Acessibilidade / Reportar erro

A teoria neosistêmica de Niklas Luhmann e a noção de autopoiese comunicativa nos estudos organizacionais

La teoría neosistémica de Niklas Luhmann y la noción de autopoiesis comunicativa en estudios organizacionales

Resumo

Na teoria dos sistemas autorreferenciais, de Niklas Luhmann, a análise das organizações ocupa lugar de destaque, mas tem sido objeto de inúmeras controvérsias. Nos últimos anos, vêm sendo produzidos um diálogo e um cruzamento com os representantes da filosofia social pós-estruturalista, em particular, com aspectos referentes às possibilidades autorreferenciais das comunicações e da linguagem. Na atualidade, são diversos os pontos de vista teóricos que convergem para uma autodefinição construtivista, ecológica e sistêmica. Como possibilidade alternativa às limitações autopoiéticas na observação das organizações, propõe-se a ideia de autopoiese reflexiva.

Palavras-chave:
Teoria de sistemas autorreferenciais; Pós-estruturalismo; Teoria organizacional; Autopoiese reflexiva

Resumen

En la teoría de sistemas autorreferenciales, de Niklas Luhmann, el análisis de las organizaciones ocupa un lugar destacado, pero ha sido objeto de numerosas controversias. En los últimos años, se han producido un diálogo y un cruce con representantes de la filosofía social posestructuralista, en particular, con aspectos relativos a las posibilidades autorreferenciales de la comunicación y del lenguaje. En la actualidad, hay varios puntos de vista teóricos que convergen en una autodefinición constructivista, ecológica y sistémica. Como una posibilidad alternativa a las limitaciones autopoiéticas en la observación de organizaciones, se propone la idea de autopoiesis reflexiva.

Palabras clave:
Teoría de sistemas autorreferenciales; Posestructuralismo; Teoría de la organización; Autopoiesis reflexiva

Abstract

In recent years, scholars from post-structuralist social philosophy have debated aspects related to self-referential possibilities of communication and language. Nowadays, there are several theoretical viewpoints converging at a constructivist, systemic and ecological self-definition. The idea of communicative autopoiesis is proposed in this article as a possible alternative to the autopoietic limitations in observing organizations.

Keywords:
Self-referential systems theory; Post-structuralism; Organizational studies; Communicative autopoiesis.

Introdução

Os estudos organizacionais e a sociedade

A teoria de sistemas autorreferenciais, de Niklas Luhmann, ou Teoria Geral de Sistemas Sociais (TGSS), constitui significativa contribuição à sociologia e a outras áreas do conhecimento, como o direito, a administração e a teoria organizacional. Entre os estudiosos de sua obra, uma corrente tem dirigido seus esforços a observações sociais, sendo difundida pelos estudiosos que formaram (e formam) a Escola de Bielefeld1 1 Embora seja difícil defini-la como uma escola de fato, entre os estudiosos da teoria de Luhmann nessa universidade vale destacar Helmut Willke, Manfred Glagow, Klaus-Peter Japp, Hartman Tyrell, Rudolf Stichweh e Uwe Schimank, entre outros. , que, desde seu início, influenciou o debate na teoria sociológica e nos estudos organizacionais em países de fala alemã, sendo disseminada em diferentes âmbitos culturais, principalmente em alguns países de América Latina. As novas contribuições de diálogo e os “cruzamentos” entre a teoria de sistemas e outros pontos de vista teóricos do pós-estruturalismo filosófico-social (DUTRA e BACHUR, 2013DUTRA, R.; BACHUR, J. P. (Org.). Dossiê Niklas Luhmann. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2013.; BIRLE, DEWEY e MASCAREÑO, 2012BIRLE, P.; DEWEY, M.; MASCAREÑO, A. (Eds.). Durch Luhmanns Brille. Herausforderungen an Politik und Recht in Lateinamerika und in der Weltgesellschaft. Wiesbaden: Springer VS Verlag für Sozialwissenschaften, 2012.), além das possibilidades comunicativas (RÄWEL, 2007RÄWEL, J. Theoretische Empirie - empirische Theorie. Swiss Journal of Sociology, v. 33, n. 3, p. 443-463, 2007.), manifestam-se em uma situação de continuidade limitada a círculos acadêmicos reduzidos. A atual situação da pesquisa de debate teórico-conceitual se mostra um tanto precária, embora nessa situação possivelmente convirjam diversas causas vinculadas aos grupos de poder que influenciam as decisões de seleção do professorado e as linhas de pesquisa na academia.

Nos anos 1970 surge a corrente de pensamento filosófico pós-estruturalista, cujas diferenças em relação ao estruturalismo têm sido objeto de análise (WILLIAMS, 2005WILLIAMS, J. Understanding poststructuralism. Chesharn: Acumen, 2005.), embora outros estudiosos, com base nas premissas normativas, prefiram referir-se à emergência de um pós-modernismo (ALVESSON e DEETZ, 2006ALVESSON, M.; DEETZ, S. Critical theory and postmodernism: approaches to organizational studies. In: CLEGG, S.; HARDY, C. (Eds.). Organization studies. London: Sage, 2006. 255-283 p.). Estudiosos da teoria de sistemas têm procurado respostas nas controvérsias e nos “pontos cegos” da teoria da autopoiese e mostra-se necessário um diálogo com filósofos sociais, que, com base em uma série de premissas teórico-construtivistas radicais, de alguma forma, coincide com os postulados pós-estruturalistas, caso dos estudos de redes de Bruno Latour, Michel Callon e John Law. Destacam-se a análise e o debate dos conceitos centrais da teoria de Pierre Bourdieu, onde se tenta buscar analogias com o “construtivismo estruturalista” e, em especial, com o conceito de habitus (POKOL, 2002POKOL, B. Contribution to the comparison of the theories of Bourdieu and Luhmann. 2002. Disponível em: <Disponível em: http://www.jesz.ajk.elte.hu/pokol112.html >. Acesso em: 21 mar. 2012.
http://www.jesz.ajk.elte.hu/pokol112.htm...
) entendido como uma rede de relações objetivas entre posições objetivamente definidas (STICHWEH, 2005STICHWEH, R. The Present State of Sociological Systems Theory, 2005.; NASSEHI e NOLLMAN, 2004NASSEHI, A.; NOLLMANN, G. Bourdieu und Luhmann. Ein Theorievergleich. Frankfurt: Suhrkamp , 2004.; FISCHER, 2004FISCHER, J. Bourdieu und Luhmann. Soziologische Doppelbeobachtung der ‘bürgerlichen Gesellschaft nach ihrer Kontingenzerfahrung. In: REHBERG, K. S. (Org.). Soziale Ungleichheit, Kulturelle Unterschiede. Verhandlungen des 32. Kongresses der Deutschen Gesellschaft für Soziologie in München 2004. Frankfurt/New York: Campus, 2004. 2850-2858 p.). Entrar nesse debate teórico também significa levantar questões inerentes às controvérsias da teoria luhmanniana de sistemas autorreferenciais e considerar novos caminhos e respostas teóricas. As controvérsias e os cruzamentos conceituais com outros pontos de vista têm levado alguns pensadores ortodoxos e não ortodoxos da teoria de sistemas autorreferenciais a questionar alguns dos conceitos sistêmicos, como a possibilidade de utilização prática da autopoiese e da autorreferencialidade, que inclui, ainda, o encerramento operacional (WILLKE, 1993WILLKE, H. Systemtheorie entwickelter Gesellschaften. Dynamik und Riskanz moderner gesellschaftlicher Selbstorganisation. München: Juventa, 1993.).

Na segunda década do século XXI, o debate em torno da “ação e estrutura” parece ter sido superado pelos esforços da contribuição da Teoria da Estruturação, de Anthony Giddens, ou pelos conceitos de habitus e campo, de Pierre Bourdieu. Esse fato aparece nas diversas publicações nas áreas das organizações e da administração nos EUA, na Europa e no Brasil; apesar dos caminhos particulares de cada país, o éthos de investigação prevalece, segue sendo o “parâmetro funcionalista” (CABRAL, 2014CABRAL, A. A sociologia funcionalista nos estudos organizacionais, foco em Durkheim, Cad. EBAPE.BR, v. 2, n. 2, p. 1-15, 2014., p. 14).

No caso específico do Brasil, diversas propostas tentaram superar a situação de crise por meio da incorporação de uma “terceira matriz da ética” sobre as duas existentes - racionalidade e empirismo (LEAL, 2002LEAL, R. O dilema dos estudos organizacionais entre a modernidade e a pós-modernidade: a inclusão de uma terceira matriz. In: ENCONTRO DE ESTUDOS ORGANIZACIONAIS; 2002, Recife. Anais... Recife: APAD, 2002.). Apesar desse aparente relativismo epistemológico, com as contribuições dos Critical Management Studies (Estudos Organizacionais Críticos), tem-se mostrado uma “supremacia” dos enfoques funcionalistas (CABRAL, 2004CABRAL, A. A sociologia funcionalista nos estudos organizacionais, foco em Durkheim, Cad. EBAPE.BR, v. 2, n. 2, p. 1-15, 2014., p. 14). Tal supremacia funcionalista não apresenta homogeneidade teórica, em vez disso surgem múltiplas correntes e pontos de vista teóricos que permitem explorar novos caminhos teóricos. Na corrente pós-estruturalista há diversos estudos e contribuições que têm focalizado ideias de autonomia, autogestão, aspectos psicológicos ou o papel das mulheres e o “novo pragmatismo” nas organizações (CZARNISANSKA, 2011CZARNISANSKA, B. Richard Rorty, women, and the new pragmatism. In: TSOUKAS, H.; CHIA, R. Philosophy and organization theory. Bingley: Emerald , 2011. 343-365 p.) e uma perspectiva humanista radical (DE PAULA, MARANHÃO, BARRETO et al., 2010DE PAULA, A. P. et al. A tradição e a autonomia dos estudos organizacionais críticos no Brasil. Revista de Administração de Empresas, v. 50, n. 1, p. 10-23, 2010.; ALCADIPANI, 2005ALCADIPANI, R. Réplica: a singularização do plural. Revista de Administração Contemporânea, v. 9, n. 1, p. 211-220, 2005.), a ideia da complexidade organizacional (SERVA, DIAS e ALPERSTEDT, 2010SERVA, M.; DIAS, T.; ALPERSTEDT, G. Paradigma da complexidade e teoria das organizações: uma reflexão epistemológica. Revista de Administração de Empresas, v. 50. n. 3, p. 276-287, 2010.). Nessa corrente plural, destacam-se as contribuições sobre temas específicos das organizações na Filosofia e na Teoria organizacional (TSOUKAS e CHIA, 2011TSOUKAS, H.; CHIA, R. Philosophy and organization theory. Bingley: Emerald , 2011.), com aportes teóricos da fenomenologia (HOLT e SANDBERG, 2011HOLT, R.; SANDBERG, J. Phenomenology and organization theory. In: TSOUKAS, H.; CHIA, R. Philosophy and organization theory. Bingley: Emerald , 2011. 215-251 p.), da triangulação de filosofias (BECHARA e DE VEN, 2011BECHARA, J.; DE VEN, A. Triangulating philosophies of science to understand complex organizational and managerial problems. In: TSOUKAS, H.; CHIA, R. Philosophy organization theory. Bingley: Emerald, 2011. 311-343 p.) e da hermenêutica (BARRETT, POWLEY e PERACE, 2011BARRETT, F.; POWLEY, E.; PERACE, B. Hermeneutic philosophy and organizational theory. In: TSOUKAS, H.; CHIA, R. Philosophy and organization theory. Bingley: Emerald, 2011. 181-215 p.).

