos 53 participantes da pesquisa, 16 (30%) se declararam pertencentes à cidade na qual está localizada a universidade, e esses permaneceram na cidade. Porém, 37 (70%) estudantes são oriundos de outras cidades; desses, apenas 8 (15%) decidiram permanecer na cidade na qual está localizada a universidade, onde sinalizaram estar com colegas de repúblicas, companheiros(as) ou membros da família.

É interessante observar que o segundo fator mais citado (3 citações) por esses estudantes que justificaram a sua permanência na cidade na qual está localizada a universidade foi proteger familiares e pessoas próximas da transmissão da COVID-19. Compreenderam que vivenciar o distanciamento social afastados de parentes que se enquadram no grupo de risco seria mais protetivo a eles, como podemos ver nos exemplos a seguir:

Moro com três pessoas do grupo de risco, dessa forma, preferi por fazer a quarentena em [nome da cidade onde está localizada a universidade] (E44).

Preferi não correr riscos nem por meus familiares e minha namorada em risco (E32).

Os excertos supracitados parecem corresponder à compreensão de Schmidt et al. (2020a)Schmidt, B., Melo, B. D., Lima, C. C., Pereira, D. R., Serpeloni, F., Katz, I., Rabelo, I., Kabad, J. F., Souza, M. S., Kadri, M., & Magrin, N. P. (2020a). Saúde mental e atenção psicossocial na pandemia COVID-19: a quarentena na COVID-19 - orientações e estratégias de cuidado. Rio de Janeiro: Fiocruz/CEPEDES. acerca da função do distanciamento social, ou seja, que a assunção dessa estratégia pelas pessoas deve transcender o campo das obrigações e imposições e se apresentar como um ato de altruísmo e de real compromisso com o cuidado individual e coletivo. Afirmam ainda que atitudes como essa contribuem para o aumento da confiança e da adesão às recomendações de saúde veiculadas pelas autoridades de saúde pública.

Os 29 estudantes que optaram por retornar a sua cidade de origem, onde estão com familiares e companheiros(as), destacaram “questões financeiras” como o principal fator do seu retorno (com 11 citações). As justificativas indicam que permanecer na cidade na qual está localizada a universidade seria inviável financeiramente, uma vez que traria gastos adicionais com aluguel, alimentação, internet etc.

Há de se questionar e refletir sobre os possíveis impactos e sua qualidade na vida dos estudantes – principalmente em médio e longo prazo – em função de tamanhas e bruscas mudanças, especialmente aquelas que implicaram no retorno dos estudantes à cidade de origem, com devolução de residência e/ou término de repúblicas na cidade onde se localiza a universidade. É como encerrar um ciclo sem tê-lo concluído? É como suspender um processo/projeto de vida sem elaboração prévia, mas ter de retomá-lo na incerteza de quando e como? Certamente, esse cenário de incertezas, rupturas abruptas e ausências conferirão à universidade função primordial no mapeamento e acompanhamento das condições desses estudantes, na oferta de auxílio, muitas vezes de ordem material/financeira, para que consigam retornar e retomar suas atividades presenciais quando possível. Trata-se de trazer para a arena das discussões institucionais em torno da política de permanência estudantil, quais serão as inovações e avanços concretos necessários para garantir retorno e permanência que sejam, de fato, acolhedores, cuidadosos e possibilitadores de continuidade.

Já a segunda categoria mais citada (com 10 citações) corresponde ao anseio de evitar ficar sozinho(a) em um contexto de distanciamento, como ilustram as falas a seguir:

[...] sendo caloura, eu nunca morei sozinha e isso aconteceria se eu ficasse, afinal minha parceira de apartamento também voltou. Não acho que seria ideal passar por isso sozinha, ainda mais sem poder ver ninguém devido ao distanciamento social (E50).

Moro em república e todas as meninas voltaram, para não ficar sozinha na casa optei por voltar além de ter mais suporte na minha casa de origem para essa atual situação (E51).

