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Editorial

Peço desculpas aos leitores por iniciar um editorial na primeira pessoa, faço-o pelo impacto que o livro Trabalho e capital monopolista: a degradação do trabalho no século XX me causou quando de sua primeira leitura. Recém-egresso da graduação e ainda bafejado pela funcionalidade, o livro de Harry Braverman como que desconstruía, reconstruindo, minha aproximação à realidade do mundo do trabalho. Braverman passou a fazer parte de minhas referências bibliográficas, provocando em alguns alunos com os quais tive contato a mesma impressão. Daí que a boa provocação do prof. Elcemir Paço Cunha, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), foi o suficiente para ser o Editor Convidado deste número temático do Cadernos EBAPE.BR. Ler Braverman significa ter compreensão crítica das contradições impostas por fazeres que podem transformar o trabalhador, portanto, o assalariado, como mera extensão dos processos produtivos, de bens ou serviços. Ler Braverman no contemporâneo mundo do trabalho do desenvolvimento científico tecnológico de base microeletrônica, notadamente da tecnologia da informação e da comunicação, implica entender as incongruências que a substituição da automação rígida pela flexível pode causar ao ser social.

Escrita esta interpretação pessoal daquele considerado um dos clássicos do pensamento crítico ocidental, cabe destacar os textos aprovados para comemorar o quadragésimo aniversário de publicação de Trabalho e capital monopolista. O texto de abertura é o Apresentação "Braverman, subjetividade e função de direção na produção do valor" sob autoria do editor convidado Elcemir Paço Cunha. Em uma ordem não preferencial apresento os artigos para composição desta edição, iniciando pelo texto "Organização e controle do trabalho no capitalismo contemporâneo: a relevância de Braverman", de Fabiane Santana Previtali e Cílson César Fagiani; "Trajetórias de vida e de trabalho flexíveis: o processo de trabalho pós-Braverman", de Maria Beatriz Rodrigues; "Revisiting the issue of class structure in Labor and Monopoly Capital", de Bruno Tinel; "Braverman, o Estado e a "administração consensual", de Claudio Gurgel; "Where did Braverman go wrong? A Marxist response to the politicist critiques", de Eduardo Sartelli e Marina Kabat; e "Experimentação do tempo e estilo de vida em contexto de trabalho imaterial", de Carmem Ligia Iochins Grisci e Jonas Cardoso e o manuscrito da Seção Opinião "Discusiones sobre el control patronal" de Claudio Katz.

Por fim, sendo recorrente o fato da linha editorial do Cadernos EBAPE.BR buscar divulgar a relação entre pensamento crítico e pensamento organizacional, este número não só resgata a importância da leitura do pensamento bravermaniano, não vale apenas destacar a comemoração dos quarenta anos de Trabalho e o capital monopolista, uma vez que os textos de Harry Braverman transcendem o pensamento organizacional. Acreditamos que este número especial poderá estimular aqueles possíveis não leitores da obra bravermaniana a conhecê-la e aqueles que já a conhecem sejam motivados a desempenhar o mesmo papel daqueles que aqui interpretaram, com muita sapiência e ousadia, as contradições ainda persistentes no mundo do trabalho.

Eu não poderia concluir este editorial sem agradecer o aceite e o empenho do prof. Elcemir Paço Cunha, cujo conhecimento sobre as reflexões de Braverman tornaram possível a publicação deste número temático do Cadernos EBAPE.BR.

Boa leitura !

Fernando G. Tenório

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2014
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