Nesse contexto argumentativo, nós nos propomos a analisar e procurar respostas que sirvam para o avanço das observações na perspectiva neosistêmica nas organizações, com os seguintes objetivos:

  1. Expor os avanços teóricos da teoria luhmanniana (e de forma introdutória os cruzamentos com a filosofia social do pós-estruturalismo), que têm influenciado e sido aplicados nas observações organizacionais.

  2. Como tentativa de superação das limitações constatadas e descritas, propor a utilização da inclusão ontológica do ser humano no sistema, mediante a ideia e noção de autopoiese reflexiva com suas possibilidades operacionais nas observações organizacionais.

Para realizar uma análise comparativa entre diferentes perspectivas e correntes teóricas e conceituais, é necessário, em primeiro lugar, descrever como vamos executá-la, isto é, suas regras. Popper (1993POPPER, K. The logic of scientific discovery. London: Routledge, 1993.) formulou que a validade de uma teoria encontra-se na capacidade de ser contrastada com outras teorias concorrentes. Niklas Luhmann replicou que essa validade depende do dinamismo de uma teoria e da capacidade de poder se auto observar (capacidade de autorreferencialidade). Com esses argumentos, destacamos umas premissas conceituais centrais de sua teoria de sistemas, que, a nosso ver, oferecem limitações ou paradoxos para as teorias organizacionais (TO) e a configuração das ideias que propomos. Estas se referem à diferenciação teórica entre autorreferência e autopoiese e a noção de “encerramento operativo” (operative Geschlossenheit).

Definição dos termos

Antes de iniciar uma reflexão analítica sobre os conceitos, consideramos necessário expor de modo sucinto o que entendemos por: 1) filosofia social pós-estruturalista; 2) estudos organizacionais; e 3) contribuições sistêmicas autorreferenciais.

Pós-estruturalismo

Esta denominação envolve palavras ou termos para definir um movimento filosófico surgido nos anos 1960 e 1970, período de desilusão e de rejeição a valores e tradições da sociedade burguesa e do surgimento do feminismo, que inclui âmbitos tão amplos como a filosofia, a história e a literatura. Deve-se analisar tal período com cautela sob os aspectos teóricos e pragmáticos, que criam uma série de dificuldades ao atribuir diferentes sentidos ou ao associá-lo à corrente filosófica do pós-modernismo e, com isso, pretendem etiquetar filósofos e pensadores, pois eles mesmos têm rejeitado e sempre se negado a aceitar essas denominações. Isso ocorre com a filosofia de Jacques Derrida, que, em suas obras, questiona o termo desconstrução e afirma não se tratar de um “desconstrucionista”; de Jean-François Lyotard, que expõe argumentos similares, ao tentar defini-lo como pós-moderno; e de Michel Foucault, que, ao rejeitar o estruturalismo, o pós-estruturalismo e o pós-modernismo, chega a afirmar que seus trabalhos não são estruturalistas (DAVIS e MAQUIS, 2005DAVIS, G.; MAQUIS, C. Prospects for organization theory in the early twenty-first century: institutional fields and mechanisms. Organization Science, v. 6, n. 4, p. 332-343, 2005.). Mais dificuldades surgem no momento de colocar o pós-estruturalismo de forma simultânea com o pós-modernismo, corrente que sempre tem abordado os estudos de organizações de modo periférico ou mesmo pejorativo.

Sua influência é controversa ao pós-estruturalismo, sendo visto frequentemente como um “posicionamento dissidente” no que concerne às ciências em geral e aos valores estabelecidos (JAMES, 2006JAMES, W. Understanding poststructuralism. Chesham: Acumen, 2006.). Apesar dessas observações, alguns autores limitam esse termo a uma aparente superação ou radicalização do estruturalismo, embora a linha divisória com o pós-estruturalismo constitua uma tentativa de estabelecer uma linha temporal, arbitrária e, portanto, sujeita a leituras semânticas (TADAJEWSKI, MACLARAN e PARSONS, 2011TADAJEWSKI, M.; MACLARAN, P.; PARSONS, E. Key concepts in critical management studies. London: Sage , 2011.; WILLIAMS, 2005WILLIAMS, J. Understanding poststructuralism. Chesharn: Acumen, 2005.). Uma possível tentativa de outorgar sentido ao pós-estruturalismo consiste na possibilidade de vinculá-lo aos postulados sociológicos do interacionismo simbólico (BERGER e LUCKMANN), de estabelecer um diálogo filosófico com o feminismo (DONE e KNOWLER, 2011DONE, E.; KNOWLER, H. (Re)writing reflective practice with Deleuze, Guattari and feminist poststructuralism. Reflective Practice, v. 12, n. 6, p. 841-852, 2011.) ou com a perspectiva organizacional do management e a corrente da “gestão crítica” (ALVESSON e DEETZ, 2006ALVESSON, M.; DEETZ, S. Critical theory and postmodernism: approaches to organizational studies. In: CLEGG, S.; HARDY, C. (Eds.). Organization studies. London: Sage, 2006. 255-283 p.).

Estudos organizacionais

Compreende um amplo e heterogêneo conjunto de estudos, observações e análises que têm como ponto comum todos os fenômenos que ocorrem nas organizações, conhecidos como Management and Organization Studies (Estudos Organizacionais). Alguns autores ampliam essa definição para “Estudos organizacionais e das instituições” e outros para “Estudos organizacionais e das organizações complexas” (OLABUÉNAGA, 2008OLABUÉNAGA, J. I. Sociología de las organizaciones complejas, Universidad de Deusto, 2008.), com vistas a diferenciá-la dos grupos humanos. Esses estudos se diferenciam da Reseach in the Sociology of Organizations (Sociologia das Organizações), campo científico que se ocupa do estudo dos fenômenos produzidos nas relações entre grupos de seres humanos2 2 Conhecidos como Organizational Analysis no âmbito anglo-saxão. , que inclui perspectivas tão específicas e complexas como a Philosophy and Organization Theory (TSOUKAS e CHIA 2011TSOUKAS, H.; CHIA, R. Philosophy and organization theory. Bingley: Emerald , 2011.), com contribuições teóricas da fenomenologia (HOLT e SANDBERG, 2011HOLT, R.; SANDBERG, J. Phenomenology and organization theory. In: TSOUKAS, H.; CHIA, R. Philosophy and organization theory. Bingley: Emerald , 2011. 215-251 p.); entre estas atribuições, a triangulação de filosofias (BECHARA e DE VEN, 2011BECHARA, J.; DE VEN, A. Triangulating philosophies of science to understand complex organizational and managerial problems. In: TSOUKAS, H.; CHIA, R. Philosophy organization theory. Bingley: Emerald, 2011. 311-343 p.), a hermenêutica (BARRETT, POWLEY e PERACE, 2011BARRETT, F.; POWLEY, E.; PERACE, B. Hermeneutic philosophy and organizational theory. In: TSOUKAS, H.; CHIA, R. Philosophy and organization theory. Bingley: Emerald, 2011. 181-215 p.) e o vínculo de Richard Rorty com a movimento “novo pragmatismo” (CZARNISANSKA, 2011CZARNISANSKA, B. Richard Rorty, women, and the new pragmatism. In: TSOUKAS, H.; CHIA, R. Philosophy and organization theory. Bingley: Emerald , 2011. 343-365 p.). A teoria organizacional e o conjunto de Management and Organization Studies têm incorporado noções e ideias provenientes da teoria dos sistemas autorreferenciais ao tratar de sistemas organizados, que têm por objetivo assumir como objeto de estudo problemas e demandas sociais. As organizações têm sido observadas e analisadas como sistemas auto-organizados em conexão com os sistemas que as sustentam (GOLDSPINK e KAY, 2010) ou como entidades estruturadas com processo de modelagem direcionado à cooperação (HELBING, YU e RAUHUT, 2011FISCHER, J. Bourdieu und Luhmann. Soziologische Doppelbeobachtung der ‘bürgerlichen Gesellschaft nach ihrer Kontingenzerfahrung. In: REHBERG, K. S. (Org.). Soziale Ungleichheit, Kulturelle Unterschiede. Verhandlungen des 32. Kongresses der Deutschen Gesellschaft für Soziologie in München 2004. Frankfurt/New York: Campus, 2004. 2850-2858 p.). Em uma tentativa de responder a questões recentes, como se podem entender as mudanças nas organizações de hoje em dia? Como podemos viver nessas organizações? E como podemos viver com elas? (WALSH, MEYER e SCHOONHOVEN, 2006WALSH, J.; MEYER, A.; SCHOONHOVEN, C. A future for organization theory: living in and living with changing organizations. Organization Science, v. 17, n. 5, p. 657-671, 2006.). Estudiosos indicam a existência de novas formas organizacionais enquadradas na descrição de “Dilemmas of New Organizational Forms”, baseando-se na hipótese da existência de “organizações fluídas” (SCHREYÖGG e SYDOW, 2010SCHREYÖGG, G.; SYDOW, J. Organizing for fluidity? Dilemmas of new organizational forms. Organization Science, v. 21, p. 1251-1262, 2010.; SYDOW e SCHREYÖGG, 2013SYDOW, J.; SCHREYOGG, G. Self-reinforcing Processes in and among organizations. London: Palgrave Macmillan, 2003.).