É interessante notar que, além do desejo de não ficar sozinha, a estudante sinalizou que, na cidade de origem, teria mais suporte para passar por essa situação (de pandemia e distanciamento social), permitindo a inferência de que esse cenário pode impor desafios e dificuldades que requeiram apoio, companhia, compartilhamento e suporte de pessoas próximas, que representem vínculo para lidar com a situação.

Ademais, com 4 citações, importa destacar a categoria “cuidados com a família”, na qual os estudantes sinalizam que se fez importante o seu retorno para a cidade de origem no intuito de prestar auxílio aos seus familiares, como ilustram os exemplos:

[...] com o aumento dos casos no Brasil, fui ficando muito preocupada e com medo, querendo estar ao lado dos meus pais e familiares, caso eles precisassem de ajuda, eu estaria por perto (E4).

Meus pais são grupo de risco e estou assumindo as atividades que necessitem sair de casa (E29).

Logo, ter suporte e ser suporte foram motivadores que influenciaram os estudantes a retornarem para a sua cidade de origem. Ademais, um documento produzido e veiculado pela Organização Pan-Americana contendo considerações psicossociais e de saúde mental dedicadas ao cenário da pandemia da Covid-19 sugere que o autocuidado, assim como a disponibilidade para apoiar e cuidar de outras pessoas, produz benefícios tanto para quem recebe apoio e cuidado quanto para quem o oferta (Organização Pan-Americana da Saúde, 2020Organização Pan-Americana da Saúde – OPAS. (2020). OMS afirma que COVID-19 é agora caracterizada como pandemia. Recuperado em 3 de maio de 2020, de https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6120:oms-afirma-que-covid-19-e-agora-caracterizada-como-pandemia&Itemid=812
https://www.paho.org/bra/index.php?optio...
), revelando se tratar de uma ação com potencial protetivo para a saúde mental.

Permanecendo ou não na cidade na qual está localizada a universidade, as atividades cotidianas dos estudantes foram alteradas de alguma forma, seja na condição de precisarem ser interrompidas ou adaptadas, seguindo as recomendações decorrentes do distanciamento social. A Tabela 2 a seguir retrata quais atividades sofreram alterações.

Tabela 2
Atividades que foram alteradas durante a pandemia.

Ao considerar os dados presentes na Tabela 1 e relacioná-los com os resultados apresentados na Tabela 2, é possível sugerir que praticamente todas as atividades que compunham o cotidiano dos estudantes antes da pandemia da COVID-19 foram alteradas de alguma maneira com seu advento.

Verifica-se ainda na Tabela 2 que a categoria socialização foi a segunda mais citada dentre as atividades cotidianas que sofreram alterações, tendo sido suspensas ou adaptadas. Questiona-se sobre a magnitude desse impacto para os estudantes participantes da presente pesquisa e sua repercussão para o bem-estar e qualidade de vida.

As aulas regulares, estágio e idas à academia foram interrompidos, bem como muitos encontros com família e amigos, quando não adaptados para o contato virtual. As falam a seguir ilustram essa realidade:

Não vou mais para a universidade, parei de fazer atividade física com frequência [...] Não vejo mais meus amigos, não vejo mais meus avós desde que começou o isolamento, nem contato com a minha família que não residem na mesma cidade que eu estou (E9).

As aulas, sair de casa e passar tempo com os amigos foram interrompidos e costumo conversar por mensagem com algumas pessoas, com outras mal tenho contato agora [...]. A ic e o projeto continuam remotamente e foram adaptados (E11).

Como pode-se notar, com os exemplos acima, algumas iniciações científicas e projetos acadêmicos foram continuados de maneira remota. No bojo das iniciativas de tentar garantir alguma manutenção das atividades acadêmicas, Teixeira & Dahl (2020)Teixeira, M. R., & Dahl, C. M. (2020). Recriando cotidianos possíveis: construção de estratégias de apoio entre docentes e estudantes de graduação em Terapia Ocupacional em tempos de pandemia. Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional, 4(3), 509-518. apontaram em estudo que, dentre as possíveis estratégias de apoio entre docentes e discentes adotadas por um curso de graduação em terapia ocupacional, a adaptação de algumas atividades acadêmicas para a modalidade remota foi fundamental para auxiliar os estudantes na reorganização de suas rotinas.

