O artigo analisa a história da formação e consolidação do Bairro da Paz, um dos mais pobres da cidade de Salvador, através num arquivo de notícias de jornais locais e de um relatório de acompanhamento realizado pelo Centro de Estudos e Ação Social CEAS. Com base neste material e de dados coletados diretamente em campo, propomos uma interpretação da luta dos moradores para permanecer no local, que destaca sua própria agência. Dessa forma, pode-se observar que a organização local, apoiada por movimentos sociais, políticos e de setores da Igreja Católica, não se limitou à obtenção do direito de moradia, num primeiro momento, nem apenas à obtenção de melhorias de urbanização, num segundo momento. O modo de atuação dos ocupantes da área também voltou-se para a construção de uma identidade, de "moradores locais", articulando-se com movimentos e entidades diversas, pressionando e buscando controlar a própria ocupação, bem como a própria imagem do local, o que os aproxima do modelo chamado de "novos movimentos sociais". O argumento central é que, diante de um fenômeno como a "nova pobreza" urbana (se é que pode ser assim definido), os atores sociais também encontram novas formas de articular sua ação, mesmo sem terem necessariamente um projeto político explícito, nos moldes tradicionais.
favelas; nova pobreza; atores sociais; representações sociais; Salvador