Contribuições sistêmicas autorreferenciais

Referimo-nos neste artigo a uma série de trabalhos teóricos que, apesar de suas controvérsias ou discrepâncias com algum aspecto da teoria de sistemas autopoiéticos de Niklas Luhmann (1984LUHMANN, N. Soziale Systeme. Grundrisse einer Allgemeinen Theorie. Frankfurt: Suhrkamp, 1984.;1998LUHMANN, N. Organización y decisión. Autopiesis, acción y entendimiento comunicativo. Barcelona: Anthropos/Universidad Iberoamericana, 1998.;1995LUHMANN, N. Interaktion, Organization, Gesellschaft: Anwendungen der Systemtheorie. In: LUHMANN, N. Soziologische Aufklärung. Opladen: Westdeutscher Verlag, 1995. 9-21 p.) e das tensões e quebras teóricas (PIGNOLI e ZITELLO, 2011PIGNOLLI, S.; ZITELLO, M. Tensiones y quiebres teóricos del concepto de comunicación de Luhmann. Estudios Sociológicos, v. 29, n. 87, p. 925-947, 2011.), assumemGOLDSPINK, C.; KAY, R. Autopoiesis and Organizations: A Biological View of Social System Change for Methods for Their Study. MAGALHANES, R.; SANCHEZ, R. (Eds.). Autopoiesis in Organization Theory and Practice, Bingley: Emeral. 2009. 89-110 p.como axiomas centrais de sua teoria o seu núcleo central e os conceitos de sistema, autopoiese e autorreferencialidade e, em consequência, de uma forma ou de outra, outros conceitos subjacentes da teoria luhmanniana. É difícil, portanto, poder estabelecer ou nos referir, na atualidade, à existência de uma teoria de sistemas sociais de Luhmann, mas a diversos pontos de vista preconizados por pensadores considerados ortodoxos e heterodoxos, cujas raízes procedem dessa teoria, que têm tentado estabelecer um diálogo principalmente com pensadores do pós-estruturalismo social. É problemático estabelecer ou falar de uma continuidade na teoria de sistemas sociais de Luhmann, assim como nos referir a um programa de investigação sistêmico que definimos como projeto teórico de sistemas autorreferenciais.

Convergências entre a teoria de sistemas autorreferenciais e o pós-estruturalismo

Ainda são escassas as tentativas de transferir ou utilizar conceitos da teoria de sistemas autorreferenciais com recentes aportes pós-estruturalistas da Teoria Ator-Rede (TAR). Na lógica da leitura do social desde o pós-estruturalismo, a TAR, representada por filósofos sociais como Bruno Latour e Michael Callon, aporta uma série de instrumentos conceituais e analíticos para o estudo da sociedade atual e das organizações. Apesar das dificuldades para definir a TAR como uma teoria, em vez de uma perspectiva construcionista e técnica, os pressupostos teóricos de ambas comportam algumas premissas comuns ao se auto definirem como estrutural-funcionalistas e ao ser consideradas “alternativas” ao funcionalismo e ao positivismo, apesar de tanto a teoria de sistemas autorreferenciais de Luhmann como a TAR tenham sido acusadas de desumanizar os humanos quando igualam os atores não humanos a coisas. Apesar de esses problemas não terem sido resolvidos, nos últimos anos são inúmeras as publicações que estabelecem um vínculo teórico e operacional entre a teoria luhmanniana e a TAR (WHITE e GODART, 2008WHITE, H.; GODART, F. Linking networks and domains, cultural and discursive formations in context. Manuscript for Manchester talk. 2008. Não publicado.; WHITE, 2007WHITE, H. C. Networks and Meaning: Styles and Switchings. Manuscript. A Plenary address for the Luzern Conference Commemorating Niklas Luhmann. Luzern, 2007.), em especial no âmbito da língua alemã (HOLZER, 2011HOLZER, B. Die Differenzierung von Netzwerk, Interaktion und Gesellschaft. Erschienen. In: BOMMES, M.; TACKE, V. Netzwerke in der funktional differenzierten Gesellschaft. Wiesbaden: VS Verlag für Sozialwissenschaft, 2011. 51-66 p.; REISER-KAPELLER, 2011; KNEER e NASSEHI, 2000KNEER, G.; NASSEHI, A. Niklas Luhmanns, Theorie sozialer Systeme. München: Fink, 2000.).

Apesar de certas coincidências em alguns conceitos e noções nos pontos de vista teóricos de Niklas Luhmann e Harrison White, a premissa inicial entre ambos os pensadores procede de pontos de vista epistemológicos opostos. Enquanto para Luhmann as pessoas são “construções comunicacionais”, que só aparecem no processo de comunicação no entorno do sistema, para White, na tentativa de superar os dualismos tradicionais da sociologia, o pressuposto básico é o denominado “imperativo autocategórico”, que rejeita as tentativas para explicar a conduta humana com base nos atributos dos atores (individuais ou coletivos), embora não exclua suas próprias identidades. Em seu conceito de “relational sociology”, ele atribui às redes algumas propriedades fenomenológicas, ou seja, uma perspectiva relacional ao ser criadas e formadas por pessoas com capacidade de dar-lhes significado. Embora não diretamente vinculadas ao conceito de autorreferencialidade de Luhmann, as ideias e noções de racionalidade e comunicação sistêmica também têm contribuído e sido aplicadas na teoria da decisão (para Luhmann “ciências da decisão”), a “self-organization theory”. Ainda que todas elas sejam originárias de uma raiz epistemológica, principalmente da matemática e da física, sua aplicação no campo das ciências sociais tem sido significativa, sendo sua origem majoritária procedente de antropólogos e sociólogos franceses e britânicos.

Limitações na teoria de sistemas autorreferenciais

Já é conhecido e estudado o fato de que Luhmann oferece respostas para a situação de ambiguidade da sociologia clássica, não como habitualmente havia sido, ou seja, a partir da descrição e definição de um centro no qual o homem e sua ação são o ponto de referência, mas desde seu entorno. Isso acelerou a crise das teorias funcionais iniciando o auge das teorias neosistêmicas e pós-funcionalistas e para a pós teoria funcional, como um problema não solucionado. Esse feito trouxe desconfiança em relação às tradições humanistas, dialéticas ou fenomenológicas da sociologia tradicional. A consequência disso é que o projeto teórico luhmanniano dificilmente dispõe de possibilidades conceituais e analíticas de diálogo ou de convergência com outras teorias que emergiram no mesmo espaço temporal das décadas de 1980 e 1990, tais como a teoria da estruturação, de Anthony Giddens, ou com a proposta dicotômica de representação da sociedade entre autonomia e heteronomia (CASTORIADIS, 1975CASTORIADIS, C. La institución imaginaria de la sociedad. Barcelona: Tusquests editors, 2007.), auto apresentando-se como autoexcludentes.

Essa falta de diálogo e debate coletivo durante essas décadas não é somente um problema da complexidade, falta de tradição e rompimento da teoria de sistemas com a teoria sociológica clássica, mas o próprio contexto de debate teórico não ofereceu maiores possibilidades. Os sociólogos que inicialmente formaram seus debates em torno de um pós-funcionalismo e pós-estruturalismo na construção de metateorias se destacam, segundo alguns especialistas, pela: “ausência de projetos teóricos coletivos e mesmo de debate” (FARÍAS e OSSANDÓN, 2010FARÍAS, I.; OSSANDÓN, J. Observando sistemas. Nuevas apropiaciones y usos de la teoría de Niklas Luhmann. Santiago de Chile, RIL Editores, 2010.).

Esta situação não é apenas condicionada por fatores externos, sendo inerente às controvérsias3 3 As controvérsias iniciaram-se na Faculdade de Sociologia da Universidade de Bielefeld, em razão do preenchimento da vaga de professor para continuar no Programa Sistêmico na Cátedra de Sociologia desocupada por Niklas Luhmann. existentes entre pensadores ortodoxos e heterodoxos da teoria de sistemas autorreferenciais. Ela é constituída por um complexo e abstrato quadro de conceitos e noções, sendo qualificada por alguns sociólogos de “hermética” em suas conexões de referência e de construtivismo radical ou mesmo de solipsista, de tal modo que a estrutura de pensamento e as referências internas dessa teoria têm criado uma desorientação.

Nunca foi possível falar de uma homogeneidade ou continuidade acrítica da teoria e dos conceitos propostos por Luhmann. Esse feito vem se manifestando na segunda década deste século, ao ser questionada sua utilidade para as ciências sociais em geral e a sociologia das organizações, em particular de qualquer pensamento ou referência em termos de fexamento operacional. Apesar de certa aceitação de pressuposições fundamentais da teoria luhmanniana, aparecem importantes discrepâncias e controvérsias que, aparentemente, são poucas e “não estão satisfeitas com a introdução do observador” por parte de Luhmann e “quase ninguém” entra na discussão acerca do uso do cálculo de indicações de Spencer Brown (BAECKER, 2013BAECKER, D. Zukunftsfähigkeit: 22 Thesen zur nächsten Gesellschaft. 2013. Disponível em: <Disponível em: http://www.sistemassociales.com/22-tesis-sobre-la-sociedad-venidera-por-dirk-baecker/ >. Acesso em: 6 out. 2014.
http://www.sistemassociales.com/22-tesis...
; PÉREZ-SOLARI e LABRAÑA, 2013PÉREZ-SOLARI, F.; LABRAÑA, J. Hacia la observación de una sociedad venidera: una entrevista con Dirk Baecker. Revista Mad, n. 29, p. 83, 2013.).

Essas controvérsias destacam a continuidade do debate iniciado nas últimas décadas em torno da possibilidade de utilização nos termos das ciências sociais do conceito de autopoiese (BÜHL, 2003BÜHL, W. Grenzen der autopoiesis. Vordenker. 2003. Disponível em: <Disponível em: http://www.vordenker.de/buehl/wlb_grenzen-autopoiesis.pdf >. Acesso em:14 fev. 2013.
http://www.vordenker.de/buehl/wlb_grenze...
; MARTENS, 1991MARTENS, W. Die autopoiesis sozialer Systeme. Kölner Zeitschrift für Soziologie und Sozialpsychologie, v. 4, n. 43, p. 625-646, 1991.). Também expressam controvérsias entre os diferentes caminhos desenvolvidos entre o mais “ortodoxo”, enquanto os “heterodoxos” têm optado por questionar criticamente determinadas ideias e noções luhmannianas. Como termo mais controverso temos a utilização do conceito de autopoiese dos neurobiólogos Humberto Maturana e Francisco Valera ao se aprofundar na ideia de “diferenciação funcional” (soziale Differenzierung) como princípio orientador da diferenciação da sociedade. No caso do conceito de autopoiese aparecem as tentativas de superar sua semântica biologista original para analisar as possibilidades de que o conceito possa se estender a suas operações autorreferenciais, operações baseadas em comunicações, sejam elas linguísticas ou contextuais, emanadas de uma consciência.

No problema derivado do radical anti-humanismo de sua teoria e das tentativas teóricas de reconfigurar operacionalmente as fronteiras e as comunicações interssistêmicas, destaca-se a proposta de vincular a teoria autorreferencial com o “social”, de modo empírico (em observações de tipo elementar ou de segundo grau) tal que contraste com a ausência de trabalhos fundamentados em dados de Luhmann durante sua vida. Vale nesse contexto lembrar que Luhmann nunca trabalhou com deduções analógicas. Não menos importante é ressaltar o fato de questionar se o mesmo Luhmann, em suas últimas obras, pôde prever o imenso desenvolvimento das novas tecnologias da comunicação, seu impacto na sociedade e, com isso, a possibilidade de distanciar-se do princípio orientador de diferenciação funcional da sociedade atual e futura. Seus “pontos cegos” têm sido analisados, aparecendo como uma tarefa complexa não livre de dificuldades, ao não ser possível introduzir nenhum outro conceito “sem antes fazer referência ou haver utilizado outros conceitos” (TRÖNDLE, 2012TRÖNDLE, M. Systemtheorie, ein Versuch. 2012. <http://www.fachverband-kulturmanagement.org/wp-content/uploads/2012/10/SystemtheorieEinVersuch.pdf>
http://www.fachverband-kulturmanagement....
). Outra dificuldade da teoria sociopoiética de Luhmann é a impossibilidade de fazer qualquer observação sem uma autorreferência prévia, como tampouco é possível qualquer autorreferência sem estabelecer previamente a dicotomia fronteira/médio.