A próxima seção reúne resultados que tratam mais especificamente dos aspectos relacionados à saúde mental dos participantes em tempos de pandemia e distanciamento social.

Impactos na saúde mental dos estudantes

Quando questionados acerca da ocorrência ou não de impactos à saúde mental em decorrência da pandemia e da consequente suspensão das atividades regulares na Universidade, quase a totalidade dos participantes (94%, o que corresponde a 50 estudantes) apresentaram uma resposta afirmativa. Assim, a presente pesquisa indica que a pandemia da COVID-19 e os seus desdobramentos, como a interrupção das atividades acadêmicas, configuraram-se como um fator de impacto e risco à saúde mental dos estudantes de terapia ocupacional, uma vez que, antes do cenário pandêmico, 68% dos estudantes ou não apresentavam questões prévias relacionadas à saúde mental ou as existentes não interferiam/impactavam a sua vida de forma significativa.

Tal resultado encontra correspondência entre os achados da revisão integrativa da literatura realizada por Gundim et al. (2021)Gundim, V. A., Encarnação, J. P., Santos, F. C., Santos, J. E., Vasconcellos, E. A., & Souza, R. C. (2021). Saúde mental de estudantes universitários durante a pandemia de COVID-19. Revista Baiana de Enfermagem, 35, 1-14., que aponta, com base na consulta de sete estudos, a ocorrência de sofrimento psíquico entre os estudantes universitários, os quais apresentaram estresse, sentimento de incapacidade frente ao isolamento, preocupação com os cuidados preventivos, medo de perder parentes e amigos, preocupação com a situação econômica do país, sinais de ansiedade e depressão, além de dores de cabeça, irritação, isolamento, perda da vontade de realizar atividades, angústia e até distúrbios alimentares. Adicionalmente, a pesquisa desenvolvida por Maia & Dias (2020)Maia, B. R., & Dias, P. C. (2020). Ansiedade, depressão e estresse em estudantes universitários: o impacto da covid-19. Estudos de Psicologia, 37, 1-8., cujo objetivo foi explorar os níveis de ansiedade, depressão e estresse em estudantes universitários portugueses no período típico (nos anos de 2018 e 2019) e compará-los com o período pandêmico (março de 2020), confirmaram um aumento significativo de ansiedade, depressão e estresse entre os participantes no período pandêmico, se comparado aos resultados colhidos nos anos anteriores. Os pesquisadores da referida pesquisa sugerem que informações sobre a situação global e as medidas de confinamento podem ter provocado efeitos danosos à saúde mental desses estudantes, apesar de não se poder afirmar que o único fator responsável foi o advento da pandemia.

Verificou-se, entre os estudantes da presente pesquisa que afirmaram ter observado a sua saúde mental impactada, quais das manifestações a seguir eles perceberam em si: desânimo e desmotivação frequente; choro; ansiedade; medo; irritação/nervosismo; preocupação; desesperança com relação ao presente e futuro; sintomas como: dor de cabeça, dor de estômago, falta/excesso de apetite ou sono, fadiga, e choro frequente. O questionário permitia marcar mais de uma opção.

A Figura 2 a seguir retrata o número de marcações de cada item citado acima.

Figura 2
Como você percebe em você esse impacto? Fonte: elaborada pelas autoras.

Os resultados apresentados na Figura 2 indicam que os estudantes que sinalizaram ter sofrido impacto em sua saúde mental observam como manifestações mais recorrentes a ansiedade (92%), o desânimo e desmotivação (80%), a irritação/nervosismo (76%) e a preocupação (76%). Porém, a desesperança, o medo e os sintomas físicos também apresentaram porcentagem expressiva. A única manifestação pontuada por menos de 50% dos participantes impactados foi o choro frequente.