Aportes neosistêmicos não ortodoxos e pós-estruturalistas

Uma nova geração de estudiosos (DUTRA e BACHUR, 2013DUTRA, R.; BACHUR, J. P. (Org.). Dossiê Niklas Luhmann. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2013.) busca respostas e caminhos não apenas no pensamento de Niklas Luhmann, mas também nos avanços do debate teórico pós-estruturalista e na teoria sociológica, aprofundando os escritos de filósofos sociais - Gilles Deleuze e Michel Callon - e de sociólogos - Scott Lash e Bruno Latour, entre outros - na área da filosofia da ciência, com as possibilidades da performatividade com a sociologia econômica e cultural (FARIAS e OSSANDÓN, 2006FARÍAS, I.; OSSANDÓN, J. Observando sistemas. Nuevas apropiaciones y usos de la teoría de Niklas Luhmann. Santiago de Chile, RIL Editores, 2010.).

As tentativas de atribuir ao observador status ontológico ao situá-lo fora da lógica sistêmica ou de atribuir uma lógica indexical ao sistema (entendida aqui, como um método para utilizar a lógica em outra ordem que consideramos certa), fundamentada na etnometodologia, não têm dado uma resposta suficientemente clara de integrar o ego e o alter ego, ou seja, a subjetividade e a consciência, em comunicação com outra subjetividade autorreferencial, tampouco têm conseguido que a teoria de sistemas possa assumi-la como parte em suas operações. Em vista das limitações relativas à subjetividade ou à ação humana diante da lógica não ontológica do sistema, nos últimos anos são recorrentes as observações que propõem a inclusão da subjetividade por meio da ideia de resiliência. Contudo, a opção de pôr um observador fora da lógica de sistemas autorreferenciais é uma tentativa simplista de manifestar uma subjetividade diante de uma descrição sistêmica, manifestando duas lógicas de pensamento sem uma base teórica que os sustente.

Com base na argumentação comunicativa, a tentativa de atribuir a ideia de autopoiese luhmanniana a uma lógica de auto indexicalidade, “autopoiese indexical” (com capacidade para ordenar os diversos significados), pretende explorar a possibilidade de inclusão do conceito de “indexicalidade”, proveniente da etnometodologia e dos estudos conversacionais de Harold Garfinkel. A lógica da operação é feita pela identificação do encerramento de suas operações e dos processos relacionais na contextualidade das operações que ocorrem na interação, considerando a existência de uma autopoiese sui generis, propriedade de dois sistemas de interação como “redes complexas”.

Vários estudos vêm tentado estabelecer uma linha teórica dirigida e focalizada em torno das pesquisas de respostas ao estruturalismo funcional. Os trabalhos dos últimos anos compreendem um leque de estudos desde a filosofia do paradigma de autopoiese e das contradições surgidas (ELDER-VASS, 2007ELDER-VASS, D. Luhmann and emergentism: competing paradigms for social systems theory Philosophy of the Social Sciences, v. 37, n. 4, p. 408-432, 2007.) ao problema teórico e ontológico e às consequências do anti-humanismo luhmanniano (GRESHOFF, 2008GRESHOFF, R. Ohne Akteure geht es nicht! Oder: Warum die Fundamente der Luhmannschen Sozialtheorie nicht tragen. Zeitschrift für Soziologie, v. 37, n. 6, p. 450-469, 2008.), aos problemas derivados da comunicação sistêmica (OCAMPO e ZITELLO, 1995OCAMPO, S. P. El modelo sintético de comunicación de Niklas Luhmann. Cinta de Moebio, v. 47, p. 59-73, 2013.) ou às tensões teóricas existentes como consequência de relegar a ação social à teoria dos sistemas. A procura de pontos de vista convergentes tem sido produzida com as coincidências da “dupla observação”, com as noções de sistema e campos de ação e com a compreensão das estruturas nos conceitos de habitus e campo de Pierre Bourdieu (NASSEHI e NOLLMANN, 2004NASSEHI, A.; NOLLMANN, G. Bourdieu und Luhmann. Ein Theorievergleich. Frankfurt: Suhrkamp , 2004.).

A proposta de estabelecer um diálogo entre a teoria dos sistemas autorreferenciais e a filosofia analítica ou o positivismo lógico, pela observação da estrutura da linguagem, como propõe Wittgenstein, é uma tentativa de dar respostas à filosofia da linguagem e, concretamente, ao giro linguístico iniciado por Richard Rorty. O rompimento da unidade do “social” e de seus componentes de ordem, que incluem a linguagem, aparece em Niklas Luhmann e nos escritos de Ludwig Wittgenstein. Ambos os pensadores questionam o sujeito transcendental fenomenológico e partem da ideia de que a descrição da experiência por meio da interpretação é apenas uma descrição indireta. Como pontos comuns e afins, ambos tomam como pressuposto de partida a complexidade da sociedade em suas respectivas áreas do conhecimento e a importância dos “jogos da linguagem”, ao tratarem de uma estrutura dinâmica cuja estabilidade pode ser alcançada por uma instabilidade recorrente cujos indivíduos desempenham um papel secundário.

Não obstante, a leitura de Luhmann sobre a linguagem parte do pressuposto de que a linguagem não tem uma forma específica de operação, mas, em seus aspectos funcionais, permite o “acoplamento estrutural” (Strukturelle Koplung). Apesar de certos aspectos coincidentes entre ambos, Luhmann e Wittgenstein, a tentativa se reduz a estabelecer um diálogo, tendo como ponto comum o “jogo da linguagem” ou modos de utilizar os signos, sem entrar em questões ontológicas mais profundas. Embora Wittgenstein dissolva o eu, não elimina a noção do sujeito, mas oferece uma concepção diferente ao aparecer o sujeito implicado com a linguagem e sintetizar o solistismo transcendental com o realismo empírico e as preposições de existência de outras mentes.

Como alternativa ao problema de definição concreta da consciência na teoria de Luhmann, buscam-se respostas na ideia de consciência formada pelas condições sociais do ser humano, tentando estabelecer um nexo entre consciência e sistema autorreferencial. Essa opção se sustenta em um realismo ingênuo, que reflete a realidade subjacente como um agregado de representações ideológicas criadas pela mente por meio de relações exclusivamente econômicas e estruturas existentes em uma sociedade inspirada em algumas das correntes neomarxistas (FISCHER-LESCANO, 2011FISCHER-LESCANO, A. Critical systems theory. Philosophy & Social Criticism, v. 38, p. 3-23, 2011.).

Quadro 1
Diferenças fundamentais entre a teoria de sistemas autorreferenciais e o pós-estruturalismo

Contribuições na teoria organizacional

Dada a amplitude teórica e conceitual e as múltiplas publicações baseadas em observações empíricas inspiradas na teoria organizacional em diversos países e áreas de conhecimento, delimitaremos esta análise aos aspectos que vinculam diretamente os conceitos luhmannianos e sua contribuição ao debate e ao estudo organizacional.

Niklas Luhmann realiza uma transição da teoria dos sistemas abertos para os sistemas autopoiéticos (ou autorreferenciais), com o que foi possível entender como um sistema podia manter seus limites apesar de sua dependência de reprodução comunicativa com o entorno. Apesar desse avanço teórico, traz consigo um novo problema derivado da autorreprodução dos sistemas em questões, como a autorreferencialidade e o sentido, ou a possibilidade da existência de uma consciência que transmita tal sentido, posto que atualmente as questões centrais na teoria organizacional giram em torno de: Como podemos entender as organizações que mudam hoje em dia? Como podemos viver nessas organizações? E como podemos viver com elas? (WALSH, MEYER e SCHOONHOVEN, 2006WALSH, J.; MEYER, A.; SCHOONHOVEN, C. A future for organization theory: living in and living with changing organizations. Organization Science, v. 17, n. 5, p. 657-671, 2006.). Aqui, não podemos parar de aprofundar e responder a essas questões, mas analisamos o aspecto transversal que aparece nelas, referente à desumanização do humano (ou periferização do humano) e arriscamos possíveis vias ou propostas para “re-humanizar” a TGSS.

No pensamento sistêmico da Escola de Bielefeld e seu nexo com as teorias organizacionais, destaca-se Helmut Willke; nas observações empíricas da gestão do conhecimento em organizações financeiras e industriais, Willke (1999WINDELER, A.; SYDOW, J. (Org.). Kompetenz: Sozialtheorethische Perspektiven. Wiesbaden: Springer, 2014.; 1993WILLKE, H. Systemtheorie II. Interventionstheorie. Stuttgart/Jena: UTB/Fischer, 1999.); nas observações nas associações filantrópicas, Hermsen e Gnewekow (1998HERMSEN, T.; GNEWEKOW, D. Soziale Hilfe im Wandel: Wohlfahrtsverbände im Reorganisationsprocess. In: WILLKE, H. Systemisches Wissensmanagement. Stuttgart: Lucius & Lucius, 1998. p. 261-305.); e na cooperação empresarial, destaca-se Krück (1998KRÜCK, C. Wissensarbeit in Unternehmenskooperationen: das Beispiel der Halbleiterindustrie. In: WILLKE, H. Systemisches Wissensmanagement. Stuttgart: Lucius & Lucius , 1998. 305-327 p.). Willke, como “continuador” da teoria autorreferencial de Luhmann, questiona a possibilidade de aplicar e de assumir nas organizações o conceito de operativer Geschlossenheit (fechamento operacional) e propõe em seu lugar a noção de “orientação sistêmica contextual” ou “governança do contexto sistêmico” (systemische Kontextsteuerung), definindo seu significado como: “a orientação reflexiva e descentralizada das condições contextuais de todos os sistemas e a auto-orientação autorreferencial de cada sistema em particular” (WILLKE, 1993WILLKE, H. Systemtheorie entwickelter Gesellschaften. Dynamik und Riskanz moderner gesellschaftlicher Selbstorganisation. München: Juventa, 1993., p. 58).

Um passo diferenciador da teoria de sistemas sociais constitui ou inclui a existência de um observador que tenha uma visão do mundo formada por suas experiências e interações, que nos recordam as ideias do interacionismo simbólico e, com isso, transmite um sentido: “significa que uma medida mínima de orientação comum ou ‘visão de mundo’ é inevitável” (WILLKE, 1993WILLKE, H. Systemtheorie entwickelter Gesellschaften. Dynamik und Riskanz moderner gesellschaftlicher Selbstorganisation. München: Juventa, 1993., p. 58). O contexto comum, no entanto, já não é definido por uma unidade central ou pela posição hierárquica e centralista da sociedade, como tem sido habitual nas ciências sociais, mas por uma visão “policêntrica sistêmica”, ou seja, pela existência de unidades autônomas cujo consenso sobre o fundamento de uma dissidência basal é possível, mas improvável, e que se baseia em um discurso.

A ideia de consenso entre unidades nos remete ao conceito de ação comunicativa, desenvolvido por Jürgen Habermas, em que ele propõe a pesquisa do consenso comunicativo entre os diversos atores ou sujeitos por meio da linguagem. A orientação sistêmica contextual proposta por Helmut Willke é um marco de referência que possibilita a coordenação da sociedade. A intervenção a operacionaliza e coordena, sendo o resultado de uma série de estratégias que possibilitam a observação e as relações entre os sistemas. A orientação faz referência ao marco de condições gerais por meio das quais os sistemas estabelecem coordenações, enquanto a intervenção tem seu apoio em uma ênfase estratégica que tenta responder a perguntas pelas formas concretas de operar os sistemas.

Diferentes premissas fundamentam as respostas aos “pontos cegos” da teoria de sistemas oferecidas por psicólogos, os quais têm dado como resultado a tentativa de outorgar os sistemas psíquicos da reprodução da consciência e, com isso, o objetivo de aplicar a teoria de sistemas autorreferenciais ao conhecimento da psicologia. Tem sido tratada a descrição de assumir os sistemas psíquicos como sistemas fechados que reproduzem suas operações mediante a consciência (THUMALA, 2010THUMALA, D. Proyecciones del concepto de sistema psíquico de Luhmann y su vinculación con la psicología. Cinta de Moebio, n. 39, p. 186-191, 2010.). Nessa linha argumentativa, a consciência não se entende como uma substância, mas como uma operação específica dos sistemas psíquicos. A ideia de assumir as operações autopoiéticas dos sistemas psíquicos com a inclusão da consciência se deve à psicologia (TEIXEIRA, 2004TEIXEIRA, F. Autopoiesis e identidade pessoal do si mesmo biológico ao si mesmo humano: conduta e sistema nervoso. Coimbra: Coimbra, 2004.) e à proposta de operação autorreferencial e semântica dos sistemas psíquicos.

A perspectiva organizacional também tem sido enriquecida com a incorporação de noções e conceitos de autorreferencialidade, auto mantenimento, circularidade, individualidade e a manutenção da identidade e da proposta de estabelecer uma comparação conceitual e extrapolar as similitudes teóricas entre a autopoiese e a Teoria Fundamentada nos Dados, com o conceito do self. Os resultados dessa proposta se manifestam em uma série de argumentos que apoiam o processo paralelo de aprendizagem individual e organizacional no contexto de crescimento e mudança nas organizações (MAVRINAC, 2006MAVRINAC, M. A. Self as system: comparing the grounded theory of protecting self and autopoiesis. World Futures: The Journal of New Paradigm Research, v. 62, n. 7, p. 516-523, 2006.). Um campo importante tem sido o dos estudos e das observações na área da administração (pública e privada), a gestão e a teoria das organizações, enquanto na sociologia, a TAR e a “Teoria da auto-organização” têm influenciado decisivamente.

O Quadro 2 apresenta uma síntese da relevância das contribuições teóricas sistêmicas e pós-estruturalistas para as teorias organizacionais e os pontos de vista que vinculam diretamente o papel e a função das organizações como ideia da formação da sociedade atual.

Quadro 2
Contribuições sistêmicas autorreferenciais e pós-estruturalistas relevantes para as teorias organizacionais

Autopoiese, autorreferência e organizações

A problemática é função das organizações e dos problemas relativos à sua estrutura e a autodescrição e suas operações internas são temas recorrentes em Luhmann (1981LUHMANN, N. Organisation und Entscheidung. In: LUHMANN, N. Soziologische Aufklärung. Opladen: Westdeutscher, 1981.; 2010LUHMANN, N. Autopoiesis, Handlung und Kommunikative Verständigung. Zeitschrift für Soziologie, v. 11, p. 336-379, 1982.). As organizações não aparecem como superestruturas ou “sistemas sociais” ou em uma perspectiva funcional como “sistemas funcionalmente racionais”. Niklas Luhmann lhes atribui a possibilidade de autorreferência na criação de suas estruturas internas como “sistemas autopoiéticos que se produzem e reproduzem a si mesmos por meio de operações próprias” (LUHMANN, 1982LUHMANN, N. Autopoiesis, Handlung und Kommunikative Verständigung. Zeitschrift für Soziologie, v. 11, p. 336-379, 1982., p. 25), nas quais as decisões constituem sua essência: “organizações como um conjunto de decisões”.

Na teoria autorreferencial luhmanniana, o fenômeno das organizações é marcado pela descrição da diferenciação sistêmica. Seguindo a argumentação de Luhmann, diremos que as sociedades altamente diferenciadas são compostas por inúmeros tipos de organizações, de tal forma que constituem a forma social dominante pela qual são desenvolvidas as atividades. Os sistemas sociais correspondem aos sistemas que operam autopoieticamente, baseando-se na comunicação, diferenciando Luhmann três níveis desses sistemas: sistemas funcionais, sistemas de interação e sistemas organizacionais. Estes últimos, também denominados de organizações (como também os sistemas de interações), surgem da complexidade social das sociedades atuais e correspondem ao conjunto de sistemas de interação, orientando sua comunicação a um fim específico.

As noções de autopoiese e autorreferência são centrais na teoria luhmanniana, aplicadas na observação dos processos que determinam as causas da existência ou do desaparecimento das organizações. Antes de descrever esses conceitos, é necessário definir de modo sucinto as organizações, como descreve Niklas Luhmann. A noção de autorreferência também está abaixo das descrições de auto-organização e autopoiese4 4 Segundo Luhmann (1984, p. 55): “designa a unidade constitutiva do sistema consigo mesmo: unidade de elementos, de processos, de sistema”. , sendo o processo e as operações, em seu conjunto, independentes da observação externa ao sistema. O conceito de autorreferencialidade provém da teoria da comunicação e da semiótica e refere-se à forma como um sistema opera e à operação como reprodução da unidade de um sistema, que possibilita o contato com o entorno (LUHMANN, 1975LUHMANN, N. Die Autopoiesis des Bewusstsein. Soziologische Aufklärung, Opladen: Westdeutsche, 1975.; 1982LUHMANN, N. Autopoiesis, Handlung und Kommunikative Verständigung. Zeitschrift für Soziologie, v. 11, p. 336-379, 1982.; 1984LUHMANN, N. Soziale Systeme. Grundrisse einer Allgemeinen Theorie. Frankfurt: Suhrkamp, 1984.; 1995LUHMANN, N. Interaktion, Organization, Gesellschaft: Anwendungen der Systemtheorie. In: LUHMANN, N. Soziologische Aufklärung. Opladen: Westdeutscher Verlag, 1995. 9-21 p.; 2016LUHMANN, N. Sistemas sociais. Esboço de uma teoria geral. Petrópolis, RJ: Vozes , 2016.).

As ideias de autorreferência e autopoiese significam assumir uma série de estruturas, componentes, processos e operações, que estão imbricados em uma lógica de produção e operação cíclica e recursiva no sistema. Uma organização autopoiética pode ser definida como uma rede de produção de componentes que simultaneamente atuam de acordo com as seguintes condições: 1) participam de forma recursiva na mesma rede de produção de seus componentes; 2) compõem uma rede de produções e operações como uma unidade no espaço em que, por sua vez, os componentes existem. É por meio das organizações que os sistemas sociais funcionais realizam as operações e iniciam mecanismos de inclusão e exclusão na sociedade. Para Luhmann, autopiese e os teóricos (ortodoxos e heterodoxos), as comunicações decisórias que ocorrem nas organizações constituem suas operações constitutivas, já que essas operações permitem definir seus objetivos e metas, além dos critérios de pertinência para seus eventuais membros e a configuração de seus entornos.

Para Luhmann, autopoiese faz referência a todas as operações (e estruturas) que ocorrem no sistema, enquanto a ideia de autorreferência faz referência à formação de estruturas dentro do sistema (NAFARRATE, 1991NAFARRATE, J.T. Introducción a la teoría a de sistemas. México: Alianza/Universidad Iberoamericana, 1991.). O conceito de autorreferência provém diretamente da teoria da comunicação e dos mecanismos de reflexividade da metacomunicação, também constitui o núcleo dos sistemas ao ser constituído pelas comunicações, além de fazer referência à forma como opera um sistema em relação ao seu entorno. Nesse sentido, a hipótese sistêmica autopoiética parte da premissa de que a ação das organizações não está previamente determinada pelo entorno, mas, inicialmente, por uma lógica interna precisa (SCHIMANK, 1985). Na perspectiva da teoria de sistemas sociais e da ideia de autorreferência, reconhece-se que as organizações têm uma inteligência sistêmica e, com isso, uma gestão do conhecimento organizacional. Com base nessa linha argumentativa, a organização é entendida como um sistema e constituída por sua história, sistema de regras, processos de gestão e formas de transações (WILLKE, 1999WILLKE, H. Systemtheorie II. Interventionstheorie. Stuttgart/Jena: UTB/Fischer, 1999.; VIDAL, 2015VIDAL, J. Sistemas y ser humano. Pensamiento autorreferencial en la Amazonia. Madrid: Ediciones La Catarata, 2015.). Esta linha argumentativa foi utilizada para a observação das organizações na região da Amazônia (Vidal, 2010VIDAL, J. Organizaciones públicas en la Amazonia: ¿cambio autorreferencial o adaptación?, Revista Internacional Organizaciones, International Journal of Organizations, n. 5, p. 127-150, 2010.).

A autorreferencialidade se situa em um plano operacional similar ao da autopoiese, o qual designa a particularidade dos sistemas, sendo considerada ampliação permanente e continuada de produção de elementos do sistema mediante elementos do próprio sistema “quando ele constitui os elementos” que lhe dão forma (LUHMANN, 1984LUHMANN, N. Soziale Systeme. Grundrisse einer Allgemeinen Theorie. Frankfurt: Suhrkamp, 1984., p. 16). Os sistemas autorreferenciais operam “necessariamente” a partir do autocontato e podem ser fechados e, ao mesmo tempo, abertos. O encerramento é feito por meio da circularidade reflexiva, ou seja, por sua capacidade estruturalmente assegurada dos elementos para a autorreprodução. As operações sistêmicas de autorregulação, autorreferencialidade e auto-organização são requisitos necessários para a criação de sistemas autônomos e também são as condições para a sobrevivência das organizações.