Os 50 estudantes da presente pesquisa que pontuaram ter sido impactados foram questionados sobre a intensidade do impacto percebida em sua saúde mental, ou seja, se a intensidade do impacto foi “pequena”, “mediana” ou “grande”, com base em sua percepção pessoal. Os níveis de impacto “mediano” e “grande” foram pontuados igualmente, com 18 respondentes cada, somando 72% da amostra. Assim, os pouco impactados representam apenas 28% da amostra, com 14 respondentes.

Para os três níveis de impacto, a categoria “alterações individuais no âmbito do humor” foi a mais citada, sendo a ansiedade amplamente relatada pelos estudantes, tal como aponta a Figura 2, corroborando os achados recentes de estudos na área.

Na direção dos achados da presente pesquisa, o estudo realizado por Garvey et al. (2021)Garvey, A. M., García, I. J., Otal Franco, S. H., & Fernández, C. M. (2021). The psychological impact of strict and prolonged confinement on business students during the COVID-19 pandemic at a Spanish University. International Journal of Environmental Research and Public Health, 18(4), 1710-1722., realizado com 198 alunos de graduação de uma universidade espanhola, apontou que cerca de 18,7% dos estudantes universitários sofreram de ansiedade severa e 70,2% sofreram de ansiedade leve ou moderada durante o período de confinamento. Já o estudo desenvolvido por Cao et al. (2020)Cao, W., Fang, Z., Hou, G., Han, M., Xu, X., Dong, J., & Zheng, J. (2020). The psychological impact of the COVID-19 epidemic on college students in China. Psychiatry Research, 287, 112934. com 7143 graduandos de uma faculdade chinesa indicou que 24,9% dos estudantes universitários estavam sofrendo de ansiedade leve e moderada durante o período de confinamento.

Os participantes da presente pesquisa referiram se sentir ansiosos em decorrência das incertezas quanto à conclusão do curso, de notícias e informações constantes a respeito da pandemia, da preocupação com a exposição dos familiares ao vírus, de questões financeiras (como perda de liberdade financeira e dependência econômica dos pais), da realização de atividades acadêmicas, dentre outros fatores. Alguns excertos podem ilustrar essas colocações:

[...] a família vê muitas notícias no jornal sobre o coronavírus e outras coisas, o que me causa muita ansiedade já que não consigo me distanciar de tais informações (E24).

Voltar para a casa dos pais, perder a liberdade e independência e saber que vou demorar mais do que o planejado pra me formar, ganhar o meu dinheiro e não depender mais deles, me causa muita ansiedade. Tive várias crises desde o começo da pandemia (E36).

As notícias sobre a pandemia e a preocupação com a exposição dos meus familiares que trabalham e não seguem a risca as recomendações para evitar o contágio me trazem ansiedade (E34).