A autorreferência refere-se à operação na qual o sistema remete suas operações a si mesmo (sua estrutura), o que permite observar seu entorno e, por sua vez, fazer distinções para selecionar o que não está em sua capacidade estrutural. Ao operar o sistema de modo autorreferencial, o sistema pode tomar duas possíveis alternativas. A primeira alternativa consiste em assumir diversas funções com a respectiva estruturação e promover propostas de políticas independentemente do entorno. A segunda alternativa consiste em observar o entorno independentemente das ações estruturantes que são feitas, posto que se manifestaram em ações e propostas cuja efetividade poderá ser analisada empiricamente.

Nas organizações públicas, caso da administração pública, como conjunto de instituições e de organizações, trata-se de um campo ou sistema que permite observar as premissas teóricas expostas, ao constituir suas próprias estruturas independentemente do entorno e simultaneamente observa o entorno para comprovar a efetividade de diversas medidas, dentre as quais se destaca a burocracia como uma das operações clássicas do sistema administrativo.

Para um construcionismo sistêmico: a noção de autopoiese comunicativa como operação da consciência

Para descrever a ideia de uma autopoiese com um sentido “reflexivo” que propomos, as limitações do artigo nos abrigam a expor de modo sumário qual sentido atribui Niklas Luhmann, primeiramente os conceitos de reflexão e reflexividade. Em um segundo momento, expomos as ideias luhmannianas de unidades de função e unidades de significação. Em seu vocábulo conceitual, os termos surgem de modo recorrente em função das operações dos sistemas, portanto, de modo secundário nas operações sistêmicas (LUHMANN, 1984LUHMANN, N. Soziale Systeme. Grundrisse einer Allgemeinen Theorie. Frankfurt: Suhrkamp, 1984.; 2016LUHMANN, N. Interaktion, Organization, Gesellschaft: Anwendungen der Systemtheorie. In: LUHMANN, N. Soziologische Aufklärung. Opladen: Westdeutscher Verlag, 1995. 9-21 p.).

Para Niklas Luhmann, a reflexão ocorre no momento em que o sistema coincide com a referência e a autorreferência, enquanto a reflexividade aparece como um conjunto de operações que os sistemas promovem para selecionar seus próprios recursos. Trata-se de uma auto-observação alcançar que os sistemas orientem a si mesmos, diferenciando-se do entorno. O conjunto da operação requer racionalidade e exclui o acaso.

Um sistema é autorreferente quando os elementos se integram como unidades de função, ou seja, quando as relações desses elementos se reproduzem tendo por objetivo sua autoconstituição. Os elementos operam por “autocontato” - como já foi exposto - como única forma de relação que, na atividade neuronal, trata exclusivamente de uma relação neurobiológica. A operação de determinação do sistema tem uma série de expectativas. Pode existir uma ação e as correspondentes expectativas, sem um sentido prévio ou sem um sentido e expectativas, sem a existência de uma pessoa que assuma esse sentido? Trata-se de uma questão que tem provocado controvérsias entre seus seguidores, embora para evitar dúvidas adiante-se que: “os sistemas sociais não temem o que faz referência a uma consciência, não a sistemas pessoais, e têm que utilizar a mudança de frequência no sistema neuronal” (LUHMANN, 1984LUHMANN, N. Soziale Systeme. Grundrisse einer Allgemeinen Theorie. Frankfurt: Suhrkamp, 1984., p. 56). É evidente que, nas observações deste artigo, o conceito de fechamento operacional tem sido uma fonte de controvérsias.

Levantamos a observação da organização baseada em uma dupla diferenciação que se operacionaliza em dois planos que podem ser operacionalizados simultaneamente entre as comunicações dos sistemas e as comunicações subjetivas, estas últimas pela linguagem. As comunicações subjetivas não são feitas entre sujeitos desumanizados ou coisas, mas entre seres humanos no sentido físico, portanto, dotados de capacidade de pensamento e de consciência. Nestes sujeitos são aplicados os mesmos conceitos autorreferenciais, embora se considere a autopoiese da consciência.

Unidades de função e unidades de significação como meio de aceder à consciência

Para Niklas Luhmann, um sistema é autorreferente quando os elementos que o constituem estão integrados em unidades de função (LUHMANN, 1998LUHMANN, N. Organización y decisión. Autopiesis, acción y entendimiento comunicativo. Barcelona: Anthropos/Universidad Iberoamericana, 1998.), ou seja, em funções nas quais as possibilidades ou os pontos de vista também permitam comparação. Essas unidades cumprem diversas funções internas no sistema e funções quanto às suas operações. As unidades de função, além de oferecerem possibilidades ao sistema, como possibilidades funcionais operacionais, têm outras três qualidades: 1) a orientação funcional como uma forma de “produção de redundância”, ou seja, a possibilidade de regresso ao ponto de partida e de reinício da operação e de segurança; 2) também servem como expressão da unidade interna do sistema, além de estabelecerem diferença na relação sistema-entorno; e 3) em um suposto “horizonte de perguntas” do sistema ou de áreas parciais do sistema sempre em um horizonte, têm o objetivo de aportar regulação à escassez, em forma de precauções econômicas e morais no sistema. Entretanto, as funções a que Luhmann se refere têm objetivos, porque também servem para: 1) a autodescrição do sistema complexo; 2) a introdução da identidade e o manejo e a possibilidade da diferença; e 3) a autosimplificação e a complexidade do sistema. Essa orientação funcional concede capacidade operacional para atuar e serve, em primeira instância, para reduzir a complexidade no caso em que o sistema seja demasiadamente complexo.

Para a apresentação de um construcionismo sistêmico com base em ideias luhmannianas, propomos a noção do que denominamos autopoiese reflexiva. Para isso, recorremos à concepção luhmanniana de unidades de significação. Estas são essenciais, pois nos permitem acessar um “potencial da consciência” que, para Niklas Luhmann, transcende toda a experiência social (LUHMANN, 1998LUHMANN, N. Organización y decisión. Autopiesis, acción y entendimiento comunicativo. Barcelona: Anthropos/Universidad Iberoamericana, 1998.). Isso permite entrever timidamente a possibilidade de que a consciência assuma um nível e qualidades que vão além da simples experiência, embora sem nenhuma referência transcendental, para assumir estruturas internas, segundo Luhmann, uma “autopoiese da consciência” ou uma significação humanístico-fenomenológica (LUHMANN, 1998LUHMANN, N. Organización y decisión. Autopiesis, acción y entendimiento comunicativo. Barcelona: Anthropos/Universidad Iberoamericana, 1998., p. 146). Simultaneamente a essa operação, também ocorre outra dirigida a uma tipologia de sentido que “garanta” à consciência a operação de sua própria autopoiese, ou seja, as mudanças de estruturas internas de sentido específico, embora Luhmann já adiante que não existe nenhuma condição prévia para a formação de sentido ou nenhum “substrato ôntico” de sentido, com o qual se exclui qualquer possibilidade de que a consciência atribua sentido às ações individuais. No sentido que estamos propondo de relação entre os sistemas psíquicos, pressupomos a auto-observação da consciência como introdução da diferença entre sistema e entorno e outros sistemas (sistema de consciência), sejam psíquicos ou sociais.

Com isso, não nos referimos ao termo luhmanniano de “interpenetração” sistêmica pelo fato de o substituirmos por comunicação em uma relação linguística com o meio. A ideia de “interpenetração” não trata de uma simples relação sistema-meio de uma relação interssistêmica, mas pressupõe a capacidade de enlace e de produzir “relações de dependência” entre diversas autopoieses, dentre as quais se inclui a vida orgânica. Luhmann se refere a esse tipo de relações quando um sistema põe à disposição sua própria complexidade para construir outro sistema, com o que pressupõe “vida” evidente na relação entre seres humanos e sistemas sociais, sendo a “interpenetração” o conceito para a análise dessa relação. Nesse ponto, remetemo-nos às teorias da socialização do interacionismo simbólico (Berger e Luckmann). A “interpenetração” luhmanniana também possibilita uma relação entre “autopoiese autônoma” e o acoplamento estrutural.

Com base nessa operação do sistema, a autopoiese da consciência é, portanto, a base real da individualidade dos sistemas psíquicos. Em nossa concepção, as unidades de função, segundo Luhmann, também adquirem uma significação fenomenológica, já que têm algumas possibilidades específicas que, na ideia que propomos, adquirem um significado humanista. A primeira possibilidade é a capacidade de pensamento mediante a consciência, ou seja, oferecer um sentido às comunicações, que difere da concepção estática e se assemelha à fenomenológica (transcendental de Edmund Husserl), ao ser entendida como algo dado e apreensível. A segunda é a reflexividade ou a forma de se auto-observar em que aparece o conceito do self. A terceira é a intersubjetividade, isto é, a função de procura do consenso com outras pessoas por meio da interação e da linguagem. Nesse caso, recorremos de novo à amplitude e à importância da linguagem que a fenomenologia oferece (Figura 1). Em todas as relações entre esses elementos de um sistema, além da integração nas unidades de função, ocorre paralelamente uma “remissão de autoconstituição” (LUHMANN, 1998LUHMANN, N. Organización y decisión. Autopiesis, acción y entendimiento comunicativo. Barcelona: Anthropos/Universidad Iberoamericana, 1998., p. 56).

Figura 1
A autopoiese reflexiva e as comunicações com os sistemas

Autopoiese da consciência

Com isso, alude-se à consciência, que tem função similar a uma estrutura, já que, para Niklas Luhmann, somente pode ser estruturado aquilo que conduz à autopoiese da consciência e que pode ser reproduzido nela (LUHMANN, 1998LUHMANN, N. Organización y decisión. Autopiesis, acción y entendimiento comunicativo. Barcelona: Anthropos/Universidad Iberoamericana, 1998.). A autopoiese da consciência é, portanto, a “base real da individualidade” dos sistemas psíquicos (LUHMANN, 1998LUHMANN, N. Organización y decisión. Autopiesis, acción y entendimiento comunicativo. Barcelona: Anthropos/Universidad Iberoamericana, 1998., p. 244). Contudo, a atribuição semântica da individualidade se refere a uma relação autorreferencial do sistema psíquico. Dessa forma, os sistemas autopoiéticos podem se auto-observar como uma propriedade autorreferencial com o que pode se referir a uma diferença. A ideia que propomos significa que um “sistema individual” não é simplesmente um sistema com um indivíduo pensado em suas condições e relações psíquicas, mas está constituído previamente por um sistema de consciência que pode se auto-observar e se autodescrever. Um indivíduo pode descrever a si mesmo como pode pertencer a uma cultura concreta, embora a pergunta básica para Luhmann siga sendo “se um indivíduo pode descrever a si mesmo como um indivíduo”. Essa preposição pode nos conduzir a um solipsismo tão amplo que extrai totalmente a possibilidade de existência de um mesmo, com o que também desaparece a possibilidade da existência do observador.

Nossa proposta expressa que, ao utilizar a própria individualidade como forma de autodescrição, o fato de operar a individualidade e as estruturas subjacentes autopoiéticas requer, além de um sentido, uma capacidade de operar. Ao aceitar a premissa luhmanniana de que a “individualidade autopoiética seja um sistema fechado, independentemente de como este sistema seja condicionado pelo entorno” (LUHMANN, 1998LUHMANN, N. Organización y decisión. Autopiesis, acción y entendimiento comunicativo. Barcelona: Anthropos/Universidad Iberoamericana, 1998., p. 245), aparece a contradição ao aceitar a autopoiese, posto que, ao aceitá-la, implicitamente, faz-se referência precisamente ao que acontece como operação que permite estar cognitivamente aberta ao entorno.

Aplicação nas organizações

Como podem ser aplicados esses conceitos e noções nas observações nas organizações? É evidente que a proposta de autopoiese comunicativa que fizemos tem uma transcendência que apenas poderá ser valorizada pelas observações organizacionais concretas de segundo grau. Nas organizações, trata-se de um complexo intrincado de níveis e de interações internas e externas. Com base nos conceitos autorreferenciais expostos, uma organização é um sistema autopoiético que tem capacidade para se observar e criar estruturas internas próprias. A proposta de utilização de “autopoiese reflexiva” permite a observação simultânea nos níveis micro e macro ou subjetivo (experiências e comunicações linguísticas pessoais) e objetivo (estruturas, comunicações e normas) na organização, ao colocar o ser humano pensante e com consciência e a possibilidade de auto-observação e autorreferencialidade do sistema de consciência. Essa proposta não privilegia nenhuma metodologia ou técnica, mas assume as possibilidades da observação elementar ou de segundo grau. Esta última observação também abre a possibilidade de realizar estudos qualitativos exploratórios de caráter qualitativo-heurístico ou qualitativo-hermenêutico, segundo a forma proposta por Glaser e Strauss (1967GLASER, B.; STRUSS, A. The discovery of grounded theory, strategies for qualitative research. Chicago: Aldine, 1967.).

A ideia de autopoiese comunicativa que apresentamos é uma proposta de liberar o conceito de suas origens organicistas e biologistas, para outorgar um sentido fenomenológico e, portanto, assumir os fundamentos psicológicos. Prerrequisito inicial básico em assumi-la é a proposta de mudar de nível os “sistemas psíquicos” que Niklas Luhmann situa no mesmo nível que as máquinas ou os organismos, para pensá-los no nível superior dos sistemas, nos quais incluímos os sistemas de consciência.

Considerações finais

A procura de soluções nos “pontos cegos” da teoria de sistema autorreferenciais por meio do diálogo com a filosofia social pós-estruturalista será frutífera se for capaz de juntar as controvérsias sistêmicas de desumanização do humano (ou periferização do humano), como também sucede em certa forma com a TAR, e de reposicionar uma pessoa com uma consciência que configure o sentido de suas decisões. A ideia de “autopiese reflexiva” que propomos assume a existência de uma consciência anterior ao sistema psíquico, que tem capacidade autorreferencial com a criação de estruturas próprias e de possibilidades de intencionalidade.

Estudiosos creem que a ciência das próximas décadas se preocupará com o estudo de sistemas complexos definidos como autocatalíticos, auto-organizativos, não lineares e adaptativos, cujo marco de observação e compreensão provém da Teoria da Complexidade. Esses sistemas surgirão e conviverão simultaneamente com o caos, ao existir ordem suficiente para gerar padrões e normas, mas, por sua vez, insuficientes para não frear sua adaptação e aprendizagem. Nesse sentido, Baecker, em suas teses da sociedade, prevê e diagnostica: “A forma da estrutura da sociedade vinda não é a diferenciação funcional, mas a rede”. Com isso, manifesta certa despedida da compreensão sistêmica da diferenciação como básica para a leitura funcional da sociedade, mas, ao mesmo tempo, sua reflexão se amplia com uma compreensão da rede e dos nós que formam uma qualidade autopoiética ou autorreferencial.

É difícil diagnosticar o surgimento e a utilidade operacional de uma metateoria, emergindo em seu lugar uma heterogeneidade de teorias e pontos de vista que superam a “natureza antitética” (dialética entre ação e estrutura) (ASTLEY e DE VEN, 1983ASTLEY, W.; DE VEN, V. Central Perspectives and Debates in Organization Theory, Administrative Science Quarterly, v. 28, n. 2, p. 245-273, 1983.) e, de certa forma, convergem para um construcionismo sistêmico que, nas organizações, manifesta-se com a ecologia populacional humana, como mostram as principais publicações em revistas sociológicas e organizacionais, nas quais o construcionismo sistêmico está sendo produzido em um nível quase simbólico, devido, em parte, às diferentes raízes nos pontos de vista teóricos, em que são produzidos apenas diálogos e cruzamentos teóricos.

Há consenso entre os autores e as escolas descritas no artigo de que esses sistemas complexos surgirão e conviverão simultaneamente com o caos; existirá ordem capaz de gerar padrões e normas, mas, por sua vez, ela será insuficiente para garantir sua adaptação e aprendizagem. Para Pierre Bourdieu a complexidade do mundo nos fará pensar em meso-teorias.