O estudo desenvolvido por Teixeira & Dahl (2020)Teixeira, M. R., & Dahl, C. M. (2020). Recriando cotidianos possíveis: construção de estratégias de apoio entre docentes e estudantes de graduação em Terapia Ocupacional em tempos de pandemia. Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional, 4(3), 509-518. também identificou, entre os estudantes de um curso de graduação em terapia ocupacional, que, além das dificuldades e limites de acesso aos recursos virtuais impostos pelo cenário pandêmico, esses também se viram profundamente afetados em função da desorganização da rotina, da insegurança e incertezas em relação ao cenário atual, bem como em função da preocupação e medo em relação ao adoecimento de pessoas queridas. Em relação a essa última – preocupação e medo com entes queridos – também identificada na presente pesquisa, vale destacar que estudos e documentos institucionais têm indicado que a preocupação e medo constantes com a possibilidade de familiares contraírem COVID-19 ou mesmo virem a óbito em função dessa tem se revelado reações que podem comprometer o bem-estar e a saúde mental da população (Melo et al., 2020Melo, B. D., Pereira, D. R., Serpeloni, F., Kabad, J. F., Kadri, M., Souza, M. S., & Rabelo, I. V. M. (2020). Saúde mental e atenção psicossocial na pandemia COVID-19: recomendações gerais. Rio de Janeiro: Fiocruz.; Wang et al., 2020Wang, C., Pan, R., Wan, X., Tan, Y., Xu, L., Ho, C. S., & Ho, R. C. (2020). Immediate psychological responses and associated factors during the initial stage of the 2019 Coronavirus disease (COVID-19) epidemic among the general population in China. International Journal of Environmental Research and Public Health, 17(5), 1729-1754.). Vale, no entanto, destacar que reações de medo, preocupação, estresse, dentre outras reações, que emergem como resultado do cenário pandêmico são esperadas, ou seja, é esperado lutar e sofrer de distintas maneiras diante de tantas mudanças e desafios que podem ser vivenciadas nesse cenário (Whitaker, 2020Whitaker, R. (2020). O impacto psicológico da pandemia: contra a patologização do nosso sofrimento. In P. Amarante, A. Amorim, A. P. Guljor, J. P. V. Silva & K. Machado (Eds.), O enfrentamento do sofrimento psíquico na Pandemia: diálogos sobre o acolhimento e a saúde mental em territórios vulnerabilizados (pp. 28-31). Rio de Janeiro: IdeiaSUS/Fiocruz.). Assim, há sempre que se avaliar e ponderar com cautela sobre o que é normal e esperado e sobre o que se classifica como um quadro de sofrimento psíquico intenso que vai demandar apoio profissional e outras estratégias de cuidado.

Importa observar que, no presente estudo, existem outras similaridades que merecem destaque entre os três níveis de impacto: para os três, a segunda categoria mais citada é a de “distanciamento social e suas implicações”, a qual retrata a falta que os estudantes sentem dos amigos, da família, e dos espaços de convivência (como a universidade); e a terceira categoria se refere à “interrupção das atividades acadêmicas”.

Seguem algumas colocações por parte dos estudantes:

Sinto solidão, sinto saudades do convívio social, sinto falta de ir na academia que é algo que faz muito bem pro meu corpo (E20).

A suspensão das atividades na Universidade causaram um grande impacto em minha saúde mental, pois estava em meu último ano da graduação, com planos de estágios externos no próximo semestre, como também planejamentos para prestar residência. Com a pandemia, todo esse processo ficou incerto, inclusive como e quando estarei formada. Além disso, a faculdade e minhas atividades cotidianas [...] me davam um senso de estabilidade e rotina; devido a essa paralisação, sinto muita falta disso, o que me causa muito sofrimento psíquico (ansiedade) (E40).

No que se refere aos impactos oriundos do distanciamento social e, consequentemente, da rede social dos participantes da presente pesquisa, importa destacar os achados do estudo desenvolvido por Barroso et al. (2019)Barroso, S. M., Oliveira, N. R., & Andrade, V. S. (2019). Solidão e depressão: relações com características pessoais e hábitos de vida em universitários. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 35, 1-12., cujo objetivo foi avaliar a solidão e a depressão em universitários, verificando sua relação com hábitos, características do curso e suporte social. Os pesquisadores puderam identificar que ter atividades de lazer dentro e fora de casa, ter amigos e sair com eles, ter uma crença religiosa e praticar atividade física estavam associados aos menores níveis de solidão e depressão. Logo, tais hábitos se mostraram eficazes na promoção do bem-estar e significativos na conformação da vida cotidiana dos estudantes.

Importa resgatar que o cotidiano dos estudantes da presente pesquisa era composto, primariamente, segundo a Tabela 1, por atividades acadêmicas e de socialização, de forma que a Tabela 2 veio ratificar que essas foram alteradas de alguma forma, seja sofrendo interrupção (como as atividades presenciais da graduação) ou adaptação (como encontros com os amigos). Assim, ao se considerar que a segunda e a terceira categoria mais citada dos três níveis de impacto se refere às implicações do distanciamento social e a interrupção das atividades acadêmicas, pode-se inferir que, de fato, tais alterações contribuíram de maneira expressiva para que os estudantes sentissem sua saúde mental impactada.

A presente pesquisa não avançou no sentido de investigar sobre as dificuldades enfrentadas pelos estudantes na busca pela (re)inauguração de um cotidiano possível para o que se apresenta; porém, é possível presumir a existência de desafios importantes nesse sentido, tal como apresentado no estudo de Teixeira & Dahl (2020)Teixeira, M. R., & Dahl, C. M. (2020). Recriando cotidianos possíveis: construção de estratégias de apoio entre docentes e estudantes de graduação em Terapia Ocupacional em tempos de pandemia. Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional, 4(3), 509-518., as quais puderam observar, entre os participantes, que a quebra da rotina associada ao sofrimento instaurado pelo cenário pandêmico impôs uma espécie de impedimento para a reinvenção de uma vida cotidiana possível.

Logo, os achados do presente estudo vão ao encontro daqueles já identificados pela literatura, ou seja, de que fatores como instabilidade na renda familiar, notícias excessivas ou falsas, atrasos na progressão acadêmica, o afastamento de amigos e a quebra de rotina acadêmica são fatores que contribuem para os quadros ansiosos e de sofrimento psíquico entre os estudantes (Cao et al., 2020Cao, W., Fang, Z., Hou, G., Han, M., Xu, X., Dong, J., & Zheng, J. (2020). The psychological impact of the COVID-19 epidemic on college students in China. Psychiatry Research, 287, 112934.; Schmidt et al., 2020bSchmidt, B., Crepaldi, M. A., Bolze, S. D. A., Neiva-Silva, L., & Demenech, L. M. (2020b). Saúde mental e intervenções psicológicas diante da pandemia do novo coronavírus (COVID-19). Estudos de Psicologia, 37, 1-13.; Wang et al., 2020Wang, C., Pan, R., Wan, X., Tan, Y., Xu, L., Ho, C. S., & Ho, R. C. (2020). Immediate psychological responses and associated factors during the initial stage of the 2019 Coronavirus disease (COVID-19) epidemic among the general population in China. International Journal of Environmental Research and Public Health, 17(5), 1729-1754.).

Os estudantes que afirmaram terem tido sua saúde mental impactada em função do contexto pandêmico foram questionados sobre qual(is) a(s) estratégia(s) adotada(s) para elaborar as dificuldades vivenciadas. Era permitido assinalar mais de um item no questionário, o qual apresentava estratégias diversas, como: incluir na rotina atividades prazerosas, buscar ajuda profissional, praticar atividades religiosas etc. A Figura 3 abaixo expõe o número de marcações recebidas por cada estratégia:

Figura 3
Figura representativa das estratégias de enfrentamento adotadas pelos estudantes. Fonte: elaborada pelas autoras.

Como se verifica na Figura 3, as estratégias mais utilizadas foram a inclusão de atividades prazerosas e que geram bem-estar, bem como a inclusão de cursos e projetos de interesse. Também houve a busca de apoio emocional em amigos e familiares, mesmo que virtualmente. Assim, dentro das “bolhas de distanciamento”, segundo Amorim (2020)Amorim, A. C. (2020). A pandemia, territórios vulnerabilizados, pessoas em sofrimento psíquico e o “novo normal”. In P. Amarante, A. Amorim, A. P. Guljor, J. P. V. Silva & K. Machado (Eds.), O enfrentamento do sofrimento psíquico napandemia: diálogos sobre o acolhimento e a saúde mental em territórios vulnerabilizados (pp. 15-18). Rio de Janeiro: IdeiaSUS/Fiocruz., as pessoas procuraram se reinventar, rompendo com a sua rotina normal e adotando padrões mais condizentes ao cenário pandêmico.