Referências

  • ALCADIPANI, R. Réplica: a singularização do plural. Revista de Administração Contemporânea, v. 9, n. 1, p. 211-220, 2005.
  • ALVESSON, M.; DEETZ, S. Critical theory and postmodernism: approaches to organizational studies. In: CLEGG, S.; HARDY, C. (Eds.). Organization studies. London: Sage, 2006. 255-283 p.
  • ARNOLD, M. Las organizaciones desde la teoría de los sistemas sociopoiéticos. Cinta de Moebio, n. 32, p. 90-108, 2008.
  • ASTLEY, W.; DE VEN, V. Central Perspectives and Debates in Organization Theory, Administrative Science Quarterly, v. 28, n. 2, p. 245-273, 1983.
  • BAECKER, D. Zukunftsfähigkeit: 22 Thesen zur nächsten Gesellschaft. 2013. Disponível em: <Disponível em: http://www.sistemassociales.com/22-tesis-sobre-la-sociedad-venidera-por-dirk-baecker/ >. Acesso em: 6 out. 2014.
    » http://www.sistemassociales.com/22-tesis-sobre-la-sociedad-venidera-por-dirk-baecker/
  • BARRETT, F.; POWLEY, E.; PERACE, B. Hermeneutic philosophy and organizational theory. In: TSOUKAS, H.; CHIA, R. Philosophy and organization theory. Bingley: Emerald, 2011. 181-215 p.
  • BECHARA, J.; DE VEN, A. Triangulating philosophies of science to understand complex organizational and managerial problems. In: TSOUKAS, H.; CHIA, R. Philosophy organization theory. Bingley: Emerald, 2011. 311-343 p.
  • BERGER, P.; LUCKMANN, T. A construção social da realidade. Petrópolis: Vozes, 2004.
  • BIRLE, P.; DEWEY, M.; MASCAREÑO, A. (Eds.). Durch Luhmanns Brille. Herausforderungen an Politik und Recht in Lateinamerika und in der Weltgesellschaft. Wiesbaden: Springer VS Verlag für Sozialwissenschaften, 2012.
  • BÜHL, W. Grenzen der autopoiesis. Vordenker. 2003. Disponível em: <Disponível em: http://www.vordenker.de/buehl/wlb_grenzen-autopoiesis.pdf >. Acesso em:14 fev. 2013.
    » http://www.vordenker.de/buehl/wlb_grenzen-autopoiesis.pdf
  • CABRAL, A. A sociologia funcionalista nos estudos organizacionais, foco em Durkheim, Cad. EBAPE.BR, v. 2, n. 2, p. 1-15, 2014.
  • CASTORIADIS, C. La institución imaginaria de la sociedad. Barcelona: Tusquests editors, 2007.
  • CZARNISANSKA, B. Richard Rorty, women, and the new pragmatism. In: TSOUKAS, H.; CHIA, R. Philosophy and organization theory. Bingley: Emerald , 2011. 343-365 p.
  • DAVIS, G.; MAQUIS, C. Prospects for organization theory in the early twenty-first century: institutional fields and mechanisms. Organization Science, v. 6, n. 4, p. 332-343, 2005.
  • DELEUZE, G. ¿En qué se reconoce el estructuralismo? En la isla desierta y otros textos. Textos y entrevistas (1953-1974). Valencia: Pre-textos, 2005.
  • DE PAULA, A. P. et al. A tradição e a autonomia dos estudos organizacionais críticos no Brasil. Revista de Administração de Empresas, v. 50, n. 1, p. 10-23, 2010.
  • DONE, E.; KNOWLER, H. (Re)writing reflective practice with Deleuze, Guattari and feminist poststructuralism. Reflective Practice, v. 12, n. 6, p. 841-852, 2011.
  • DUTRA, R.; BACHUR, J. P. (Org.). Dossiê Niklas Luhmann. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2013.
  • ELDER-VASS, D. Luhmann and emergentism: competing paradigms for social systems theory Philosophy of the Social Sciences, v. 37, n. 4, p. 408-432, 2007.
  • FARÍAS, I.; OSSANDÓN, J. Observando sistemas. Nuevas apropiaciones y usos de la teoría de Niklas Luhmann. Santiago de Chile, RIL Editores, 2010.
  • FISCHER, J. Bourdieu und Luhmann. Soziologische Doppelbeobachtung der ‘bürgerlichen Gesellschaft nach ihrer Kontingenzerfahrung. In: REHBERG, K. S. (Org.). Soziale Ungleichheit, Kulturelle Unterschiede. Verhandlungen des 32. Kongresses der Deutschen Gesellschaft für Soziologie in München 2004. Frankfurt/New York: Campus, 2004. 2850-2858 p.
  • FISCHER-LESCANO, A. Critical systems theory. Philosophy & Social Criticism, v. 38, p. 3-23, 2011.
  • GLASER, B.; STRUSS, A. The discovery of grounded theory, strategies for qualitative research. Chicago: Aldine, 1967.
  • GOLDSPINK, C.; KAY, R. Autopoiesis and Organizations: A Biological View of Social System Change for Methods for Their Study. MAGALHANES, R.; SANCHEZ, R. (Eds.). Autopoiesis in Organization Theory and Practice, Bingley: Emeral. 2009. 89-110 p.
  • GRESHOFF, R. Ohne Akteure geht es nicht! Oder: Warum die Fundamente der Luhmannschen Sozialtheorie nicht tragen. Zeitschrift für Soziologie, v. 37, n. 6, p. 450-469, 2008.
  • GRÉVE, J. Zur Reduzibilität und Irreduzibilität des Sozialen in der Handlungs und der Systemtheorie. Soziale Systeme, v. 13, n. 1+2, p. 21-31.
  • HABERMAS, J. El discurso filosófico de la modernidad. Madrid: Taurus, 1993.
  • HASSAD, J.; PYM, D. The theory and philosophyie of organizations. Critical issues and new perspectives. London: Roudledge, 1990.
  • HELBING, D.; YU, W.; RAUHUT, H. Self-organization and emergence in social systems: modeling the coevolution of social environments and cooperative behavior. The Journal of Mathematical Sociology, v. 35, n. 1-3, p. 177-208, 2011.
  • HERMSEN, T.; GNEWEKOW, D. Soziale Hilfe im Wandel: Wohlfahrtsverbände im Reorganisationsprocess. In: WILLKE, H. Systemisches Wissensmanagement. Stuttgart: Lucius & Lucius, 1998. p. 261-305.
  • HOLT, R.; SANDBERG, J. Phenomenology and organization theory. In: TSOUKAS, H.; CHIA, R. Philosophy and organization theory. Bingley: Emerald , 2011. 215-251 p.
  • HOLZER, B. Die Differenzierung von Netzwerk, Interaktion und Gesellschaft. Erschienen. In: BOMMES, M.; TACKE, V. Netzwerke in der funktional differenzierten Gesellschaft. Wiesbaden: VS Verlag für Sozialwissenschaft, 2011. 51-66 p.
  • JAMES, W. Understanding poststructuralism. Chesham: Acumen, 2006.
  • KNEER, G.; NASSEHI, A. Niklas Luhmanns, Theorie sozialer Systeme. München: Fink, 2000.
  • KRÜCK, C. Wissensarbeit in Unternehmenskooperationen: das Beispiel der Halbleiterindustrie. In: WILLKE, H. Systemisches Wissensmanagement. Stuttgart: Lucius & Lucius , 1998. 305-327 p.
  • LAKATOS, I. The Methodology of Scientific Research Programmes: Volume 1: Philosophical Papers. Cambridge University Press, 1980.
  • LATOUR, B. A Dialog on actor network theory. 2002. Disponível em: <Disponível em: http://www.ensmp.fr/~latour/articles/article/090.html >. Acesso em: 15 mar. 2013.
    » http://www.ensmp.fr/~latour/articles/article/090.html
  • LEAL, R. O dilema dos estudos organizacionais entre a modernidade e a pós-modernidade: a inclusão de uma terceira matriz. In: ENCONTRO DE ESTUDOS ORGANIZACIONAIS; 2002, Recife. Anais... Recife: APAD, 2002.
  • LOYOLA, M. A. Pierre Bourdieu. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 2002. (Série Pensamento Contemporâneo).
  • LUHMANN, N. Die Autopoiesis des Bewusstsein. Soziologische Aufklärung, Opladen: Westdeutsche, 1975.
  • LUHMANN, N. Organisation und Entscheidung. In: LUHMANN, N. Soziologische Aufklärung. Opladen: Westdeutscher, 1981.
  • LUHMANN, N. Autopoiesis, Handlung und Kommunikative Verständigung. Zeitschrift für Soziologie, v. 11, p. 336-379, 1982.
  • LUHMANN, N. Soziale Systeme. Grundrisse einer Allgemeinen Theorie. Frankfurt: Suhrkamp, 1984.
  • LUHMANN, N. Organización y decisión. Autopiesis, acción y entendimiento comunicativo. Barcelona: Anthropos/Universidad Iberoamericana, 1998.
  • LUHMANN, N. Interaktion, Organization, Gesellschaft: Anwendungen der Systemtheorie. In: LUHMANN, N. Soziologische Aufklärung. Opladen: Westdeutscher Verlag, 1995. 9-21 p.
  • LUHMANN, N. Introdução à teoria dos sistemas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
  • LUHMANN, N. Sistemas sociais. Esboço de uma teoria geral. Petrópolis, RJ: Vozes , 2016.
  • MARTENS, W. Die autopoiesis sozialer Systeme. Kölner Zeitschrift für Soziologie und Sozialpsychologie, v. 4, n. 43, p. 625-646, 1991.
  • MAVRINAC, M. A. Self as system: comparing the grounded theory of protecting self and autopoiesis. World Futures: The Journal of New Paradigm Research, v. 62, n. 7, p. 516-523, 2006.
  • MEAD, H. Mind, self and society. Chicago, IL: Chicago University Press, 1972.
  • NAFARRATE, J.T. Introducción a la teoría a de sistemas. México: Alianza/Universidad Iberoamericana, 1991.
  • NASSEHI, A.; NOLLMANN, G. Bourdieu und Luhmann. Ein Theorievergleich. Frankfurt: Suhrkamp , 2004.
  • NÖTH, W. Selbstreferenz in systemtheoretischer und in semiotischer Sicht. Disponível em: <Disponível em: http://www.schmidt.uni-halle.de/konzepte/texte/noeth.htm >. Acesso em: 14 jan. 2014.
    » http://www.schmidt.uni-halle.de/konzepte/texte/noeth.htm
  • OCAMPO, S. P. El modelo sintético de comunicación de Niklas Luhmann. Cinta de Moebio, v. 47, p. 59-73, 2013.
  • OLABUÉNAGA, J. I. Sociología de las organizaciones complejas, Universidad de Deusto, 2008.
  • ORLIKOWSKI, W. J. Knowing in Practice: enacting a collective capability in distributed organizing. Organization Science. Knowledge, Knowing, and Organizations, v. 13, n. 3, p. 249-273, 2002.
  • PÉREZ-SOLARI, F.; LABRAÑA, J. Hacia la observación de una sociedad venidera: una entrevista con Dirk Baecker. Revista Mad, n. 29, p. 83, 2013.
  • PIGNOLLI, S.; ZITELLO, M. Tensiones y quiebres teóricos del concepto de comunicación de Luhmann. Estudios Sociológicos, v. 29, n. 87, p. 925-947, 2011.
  • POKOL, B. Contribution to the comparison of the theories of Bourdieu and Luhmann. 2002. Disponível em: <Disponível em: http://www.jesz.ajk.elte.hu/pokol112.html >. Acesso em: 21 mar. 2012.
    » http://www.jesz.ajk.elte.hu/pokol112.html
  • POPPER, K. The logic of scientific discovery. London: Routledge, 1993.
  • REED, M. Teorização organizacional. Um campo historicamente contestado. In: CLEGG, S.; HARDY, C.; NORD, W. (Org.). Handbook de estudos organizacionais. São Paulo: Atlas, 1999. 61-98 p.
  • RÄWEL, J. Theoretische Empirie - empirische Theorie. Swiss Journal of Sociology, v. 33, n. 3, p. 443-463, 2007.
  • ROBLES, S. C. A public health framework for chronic disease prevention and control. Food Nutr. Bull, v. 25, p. 194-199, 2004.
  • SCHREYÖGG, G.; SYDOW, J. Organizing for fluidity? Dilemmas of new organizational forms. Organization Science, v. 21, p. 1251-1262, 2010.
  • SERVA, M.; DIAS, T.; ALPERSTEDT, G. Paradigma da complexidade e teoria das organizações: uma reflexão epistemológica. Revista de Administração de Empresas, v. 50. n. 3, p. 276-287, 2010.
  • STICHWEH, R. The Present State of Sociological Systems Theory, 2005.
  • SYDOW, J.; SCHREYOGG, G. Self-reinforcing Processes in and among organizations. London: Palgrave Macmillan, 2003.
  • TADAJEWSKI, M.; MACLARAN, P.; PARSONS, E. Key concepts in critical management studies. London: Sage , 2011.
  • TEIXEIRA, F. Autopoiesis e identidade pessoal do si mesmo biológico ao si mesmo humano: conduta e sistema nervoso. Coimbra: Coimbra, 2004.
  • THUMALA, D. Proyecciones del concepto de sistema psíquico de Luhmann y su vinculación con la psicología. Cinta de Moebio, n. 39, p. 186-191, 2010.
  • TRÖNDLE, M. Systemtheorie, ein Versuch. 2012. <http://www.fachverband-kulturmanagement.org/wp-content/uploads/2012/10/SystemtheorieEinVersuch.pdf>
    » http://www.fachverband-kulturmanagement.org/wp-content/uploads/2012/10/SystemtheorieEinVersuch.pdf
  • TSOUKAS, H.; CHIA, R. Philosophy and organization theory. Bingley: Emerald , 2011.
  • VIDAL, J. Autopoiesis, autoorganización y cierre operativo en las organizaciones desde la perspectiva postestructuralista. Revista Internacional Organizaciones, International Journal of Organizations, n. 15, p. 31-55, 2015.
  • VIDAL, J. Organizaciones públicas en la Amazonia: ¿cambio autorreferencial o adaptación?, Revista Internacional Organizaciones, International Journal of Organizations, n. 5, p. 127-150, 2010.
  • VIDAL, J. Sistemas y ser humano. Pensamiento autorreferencial en la Amazonia. Madrid: Ediciones La Catarata, 2015.
  • WALSH, J.; MEYER, A.; SCHOONHOVEN, C. A future for organization theory: living in and living with changing organizations. Organization Science, v. 17, n. 5, p. 657-671, 2006.
  • WHITE, H. C. Networks and Meaning: Styles and Switchings. Manuscript. A Plenary address for the Luzern Conference Commemorating Niklas Luhmann. Luzern, 2007.
  • WHITE, H. C. Identity and Control. Princeton: Princeton University Press, 2007.
  • WHITE, H.; GODART, F. Linking networks and domains, cultural and discursive formations in context. Manuscript for Manchester talk. 2008. Não publicado.
  • WILLIAMS, J. Understanding poststructuralism. Chesharn: Acumen, 2005.
  • WILLKE, H. Systemtheorie entwickelter Gesellschaften. Dynamik und Riskanz moderner gesellschaftlicher Selbstorganisation. München: Juventa, 1993.
  • WILLKE, H. Systemtheorie II. Interventionstheorie. Stuttgart/Jena: UTB/Fischer, 1999.
  • WINDELER, A.; SYDOW, J. (Org.). Kompetenz: Sozialtheorethische Perspektiven. Wiesbaden: Springer, 2014.
  • *
    Fonte da imagem: Acervo do autor.
  • 1
    Embora seja difícil defini-la como uma escola de fato, entre os estudiosos da teoria de Luhmann nessa universidade vale destacar Helmut Willke, Manfred Glagow, Klaus-Peter Japp, Hartman Tyrell, Rudolf Stichweh e Uwe Schimank, entre outros.
  • 2
    Conhecidos como Organizational Analysis no âmbito anglo-saxão.
  • 3
    As controvérsias iniciaram-se na Faculdade de Sociologia da Universidade de Bielefeld, em razão do preenchimento da vaga de professor para continuar no Programa Sistêmico na Cátedra de Sociologia desocupada por Niklas Luhmann.
  • 4
    Segundo Luhmann (1984, p. 55): “designa a unidade constitutiva do sistema consigo mesmo: unidade de elementos, de processos, de sistema”.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jun 2017

Histórico

  • Recebido
    04 Nov 2015
  • Aceito
    15 Mar 2017
Fundação Getulio Vargas, Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas Rua Jornalista Orlando Dantas, 30 - sala 107, 22231-010 Rio de Janeiro/RJ Brasil, Tel.: (21) 3083-2731 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: cadernosebape@fgv.br