A discussão em torno das estratégias de enfrentamento das dificuldades vivenciadas nesse contexto se justifica na medida em que o sofrimento psíquico vivenciado pela sociedade, e pelos próprios estudantes, em decorrência da pandemia, suas consequências e estratégias de contenção, tendem a permanecer no período pós-pandemia em curto, médio e longo prazo (Schmidt et al., 2020bSchmidt, B., Crepaldi, M. A., Bolze, S. D. A., Neiva-Silva, L., & Demenech, L. M. (2020b). Saúde mental e intervenções psicológicas diante da pandemia do novo coronavírus (COVID-19). Estudos de Psicologia, 37, 1-13.; Brooks et al., 2020Brooks, S. K., Webster, R. K., Smith, L., Woodland, L., Wessely, S., Greenberg, N., & Rubin, G. J. (2020). The psychological impact of quarantine and how to reduce it: rapid review of the evidence. Lancet, 395(10227), 912-920.), fazendo-se necessário adotar estratégias de prevenção e redução de danos, fomentando a colaboração de diversas instituições de saúde e educação (Maia & Dias, 2020Maia, B. R., & Dias, P. C. (2020). Ansiedade, depressão e estresse em estudantes universitários: o impacto da covid-19. Estudos de Psicologia, 37, 1-8.).

Considerações Finais

A presente pesquisa teve como objetivo identificar os impactos na saúde mental e no cotidiano dos estudantes do curso de graduação em terapia ocupacional de uma universidade pública federal frente ao cenário de enfrentamento da COVID-19, tendo sido alcançado em sua totalidade.

Os principais resultados encontrados evidenciam que o advento da pandemia, e a consequente adoção das medidas de enfrentamento e distanciamento social, produziu alterações expressivas no cotidiano dos estudantes, bem como intensificou o sofrimento psíquico pré-existentes ou os inaugurou diante desse cenário. Evidenciou-se também o impacto produzido pela suspensão das atividades acadêmicas, evocando uma discussão em torno da importância de a universidade discutir estratégias de apoio e auxílio para o retorno às atividades destes estudantes, bem como formas de assegurar a permanência estudantil.

Destaca-se como limite dessa pesquisa o fato de ter sido realizada somente com estudantes de um curso de graduação em terapia ocupacional, de forma que outros estudos nessa direção, abarcando cursos de terapia ocupacional de outras instituições, certamente contribuirão sobremaneira para a compreensão desse cenário no contexto nacional, podendo, inclusive, ampliar tal contribuição em direção à identificação de possíveis ações de prevenção e promoção da saúde mental dos estudantes, incentivando sua implantação tanto nas esferas individuais quanto nas coletivas.

Vale ressaltar que a presente pesquisa foi realizada ao longo de 2020, momento em que se inaugurava o cenário pandêmico, suas primeiras medidas de enfrentamento e identificação dos primeiros impactos na população. Diante do cenário atual, de permanência da pandemia já há mais de um ano, importa investigar como e quais estratégias de enfrentamento os estudantes, mas também a população geral, têm adotado para lidar com os persistentes e permanentes desafios. Assim, aponta-se para a necessidade e importância de se investir em pesquisas que aprofundem a compreensão desses impactos e das possíveis estratégias de enfrentamento adotadas.

Procedimentos Éticos

Todos os procedimentos éticos foram atendidos, tendo a pesquisa sido aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade Federal de São Carlos (CEP - UFSCar) com número de parecer 4.128.864.

  • 1
    Aponta-se que, em algumas figuras, não serão exemplificadas todas as categorias geradas, somente as mais citadas, uma vez que foi encontrado um número muito elevado de categorias.
  • Como citar: Morato, G. G., Fernandes, A. D. S. A., & Santos, A. P. N. (2022). Saúde mental e cotidiano dos estudantes de terapia ocupacional frente à Covid-19: possíveis impactos e repercussões. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 30, e3035. https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAO23003035

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Editado por

Editor de seção

Prof. Dr. Milton Carlos Mariotti

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Abr 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    02 Jun 2021
  • Revisado
    26 Out 2021
  • Revisado
    09 Nov 2021
  • Aceito
    23 Dez 2021
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